Closed your Eyes escrita por Noona


Capítulo 3
Capítulo 2




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Por um momento, Ma-Ru deixou que o aquela informação fizesse sentido em sua mente. Jamais haveria de pensar que uma deficiente visual frequentasse aquela escola cheia de regras absurdas com pessoas mesquinhas e preconceituosas. Silenciosamente, estendeu a mão e pegou a bengala, depositando-a perto da garota, de forma que o metal frio ficasse contra sua pele e ela pudesse saber onde estava.

Anyoung haseyo! Eu sou Park Eun Jae, sou muito grata, obrigada por ter me salvado. — Em um tom formal, curvou a cabeça em uma saudação respeitosa, agradecida pela interferência dele na situação.

Surpreendido com a situação e desacostumado a conversar formalmente com alguém, ainda demorou a formular uma resposta, incerto quanto ao que devia dizer. Mesmo que a coisa mais sensata a se fazer fosse virar as costas e deixá-la falando sozinha, foi incapaz de fazer aquilo. Maldita hora em que havia se metido naquele assunto! Irritado consigo mesmo, respirou fundo e sentou-se de fronte a ela, deixando a irritação se dissipar antes de responder.

— Choi Ma-Ru. — Lhe disse seu nome à guisa de um cumprimento, de má vontade em prosseguir com aquilo. Manteve-se em silêncio e limitou-se a observá-la com certa curiosidade.

Com um gesto firme de sua mão direita, Eun Jae firmou a estrutura em tubos de alumínio de sua bengala com a destreza de quem já estava muito acostumada a fazer aquilo e tentou erguer-se, usando a outra mão para tatear o ar, em busca de uma parede ou um objeto que lhe ajudasse a se levantar.

Erguendo-se do chão de um salto sentindo-se realmente idiota, Choi Ma-Ru estendeu sua mão e segurou a dela, ajudando-a a por-se de pé. Pode sentir os dedos dela se crispando contra sua mão, como se corrente elétrica tivesse tocado sua pele pálida.

Gamsahabnida! — Novamente, a garota se curvou em agradecimento e aquele simples gesto o deixou completamente sem ação, de uma maneira que não acontecia há muito tempo e que o incomodou muito, embora não soubesse precisar o motivo.

O sinal estridente ecoou pelo corredor vazio anunciando o término de uma aula, mascarando o ruído da respiração profunda de Ma-Ru, em alívio por ter aquela desculpa para ir embora.

O ruido de múltiplos passos dos alunos que saiam da aula o avisou que dali a poucos momentos tudo estaria tomado pelos estudantes, os quais ele se empenhava em manter uma boa distância. Na mesma hora, soltou depressa a mão dela e se afastou, seguindo o caminho oposto. Logo sumiu por entre os corredores, sem sequer se despedir.

Os dias que se seguiram a aquele incidente rapidamente se transformaram em semanas, sem que nenhuma anormalidade transcorresse e eventualmente atrapalhassem a ordem naquela escola, algo comum em mais um semestre letivo. Todos os dias, a mesma multidão de alunos se movia pelos corredores, deslocando-se de uma sala a outra, passando depressa pelos laboratórios e quadras de esportes em um ritmo frenético de intensa pressa.

Ao final de cada semana, alunos de todas as classes lotavam a elegante cafeteria da escola, compartilhando seu dia com os amigos e relaxando depois das longas sessões de estudo. Mesmo de fora, o cheiro delicioso de baunilha e café fresco era convidativo, se tornando o local favorito de todos os estudantes. Decorada em tons de marrom e cobre, era um ambiente agradável e bem decorado, repleto de pequenas mesas onde podiam relaxar ao som de alguma música agradável enquanto saboreavam o melhor bolo de batata doce de Seul, acompanhado de um delicioso café mocha. O clima acolhedor e descontraído era a marca registrada da cafeteria, alunos entravam e saiam a todo momento, conversando tranquilamente com os amigos, fazendo planos para o fim de semana.

Ainda que se parecesse com mais uma cafeteria comum, o atendimento era realmente o que tornava aquela cafeteria tão diferente das outras, uma vez que era feito pelos alunos que recebiam algum tipo de punição por serem pegos transgredindo as regras.

