A Faísca: 70° Jogos Vorazes - Interativa escrita por Tiago Pereira


Capítulo 36
Capítulo 36 - Mirtily Herondale


Notas iniciais do capítulo

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Abri os olhos. Ninguém me encontrou, eu acho. Estou isolada de todos, com armadilhas prontas espalhadas na arena. Luck provavelmente deve estar deitada no sofá, saboreando algum presente de um amigo meu. Sozinha ela não está, disso eu sei.

Fugi da Cornucópia ontem, e o garoto do 5 também. Lutamos muito para que cada um tivesse o seu espaço para montar armadilhas. Chegamos a fazer uma rápida perseguição, até que despitei-o. Estamos jogando fogo contra fogo, e agora o jogo está mudado. Todas as crianças morreram já, o que é bom, porque me poupou este trabalho.

A manhã é mais clara, mas não dá para enxergar muito bem. Descobri um lago enorme de águas plácidas e refrescantes. Os Carreiristas estão lá, com acampamento montado, armados até os dentes, e cheio de suprimentos. Poderia dizer que a vitória de um deles é iminente, se não tivesse conhecido outros tributos no decorrer dos Jogos, como Leven, que é extremamente astuta, ou Lara, a menina do 5.

Imagino onde as câmeras devem estar focando. Com certeza não sou eu, e a floresta está quieta de mais, talvez possa ser eu e algum animal selvagem, alguma mutação esteja me observando, pronta para o ataque. Levantei-me da neve e fui averiguar minhas armadilhas.

Antes, arranquei algumas cascas de árvore e raspei. Esta foi minha refeição, algo estranho se comparado com o que comi na Capital há dois dias atrás. Já estou acostumada com este tipo de alimentação, já que a comida é escassa no Distrito 11. A única coisa que eu pegava mesmo era mirtilo, a frutinha que mais amo. Ninguém nunca soube disto.

Atritei minhas mãos umas nas outras, tentando me esquentar. Coloco o capuz, e passo pelos espaços estreitos por entre as coníferas. Preciso me mudar, logo deixo minhas arapucas armadas do mesmo jeito. Todo e qualquer material pontiagudo ou que possa ferir eu apanho para usar de arma. Até agora não recebi paraquedas, e nem preciso, sei como me hidratar e comer caças. Ontem abati coelhos, mas deixei escapar um cervo, que sumiu.

Me locomovi lentamente e sem fazer ruídos. É inevitável deixar pegadas, mas consigo arrumar um jeito que ninguém se aproxime de mim. A luminosidade diminui drasticamente no decorrer do dia. O ar fica mais seco e pesado. Tento mastigar a neve, mas ela está seca também, parece alguma farinha que demora para derreter e forma pouco líquido.

Sou obrigada a parar de armar arapucas, porque estou faminta e com sede. As raspas não me sustentam mais agora, preciso de alguma coisa sólida, mas sou persistente. E continuo andando, em busca de algum coelho. Oh meu Deus! Como pude ser tão estúpida! Os coelhos... deixei-os aonde dormi na última noite.

Rastejo a bota pela chão, logo uma trilha de lama é formada, porque estou arrancando o musgo e a neve. Me ajoelhei, convencida de que minhas chances de sobreviver reduziram drasticamente.

– Eu preciso de comida! - gritei aos céus. Espero que estejam me captando neste momento para Chaff me ver.

Ninguém responde o meu pedido. Meu estômago permanece vazio, e não consigo compreender porque não me enviaram dádivas quando mais preciso. Não permito que lágrimas caiam de meus olhos neste instante. Luck não pode me ver fraca, ela é o motivo de eu estar aqui.

Faz-se silêncio até que eu ouço um gemido. Não é humano, nitidamente, é algo mais... canino.

Canino!

Me ergui, mesmo sem energias. Observei o perímetro ao meu redor e reorganizei os pensamentos. Chaff não me enviou nada porque tem pessoas por perto, ou comida por perto, ele não quer que eu me distraia.

Skylar, a garota do 8 aparece, um cano fino em suas mãos, correndo na minha direção. Ela não é tão rápida, posso acertá-la facilmente. Então, quando reviro o bolso da minha blusa para puxar alguma arma, vejo o motivo de sua corrida: uma alcateia de lobos brancos e cinzas, os olhos já vermelhos de raiva, babando com fome de sua carne.

