A Ordem escrita por Any Queen


Capítulo 1
Azul-violeta


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e comentem, o que gostaram o que não gostaram, fico feliz com qualquer coisa.



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Nova York, dezessete anos antes.

Denny

*

Denny caminhava preguiçosamente pela rua vazia no centro de Nova York. Ela se espantava por ainda ver ruas sem movimentos no estado mais agitado que conhecera em toda sua vida. O que era – pela opinião da menina – muito.

O frio do mês de fevereiro passava por entre seu casaco de lã, mas a garota não sentia frio, sentia medo pelo que poderia vir dessa conversa com Austin. O amigo de Denny não se pronunciava havia anos, porem, quando a menina chegou em casa ontem a noite viu a mensagem sem assinatura, mas que a letra reconheceria mesmo que fosse cega. Não fazia menor ideia de qual assunto ele queria tratar, mas sabia que era de suma importância. Austin não se arriscaria assim, pensou Denny.

Um grupo de jovens bêbados passou pela menina e ela se encolheu, não sabendo ao certo por que. Havia muito tempo e pouco tempo desde que decidira abandonar tudo para proteger todos, e quando decidira isso, também jogou fora qualquer chance de tranqüilidade. Qualquer estranho que passasse perto dela era um suspeito, Denny achava que estava delirando e virando uma anti-social psicopata, até uma noite em que deixara um estranho entrar em sua casa para usar o telefone. O homem parecia parcialmente normal e desajeitado, não havia motivo para suspeitas, mas assim que ele entrou, aconteceu, Denny fez tudo o que pôde, e quase se entregou.

Afastando os pensamentos, acelerou o passo ao avistar o antigo bar, Mistic, com a sua cantoria enjoada de sempre. Sem repelir a memória, lembrou-se do dia em que entrara a primeira vez no bar, ela se espantou com as imagens horrendas de batalha para um simples bar mundano. Agora, o bar era simplesmente comum e até distante de ser a coisa mais anormal de sua vida.

Ao chegar perto do bar, percebeu que o som de seus passos, que batiam com força no asfalto, fora substituído por uma briga na frente da venda. Homens bêbados gritavam com grandes copos de cerveja na mão, badernando como animais disputando por um posto ridículo a qual seria morto logo depois sem nenhuma felicidade. A qual ponto chegará o homem? Pensou tristemente ao recobrar algumas de suas mais velhas lembranças. Passou pelos bêbados e entrou no bar, que estava igualmente barulhento e com homens vendendo suas vidas.

O lugar em si era pequeno e mofado, de tantos anos de uso. Com mesas de madeira a maioria quebrada, um balcão apodrecido e cervejas que davam uma infecção intestinal. Denny olhou rapidamente pelo balcão e avistou o amigo sentado em um banco no canto esquerdo, era fácil achá-lo, sua aura era forte assim como sua presença. Igualmente a de Denny e de qualquer um que fosse da espécie deles.

– Ora, ora, senão é a minha matadora preferida. – disse Austin ao ver Denny se aproximando.

Ele não mudara nada, reconheceu a menina, os olhos continuavam uma linda lagoa verde e os cabelos uma incrível tocha incandescente avermelhada caindo sobre os olhos. O rosto forte ainda continha a cicatriz de velhas batalhas, passando sobre a têmpora esquerda e acabando logo abaixo do olho um pouco deformado. Denny nunca o achara feio, e nunca acharia, mas algo nele fez a menina se esquecer do garoto que conhecera. Austin usava uma calça jeans e blusa vermelha. Estava com um olhar longe, o que nunca vinha com boas noticias, reconheceu Denny.

– Como vai, Austin? – Denny puxou um banco e sento-se, agradecendo por poder descansar um pouco no dia rumoroso. – Achei que estava na França com o Conselho.

– Oh, e estava, minha querida Denny. – a menina percebeu que ele ainda tinha o sotaque espanhol que ela mesma já teve um dia. – Uma bebida para a dama ao meu lado! – gritou Austin para o barman enfurecido, o homem pegou um copo da pia suja e encheu com o liquido amarelo, entregou preguiçosamente para a menina que caiu algumas gotas no balcão.

– O que o fez querer vir para Nova York? Soube que o Souverain está tentando nos reunir o máximo que puder. – Denny pegou o copo desajeitada e bebeu, o calor passou por ela espantando um pouco do frio estranho que pairou pelo local.