O encarregado de convocar os transgressores era o inspetor Seo, um severo ahjussi que era o maior pesadelo de todos os estudantes. Era de conhecimento geral seu completo zelo pelas regras e normas da escola, todas as duzentas e quarenta e três regras devidamente memorizadas no decorrer de seus trinta anos de serviço naquela instituição, o que fazia dele o supervisor entre os inspetores.
O inspetor era bastante velho, os poucos fios que restavam em seus cabelos eram completamente prateados. Sempre vestido com seu impecável terno azul-marinho, seus sapatos engraxados ecoavam pelo corredor conforme ele caminhava de posse de seu temido caderno de anotações, onde anotava os nomes dos estudantes em sua lista negra. Ninguém parecia capaz de escapar de sua rigorosa inspeção, a não ser Kang Han-Yeon, a preciosa filha do diretor que podia fazer o que bem entendesse. Seu grupo era conhecido por ameaçar e intimidar os outros estudantes, se aproveitando de sua influencia dentro da escola.

Han-Yeon era a mais velha de seu grupo, circulava pelos corredores da escola um estranho boato de que havia sido presa ou reprovada há alguns anos e embora nada fosse comprovado, aquilo parecia ser um motivo de extremo orgulho para ela mesma. Seus cabelos estavam sempre pintados com alguma cor chamativa, que ela fazia questão de trocar quando lhe convinha. Era uma garota pequena e realmente mal-educada, extremamente irritadiça e violenta quando contrariada. Ao seu redor, alunos bajuladores tentavam cair em suas boas graças e se juntar a seu fiel séquito de súditos que a acompanhava onde quer que ela fosse, como sua guarda pessoal.

Naquele dia, em especial, mechas roxas se misturavam aos fios escuros, ajeitados em um penteado esquisito que todos diziam estar na moda. Fazia questão de ostentar seus pertences, sempre exibindo caríssimos acessórios e os sapatos de couro legítimo, muito úteis quando precisava chutar os estudantes enquanto os ameaçava ou correr dos inspetores na escola. Suas roupas, embora não estivessem amassadas, estavam adornadas por uma série de botons de bandas de k-pop e colares coloridos.

Seu grupo particularmente barulhento entrou no ambiente da cafeteria, quebrando o costumeiro clima de tranquilidade e chamando a atenção dos alunos no interior do estabelecimento. O silencio repentino pela chegada do grupo foi seguido de um alto ruido de cadeiras se arrastando, quando rapidamente trataram de desocuparam uma mesa ao identificar a líder da gangue da escola e seu bando. Alguns alunos estranharam sua presença por ali, muitos deles jamais haviam visto qualquer um dos yankees naquela cafeteria, motivo pelo qual o local era considerado um lugar seguro.

Seguida por seus amigos, Han-Yeon se sentou em uma das cadeiras e deu um olhar em volta, como se procurasse alguém. Seus olhos brilharam por um momento quando Choi Ma-Ru passou diante de sua mesa, sem sequer olhar em volta. Segundo os boatos que circulavam pela escola, aquele rapaz calado era muito superior a qualquer um dos rapazes de seu bando, um lutador com muita habilidade.

Com ele a seu lado, poderiam não só liderar aquela escola, como todas as outras de Seul. Ainda que fosse criado no ocidente, seu pai não criaria problemas para aceitá-lo como um pretendente. Seu plano era perfeito, ela refletiu em seus pensamentos. Ela teria um bonito namorado e ele não seria mais expulso de escola alguma. Só precisava convencê-lo a obedecer suas ordens, algo tão fácil para alguém acostumada a mandar e imediatamente ser obedecida.

Aquela algazarra era insuportável, se comparada ao clima habitual da cafeteria. Incomodados, alguns alunos se dirigiram até a saída da cafeteria, abrindo suas portas de vidro. De imediato, se detiveram ao ver a estudante que estava na entrada, olhando uns para os outros sem saber direito o que fazer. Depois de um momento de constrangimento, afastaram-se e deixaram que entrasse, retirando-se em seguida.

Perdida em seus pensamentos, Han-Yeon mal prestava atenção à sua volta, só voltou à realidade com um cutucão particularmente forte em seu estômago. Voltando o olhar irado na direção de quem havia feito aquilo, disposta a retribuir com um ainda mais forte, esqueceu o que ia dizer quando uma de suas amigas apontou para a pessoa que vinha entrando na cafeteria lentamente. Um sorriso cruel curvou seus lábios em um sorriso perverso, em uma promessa de diversão garantida para todos.

Com passos sempre hesitantes, Eun Jae agradeceu aos alunos que, ao ver a bengala em suas mãos, lhe deixaram a porta aberta e saíram em seguida. Não era exatamente uma aluna popular entre os estudantes, uma vez que ninguém parecia se sentir à vontade perto dela. Deslizando a bengala pelo chão, baixou a cabeça e se concentrou na tarefa de chegar ao balcão e pedir um lanche. Não havia arriscado se dirigir ao refeitório durante o horário do almoço e estava faminta.

