A quintanista de longos cabelos ruivos corria pelos corredores extensos e parcialmente abandonados do colégio. Ainda trajava as vestes vermelha e dourada da Gryffindor e carregava um longo pacote em suas mãos enquanto pensava nas mais diversas maneiras de matar a sua prima mais velha de forma lenta e dolorosamente.

Deveria, a muito, estar se arrumando, tal como suas primas estavam, todas apertadas em um único banheiro e dormitório. Deveria estar com elas e não fazendo favores para Dominique e buscando vestidos perdidos e esquecidos por aí.

Mas uma vez, lamentou-se por ser a Weasley mais nova.

Bufou alto assim que chegou ao retrato da Mulher Gorda que guardava a Comunal dos leões e, sem pensar duas vezes, disse a senha instante antes do quadro se abrir. Em passos largos e rápidos, atravessou a sala, a qual estava igualmente vazia e silenciosa e foi em direção ao corredor, onde ficava o seu dormitório. Do lado de fora, já poderia ouvir a discussão.

— Dominique, você está me machucando! — Ouviu a voz de Rose, destacando das demais e soltou uma risada assim que entrou no dormitório.

Parecia uma versão menor e mais desorganizada das férias na casa da avó, quando todas se reuniam em um único espaço para discutir sobre coisas alheias. Lily reprimiu o pensamento de que, naquele verão, não teria mais a avó em casa para recebê-las e correu até uma das camas, jogando-se ao lado da única loira.

— Aqui está o seu vestido. — Disse, indicando com a cabeça para a caixa que trazia com tamanho cuidado.

— Obrigada, Lils! Veja Ros, agora sim você vai ficar perfeita. — Comentou a loira, toda animada, lançando um olhar de agradecimento para a ruiva mais nova. — Roxanne vai fazer seu cabelo, certo Roxy? — E gritou para a morena sentada a duas camas de distancia, que finalizava o penteado de uma Lucy nervosa com os puxões.

— Estou recebendo por isso? — Perguntou aos berros.

— Pare de gritar na minha orelha! — Lucy protestou.

— Não reclame ou as arranco fora para não ter mais problemas. — Bufou de volta, fazendo algumas das primas rirem.

— A típica delicadeza Weasley. — Rose comentou, rindo baixo.

— Venha logo, Lily Luna ou ficara desse jeito. Já estou perdendo minha paciência!

**

Ela se admirada, quase deslumbrada com o resultado. Os cabelos presos na lateral esquerda jogavam os cachos ruivos, perfeitamente modelados, para o lado direito dos ombros, resaltado a pele alva. A maquiagem, ainda que bem delicada, destacava os seus olhos azuis claros herdados do pai.

Sentia-se maravilhosa e, é claro, nunca admitiria isso à Dominique.

— Eu estou observando suas reações, Weasley. Sei que se apaixonou pelo meu trabalho. — Nick comentou, enquanto retocava o batom vermelho vivo.

Rose não sabia se era o lado veela, mas Dominique estava particularmente maravilhosa. Tinha quase certeza que nunca a tinha visto tão... Fleur.

— Estou procurando por falhas. — Rose disse, ajeitando o vestido verde musgo que modelava o seu corpo.

— Tenho certeza que está. — A loira bufou, antes de virar e sair do banheiro, sem antes, é claro, empurrar a ruiva sem delicadeza alguma.

Rose saiu logo atrás, rindo baixo. Saiu do dormitório já vazio, caminhando atrás de Nick em direção à primeira sala da Comunal. Por mais que apenas Lily e Roxanne fossem Gryffindor, era comum ter as Weasley reunidas ali. As casas, para elas, não significavam muita coisa.

Principalmente para Rose, que passava mais tempo na comunal das cobras do que na sua própria, uma vez que lá estavam os dois melhores amigos – Dominique e Albus Severus – e, é claro o namorado.

Só em pensar em Scorpius, sentia seu coração apertar-se de saudades. Fazia um pouco mais de um mês que não o via, desde o último evento no qual o sequestrara no meio de uma aula com Harry Potter. Cada dia que passava, detestava mais e mais o curso de aurores do qual ele estava participando.

