Distrito 10

Hazel Trigwell

Respirei fundo quando me convocam. Mordi o lábio, sendo uma menina fraca, a menina que sou aqui. Não sei o que fazer nesta apresentação, apenas que não tocarei em arma alguma.

Meu objetivo nos últimos dias foi único: melhorar o condicionamento e não engordar, principalmente. Andei até o ginásio, os patrocinadores usam uma túnica lilás, suja de vermelho, e eu não ouso deduzir ser sangue.

Uni as mãos e deslizei até abaixo do meu umbigo, deixando explícita a minha derrota mesmo antes de entrar na arena. Isso é ótimo e eficaz, porque eles riem, debocham de mim e bebem sua, provavelmente, vigésima taça de vinho.

Como não irei utilizar armas ou fazer armadilhas, só me resta tinta e pincel. Ando até lá, pensando no que vou pintar. O que uma menininha que aceita a derrota faria? Claro, algo que demonstrasse piedade, que fizesse o remorso gerar patrocínio, embora fraqueza não gere dádivas. Mas dane-se.

Pego o amarelo, manejando sem nenhuma destreza o pincel. E numa junção de formas geométricas mal-construídas, troco a cor para o verde, rosa, uma espécie de roxo, que é o violeta. Enfim, essas cores me fazem viajar nos meus sonhos e aciona meu lado delicado e feminista que há em mim.

E isso me enoja. Quando completo, escrevo sobre o desenho em letras grandes e compreensíveis "CASA - DISTRITO 10". Recuei para prestigiar a "obra". Uma casa, que na verdade nem parece uma, com um lindo jardim florido, uma família sorridente, vivendo num céu azul de sol brilhoso.

Tudo isso é uma mentira, e se pudesse cuspiria no desenho. Virei-me para os patrocinadores, forçando um choro falso. É estranho ver um comportamento destes de uma menina de 16 anos, talvez gere comoção, ou risos. De uma forma ou de outra, minha vontade é de gritar, praguejar e fazer gestos obscenos contra eles, contra o Snow.

Comportadamente, espero eles me dispensarem, depois de rirem e me humilharem. Caminhei lentamente para o elevador, com as orelhas quentes, os dentes corroídos e a raiva sobressaltando meus olhos.

Distrito 11

Lanckster Castelar

Sou chamado para a sessão individual. Me despeço de Mirtily silenciosamente, já que teremos os últimos dias como companheiros. Depois de amanhã seremos caçados, talvez inimigos.

Eles riem no ginásio, os patrocinadores e Seneca. Talvez de alguma piada, mas isso não importa. Pigarreio, chamando a atenção deles. Por um momento me observam, e fico nervoso.

Irei mostrar uma das únicas habilidades que sei: foice. Nos pomares eu abaixava as plantas que cresciam rapidamente, sem controle. Geralmente eu roubava os frutos, ninguém sabe disso, e ninguém saberá.

Quando chego na estação com foices, abro um sorriso, imaginando nas armações que posso fazer. Um varal de bonecos foi construído para "facilitar" o serviço.

Faço movimentos de semicírculo contra os bonecos, um simples raspão nos títeres e eles se desmancham pela afiação da lâmina. Sei que ninguém presta atenção em mim, ou talvez alguns prestem.

Quando termino de destrinchar, sou dispensado. Não saio desapontado, afinal, não sobrou nada.

Distrito 12

Dimitrius Clackerman

Só sobraram nós dois: Leven e eu. Mirtily saiu há um tempo atrás, e fico me perguntando como vou matar essas pessoas. Mas na verdade, as únicas pessoas que gostei desde o momento em que cheguei foram Leven, Haymitch - surpreendentemente - e Effie.

Sou convocado, obrigado a deixá-la sozinha. Nós nos entreolhamos, com um olhar de pesar, o medo e o desespero nos corroendo.

– Boa sorte - ela diz.

– Acerte no alvo - eu rebato e sorrio, seguindo para o ginásio.

Percebo que não estou bem, todos já ficaram entediados devido o tempo que tem da limpeza e organização do local. Sou o vigésimo terceiro a se apresentar, já não querem mais saber de nada, apenas ir para casa.

– Dimitrius Clackerman, Distrito Doze - digo, em tom alto.

Enfim, todos prestam atenção em mim. Caminho para a estação dos arcos. Haymitch pediu para eu mostrar tudo que sei, tornar isso inesquecível. Um garoto do Distrito 12 ir bem é algo raro.

Arco é minha especialidade, se eu mostrar tudo o que sei posso tirar um sete. Analisei os instrumentos que terei a disposição. Vários materiais, e escolho o de madeira, que é o mais parecido com o de casa.

Posiciono-me mirando para as silhuetas, vestindo a aljava correspondente. Puxei a flecha e a sensação é absurdamente boa. Coloquei no arco, puxando a corda, muito maleável. Soltei e a flecha cortou o ar, parando no centro do alvo na cabeça da silhueta.

Repeti o mesmo feito, e a flecha dispara novamente acertando o ponto que queria acertar. Só falta um alvo no pescoço, e estou pronto para algo estupendo e inédito para eles, creio eu.

Puxei a corda, até que ouvi alguém fazer uma piada de mim e de meu Distrito. Virei a flecha para cima, bufando. Enquanto eles riem, eu penso em soltar a flecha, mas largo o arco no chão e ando até uma mesa de tintas.

Não estou sujeito a humilhações.

A expressão deles muda, eu posso ver. Seneca Crane pergunta o que eu farei, já pronto para acionar pacificadores. Pego uma mistura homogênea vermelha e escrevo de forma grande no chão "CAPITAL", em seguida, faço duas linhas transversais na diagonal.

Eles tentarão me eliminar o mais rápido, eu elimino eles antes.

Leven Styles

Estou sozinha, mordendo minha bochecha até que a carne fique áspera e o sangue entre na minha boca. Enfim, depois de um tempo me convocam.

Segui a passos curtos, e preciso agir naturalmente, como uma menina comum do Distrito 12. Argh! O que estou falando! Quem geralmente ganha os Jogos? Os Carreiristas. Então eu terei de tomar esse tipo de posição.

Os patrocinadores olham para minha entrada, e isso é estranho. Ando até os arcos, então titubeio. Haymitch pediu para eu mostrar tudo o que sei, mas pode ser um erro. Posso me expor demais.

Mudança de planos: troco o rumo para as lanças. Apanho a menor, pois é leve e lembra uma flecha. Sem delongas, efetuei o lançamento dela e esbarrou no alvo da cabeça. Não exatamente no centro, mas muito perto.

Não tenho grande preocupação porque sei das minhas reais habilidades. Peguei a lança maior, e desta vez mirei com mais precisão. E isso fez toda diferença. Desta vez eu acerto.

Ciente de que aprender a usar lanças dois dias dos Jogos pode ser bom, continuo arremessando-as até o momento em que eles querem ir embora logo e me dispensam após eu lançar outras três vezes.

Saio satisfeita, correndo para o elevador, ansiosa para saber como foi a avaliação de Dimitrius.