Doro escrita por Machene


Capítulo 3
O Perdão é Divino




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Cap. 3

O Perdão é Divino

 

§Flash Back on§

Ocorreu que o templo no qual estava pertencia à sagrada deusa da agricultura, Esmeralda, que a vendo tão religiosamente ocupada ficou grata pelo favor e apareceu em sua frente numa ventania que a cercou de grãos de trigo temporariamente, forçando Eiri a desviar os olhos. Ao abri-los, a moça sorriu admirada pela aparição majestosa.

§Flash Back off§

— És tu a dona deste nobre refúgio de camponeses, deusa Esmeralda?!

— Sim minha cara, e vi com gratidão o teu empenho em ajudar nessa separação de grãos. Sei também toda a tua história e percebo a nobreza do teu sentimento por Hyoga, então resolvi ajudar-te nesta jornada para recuperar o amor que se perdeu.

— Oh querida deusa, por favor, conceda-me a libertação deste meu martírio!

— Infelizmente nada posso fazer a teu favor minha jovem, a não ser talvez ensiná-la a abrandar a ira de Natássia, que não será tarefa fácil. Para reconquistar teu marido, primeiro precisarás conseguir o perdão da tua sogra.

— E como posso fazer isto? A deusa do amor me despreza.

— Erga-te do chão e te direi o que fazer. – Eiri obedeceu e ficou de frente com a deusa – Natássia, de todas as formas, espera adoração à sua beleza dos devotos a ela. O motivo de tanto segredo foi porque as ordens às quais se sujeitou Hyoga foram de torna-la desagradável aos olhos dos homens e fazê-la casar nas terríveis condições de ser a esposa de um monstro ou outro ser vil, mas ele recusou-se por amor a ti. Tenhas toda a certeza de que Natássia não consentirá no teu casamento facilmente. Terás de cumprir condições para tanto, tarefas árduas.

— E quais são? – Esmeralda a guiou pelos ombros para fora do templo.

— As que ela estabelecer. Seja firme em tua decisão e a convencerá do teu amor! Aqui. – ela pôs entre as suas mãos um pacote – Levas estes pães, frutas e legumes para te fortaleceres pelo longo caminho.

Com os ensinamentos da deusa e seu presente, Eiri agradeceu e partiu em direção ao templo de Natássia, esforçando-se para fortalecer seus espírito e pensamento sobre o que deveria dizer e qual a melhor maneira de apaziguar a irritada sogra. Passados dois dias, a moça criou coragem para consultar-se com a divindade. Ao entrar receosa no templo, a deusa lhe surgiu gloriosa sobre uma nuvem escura, como fumaça da noite.

Já cientificada de que fora enganada, e mantendo Hyoga sobre seus cuidados, ela olhou a donzela como se fosse a criatura mais indigna do mundo, recebendo de volta a tristeza e medo transmitidos pelos olhos da mesma.

— Como te atreves a entrar em meu templo, garota insolente? Pensas que é digna de estar aqui, diante de mim?

— Não minha deusa, sei que não sou digna de estar em vossa presença, mas preciso falar-te. Há algo que pesa em meu coração.

— Quer Hyoga de volta? Meu filho se deixou guiar por teus encantos e tu traístes seu pobre coração a beira de quebrar-se. A prova foi uma chaga deixada em seu ombro, resultado de tua curiosidade vil.

— Não foi curiosidade bela Natássia, apenas... – a deusa ergueu a mão, sacudindo os cabelos da jovem com uma ventania de espinhos de roseiras.

— CALA-TE! Teu desacato custará um castigo ainda maior para o calvário que sofres e estou disposta a contribuir com seu prolongamento. – a princesa tremeu, mas procurou se controlar – Decidi impor à tua alma pobre de amor uma série de tarefas, das quais acredito que nunca se desincumbirá ou desgastarão toda tua beleza. – Natássia sorriu – Caso, por infortúnio do milagre, cumpra-as corretamente, poderá recuperar teu grande amor. Primeiro, ordeno a ti que traga a lã dourada de um velocino de ouro.

— “Velocino de ouro”? Mas deusa Natássia, como o farei? São animais ferozes que nunca deixam deles se aproximar.

— Então sugiro que penses rapidamente em uma solução para cumprir tal tarefa.

Resignada, a jovem partiu e após longa jornada, encontrou os carneiros pastando num prado. Sem saber como chegar perto o suficiente para tirar a lã, evitando também ser ferida, Eiri sentou-se perto de um rio. De repente uma voz surgiu junto aos juncos, chamando-a. Ela já estava farta de ouvir vozes e por fim não ver alguém, então buscou com os olhos aquela dona do chamado sem levantar do chão.

— Eiri, não desistes tão facilmente. Teu amor é mais forte que isso. – a moça reconheceu a voz por fim.

— Deusa Esmeralda, és tu? – ela ergueu-se – Mas que farei para cumprir a tarefa?

— Procure um espinheiro, junto a onde os carneiros vão beber, e nas pontas dos espículos recolheras toda a lã que ficar presa. – cumprindo o ditame, Eiri realizou a tarefa e voltou ao templo.

— Parece ter se saído bem. – disse Natássia enfurecida – Tua próxima tarefa não serás tão fácil. Agora deves pegar um pouco da suja água da nascente do Rio Estige e colocar neste frasco. – a deusa entregou o objeto dourado nas mãos da nora e fez um gesto de expulsão – Parta logo para evitar delongas.

Assim, novamente a jovem saiu em longa caminhada, procurando evitar pensar em fome e cansaço, e quando avistou o rio se deu por satisfeita. Mas a nova tarefa logo se revelou impossível: o Estige nascia de uma alta montanha tão íngreme que era impossível escalar. A princesa quedou-se ante a escarpa firme que se erguia à sua frente, então as águias de Seiya, o deus dos raios, surgiram como uma benção, tomando-lhe o frasco e voando até o alto para enchê-lo. O trabalho, mais uma vez, foi realizado.