Ela não tinha certeza se ele poderia aparecer no baile. A última carta que havia recebido, há duas semanas, ele tinha dito que estava se mudando para a Austrália naquela semana, como mandava o programa de treinamento. Passaria os próximos meses estudando no Ministério de lá e, se tivesse sorte (ou azar, como ele classificava) tinha a chance de ficar lá por vários anos, até que fosse transferido para Londres, mais uma vez. Dominique levou um pouco mais de um dia, com seu método de convencimento (também conhecido como infernizar a vida alheia) para que Rose concordasse em ir ao baile.

De qualquer forma, Nick estava certa. Era sua formatura, tinha que aproveitar o momento, mesmo sem Scorpius.

— Vocês podem comemorar depois, sozinhos. Tenho certeza que será bem mais interessante. — Ela tinha dito.

E, desde então, Severus passou a pergunta-la, em quase todos os momentos, se iria mesmo. Parecia realmente disposto a fazer Rose “aproveitar o momento”.

— Nossa Severus, está até parecendo uma pessoa hoje. — Comentou, divertida, assim que desceu as escadarias e encontrou o primo ali, encostado em um dos pilares, não muito distante de onde estava o grupo com o restante de seus primos e seu irmão mais novo.

Hugo parecia tão fofo trajando as vestes de gala, enviadas pelos pais na semana anterior.

“Deveria te mandar a que usei no meu baile de inverno, Hugo. Mas sua mãe não deixou. E para você, Rosie, espero que seja um vestido bem largo e que apareça o mínimo possível de seu corpo.” Dizia o bilhete pregado à camisa branca de Hugo.

Ronald só não sabia que Dominique já tinha encomendado o vestido de Rose por conta própria, no começo do ano letivo.

— E você até parece uma menina, Rose! — Severus comentou, implicando com a prima, enquanto passava seu braço ao redor da cintura da prima.

Tinham concordado em vir juntos, uma vez que Albus Severus estava tentando fugir de uma das meninas que Rose havia esquecido o nome, porém tinha um eterno amor platônico pelo Potter do meio.

— Você não reparou quando ela usava salto ou as saias do uniforme? — Dominique disse irônica, enquanto passava pelos dois de mãos dadas com James Sirius que riu.

O moreno de olhos esverdeados se limitou a dar de ombros e juntos, os Weasley e Potter que ainda estudavam em Hogwarts entraram juntos no enorme Salão Principal que estava decorado especialmente para o baile de formatura.

**

Não podia negar, estava se divertido. Entre as implicâncias de Dominique com James Sirius, as piadas idiotas e sem graça de Albus Severus e os objetivos “potencialmente perigosos” como a diretora Minerva os classificava de Fred e Hugo, as primeiras horas do baile passaram rápidas.

Seus pais e alguns tios chegaram algumas horas depois, tal como os pais dos restantes dos formandos. Ronald, depois de implicar com o modelo, tamanho e principalmente a cor do vestido de Rose, foi arrastado para longe junto com Hermione que apenas revirava os olhos e soltava algumas risadas divertidas da implicância do marido.

— Você acha que está na hora? — Dominique perguntou, de repente, no meio da mesa na qual dividia com alguns primos que não estavam dançando ou que não tinham sumido por aí.

Albus Severus ergueu os olhos esverdeados e deu de ombros para a prima, enquanto Rose erguia a sobrancelha.

— Acredito que sim. Não entendo muito desses horários. — Comentou, fazendo Dominique rir baixo.

— Fazer contas é pedir demais da sua capacidade mental, não é Severus?

— Alguém pode me dizer sobre o que estão falando? — Rose cruzou os braços na altura do peito, logo após deixar a sua bebida de lado.

— Vamos dançar, Dominique? — James Sirius levantou-se, puxando a mão de Nick que riu baixo, concordando com a cabeça.

Rose estreitou os olhos para Severus que balançou a cabeça para a prima.

— Não me olhe desse jeito, Weasley. — Ele bufou, levantando-se como o irmão mais velho. — Vamos dançar também.

Albus Severus era, provavelmente, a pior pessoa com quem Rose já havia dançado. Ela perdeu as contas de quantas vezes brigou com o primo por ele ter pisado na barra de seu vestido e quase ter rasgado o tecido fino.

