O barco foi se aproximando lentamente. Por que ele estava com aquele sorriso bobo na cara? Como se já não fosse difícil fazer aquilo. Era muito simples, só tinha que arrastá-lo para o fundo comigo. Mas por que não conseguia?

Parei de cantar. O barco também parou. Estava muito próximo. Sem pensar no que estava fazendo mergulhei.

Nadei o mais rápido que podia. Sabia que se descobrissem o que acabei de fazer seria punida, mas eu simplesmente não consegui. Cheguei ao lugar que ficávamos no fundo do rio e todas estavam olhando para mim. Um nervosismo percorria meu corpo. Será que haviam descoberto o que acabou de acontecer?

–Onde estava Lisandra? – disse Minity sem demonstrar nenhuma emoção – Sofie me disse que não quis ficar com ela no lugar combinado.

–Eu só queria nadar um pouco senhora. Já estávamos há 2 horas no mesmo lugar e não apareceu ninguém la.

–E você por acaso encontrou algum humano enquanto nadava?

–Não, senhora. – disse tentando não demonstrar meu nervosismo.

Minity se virou para as outras:

–Bem, parece que hoje ninguém resolveu vir ao rio. Mas quem sabe amanhã tenhamos mais sorte.

Como ela podia comparar morte à sorte? Mas eu não sou um bom exemplo para julgá-la.

Naquela noite demorei um pouco para dormir. Não parava de pensar naquele homem. Por que não consegui mata-lo? Que tipo de magia ele exercia sobre mim?

Mas acima dessas dúvidas uma vontade se apoderou de mim. Eu tinha que vêlo novamente.

Quando acordei Minity disse que Sofie iria me acompanhar novamente. Que legal vou ter que nadar novamente com a Miss Sou-o-máximo. Fomos para o mesmo ponto do dia anterior. Sofie não falava comigo, e eu estava feliz com isso.

Fiquei mais meia hora ali e como o tempo ainda estava nublado ninguém apareceu.

Disse a Sofie que iria procurar por humanos sozinha. Ela me olhou com desdém e voltou a se observar no espelho que sempre carregava. Confesso que estava com medo de alguém descobrir. Mas no fundo tinha certeza que ele não iria aparecer. Ele deve ter achado que foi só um sonho.

Mas eu estava enganada. Cinco minutos depois que eu cheguei o barco começou a se aproximar. E lá estava ele denovo, com o mesmo sorriso imbecil no rosto, mas eu havia me apaixonado por aquele sorriso de canto de boca e , talvez, estivesse me apaixonando por ele.

Ele se aproximou mais e então parou o barco bem na minha frente. Achei que ele fosse se assustar com a minha cauda, mas ele não disse nada. No fundo queria que ele tivesse se assustado e ido embora, mas ao invés disse estava ele ainda la com aquele sorriso. Como eu odeio/amo aquele sorriso. Sim eu sou estranha.

Nenhum de nós falava nada, o que dava um ar de mistéria naquela situação.

Dessa vez estava sozinho. Usava um jeans dobrado na altura da canela e uma camiseta branca molhada. Por que estava molhada? Isso já é sacanagem vai. Mas eu não poderia me esquecer de uma coisa: Ele era um humano.

Ficamos cerca de meia hora apenas olhando nos olhos um do outro até eu resolver ir.

Consegui convencer Minity a me deixar caçar sozinha e, durante uma semana, voltei para encontra-lo. E ele sempre estava lá. E ficávamos apenas nos olhando. Aqueles olhos verdes com pequenas ruguinhas quando sorria. Mas foi em uma dessas vezes que, enquanto voltava do encontro que acabei encontrando com Sofie.

–Supresa! – disse ela com um largo sorriso no rosto.