A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 38
Capítulo 38 - Viktor Crowley


Notas iniciais do capítulo

Desculpe o capítulo curto, estou me esforçando, mesmo doente, para fazer bonitinho a vocês. Espero que curtam e não me odeiam pelas mortes, alguns de vocês clamaram por elas. Boa leitura!



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A noite chega, não fiz nenhuma vítima hoje, preciso repor meus suprimentos. Já quase não consigo ver nada. Puxei da minha bolsa óculos que me permitem ter a visão plena da floresta. Recebi uma dádiva hoje, nada que fosse de tanta importância.

Caminhando atentamente pela neve, percebo que está tudo calmo. O dia foi um pouco conturbado para os tributos e para as famílias das vítimas. Enquanto ando, ouço palavras ofensivas, gritos guturais, sons de neve sendo chutada e socos no chão. Ajeito minha lança e corro para nosso acampamento, a voz é de Isaac e Chloe. Por que não ouço a voz de Charlotte? Seu rosto penetra minha mente e só consigo visualizá-la.

– Charlotte! Charlotte! - corro para o lago. Não recebo respostas.

Quando chego no lago, vejo três pessoas. Os óculos não falham. Isaac dá socos no chão, seu rosto está da cor grená e sua voz alterada. Chloe está caçando alguém por perto, desafiando alguém a se aproximar. E a outra garota deve ser Brianah tentando acalmá-los... mas os seus cachos são inconfundíveis.

– Viktor! - ela me vê e corre na minha direção.

– Charlotte! - larguei o óculos, a lança e a mochila e também fui até ela.

O momento que nossos corpos se tocam, a sensação é única. A excitação e a adrenalina é tão grande, que patinamos no gelo e caímos. Ela é minha, e eu sou dela, amanhã pode ser o último dia, e por isso não hesito em beijá-la. Todos estes anos eu a amei como nunca amei ninguém. O momento em que meu nome foi cantado no dia da colheita tornou-se o mais especial. Seria a hora de mostrar o que sinto por ela, de protegê-la e se necessário, morrer.

– Eu te amo... - sussurro.

– Eu também. - ela responde.

– Levanta aí já os dois! - ordena Isaac, impaciente. Nós nos erguemos, corando.

– O que aconteceu? - pergunto. Como resposta, Chloe me joga uma mochila.

O seu interior está cheio de neve em fase de fusão. Chacoalhei e, além da neve, caiu alguns suprimentos, bem poucos. Olho para o local que tinha nossas dádivas. A maior bolsa sumiu, assim como boa parte da comida e objetos.

– Quem fez isso? - insisto.

– Quem mais seria, Pombinho? - ironiza Chloe. - A garota do Quatro.

– Ela ficou de guarda, aprontou tudo e foi embora. Ótimo plano... - digo.

– Realmente! Agora nós não temos mais nada! Eu juro, eu juro que amanhã eu vou atrás dessa menina! E se alguém se opor vai levar o mesmo rumo! - explode Isaac.

– Calma, Isaac, você está muito nervoso. Esqueceu o que somos? - diz Charlotte.

Chloe ri.

– Nem parece aquele garoto da academia.

– E cadê o outro garoto do Quatro? O Beete - quase que instantaneamente o hino do toca.

O simbólico ritual que mostra as vítimas de hoje. Apenas duas. Dentre elas, mostra o rosto de nosso aliado e o menino do Oito. Muitos ainda estão vivos, mas pelo jeito de Isaac, será sorte se houver mais duas semanas. É muito improvável, porque estamos já há cinco dias na arena. Estamos com falta de suprimento, e terei de conviver provisoriamente com a escassez de comida.

No dia seguinte, acordo com Charlotte emaranhada ao meu corpo. A cena é razoavelmente bela, e intensamente dramática. Ela ainda não acordou, mas eu beijo-a no rosto e ela abre os olhos lentamente. Não tenho tempo de fazer nada, estamos em quatro e mais vulneráveis do que nunca.

Os raios alaranjados tingem o céu da tarde. Mal pude imaginar que dormi tanto. Desperto os outros, e eles se levantam sem delongas. Comemos um pouco de carne que sobrou e percebo que há uns dois paraquedas no chão.

– É de quem? - ergo o potezinho.

– Não importa, vamos dividir, garoto! - exalta Chloe.

Abro o pacotinho e encontro biscoitos. Distribuo um para cada e nos reunimos para decidir o que fazer hoje.

– Eu vou atrás dela, vocês decidem o que querem - diz Isaac.

– Nós também vamos caçar os outros tributos, podemos pegar alguém para montar guarda - diz Chloe. - Vamos nos separar novamente, e nada de morrer.