— Merlin Sevs, você tem dois pés esquerdos? — Perguntou, divertida.

— Eu sempre disse isso. — Respondeu. No entanto, não era a voz do Potter do meio, mas sim uma pouco mais grossa e grave.

Não levou muito tempo para perceber de quem se tratava. Sem pensar duas vezes, virou o corpo para trás e abraçou a pessoa que estava ali. Seus braços finos envolveram o pescoço dele, no mesmo instante em que ele passou os seus próprios pela cintura fina da menina. Rose enterrou a cabeça em seu peitoral, hoje coberto por um belo traje a rigor preto carvão, sentindo a maravilhosa fragrância da colônia masculina misturada com a loção por barba, os mesmo que usava desde que ela o conheceu, no primeiro ano.

— Não acredito que você conseguiu vir! — Era, provavelmente, o maior e mais sincero sorriso que Rose abria há semanas.

— Ele é meu par no baile, Rose. Era obvio que viria. — Albus Severus soltou.

Por um momento, ela tinha se esquecido de que o primo estava ali.

Scorpius soltou uma risada, sem tirar os braços de Rose.

— Então eu que sobro aqui? — Ela perguntou, erguendo as sobrancelhas ruivas.

— Sempre sobrou, ruiva. Éramos apenas eu e Severus até você chegar. — E piscou para o moreno que riu, acompanhado pela prima.

— Certo isso está afetando a minha masculinidade. Vou procurar alguém para me divertir. — E piscando para os dois, saiu dali em direção a um grupo de sextanistas, não muito longe dali.

— Quer dizer que eu sou o demais nesse triangulo amoroso? — Divertida, Rose ergueu os olhos azuis claros para encarar os acinzentados de Scorpius, os quais, hoje, estavam tão claros quanto era possível.

— Nosso namoro sempre foi fachada, Weasley. Imagina o quanto meu pai surtaria se descobrisse que, na verdade, eu... Me relaciono melhor com o Potter. — Ela riu baixinho da careca que ele fez, na escolha duvidosa de palavras.

— Talvez melhor do que quando ele descobriu que você estava com uma Weasley.

O loiro deu de ombros, trazendo-a para mais perto.

— Acredito que a reação dele foi melhor que a do seu pai. — E então abaixou a cabeça, roçando o nariz por toda a região do pescoço dela, fazendo-a se arrepiar brevemente. — Eu sinto tanto a sua falta, Rose. — Sussurrou no pé do ouvido dela, antes de morder levemente e discretamente o lobo da orelha da ruiva.

Ela fechou os olhos diante das caricias e sorriu novamente assim que o ouviu.

— Não imagina o quanto senti a sua. — Devolve.

Puxa então o rosto dele para o seu e, depois de uma breve troca de olhares, encostou seus lábios nos dele e o beijou, transmitindo ali toda a saudade que sentia do namorado.

Separaram-se apenas quando o ar lhe foi necessário, algo que não aconteceria se não estivessem em um ambiente publico e, principalmente, sobre o possível olhar de Ronald Weasley.

Naquele instante, a música agitada que tocava foi substituída por uma de batida um tanto quanto mais lenta, que logo foi reconhecida pelos dois. Foi com aquela música, no quarto ano, que os dois dançaram juntos pela primeira vez e trocaram o primeiro beijo. Foi, dali em diante, que as confusões entre os dois se tornaram cada vez mais intensas e tomando proporções cada vez maiores.

Não era a toa que ocupavam o cargo do casal mais conhecido de Hogwarts.

Com uma mão na cintura dela e outra segurando a mão da ruiva, os dois começaram com o simples dois para cá e dois para lá, sempre rindo e soltando comentários pouco convenientes para o momento.

— Sabe, eu estava pensando... — Scorpius começou, logo após um rodopio de Rose. — Suas aulas terminaram e bem, partindo do principio que eu não vou ser cortado do programa e-

— Espera, por que você seria cortado do programa? — Com as sobrancelhas ruivas erguidas, ela assumiu sua típica expressão Hermione Weasley.

— Pensei que fosse óbvio. Eu faltei hoje, sem permissão. O fuso horário é diferente, Rose. Eu sai de lá quando fomos dispensados para o almoço.

