Por Kate Beckett

Com o olhar perdido a frente do monitor do computador, passei a maior parte do meu tempo durante o turno.

- Você não falou quase nada o dia todo. Kate, o que esta acontecendo? Não só eu, mas os seus outros parceiros também estão preocupados.

Notei que ele havia trazido uma xícara de café, e a colocou na minha frente, assim lembrei que não havia me alimentado desde o momento que cheguei ao departamento.

O olhei. Demorou ate que eu dissesse alguma coisa:

- Não há nada. Só estou resolvendo as questões administrativas, como você já disse papéis é algo entediante.

Bebi o café, e percebi que eu realmente precisava de alguma coisa no meu estômago. Castle não saiu do lado da minha mesa, não o encarei, mas notei que ele me observava com seriedade, o que não era muito comum.

- Ei pessoal! Estamos de saída, vocês também vem? Precisamos descansar, o dia hoje foi cansativo. –Exposito disse com seu casaco em mãos, e Ryan do seu lado.

Os três olharam para mim, querendo saber somente a minha resposta.

- Só vou desligar o computador, e guardar esses documentos. Podem ir... –os respondi com um olhar de súplica para que me deixassem sozinha.

Exposito e Ryan foram para o elevador, Castle antes de ir, se virou para olhar em meus olhos e falar:

- Pode me ligar a qualquer hora, não importo. Fique bem!

Em seguida, beijos levemente meus cabelos e saiu. Ele não fez nenhuma piada, isso me mostrou que Castle sabe ou imagina pelo o que estou passando.

Com o silêncio daquele lugar, fiquei a lembrar do que acontecera comigo a pouco tempo. Aquele clima estava me sufocando. Depois de respirar fundo, me levantei e segui em direção ao elevador.

Em instantes já estava no estacionamento do prédio. A cada passo, me sentia amedrontada, confusa.

Com o bipe do alarme do meu carro sendo desativado, entrei e com muita calma tentei dar partida no motor. Os pensamentos estavam correndo através de meus neurônios, quando me dei conta as lágrimas tomaram o meu rosto, o lugar estava silencioso, o que só aumentava a agonia.

De repente, vejo uma sombra se aproximar do meu carro, com o já treinamento peguei minha arma e fiquei me movimentando de um lado para outro freneticamente. Aquela sombra tinha nome, então entrou e sentou no banco ao meu lado.

- Não precisa dizer nada. Fiquei preocupado com você.

- Rick, não tem nada com o que se preocupar, estou bem.

Fingi um leve sorriso, mas ele parece que não ouviu o que eu disse.

Secando minhas lágrimas, ele disse:

- Eu levo você para casa.

Não retruquei, nem briguei, apenas assenti e trocamos de lugar no carro. O silêncio pelo caminho era constante. Não sabia o que dizer, mas Castle ao meu lado fazia com que eu sentisse protegida.

Só mencionei curtas palavras para que ele soubesse qual era minha vaga no estacionamento do meu prédio.

Ficamos alguns segundos parados em frente a minha porta até que eu encontrasse as chaves. Ele fechou a porta enquanto eu andava em direção ao sofá.

- Por que você veio até aqui? –perguntei já sem lágrimas descendo pelo meu rosto.

- Cuidar de você. –ele respondeu sem desviar o olhar do meu.

- Você sabe que não precisa se preocupar.

Parecia que ele não acreditava nisso, me encarou e disse:

- Kate, você não tem que se manter forte esse tempo todo. Olhe tudo o que você passou nesses últimos tempos. Você precisa falar o que esta sentindo. Estou aqui para te ajudar.

Pensei no que ele disse, pensei sobre o seu brilho no olhar naquele momento. Demorei um pouco para poder falar, e Castle esperou pacientemente.

- Estou me sentindo fraca, com medo, assustada. Não conseguido parar de lembrar do funeral do capitão, ouço sirenes o dia todo. Não consigo dormir uma noite inteira desde quando fui atingida. È algo horrível quando tiro a camisa e vejo que há uma cicatriz em meu peito, me dá arrepios. –disse devagar enquanto Castle me olhava e me ouvia sem nenhuma preocupação em ir embora.

- Eu sei que é difícil, você foi baleada Kate, passou pouco tempo, normal você ficar assustada...mas, ei! Quero minha parceira de volta, quero levar o seu café em todas as cenas de crime, quero que você continue a perguntar se tenho teorias malucas sobre o caso, quero a Beckett em ativa outra vez. Não deixe aquele DP sem seu charme...

Dei um leve sorriso.

- Você foi feita para sorrir, esse é o seu jeito de encantar as pessoas que estão a sua volta.

Eu o abracei sem medo.

- Obrigada Rick! Eu precisava disso, muito obrigada. –sussurrei ao seu ouvido.

- Não tem que agradecer. –ele disse.

Quando nos afastamos, ele olhou para mim e para a cozinha de forma alternada. Fiz uma expressão de dúvida.

- Vou fazer um chá para nós. Também preciso me acalmar.

Somente ri e me afastei para que ele pudesse seguir ate a cozinha. Deixei ele abrindo os armários e derrubando tudo o que tinha dentro.

- Por que você acha graça do meu desastre?- ele disse fechando os armários.

Não o respondi, sentei no banco em frente a bancada, e de longe apontei tudo o que ele precisava para o chá. Fiquei observando tudo o que ele fazia, e nosso olhares se cruzavam uma hora ou outra, e fiquei me perguntando como aquele homem me fazia sentir tão bem...

- Para você! –ele disse colocando a xícara perto das minhas mãos.

- Desculpe! Estava distraída com meus pensamentos ...-respondi pegando a xícara.

Ele me acompanhou até o sofá.

- Esta melhor?

- Sim. Esse chá é mágico. –disse erguendo a xícara.

Ele sorriu:

- Eu sei! Sou ótimo na cozinha. –ele riu

-Convencido! –falei cerrando os dentes.

Passamos um tempo em silêncio. O chá tinha acabado. Não sabíamos o que o outro pensava, embora eu soubesse que tinha uma possibilidade de que ele fizesse o mesmo que eu: pensasse na pessoa que esta sentada ao seu lado.

- Esta apaixonada Kate?

Fiz uma expressão de dúvida.

- Castle! Que pergunta é essa agora? Por quem estaria apaixonada?

- Por mim, é claro! –ele mesmo não agüentou e riu.

- Você não perde a oportunidade de fazer seus comentários. –falei me levantando rapidamente e deixei escapar um leve sorriso enquanto estava de costas para ele.

- Por que? Você esta apaixonado Rick? –falei finalmente virando para ele.

Ele sentado no sofá, olhou para o chão, respirou e disse:

- Sim!

Seu olhar ficou firme e sério ao olhar para mim. Ficamos em silêncio por um tempo. Depois de sua resposta, não sabia o que dizer, e aparentemente ele também.

- ... Bem, já que você esta mais calma, eu vou para casa. Esta tarde. Qualquer problema me ligue. –ele disse já indicando que iria sair.

- Obrigada. Por tudo. Realmente, você me ajudou. A sua parceira estará de volta amanhã.

Com a mão na maçaneta da porta de entrada ele se virou para mim e disse:

- Boa noite! –em seguida beijou em meu rosto.

- Boa noite! –devolvi o beijo, de forma que nem eu mesma acreditei que eu reagiria assim.

Ele mostrou a surpresa e a gratidão em forma de sorriso.