Desci da carruagem. Lanckster e eu tínhamos ido muito bem, sem comentar que adorei a homenagem que meu estilista fez para mim. Mirtilo: é o fruto que deu origem ao meu nome. Uma pequena esfera, azul de recheio doce. Ela se destaca dentre as outras por sua cor, sabor exótico e por poucas pessoas conseguirem plantá-las. E pode ter certeza, eu sou uma das poucas.

Chaff se aproxima de nós e estala um beijo em minha bochecha. Eu fico sem entender, Lanckster solta uma risadinha. O clima é descontraído, estamos satisfeitos com o trabalho, mas não fomos nós que roubamos a cena. Os carreiristas olham fazendo uma careta quando olham os tributos do 3, ou do 12. Realmente, eles foram bem. Quer dizer, todos nós fomos bem, com exceção o Distrito 10.

Só de recordar da roupa do Distrito 10, rio sozinha.

– O que aconteceu? - pergunta Chaff.

– Nada, nada. - Digo, me contendo. Dou uma rápida olhada por cima do ombro, o garoto do 1 olha para mim furtivamente.

– Dá o fora. - Diz uma voz. O cheiro é de álcool.

– Haymitch! - diz Chaff. Ele é um cara barrigudo, cabelos castanhos. Típico bebum.

– Chaff, meu velho amigo! Vim apresentar os meus... tributos. - diz Haymitch. - Dimitrius, Leven, este é Chaff.

– Prazer - diz os dois em coro.

– Vamos subir - convida Chaff.

– É melhor mesmo. - Eu disse, sem desgrudar os olhos do tributo masculino do 1.

– Carreiristas... - trina Dimitrius em meu ombro.

– Eles são uma máquina de matar, acredite em mim. - Completa Haymitch.

A porta do elevador desliza e se abre. Apertamos o número de nossos Distritos e o compartimento começa a subir. Estávamos apertados no estreito elevador.

– Amanhã começa as avaliações - Comenta Chaff.

– Realmente, vou conversar com meus garotos. - Diz Haymitch. Toda vez que ele fala, mais o cheiro de álcool inunda o espaço. Por sorte chegamos no décimo primeiro andar.

– Bom, Haymitch, nos vemos em breve. - Chaff se despede. Dou um aceno de cabeça para eles e seguimos para o nosso andar.

É uma sala ampla, de tapete espesso azul, sofás aveludados, mesas amplas e tudo que eu jamais terei em minha vida. Vou para meu quarto, trocar de roupa e tomar um bom banho quente.

A banheira é bem maior do que a de casa, e a água fumega. Tiro o pesado vestido azul, deixando como lembrança da satisfação de hoje as unhas azuis. Depois do banho, despi minha roupa e coloquei camisas e calças verdes e fui jantar.

Lá, Chaff conversa com Rain sobre as avaliações.

– No que vocês são bons? - ele pergunta quando eu me acomodo.

– Foices... eu sei manejar bem. - Diz Lanckster.

– Ótimo... e você?

– Não sei... - digo, constrangida. Enfio o presunto na boca, tentando disfarçar.

– Tudo bem. Quero que amanhã disfrutem do máximo que puderem, aprendam a usar armas e depois vocês já sabem. Me contem tudo. Têm três dias de avaliação.

Eu não sei mesmo quais os meus talentos, talvez seja boa em colher, plantar, regar... mas não sei se estou pronta para a carnificina. Qualquer coisa que aconteça, não posso deixar de crer em minhas chances. Não por mim, por Luck.