The Moon Over Me escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 3
O Preço da Magia


Notas iniciais do capítulo

Creio que este capítulo ficou mais dark devido à situação, mas os próximos serão mais clean.
Boa leitura.



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– Peter! O que você fez?! – Wendy pareceu retomar toda a energia ao perceber o que acontecia.

– Eu a matei. – sorriu orgulhoso.

– Ela estava me ajudando! – a afirmação da menina fez o sorriso de Peter se desfazer incrivelmente rápido. – Estava me salvando dessas sereias horríveis que tentaram me afogar enquanto você contava histórias!

– O que está feito está feito. – ele pegou Wendy em seu colo e flutuou levemente, deixando para trás o corpo que boiava com o sangue que misturava seu vermelho com os cabelos da moça.

– Não! – Wendy gritou, mesmo batendo os dentes de frio da noite que caíra. – Isso é injusto, Peter! Injusto!

Peter Pan congelou. Se tinha algo que ele odiava era injustiça, e se tornara ciente de uma que acabara de cometer. Voltou ao chão, pôs Wendy lá, pegou o corpo da sereia e disse:

– Vá para casa. Eu a salvarei.

Wendy não parecia muito feliz com sua parte e por isso continuou gritando por Peter, mas este apenas a ignorou e voou com Ariel até a parte mais cavernosa do Lago das Sereias.

Algumas escondiam-se no escuro e olhavam ameaçadoras, mas Peter não as temia, apenas gritou:

– Chamem a Bruxa do Mar! – olhou-as com fúria. – Parem de me encarar e tragam-me a Bruxa do Mar! Agora!

Seu grito ecoou e logo duas servas submergiram. Estas eram diferentes das demais sereias, com a pele acinzentada e com uma heterocromia distinta: um dos olhos com uma vasta negritude e outro amarelo um tanto repitiliano. As duas tinham cabelos loiros claros presos em um rabo de cavalo e só se diferenciavam devido aos olhos que tinham as mesmas cores, porém de lados opostos.

– O que quer? – a voz reptiliana de uma delas ressoou.

– Por que incomodas nossa Rainha? – disse a outra.

–Eu a chamei, não a vocês. Vão buscá-las ou não saem daqui vivas.

– Como ousa? – ganiram estridentemente.

Pan enrijeceu a garganta e produziu um som até mesmo comum aos humanos, mas que fez todas as sereias ali presentes se retesarem e mergulharem apertando os ouvidos. As irmãs gritaram de dor e quando ele parou, encararam-no com ódio antes de mergulharem atrás da Bruxa do Mar.

Peter sentou-se e colocou o corpo da sereia na rocha encantado com a cor de seus cabelos enquanto esperava. Uma sombra projetou-se à sua frente, sobre o corpo esguio sem vida, e o menino virou-se rapidamente já de espada em mãos.

– Acalme-se, criança. Tu me chamastes, e aqui estou.

Os lábios vermelhos formaram um sorriso cínico sob a pele cinza e gosmenta do ser. Ela tinha tentáculos longos, grossos e negros que uniam-se às vestes de mesma cor, cobrindo seu corpo gordo. A figura que parecia feminina, ajeitou seu cabelos brancos e curtos com suas unhas da mesma cor que os lábios.

– A que devo o chamado de tão doce garotinho? – passou a mão gorducha pelas bochechas de Peter.

O menino hesitou, mas afastou-se da mão. Na mente de Peter ela parecia até mesmo maternal dependendo do ponto de vista. Mas dependendo do ponto de vista de Peter, poucas figuras femininas não lhe pareciam maternais.

Apesar disso, Pan colocou em sua cabeça que a Bruxa do Mar era traiçoeira e que trataria com ela apenas o necessário para que sua justiça fosse feita.

– Cure-a. – apontou com a espada para a ruiva.

– Interessante. – aproximou-se do corpo. – Por que será que sua espada está tão fresca com sangue como o dela? – riu.

– Cale-se, seu polvo gordo e desamado! – defendeu-se, o que fez a Bruxa rir ainda mais.

– Como é adorável ver um menino desamado chamar-me assim.

– Isso não é verdade! – voou para o pescoço dela.

– Fique tranquilo, pequenino. – ela tirou delicadamente a espada de onde estava com os dedos. – Eu irei salvá-la. – o corpo de Peter relaxou. – Mas... Há um preço.

Peter reparou que ela nunca tirava o sorriso sarcástico e vermelho do rosto.

– Você já deve ter ouvido falar: toda magia vem com um preço.

– Qual o preço desta?

– Ela será como as demais sereias de Neverland. Afinal, claramente, ela não é daqui.

– Ela será tão desalmada quanto as outras na lua cheia?

– Perfeitamente. Entretanto, melhor desalmada em algumas noites e viva em todas elas do que morta e sem importância, terá de concordar comigo.

Peter não costumava hesitar muito com as coisas, e, de fato, preferia ela viva enquanto aquilo fosse justo.

– Agora assine. – apontou para o contrato. – Ah, e com sua espada, e com o sangue dela. Aproveite enquanto ainda está fresco. – cantarolou.