— Tua sorte parece estar melhorando. – Natássia comentou ao tomar o frasco em mãos dias depois – E antes de dar-lhe nova tarefa tenho uma pergunta: o que tanto te motivas? – Eiri sentiu o coração apertar e soube naquele instante que poderia responder à pergunta com sinceridade e sem medo.

— Meu amor por Hyoga. – a resposta foi quase tão imediata que a deusa silenciou por um instante, sentindo-se inquieta.

— E em teu calvário tens recebido ajuda de camponeses que te abrigaram por sentires tua dor. De fato não é todo mortal que conquistas a glória de receber devoção dos demais como se tratassem de uma deusa.

— Divina Natássia, peço desculpas. – sua sogra surpreendeu-se com as palavras – Sei a causa de toda a tua ira sobre mim, mas amo Hyoga e preciso reavê-lo de volta como necessito de ar para respirar.

— Ora, silencie teus lamentos, dama desafortunada! As tarefas ainda não cessaram, então poupas o teu fôlego! – embora dizendo isso, internamente Natássia parecia melhor após ouvir suas palavras – Como a tua provação final, receio ter de usar meios mais poderosos. Mas veja que arranjei a solução. – ela pausou com um suspiro, passando a mão sobre o rosto – O caso é que curando a ferida de meu querido filho perdi um pouco de minha beleza, então peço para ir ao Reino dos Mortos, terreno de Shun, pedir à sua rainha, June, um pouco da sua. – vendo-a assustada com a ideia, a deusa sorriu – Podes fazer isso, ou teu amor não vale tanto risco?

— Eu... Tentarei. – e receosa Eiri fez uma reverência e saiu do templo.

Natássia estava certa de que ela não voltaria viva. Mais uma vez, se enganou. A princesa chegou à beira da fonte Aretusa e pediu ao senhor dos mortos que a conduzisse ao mundo inferior. Sendo logo atendida, ela desceu pelo caminho feito e andou pouco até chegar ao luxuoso salão obscuro dos deuses. Lá se sentava em um trono o deus Shun e em outro, ao seu lado, a sua altiva e linda rainha, a deusa das flores, June.

Ao vê-la tão digna, olhando-a com aparente insignificância, a jovem temeu pelo pior. Inesperadamente, June lhe sorriu e fez um aceno pedindo que se aproximasse.

— Retenhas teu medo doce Eiri, sabemos por que veio. Natássia te impôs provas de amor em troca de permitir ver Hyoga, certo?!

— Sim sagrada June. – a donzela ajoelhou-se frente ao pedestal – Como último pedido, devo levar um pouco de tua beleza a ela.

— Está fora de questão! – Shun se fez presente – A menos que estejas disposta a enfrentar as pesadas e dolorosas consequências de pedir a formosura de minha esposa.

— Ora Shun, não sejas impiedoso! A pobre moça ama Hyoga com todo o coração.

— E se desses um pouco de tua indiscutível beleza a cada pobre alma apaixonada do Inferno ficarias satisfeita?

— Por acaso estas a dizer que perderia meus encantos se minha beleza findasse?

— De modo algum, querida. – o senhor tomou a mão da rainha e beijou-a, sorrindo com alegria – Os teus encantos sobre mim vão além da tua aparência, pois o encanto maior está em teu grande coração. Mesmo assim, por que razão devia ajudar a mortal a conquistar o perdão de Natássia?

— Se ela assim conseguir, poderás não ser mais uma mortal. – June lhe sussurrou sorrindo, e vendo as bochechas do marido formarem igual sorriso contornou as covinhas aparentes antes de voltar-se de novo à Eiri, enquanto o deus deu uma ordem ao servo mais próximo – Tua dedicação me comoveu, jovem princesa. Receberás teu prêmio para conquistar, enfim, a estima de tua sogra e alcançar teu amado.

— Ainda acredito que tua estima aos mortais seja demasiada, minha esposa. – Shun levantou-se antes dela – Desgastar-se em nome do amor não é desnecessário? A própria Natássia sabe o poder devastador da emoção em meio às suas desmesuradas ciladas e brincadeiras com as vidas humanas.

— Sim, e tu também bem conheces a força dele quando realmente desejas estar ao lado de alguém. Com fervor foi o teu impulso de tirar-me do refúgio dos deuses para trazer-me ao teu lado no Reino dos Mortos, como a tua rainha, e ainda maior o meu controle em não castigar de pior maneira aquela libertina ninfa com quem teves um caso antes de tomar-me como esposa. Ainda teves impertinência de dizer ser mais bela que eu. – o deus sorriu e tomou uma mecha do cabelo loiro da deusa em mãos.

— Mas tu a puniu transformando-a numa planta. Ah, teu forte ciúme é adorável, minha querida. – e beijou-lhe os fios, fazendo-a sorrir – Encanta-me.

Por fim, Eiri convenceu June a encher uma caixa com a sua beleza para Natássia. Ela estava indo de volta ao templo quando pensou que sua própria venustidade havia se desgastado depois de tantos trabalhos. Não resistiu e resolveu abrir a caixa, caindo em sono profundo. Por sorte, Hyoga, já curado de sua queimadura, soube do caso e partiu ao socorro de sua amada, descendo ao mundo inferior e encontrando-a na entrada.

Ele fechou a caixa e tomou-a nos braços para tirá-la de perto do aroma da morte. Quando a princesa abriu os olhos, constatou, para sua felicidade, que seu marido lhe salvara, e não pensou duas vezes em aconchegar-se em seus braços, feliz por revê-lo.

 

Continua...


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