"Posso dormir aqui?"

A frase que tinha sido dita alguns minutos antes repetia-se na mente de Félix, enquanto ele tomava um banho na casa de Niko. Sentia-se um pouco nervoso, um pouco constrangido, mas acima de tudo seguro por estar no lar do seu querido carneirinho.

Não parecia existir melhor momento do que um banho para pensar, refletir sobre as próprias ações e reações, enquanto a água quente descia pelo seu corpo como se estivesse lavando e livrando-o de todos os seus pecados.

Tantas coisas tinham acontecido em pouco tempo, tantas pessoas, tantos erros. Crimes, mentiras, traições. Entretanto, Félix queria deixar todas essas coisas para trás. Estava dando tudo de si para reconstruir sua vida, começar do zero, mudar a si próprio. Mesmo assim, a culpa às vezes o assombrava como um fantasma.

Mas ele tinha Niko do seu lado. Depois de tudo o que tinha feito, todos os conflitos que tinha causado, todas as pessoas que tinha afastado, o carneirinho estava lá. Incentivando-o, torcendo por ele, acompanhando-o na mudança seguinte à sua decadência. Será que ele teria força o bastante para mudar se Niko não estivesse do seu lado? Provavelmente não.

Ao mesmo tempo que Félix se sentia abençoado pela presença de Niko, não conseguia deixar de perguntar a si mesmo o que um homem tão bom, tão gentil, tão puro queria com ele, que tinha cometido tantos erros graves. Ele se sentia como uma mancha de vinho em um traje de seda branca, ou uma nuvem escura em um céu azul. Se Niko era o carneirinho, ele deveria ser o lobo.

– Eu devo ter dançado pole dance na cruz para merecer isso - Félix murmurou para si mesmo, sorrindo, contradizendo completamente o sentido de sua frase.

Algumas poucas lágrimas escorreram de seus olhos, misturando-se rapidamente à água do chuveiro quando ele colocou a cabeça sob o mesmo. Pensando sobre Niko, um nó tinha se formado em sua garganta, não um nó de tristeza, mas uma sensação de ansiedade por todas as coisas que queria dizer a ele e ainda não tinha dito.

Queria agradecer, dizer a Niko o quão importante era em sua vida, beijá-lo mil vezes, porque uma não seria o suficiente. Acima de tudo, desejava com cada fibra de seu ser que Niko fosse feliz. Era a primeira vez que desejava isso para outra pessoa, mais uma prova dos efeitos que o carneirinho tinha nele.

Eu quero que ele seja feliz.

Eu quero fazê-lo feliz.

Ele merece o mundo.

Com um suspiro, Félix desligou o chuveiro e saiu do boxe, logo em seguida enrolando uma toalha em volta dos quadris e secando o resto do corpo com outra. Ele vestiu algumas roupas emprestadas de Niko e tentou arrumar o cabelo ainda molhado da melhor maneira possível.

Félix foi até a sala, onde Niko estava, sentado no sofá e assistindo um filme na televisão. O amigo - que na verdade era muito mais do que amigo - fez um sinal para que se sentasse ao seu lado.

Eles se sentaram bem próximos, ombros se encostando de leve. Depois de alguns instantes de silêncio encoberto pelo som da televisão, Félix resolveu compartilhar um pouco dos próprios sentimentos:

– Niko, tem algo que eu preciso dizer.

– Pode falar, Félix - disse Niko, com seu sorriso acolhedor que tinha a capacidade de derreter o coração do outro.

– Obrigado... Por tudo.

As palavras saíram um pouco trêmulas da boca dele, tamanha a emoção que estava sentindo. Era como se seu peito fosse se arrebentar a qualquer momento, transbordar de todos os sentimentos que tinha dentro de si. Especialmente amor.

– Não precisa agradecer - Niko respondeu, levando uma mão até o rosto de Félix, acariciando sua bochecha com o polegar. - Sou eu que fico feliz de ver você melhorando, crescendo como pessoa, se tornando um homem mais feliz.

Félix sorriu, logo colocando a sua mão sobre a de Niko, que estava em seu rosto, segurando-a ali e traçando carícias delicadas nos dedos dele, como pequenas constelações.

– Eu... Eu não sei o que seria de mim sem você, carneirinho.

Depois dessa frase, seus rostos se aproximaram, devagar, e se encontraram em um beijo. Os lábios de Niko eram mornos e acolhedores conforme se pressionavam contra os de Félix, compartilhando seu calor.

O que começou com um modesto selinho logo tornou-se mais intenso quando a língua de Niko provocou os lábios de Félix para que se abrissem, cedendo-lhe passagem. Ele não negou, simplesmente se entregando à Niko, ao amor e aos carinhos, permitindo que fosse dominado por aquele que era como um anjo em sua vida.

O beijo foi longo, proporcional ao amor e desejo que sentiam um pelo outro, seguido de vários outros, até que suas mãos se encontraram e seus dedos se entrelaçaram. Com uma pausa para respirar, Niko disse:

– Eu esperei tanto tempo por isso. Parece um sonho...

– Se isso for um sonho, eu não quero acordar nunca - Félix respondeu, sem hesitar.

– Eu também não. Ainda bem que é a realidade.

Niko se inclinou sobre Félix e começou a beijar seu pescoço, puxando um pouco a gola da camiseta para que pudesse fazer o mesmo em sua clavícula e ombro. Félix logo retribuiu, passando a mão pelo cabelo dele e depositando beijos em seu queixo e pescoço, mordendo de leve em alguns lugares.

Em pouco tempo os beijos ficaram mais intensos, as roupas foram removidas e palavras se tornaram gemidos, para mais tarde se transformarem mais uma vez em juras de amor.

Muitas coisas erradas tinham acontecido na vida de Félix, mas aquele momento era tão certo quanto os sentimentos que tinha pelo carneirinho.