Dou meia-volta e corro junto dela, ela já me ultrapassou, ou seja, sou o alvo mais perto dos lobos. Eu poderia muito bem derrubá-la agora, mas uma pontada de dó me acomete porque ela, talvez, não estivesse aqui para me matar, ou matar qualquer pessoa. De ambos os jeitos, percebo que ela está sem fôlego, e sua velocidade diminui.

Há uma fresta por entre as árvores que dá acesso ao lago, no acampamento dos Carreiristas. Já tomei a frente de Skylar, que está arfando mais do que nunca. Quando vi os lobos um pouco longe de mim, comecei a escalar uma árvore, me esforçando muito para não deslizar. Finalmente alcancei um galho para me sustentar.

Skylar continuou correndo, sendo perseguida pelos lobos. No instante em que ela entrou no lago, não consegui vê-la. Me escorei em outro galho, com cuidado. Não dá para ver muito bem, mas o garoto do 2, Isaac encontrou-a. Eu poderia ter avisado ela, só que quanto menos adversários houverem, melhor.

No entanto, minhas entranhas se apertam quando vejo ela tentando lutar contra Isaac. Fechei os olhos, não suportando a imagem de sua batalha. Ela será morta, é difícil negar. Ouço gritos dela, súplicas, risadas e ovações.

Me encolhi na árvore quando ouvi o tiro de canhão. O aerodeslizador passou por cima de minha árvore, e então posso ver o corpo dela sendo erguido, quase irreconhecível.

Tento esquecê-la, não faz bem para mim. Os lobos ainda estão abaixo de mim, mas estou invisível no meio do pinheiro. Isso é estranho e óbvio, porque era isso que eles queriam. Os Idealizadores armaram os lobos para levar os tributos para o acampamento dos Carreiristas. Logo, eles não entram e acontece uma luta.

Sinto raiva de seu plano bem bolado, porque quase caí nele. Já estou exausta, com as pernas doendo, o estômago vazio e tonta. Retirei o blusão, ficando apenas com a camisa térmica azul do uniforme. Me amarro no tronco com as mangas da blusa, para não cair. Só há uma maneira de me entreter e esquecer das dificuldades que sinto: dormir.

Antes de fechar os olhos, fiquei imaginando nos sobreviventes até agora. Os carreiristas estão praticamente do meu lado, o garoto do 3 não tem aliados, e sabe fazer armadilhas elétricas como ninguém. É um verdadeiro nerd. Sua companheira, pelo contrário, é fria, com dois aliados fortes, astutos. Eles viverão por um bom tempo, creio eu.

Phillipe poderia estar morto, mas deve estar me caçando, desarmando minhas arapucas, esperando que eu vá até ele. Então ele está muito enganado. Não irei atrás dele tão rápido. Sobrou também a menina do 7, uma mãe... como ela deve estar se virando? Sua história na entrevista gerou patrocinadores. Uma mãe nos Jogos lutando para salvar sua filha é algo comovente. Se ela vencer, sua filha será a queridinha junto dela.

Talvez seja assim comigo, se Luck estiver ainda viva.

O garoto do 8 deve estar em busca de Skylar.... É triste pensar que ele não achará nada. Se ele vier aqui eu não pouparei esforços para avisar sobre o acampamento, afinal, quanto menos competidores restarem, antes os Carreiristas irão se matar.

Hazel, a menina do 10 sobreviveu... que curioso. Uma garotinha tão fraca e inocente está viva ainda é estranho, mas creio que deve estar se escondendo por aí, torcendo para não ser comida por um urso.

E então faltou Leven e Dimitrius... seja lá onde estiverem, se eu não viver, espero que um deles vença isso. Eles precisam, quero dizer, todos precisam.

Um paraquedas acerta minha testa. Chaff me enviou a primeira dádiva. O pote é pequeno, cabe na palma da minha mão. Quando abro é um potinho de mirtilo. Ele realmente me conhece.

– Obrigada... - sussurro para uma câmera perto de mim.

Coloquei o pote debaixo da minha camisa térmica, para que ninguém encoste nele. Mirtilo é algo sagrado para mim, é minha única fonte de comida. Após um curto tempo adormeço.

Sou acordada por sibilos altos. Alguém está falando muito perto de mim. Reconheço ser a voz dos Carreiristas.

– Vamos atrás deles primeiro? - pergunta o garoto do 4.

– Eu quero matar aquela ruivinha do Cinco, ela pode ser uma ameaça...

Então eles discutem de como matar os tributos que tiraram maior nota. Até que o garoto do 1 diz em tom certeiro e quase caio da árvore por isso.

– Eu mato a do Onze.


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