Havia entrado no estabelecimento poucas vezes, Eun Jae se concentrou no cheiro de café fresco e foi em frente, esperando estar indo na direção certa. A bengala fazia o mesmo barulho monótono ao qual já estava acostumada, trazendo consigo a familiaridade de um ambiente conhecido. Havia muitos anos que aquele ruido característico acompanhava cada um de seus passos, e assim, Eun Jae não pressentiu o perigo antes que fosse tarde demais.

Como se saídos do nada, alunos pareceram sair de todas as direções e esbarrar contra ela, empurrando-a de um lado para o outro. Desacostumada a estar em meio a muitas pessoas, aquilo fez com que se assustasse e se descontrolasse, perdendo qualquer senso de direção. Quando deu por si, havia um obstáculo diante de seu pé, algo que a bengala que trazia presa com firmeza em sua mão não havia conseguido detectar. Seu corpo se impulsionou para a frente ao topar com aquela barreira que não havia percebido, Eun Jae fechou os olhos e prendeu a respiração, antecipando a dor que viria com a queda.

Ao ser lançada para a frente, bateu com força em uma barreira bastante sólida e suas mãos se seguraram com força contra ela automaticamente, tentando evitar a queda. Seu coração disparado pareceu bater ainda mais rápido e seus pulmões doeram quando sua respiração voltou a funcionar, deixando-a ofegante e levemente trêmula.
Para sua surpresa, mãos grandes envolveram sua cintura, segurando-a protetoramente e impedindo que se machucasse. Seu rosto ficou escarlate ao registrar aquela sensação, divida entre o alívio de não se machucar e o constrangimento de ser tocada por alguém que nem sabia quem era. Seus sentidos voltaram a seu normal, registrando o perfume que podia sentir do corpo apertado contra o dela, proveniente de um perfume que ela não conhecia, mas decididamente uma fragrância masculina.

Seus sentidos táteis registraram a tensão nos músculos sob seus dedos, podia sentir que estava se preparando para ir embora sem sequer lhe dizer uma palavra. Com o pavor percorrendo por suas veias agitando seu sangue, Eun Jae sabia que não conseguiria ficar sozinha ali. Seu instinto falou mais alto, fazendo com que estendesse sua mão para segurá-lo. Estremeceu ao encontrar a mão do estranho, mas não a soltou. Tinha noção de que não deveria agir daquela forma, mas ao contrário do que devia fazer, quando deu por si seus dedos estavam entrelaçados aos dele, prendendo-os e apertando-os de leve. Seus olhos se arregalaram ao tocá-lo, conhecia aquele mão grande e a sensação se sua pele levemente áspera.

Choi Ma-Ru fez uma careta ao sentir sua mão presa junto à dela, ainda que quisesse se enganar, não havia dúvidas que havia sido reconhecido. Embora a tivesse visto no corredor durante aquela semana, Ma-Ru se viu procurando manter uma distancia sensata daquela garota, algo que era ridículo, uma vez que ela jamais poderia reconhecê-lo no meio de tantos outros estudantes que iam e vinham por aquela escola. A princípio, encontrá-la pelos corredores pareceu um mero acaso, mas o passar dos dias fez com que começasse a virar o rosto em todas as direções, procurando-a no meio de uma centena de rostos diferentes.

Havia estranhado seus próprios modos ao fazer aquelas coisas esquisitas, mas nada havia mudado ali, senão ele mesmo. Ainda que continuasse em suas tentativas para ser expulso, o máximo que havia conseguido foi um humilhante castigo na cafeteria da instituição, onde deveria ajudar durante aquela semana. Mesmo que os outros alunos mantivessem distancia dele, era um tanto quanto deprimente ser obrigado a ficar ali duas horas diárias.

Foi quase um alívio quando a sexta-feira finalmente veio, trazendo consigo seu ultimo dia de castigo. A movimentação na cafeteria era rotineira, mas naquele dia em especial, algo chamou sua atenção. Pela primeira vez na semana, Han-Yeon e seu bando haviam se instalado ali durante todo o período livre.

O rosto da garota tinha uma expressão de ansiedade, como se esperasse encontrar algo por ali. Ou alguém.
Recuando o corpo depressa, tratou de se esconder nas proximidades do extenso balcão, onde podia se esconder sem que sua presença fosse notada pelos outros estudantes.
Um estalido metálico ecoou pelo salão anormalmente silencioso e desviou sua atenção do grupo e seus olhos se colaram na origem do ruido. Daquela vez, seu uniforme estava impecável, assim como os cabelos presos no alto da cabeça e a bengala firme em sua mão. Seus passos cautelosos e lentos eram contínuos, assim como se recordava de tê-la visto percorrendo os corredores, os alunos se afastando para lhe dar passagem. Talvez não tanto por educação, mas justamente por não saber como agir com ela.

