Quando cheguei em casa minha mãe cortava legumes na cozinha então eu a surpreendi com um beijo no topo da cabeça:

–Ah menino tá maluco?Estou com uma faca aqui, percebeu?- ela ralhou.

Mas seu semblante não parecia nada zangado, pelo contrário, seus olhos cor de mel (que eu tive a sorte de herdar) estavam calorosos e confortantes, para resumir ela estava com a típica expressão de mãe quando sabe que o filho quer colo.Eu subi para o quarto, fiquei só de calça moletom e meias e deitei na cama na minha posição habitual, que é de barriga pra cima com as pernas esticadas na parede, não parece muito confortável, mas é a melhor posição para se mecher no celular que eu conheço (menos quando o celular cai no rosto hehe).Não posso dizer que não estava pensando no meu repentino encontro com Gabriel na sorveteria, pois seria mentira, eu lembrava e logo em seguida ria, é eu estava parecendo um maluco rindo pro teto do meu quarto. Tentei dormir, mas minga cabeça estava agitada demais para isso, sentei ba cama e fiquei um tempinho analizando meu próprio quarto, as paredes que eram azul claro com desenhos de nuvens estavam cobertas por pôsters de bandas, fotos antigas e calendários um pouco "ousados" demais, tudo bagunçado e espalhado pelo chão e uma mini sacada que dava direto pra velha casa na árvore que meu pai construiu há uns 10 anos, uns 2 anos antes dele ter morrido de câncer no pulmão, dizem que meu pai era uma chaminé ambulabe pois vivia soltando fumaça pela boca.

Depois de passar uns 30 minutos admirando meu quarto, resolvi descer, vesti uma blusa bem leve e desci.Minha mãe estava dormindo com a televisão ligada, eu a desliguei e joguei um cobertor por cima de minha mãe. Fui até o quintal, eu estava só de meia e sentia a grama molhada debaixo dos meus pés, sentei na grama e fiquei olhando o horizonte até que senti alguem se aproximar, era Gabriel, eu ia sorrir, mas preferi ficar quieto depois que vi que a expressão dele era séria.

–Hm oi!-ele falou sentando do meu lado

–Olá

–Felipe, eu vou direto ao assunto-ele parou e respirou fundo- desculpa, denovo, eu nem queria ter te beijado, foi um erro!

'Nem queria? NEM QUERIA?Pois não foi isso que parecia quando você tentou enfiar a lingua na minha boca', eu pensei, mas obviamente não falei isso só mordi o lábio e falei:

–Tanto faz, eu só estava carente mesmo e me deixei levar pelas minhas, hm...Nescessidades físicas.

Isso claramente atingiu ele, que ficou pálido e logo em seguida ficou bem sério:

–Hm ainda bem que isso não significou nada para você, porque para mim não valeu de nada.

–É! -concordei tentando esconder a raiva.

–É, já vou - ele falou de cabeça abaixa, parecia triste pois saiu arrastando os pés.Por um minuto fiquei com pena dele, fiquei com vontade de correr até ele e falar que aquilo tudo tinha sim significado algo para mim, mas lembrei que estava com raiva dele e olhei para o lado oposto de onde ele estava indo.Eu ainda fiquei na grama por uns 15 minutos, resolvi subir na casa da árvore. Já estava escurecendo quando ouvi alguem gritar meu nome, fiquei na esperança de que fosse Gabriel dizendo o quanto ele era um babaca e que ele queria esquecer aquelas baboseiras que ele falou n de tarde, mas a voz era mais grossa demorei um pouco para identificar que era do Peter:

–Peter! Aqui cara, sobe.

Ele subiu com dificuldade, quando chegou ele tentou esticar a coluna e bateu a cabeça no teto soltando uns palavrões:

–Ai, não foi engraçado!-Ele disse quando percebeu que eu estava rindo.

–Hahaha, foi mal já parei, aceita cheetos?

Ele aceitou e logo tirou do bolso um caderninho cheio de anotações, parece que ele estava realmente empolgado para começar a restaurar minha caminhonete. Passamos um bom tempo conversando sobre o carro e rindo toda vez que um de nós batia a cabeça no teto, quando chegou a hora do jantar ele foi embora, me fazendo rir pois não estava conseguindo ficar com a coluna reta devido ao tempo que ficou curvado:-Ah amanhã eu paro aqui para gente ir para o colégio.

–Tá bom, vem mesmo quem sabe minha mãe não nos dá uma carona

.- Tomara, até mais Felipe! Ele acenou e foi embora, e eu que não tinha idéia do que estava sentindo, agora não sabia nem por quem eu estava sentindo alguma coisa.