– E tem conseguido, de fato. Mas esse não é o assunto, você sabe e não é segredo, confio plenamente em você – Ele olhou forte nos os olhos da menina como se esperasse que ela assentisse – Que a minha pessoa faz parte de uma organização diferenciada e que estuda a fundo os dons a nós dado. Souverain tomou conhecimento de nossos trabalhos e quer ter acesso a todas as informações importantes que tivermos. – Austin fez uma pequena pausa esperando que Denny fizesse alguma subjeção, ela não o fez. – Há uma semana, usando os arquivos e, é claro, a magia a qual nos pertence, descobrimos que acaba de nascer um de nós que tem um dom que não se vê há muitas eras. Sabemos que com o nosso atual status, essa criança será alvo deles e, infelizmente, nosso. Não contamos ao Souverain, sabemos que ele vai querer a criança e, Deus me perdoe, estragar qualquer chance de ter paz, usará a pobre criatura para vingança própria e não verá o bem comunal.

– Desculpe, Austin, mas não vejo onde eu entro nessa história. E, se me perdoe meu amigo, não quero fazer. – Denny pousou o copo vazio na mesa esperando erradamente que ele se enchesse sozinho.

– Escute, preciosa Denny – Austin inspirou profundamente se preparando para uma tarefa impossível – Souverain está morrendo, não demorará para que seu filho tome a frente, não sabemos se isso é bom ou ruim, o Conselho tem medo do que poderá vir. Você, com todas as infelicidades do mundo, não faz mais parte do mesmo, ninguém confia naqueles homens hipócritas. – Denny sentiu o estomago revirar com a lembrança do Conselho e todos os dias que passara como membro. Repeliu a dolorosa lembrança e deixou o amigo continuar – Mas não podemos ir contra, ninguém sabe e nem imagina como será o novo Souverain, temos que manter uma arma, por menor que for. E essa arma, desculpe-me o chamamento, é o menino que acaba de nascer. Queremos, eu quero, que cuide do menino, o proteja de todos e de tudo, quando ele ganhar a Marca vai insinuá-lo a vir para o nosso lado, vai mostrá-lo o quanto tudo isso é errado, o fará crer em nós. E precisa fazer isso o mais discreto possível, assim que ele matar o primeiro, o Conselho ficará sabendo, eu sei, com todas as minhas forças, que você é a melhor pessoa para esse trabalho.

– Espero que junto com todo este discurso sobre rebelião e bondade, você tenha trago também alguma forma de me comprar, eu suponho. – Denny disse as palavras mais seca do que pretendia, mas não voltaria aquela vida, jurara nunca mais voltar.

– Sim... – o amigo da menina disse com vergonha, era obvio que a ideia de subornar Denny não viera de sua parte, mas a garota entendia que ele, dentre pouquíssimas com que Denny ainda se importava, poderia ser o único a conseguir. – Achamos um jeito... Uma magia forte, muito perigosa, que pode desfazer o que você é. – Denny reprimiu a alegria no peito, não podia se entregar tão fácil.

– E então por que, com toda essa mágica, vocês ainda não se transformaram?

– Como eu disse, é uma magia muito perigosa que pode causar danos muito piores que a morte, ninguém ousa tentar, mas eu sei, Denny, que você se arriscaria. Arriscaria, porque deixando de ser o que é, poderá apagar qualquer rastro seu, é como se sua vida como uma de nós jamais tivesse existido.

– Você acha que posso acreditar em uma história dessas? – Denny queria acreditar, queria que ele falasse que era verdade, nunca se sentiu tão esperançosa quanto estava agora.

– Não, não pode e eu não posso provar que vá ter sucesso, terá que decidir, minha amiga: Viver se remoendo a cada dia e não poder se matar ou ter uma pequena esperança de que pode voltar a ser o que era e, se caso falhar, vai poder ter o que tanto deseja. A morte.

– Supondo que eu aceite essa inesperada proposta, o que exatamente eu teria que fazer? – Denny não quis entregar jogo, mas Austin a conhecia bem, sabia que a menina já tinha aceitado.

– Bem... – disse Austin com um sorriso se formando – Como e disse anteriormente, terá que protegê-lo, assim que o garoto tiver a Marca, vai treiná-lo e o induzirá a ir para o nosso lado. Assim que achasse que o trabalho estava pronto, o levaria para a Sede na Espanha, que você conhece muito bem. Cremos que seja a mais segura dentre todas.

Fácil, pensou, fácil demais, ela não tinha que aceitar, de um certo modo estaria indo contra o próprio juramento. Entretanto, viu-se assentindo vagarosamente.

– Tudo bem, Austin, conseguiu me comprar. Posso saber qual é o dom extraordinário no menino?