Eun Jae. Continuava tão bonita quanto daquela primeira vez em que a vira. Embora tivesse evitado encontrá-la pelos corredores, não podia ter deixado de notar a presença dela em diversos momentos, e não era exatamente por que um deficiente visual jamais passaria despercebido e anônimo, mesmo em meio a uma multidão.

A presença de Eun Jae pareceu mexer não só com ele, mas também com o grupo de Han-Yeon, que passou a apontar e rir entre si. Imediatamente, a líder se pôs em pé e deu a volta ao redor de sua própria mesa, enquanto os outros também se levantavam e se espalhavam pela cafeteria.

Comunicando-se através de sinais uns para os outros de seu grupo, não demoraram a cercar Eun Jae, empurrando-a descuidadamente e confundindo-a, dando tempo para que Han-Yeon seguisse por trás da vítima, sorrateiramente. Os amigos riram mais alto e corresponderam seus sinais, encorajando-a a agir depressa.

Ma-Ru não havia perdido um detalhe sequer da ação que se desenrolava diante de seus olhos, um breve olhar ao redor lhe deu a certeza de que nenhum estudante faria nada para proteger sua colega do assédio daquele grupo. Seus olhos se estreitaram quando viu Han-Yeon aguardando pelo momento certo de agir, e por instinto sabia exatamente o que ela faria.

Com a calma de quem já estava acostumada a intimidar os outros, furtivamente, Han-Yeon se esgueirou por trás de Eun Jae se aproveitando da confusão que seus amigos haviam causado aos sentidos de direção dela. Hesitando por um momento, aguardou que ela deslizasse sua bengala pelo chão, esperando que deslizasse para longe de si.

Fazia algum tempo que Han-Yeon vinha perturbando-a, rindo daquela pobre coitada que jamais deveria ter colocado os pés em sua escola. Posicionando seu pé no caminho onde Eun Jae passaria, usou uma das mãos e empurrou a garota, tentando derrubá-la no chão.

Choi Ma-Ru não soube como se moveu rápido daquele jeito, quando deu por si, suas mãos estavam firmes contra a cintura de Eun Jae, protegendo-a e mantendo-a segura de uma queda certa. Mal podia reconhecer a si mesmo bem no meio da cafeteria protegendo-a com seu próprio corpo, seus olhos frios exibindo um brilho assassino no olhar. Ainda que Ma-Ru tivesse tentado se manter indiferente, não havia conseguido ficar imóvel enquanto Eun Jae era machucada por aquele grupo asqueroso de Han-Yeon.

Paralisados como se estivessem em choque, a gangue de Han-Yeon permaneceu estática por um momento, lançando olhares nervosos para a líder, como se estivessem à espera de alguma ordem sobre o que deveriam fazer. Até então, ninguém jamais havia demonstrado qualquer reação de oposição quanto ao que a filha do diretor fazia, ainda mais alguém tão forte e tão intimidador quanto o aluno novo, que os encarava como se desejasse acabar com todos.

A tensão na cafeteria havia tomado rumos perigosos, onde o próximo movimento poderia causar algum mal realmente incontrolável. Ninguém havia tomado uma atitude quando um dos integrantes do grupo de Han-Yeon abriu a pesada porta de vidro da cafeteria e entrou depressa.

— O inspetor Seo vem vindo, corram!

Han-Yeon fez uma careta de raiva e saiu correndo primeiro, tentando salvar a si mesmo da punição certa. O maldito inspetor tentava pegá-la havia muito tempo e não deixaria de persegui-la até que pudesse entregá-la ao diretor. Saindo da imobilidade, seus amigos a seguiram, deixando Ma-Ru e Eun Jae para trás.

Ma-Ru também se moveu depressa, ainda que não se importasse em assumir a culpa pelo alvoroço na cafeteria, não iria deixar Eun Jae ser responsabilizada por aquilo. Puxando-a depressa, saiu pela entrada lateral do estabelecimento, e se surpreendeu sentindo um certo alívio por ter sido obrigado a trabalhar na cafeteria, caso contrário, não teria conseguido salvá-la.

Segurando a mão dela com firmeza, puxou-a na direção certa e correu com ela pelo pátio da escola. Olhando sobre o ombro para a garota que corria atrás dele, seu rosto bonito corado pelo exercício, pela primeira vez em muito tempo Ma-Ru se pegou sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Anyoung haseyo: Olá
Gamsahabnida: Obrigado
Ahjussi: Senhor



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