Eu estava sempre ali. De longe, apenas a observando. Gravando cada movimento, estudando suas expressões, lendo cada reação dela. Nós só nos limitávamos a um diálogo curto, quando tínhamos trabalhos em classe. Era nosso único contato verdadeiro. Eu sinceramente já me contento em apenas assisti-la de longe.

Desde que ela entrou para minha vida, eu havia me perdido naquelas orbes azuis oceano e me afogado na imensidão azul de seus cabelos ondulados.

Foi numa segunda-feira, primeiro dia de aula, há um ano. Me recordo como ontem a primeira vez que eu a vi. A porta se abriu no meio da primeira aula e ela entrou, cabeça meio baixa, sorriso tímido e bochechas coradas.

– Licença,professora - sussurrou - Me desculpe, estava na secretaria terminando os detalhes da matrícula...

– Não tem problema, querida - Ultear, nossa professora de Inglês lhe direcionou um sorriso caloroso – Venha, se apresente para classe.

O tom rubro de suas maçãs do rosto ficou mais forte, e ela corou até as orelhas. Hesitou um pouco, mas deu um passo a frente, até que ficou de frente para toda a sala. Seus olhos encontraram os meus, e nos fitamos por pouco mais de 3 segundos. Ofereci um sorriso torto, tentando encorajá-la. Ela retribui, voltando seu olhar para o resto da turma.

– Ahn...meu nome é Juvia Lockser. Tenho 16 anos, e...sou de New York. Bem, é isso.

Ela olhou para a professora com um olhar de súplica,quase implorando para poder ir se sentar logo. A professora assentiu,e ela se dirigiu para a carteira ao lado de Lucy Heartfilia.

Eu tinha uma queda pela Lucy, mas no momento que a garota de orbes azuis brilhantes e sorriso tímido cruzou a porta, não existia mais universo a volta, não existia mais Lucy, mais nada.

Juvia se tornou amiga da Heartifilia e de Levy,a garota baixinha de cabelos azuis claros que andava com Lucy. No intervalo elas sempre passavam por mim brincando umas com as outras e conversando. Eu e Juvia trocávamos um olhar casualmente e ela sorria de leve,assim como eu.

Eu a observava constantemente. Confesso que minhas notas até decaíram um pouco, porque não prestava atenção nas aulas. Com certeza a única coisa que eu estudava era ela. Eu sabia o jeito que ela puxava uma mexa de cabelo para trás com o polegar e rodava o lápis entre os dedos enquanto lia uma equação na aula de Matemática. O modo que ela apoiava o cotovelo na mesa,colocava o queixo sobre ele e piscava bem devagar, com sono, na aula de Geografia. Ou também a maneira que ela cantarolava sempre a mesma música enquanto desenhava algo na aula de Artes

Também sabia que quando tocava o sinal da última aula, e o professor nos liberava, ela guardava suas coisas sempre de modo sistemático, na mesma ordem: caderno de 10 matérias, caderno de Português, caderno de Matemática, a pasta por trás de tudo, e o estojo por cima dos cadernos. Fechava a mochila e colocava apenas uma alça no ombro direito.

Olhava ela indo se sentar na mureta que havia ao lado do colégio, esperando sua mãe vir buscá-la. Ela balançava as pernas para frente e para trás, e tamborilava os dedos no verso do celular. Eu achava muito fofo jeito que ela inflava as bochechas em irritação quando sua carona atrasava.

Pode parecer um comportamento doentio da minha parte, algum transtorno possessivo ou uma loucura crônica. Mas era apenas um amor escondido, um sentimento que eu gostava de guardar pra mim, um hobbie um tanto estranho, que me fazia muito bem. Eu já pensei muito em sair das sombras, me aproximar dela, mas tinha receio. Receio de quebrar minhas expectativas, nada ser como espero. Sei que a vida é feita de riscos. Mas quem sabe.

Talvez um dia nós passaremos bilhetinhos na aula de Filosofia, ou fazer dupla de laboratório em Química,explodir algumas coisas e dar muita risada. Talvez um dia ela vá de ônibus para casa, com a mão entrelaçada na minha e nós trocando sorrisos bobos. Talvez a leve no cinema, ou descubra a música que ela canta baixinho enquanto desenha.

Ou talvez eu só continue a observá-la.

Como o bom stalker que eu sou.