Beijo Charlotte e sigo para um caminho oposto, levando minha mochila e lança. A floresta novamente é minha inimiga, não sei exatamente o que posso esperar dela. Rivais, tributos? Nunca estive em uma, e nunca quis.

O clima está bem calmo. Isso é preocupante, e tudo se encaixa perfeitamente quando ouço um grito feminino. Fico procurando a origem até ouvir o tiro de canhão, confirmando a morte da menina.

Logo, percebo o motivo de sua morte. Um urso de pele amarronzada, possui o dobro do meu tamanho e peso está de pé, bramindo contra mim, pronto pro ataque. Jogo a lança contra seu pelo. Instantaneamente ele cai. Consigo apenas puxar minha lança quando aparece um bando deles.

Ouço uma explosão e outro tiro de canhão. A Capital está mais cruel desta vez. Jamais pude imaginar que os Jogos poderiam ser tão complicados. Se eu fosse como a menina do 11, com aquele jeito de fria, ficaria um bom tempo parado, e isso me custaria minha vida, já que o frio intenso faz minhas juntas reclamarem mesmo que tenha movimentado-as bastante.

Começo a correr, pedindo a ajuda de meus aliados. Ninguém atende. Sem dúvidas esses ursos são mutações, bestantes. Pelo seu tamanho, barulho e velocidade. Estou novamente me aproximando do lago, quando reparo que Isaac está correndo atrás de Brianah.

Ele a achou!

Não posso me distrair. Aperto o passo e me arremesso para o lago. O bando para de me perseguir, o que é irônico. Mas que pode significar que a Capital quer que a gente se divirta com nossa carne fresca.

Tento me recompor da queda, quando vejo Chloe gritando para ninguém se aproximar. Brianah está cercada por Isaac. Chloe e Charlotte fazem a plateia e eu me junto a elas. Dando gritos de incentivo enquanto observo ela com seu tridente e rosto cortado contra Isaac, um menino inseguro que se tornou um homem, alguém que, como todos, fará de tudo para sair da arena.

Ele pede minha lança emprestada e Brianah chama a responsabilidade, provocando-o. Isaac se enfurece e lança a arma contra o peito da menina. Ela teve que encolher todos os músculos para desviar.

– Eu cuido dela. - Disse Charlotte, e sem esperar respostas perseguiu a garota até o lago, propriamente dito. Brianah leva toda vantagem do mundo, por ser do Distrito 4.

Elas nadam para longe, e quando eu começo a ir para a borda observar a luta de perto, os Idealizadores privam tudo. O ar esfria assustadoramente e a superfície da água começa a mudar para uma fina, aparentemente, camada de gelo. Logo o lago se congela.

O pavor toma conta de mim. Começo a pisar no gelo, pular em cima dele, socá-lo, bater minha lança que Isaac usou. Tudo para tirar Charlotte de lá.

– O que a gente faz? - pergunto, em desespero.

– Garoto, não dá pra fazer nada! - diz Chloe - Fia calmo, o.k.? Humpft... tenta enxergar elas.

Colo meu rosto no gelo quando vejo pequenos flocos caírem do céu. A vista parece bonita, se o frio não fosse tão cruel. A água, de repente, mistura-se com um líquido vermelho que só posso deduzir ser sangue. Um tiro de canhão.

Rastejo pelo gelo, saindo da mancha vermelha que se formou. Encontro cachos loiros, perto dela, rastros de sangue. Não sei de onde vem essa grave hemorragia, só sei que Charlotte não morreu, por enquanto, e não pode morrer.

Coloco a mão no gelo e ela retribui o gesto e nossas mãos parecem se tocar. Fico observando-a, sem poder fazer nada. Ela desenha no gelo, com seu próprio sangue um coração. Seu corpo emerge por completo, batendo no gelo, não imóvel porque a água balança-o, mas parado. Seus olhos não se fecham mais e o tiro de canhão confirma sua morte.

Isaac e Chloe me puxam, tirando-me do lago. Os aerodeslizadores irão buscar seu corpo, leva-lo para sempre de mim. Amar foi a pior opção que pude escolher. Na minha mente, o ódio toma conta do amor que existia.

A partir de agora, irei digladiar contra todos estes tributos. Sem dó nem piedade. Como minha mãe, como Isaac, como um Carreirista, para alcançar a glória.

A noite, o primeiro rosto que aparece é o seu. Charlotte, minha velha e antiga amiga que foi surrupiada de mim para sempre. Completam a lista Brianah e os dois tributos do 7.

Sobraram onze tributos, e onde quer que estejam, irei encontrá-los, matá-los e me tornar famoso, soberano e rico. Que os verdadeiros Jogos Vorazes se iniciem.


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Notas finais do capítulo

Sério, tô muito mal com as mortes dos tributos, não sei vocês, espero que estejam gostando, mas estou chateado... Às baixas: _lll_