– Você vai ver, minha querida, você vai ver. – Austin sorriu, aumentando o suspense que havia se formado em Denny.

Era estranho e excitante ter uma missão novamente, mesmo que fosse uma missão lenta e desgastante. Uma onda de adrenalina passou pelo corpo da menina, ela estremeceu e repeliu o sentimento bom que estava se formando.

– Ele mora em Ohio. – disse o menino se levantando – Foi bom vê-la, Denny, estava com saudades dos seus olhos. – Denny sorriu com o elogio.

– Austin.

– Sim?

– Qual é o nome do menino?

– Jackson, Jackson Campbell.

*

Ohio, dias atuais.

Jack

*

Jack gritou, procurando desesperadamente por ar, seus pulmões ardiam feito brasas. Não sabia ao certo de onde vinha a dor e ele não queria pensar, só estava esperando a hora que aquilo ia passar. De repente, parou, como se nunca houvesse existido. Seu ouvido ainda estalava com a lembrança da dor, talvez tenha sido só um sonho, pensou. Mas quando afastou o cabelo loiro dos olhos viu que não poderia ser um sonho.Estava no chão, com os lençóis embolados no corpo encharcado pelo suor do menino, a manga da camisa estava rasgada e Jack podia ver o braço, com uma marca estranha, com sangue seco em volta.

Levantou reprimindo a tontura que tomou conta de seus olhos, o antebraço ainda latejava. Jack pegou os lençóis sujos com o liquido vermelho e pegou o caminho para o banheiro. Chegou ao recinto e ligou as luzes, jogou os lençóis da lixeira e levou o braço para o lavatório. Esfregou com toda força abafando a dor, quando já estava limpo viu que era verdadeiramente uma marca, uma marca preta que começava em seu pulso e terminava no meio do antebraço. A Marca parecia um bracelete, com curvas formando símbolos que Jack desconhecia, girando de forma estranha até todas as linhas curvas estarem conectadas.

O garoto pegou álcool e esfregou o braço, mas a Marca continuou intacta, pensou em como explicaria isso aos seus pais. Certamente não podia dizer que acordou no meio da noite sentindo uma estranha dor e acordara com uma tatuagem, seus pais achariam que ele estava tendo alucinações novamente e Jack não queria isso. O menino pensou em uma mentira que parecera plausível e retomou o caminho para o quarto, esperando que tudo isso tenha sido um sonho, melhor, pesadelo. Voltou para o quarto sem a blusa, já que a mesma estava rasgada e com sangue, o que seus pais achariam? O levariam de novo para a Casa de Jovens Problemas – que era como Jack chamava a clinica de reabilitação juvenil – tinha certeza que o levariam.

A porta do quarto estava aberta, Jack achou estranho, mas quando viu uma forma esguia sentada em sua cama, relaxou. Jack havia parado de pensar nas coisas estranhas que acontecera em sua vida, quando o menino pensou demais, acabou virando um lunático. Devia a vida atual a Lawrence, a forma magra que estava deitada em sua cama. A menina havia sido a única amiga de Jack, por mais que os pais não gostassem da amizade, já que Lawrence levava Jack a fazer coisas erradas. Com certeza culpariam Lawrence pela tatuagem dele, pensou Jack. Mas não via Lawrence como um caminho errado, e sim como um caminho seguro, por mais que a garota fosse inconstante, ela era normal, isso bastava para Jack.

Lawrence se levantou com um salto desajeitado e foi ao encontro de Jack, o menino escondeu o braço atrás para que ela não pudesse ver a Marca, Lawrence não o culparia por ter feito uma tatuagem, porem o menino achou melhor não expor. A amiga de Jack estava com comum estilo punk, os cabelos totalmente negros cortados rente ao rosto, um delineador reforçado perto dos olhos, o que deixava o azul de seus olhos parecendo cinza. Ela usava uma jaqueta de couro preta e uma calça totalmente rasgada, que mostrava a tatuagem de um dragão, que Jack já vira inúmeras vezes.

– Pensei que tinha ido dormir no quarto da mamãe. – Lawrence fez um beiço forçado e deu um abraço rápido no amigo. Jack não conseguiu esconder a felicidade ao vê-la, estava se sentindo sozinho.

– Você sumiu? Por onde andou, Rence? – a menina se jogou na cama de Jack e tirou a jaqueta impaciente revelando uma blusa curta que mostrava quase toda a barriga magra.

– Por todos os lugares, mas vejo que deixou a janela aberta, sabia que eu viria.

