Abri meus olhos lentamente e olhei em volta: estava no quintal de minha casa, com meus braços enroscados no ferro do meu antigo balanço. Estranhei, pois eu havia vendido aquele balanço havia muito tempo. Alguém pigarreou ao meu lado, e me virei para dar de cara com Augustus Waters, com os braços cruzados e um cigarro apagado pendendo em sua boca.

-Gus?

Perguntei, sem poder acreditar. Waters se virou para mim e esboçou um sorriso.

-Olá, Hazel Grace. Há quanto tempo.

Disse ele em voz baixa, como se quisesse que somente eu ouvisse, mesmo que não houvesse mais ninguém no quintal conosco.

-O que você está... Gus, você está morto.

Murmurei assustada, lembrando-me de seu funeral e como entrei em depressão nos dias seguintes.

Ele sorriu do mesmo modo cafajeste que sorria para mim enquanto ainda era vivo:

-Sim, eu sei disso.

Ele olhou para si mesmo, e depois virou-se novamente para mim:

-É, parece que estou mesmo, não é? E você também está, Hazel Grace.

Quando ele proferiu aquelas palavras, simplesmente não consegui acreditar. Eu havia morrido. Eu estava morta, mortinha. As primeiras pessoas em que pensei foram meus pais, e depois Isaac, e depois meus amigos da faculdade. Qual seria a reação de todos eles ao descobrirem que morri?

-Eu... Não pode ser.

Falei, negando com a cabeça. Olhei em volta e depois fixei meus olhos nos de Gus:

-Estamos no meu quintal. Eu não estou morta.

-Então como se explica o surgimento deste balanço, aqui, de repente? Você não havia o vendido?

Perguntou ele, e naquele momento a ficha caiu. Gus. O balanço. Meu quintal. Todas as coisas que me fizeram bem a minha vida inteira. Eu estava realmente morta, e aquilo com certeza não era um sonho. Minha mãe mencionou uma vez que, quando as pessoas morrem, elas veêm objetos ou pessoas que amaram e que lhes fizeram bem a vida inteira, o que era o meu caso.

-Quer dizer então... Espere, me explique algo antes: como meus pais reagiram? Eles já sabem que estou...?

-Morta? Sim, eles sabem. Você morreu esta manhã, exatamente ás 4h41 da manhã. Morreu enquanto dormia, mas acho que não foi nada acidental, já que você mesma se livrou de seu aparelho respiratório. Seus pais te acharam morta ás 7h20, quando foram ao seu quarto. E aí, acabou.

-Acabou?

-Acabou. Sua vida na Terra acabou. Simples assim.

-Gus, eu...

-Você se matou, não foi, Hazel?

-O quê?

-Você foi dormir sem o aparelho respiratório. Você fez isso de propósito.

-Eu nunca quis magoar ninguém, Gus, entenda... Eu só queria me juntar á você.

Falei, as lágrimas beirando meus olhos e sentindo minha boca ficar seca. Gus assentiu lentamente, e suspirou:

-Eu sei bem como é isso, Hazel Grace. Me prometi que faria a mesma coisa se você morresse na época em que você teve sua... Recaída.

Ele disse, medindo as palavras, e imediatamente lembranças da época em que tive minha recaída, e que realmente pensei que iria morrer vieram á minha mente. Supirei e olhei para Gus:

-Então, se eu morri mesmo, quer dizer que agora poderemos ficar juntos?

Perguntei, esperançosa, e ele assentiu, ainda com o cigarro pendendo nos lábios.

-Sabe, Hazel Grace, acho que á partir deste momento, o infinito será muito pouco tempo para nós.

Disse ele, e ri:

-Essa é mais uma de suas metáforas?

Pergunto, ainda sorrindo, e ele dá de ombros:

-Minhas simples metáforas nunca conseguirão definir em palavras todo o meu amor por você, minha querida Hazel Grace.