Pan pegou sua espada e mergulhou no ferimento de Ariel, para logo depois assinar o contrato. Não era como se ele soubesse escrever, mas se ele fizesse de conta que sabia, ele sabia. Para sua surpresa, segundos depois a assinatura modificou-se e trocou o nome de Peter Pan pelo de Ariel.

– Obrigada, querido. Não vai demorar muito.

E avançou para o pequeno corpo, erguendo-o pelo pescoço e pulando para o mar, sumindo da vista do menino.

****

– Finalmente.

Ariel ouviu a voz feminina dizer enquanto abria os olhos. Estava em uma caverna escura, onde a pouca iluminação provinha de um buraco no teto, de um tipo de armário cheio de coloridas poções e de um tipo de fogareiro que provavelmente servia de caldeirão.

A mulher em sua frente era gorda e cinzenta e tinha os olhos pequenos devido a um grande sorriso de seus lábios coloridos de vermelho.

– Onde estou?

– Este é o meu lar. – a mulher disse com uma amargura na voz que mais parecia que tinha raiva do lugar do que amor.

A sereia colocou a mão no peito e percebeu que a ferida estava fechada e que possuía apenas a cicatriz da adaga.

– Se quiser que eu tire a cicatriz, eu o faço, querida.

–Quem é você?

– Eu sou Úrsula.

– A Bruxa do Mar?! – espantou-se.

– É assim que me chamam. Mas não se espante, o que falam de mim são más línguas. Eu sou muito boa, sou maravilhosa até.

– Não é verdade...

– É sim, querida. Tanto é verdade que lhe salvei. Fui embora de Atlântida pois não aguentava mais me difamarem o tempo todo. Sou uma bruxa boa, acredite.

– Como eu vim parar aqui?

– O menino voador a trouxe. Um rebelde sem causa. – riu. – Aqui está o contrato.

Ariel leu o contrato, assustada com o que dizia e quando viu a assinatura ficou embasbacada.

– Eu não assinei isso.

– Mas o menino sim, e com seu sangue. Digamos que em uma situação de vida ou morte não temos muita escolha, não é mesmo?

– Então quer dizer que agora eu sou...

– Uma das minhas. Acredite, ganhou mais do que perdeu. – vendo que a sereia quase chorava ela sentou-se ao seu lado e lhe abraçou. – Não chore, criança. Não chore. Tudo bem, lhe concederei um presente.

– Um presente?

– Assim você acreditará no quanto sou boa e ainda poderá ter o poder de escolha.

– O que quer dizer?

Úrsula estalou os dedos e novo contrato apareceu em suas mãos, junto com uma espinha de peixe. Ela entregou-o para a sereia e rodeou seu caldeirão, de onde surgiu um espectro azul que projetava tudo o que a bruxa dizia.

– As minhas meninas já notaram o quão diferente você é: curiosa, sempre sob a superfície, sempre buscando algo para ver e conhecer. Pois bem, lhe darei a chance de conhecer toda a ilha, lhe darei pernas.

– Pernas?! – o olhar de Ariel iluminou-se.

– Exatamente. Mas você só as terá por três dias. A menos que você dê o beijo do amor verdadeiro. Assim você poderá ter pernas para sempre e deixará de ser uma sereia de Neverland.

– Mas como conseguirei?

– Com pernas não é tão difícil subir em um navio, criança. – Ariel surpreendeu-se e a bruxa sorriu com sua ingenuidade. – Minhas meninas veem mais do que imagina. Mas se não conseguir o beijo, você será minha.

– Sua?

– Ganhará o título de serva. Títulos contratuais, não será nada de horrível.

– Entendo...

– E, só mais uma coisa. Toda magia vêm com um preço. – riu amistosamente. – E o preço dessa é até pequeno: sua voz.

– Minha voz?

– Não se preocupe, é apenas pelos três dias. Vamos, assine. Você não tem a perder.

Ainda hesitante, Ariel pegou a espinha de peixe e assinou. Observou seu nome escrito em tinta dourada no contrato e a Bruxa do Mar fechar a mão em volta do papel, rindo.

Ela pegou algumas poções e misturou-as no caldeirão que começou a levantar uma fumaça verde brilhante. Tal fumaça começou a transmutar-se e formou a imagem de coração negro pulsando seus átrios e ventrículos, envolvido por uma luz azul cristalina. Úrsula fechou as mãos em volta da imagem que se desfez e voltou a ser verde e colocou as mãos em forma de concha:

– Agora, cante.

Ariel começou a cantar com toda a vontade que possuía a mesma melodia que cantara no dia que o Capitão se afogara. Imaginou seus olhos azuis se abrindo, em seus cabelos negros e pele morena, e pensou que não estava fazendo aquilo só por ela, mas, de alguma forma, também por ele.

Então viu um fio dourado sair de sua garganta até as mãos de Úrsula, que deixara de sorrir carinhosamente para sorrir de forma doentia. Sua voz formara um pequeno círculo de luz nas mãos da bruxa que o colocou no colar. A fumaça verde envolveu a cauda da sereia e subiu-lhe até a garganta.

E então, o contrato foi validado.


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