— É claro, onze horas de diferença. — Soltou mais para si mesma do que para ele. — Merlin Scorp, por que você veio? O programa é importante, não deveria ter faltad-

— Você é mais importante. — Ele deu de ombros, cortando-a. — Não me olhe desse jeito! Eu vou dar um jeito depois agora posso, por favor, terminar minha linha de raciocínio?

— Claro, desculpa.

— Então, se não for expulso, vou continuar em Sydney até o meio do ano e bem, você poderia vir morar comigo, o que acha?

Por isso ela, com certeza, não esperava. Sua boca abriu e fechou diversas vezes até que pudesse finalmente formular uma frase que fizesse algum sentido.

— Ir morar com você? Em outro país, do outro lado do oceano... Do outro lado do mundo? — Ela exclamou um pouco alto demais, como se não tivesse acreditado nas palavras dele.

Scorpius simplesmente balançou a cabeça em uma afirmação, antes de dar de ombros.

— Certo, se você não quiser, eu entendo. Só pensei que seria interessante você estará formada.

— Eu quero, é claro que eu quero! — Ela soltou, com um imenso sorriso. Só a ideia em estar com ele a animava. — Só tenho um longo trabalho de convencimento pela frente com o meu pai. Não vai ter fácil convencê-lo de que eu vou morar com o meu namorado.

— Mas, e se fosse algo mais sério? — Agora, os olhos dele brilham de expectativa.

— Como é que é? — Não precisava ter o QI de Rose Weasley para entender onde ele queria chegar.

Principalmente quando Scorpius parou de dançar, soltou a ruiva e passou a procurar algo dentro do bolso de sua calça. Assim que encontrou o que procurava, uma pequena caixinha de veludo, ele se ajoelhou na frente dela, exatamente como nos filmes trouxas que assistiam e ela tanto reclamava.

Scorpius sabia o quanto difícil era convencê-la a aceitar os relacionamentos sérios. Rose tinha, como ele costumava dizer, certa resistência natural a tudo o que envolvia compromisso.

Sabia disso melhor do que ninguém, uma vez que precisou cair da vassoura durante um jogo de Quadribol para conseguir pedi-la em namoro.

— Pelo amor de Merlin Scorpius, levanta do chão. Está todo mundo olhando! — Ela disse baixo, apenas para ele que deu de ombros.

— Te pedi em namoro na frente de toda a escola, porque não manter a tradição? — E então suspirou, sorrindo. — Aceita se casar comigo, Weasley?

— Mas o que, pelas barbas de Merlin, está acontecendo aqui? — Ronald Weasley praticamente berrou fazendo Scorpius e Rose erguer o olhar para um ruivo tão vermelho quanto os cabelos e expressão assassina no olhar.

**

Dali, ela conseguia observar os pais. Hermione tinha no rosto a mesma expressão de quando dava uma bronca nos filhos e os colocava de castigo. Ronald, no entanto, não estava como ela e Hugo ficavam, de cabeça baixa aceitando o que a mãe dizia. Ele retrucava, cada vez mais vermelho o que deixava a matriarca Granger-Weasley cada vez mais brava.

— Acha que eles vão ficar até quando aí? — Era a voz de Dominique, que também os observava de longe.

— Mais algumas horas. Acho que Rose só piorou a situação. — Hugo respondeu, com um tom divertido, antes de encarar a irmã mais velha que deu de ombros.

— Papai precisa ter em mente que eu não tenho mais cinco anos. — A ruiva bufou baixo, antes de virar para o namorado, com um meio sorriso.

— Eu ainda acho que você corre um grande risco de perder suas partes baixas. — Severus comentou.

Ele tinha chegado no momento em Ronald explodiu, ao descobrir – pela boca da própria filha – que não era mais virgem desde os quinze anos. E então foi praticamente arrastado pelas orelhas por Hermione, há uns bons vinte minutos atrás.

— Às vezes eu duvido do amor que Rose sente por você, Malfoy. — Severus, Dominique e Lily Luna concordaram com o comentário de Hugo, com um aceno na cabeça.

Rose riu baixo e virou-se para o loiro.

— Então, quando nos mudamos para a Austrália?