– Você sempre vem. – ainda com o braço atrás do tronco, Jack se sentou do lado de Lawrence. – Como você está?

– Indo, Jack, como sempre estou. Mas você sabe que eu não vim aqui para isso. – subitamente, Lawrence saiu da posição e sentou no colo de Jack, passando as suas pernas pela cintura do menino. Por puro instinto, Jack esticou as mão para pegá-la na cintura, deixando a sua Marca a mostra. – Rence, eu... – começou, a menina olhou para onde Jack tinha fixado o olhar e fez uma careta.

– O que foi, Jack?

– Não tem nada de errado com o meu braço? – perguntou Jack surpreso.

– Tem – Jack se alarmou, esperou que ela o repreendesse, mas garota apenas sorriu provocante. – Estão mais fortes – Lawrence passou a mão por todo o braço de Jack até para no pulso, ele sentiu o local formigar. – O que quer que esteja fazendo, continue assim.

Lawrence passou a mão vagarosamente pelo peito nu de Jack, até chegar ao pescoço onde segurou com força e puxou para um beijo voraz. A garota não gostava de calma e sutileza, Jack conhecia o jeito vibrante que eram os beijos de Rence, não reclamou por um segundo sequer. Eles caíram na cama embolando os corpos já conhecidos, quando Jack estava com a mão na blusa de Lawrence, ouviu um estrondo. A menina pulou da cama seguida por Jack, o telhado estava com um buraco enorme, e, junto com os restos de telha no chão, havia uma criatura irreconhecível.

Tinha três metros de altura, parecia com um minotauro da mitologia grega, mas possuía quatro braços e seis chifres, era todo azul e segurava uma faca em uma das mãos direita. Jack ficou imóvel, olhando para criatura sem saber se acreditava, já tivera sonhos alucinantes, mas este era diferente, pois estava sentindo. Medo, aflição e adrenalina, tudo mistura em confusão e pavor.

Lawrence correu para porta saindo do transe antes de Jack. Mas a criatura foi mais rápida, jogou a faca na direção exata do peito de Lawrence, a menina soltou um suspiro e caiu no chão imóvel. Jack não teve tempo para registrar o que havia ocorrido, pois o monstro agora voltava a sua atenção para ele. A criatura o olhou como se dissesse: “Sua vez” , o monstro voou na direção do menino, Jack não conseguiu se mover, somente esperou a sua morte sem saber ao certo o que sentir. Entretanto, o encontro nunca aconteceu, Jack abriu os olhos e viu que o monstro estava caído de joelhos com as quatro mãos acorrentadas, ele urrava de dor. Jack viu uma espada entrar por trás no corpo em um local não fatal.

– Jack! – gritou uma voz feminina atrás da criatura – Mate-o! Agora, Jack! Não vou conseguir segurar por muito tempo.

– Quem... é... você? – perguntou o menino, não conhecia palavras alem destas no momento.

– Isso não importa! Jack, eu não posso segurar para sempre, se não o matar mais viram atrás de você, mataram a sua família como mataram sua amiga. – Jack saiu do transe com uma descarga de raiva, olhou para o corpo de Lawrence e não sentiu nada a não ser raiva. –Pegue! – a garota jogou uma adaga para Jack, que a pegou sem dificuldade e enterrou no coração do monstro, a criatura uivou e se desfez em pó azul, caindo como purpurina no chão. – Muito bem.

Jack olhou a figura pequena e magra que estava, até então, atrás do monstro, usava uma capa preta que escondia seus cabelos. Mas era possível ver os olhos, azul-violeta, tão brilhantes que pareciam neon, Jack não consegui mais se segurar, primeiro caiu de joelhos e depois o corpo todo desabou no chão. A última coisa que viu foi o corpo inerte da única pessoa que o compreendia.

***

– Jack! – primeiro, Jack achou que era o monstro que tinha voltado das cinzas para matá-lo, mas quando abriu os olhos viu que era apenas a sua mãe, bonita e distante, como sempre foi.

Jack se sentou e piscou varias vezes para ter certeza que não estava sonhando, olhou para o teto, mas não havia nada de anormal nele, não havia poça de sangue, não havia o corpo morto da Lawrence, não havia cinzas de monstro. Jack abriu a boca para falar alguma frase indignada, mas se calou. O que poderia dizer? Olhou para o corpo, estava com uma blusa de manga comprida e os lençóis tinham voltado para a cama, ou nunca saíram dela. Ele esticou o braço e afastou a blusa, ainda estava lá, a Marca, mas agora ela estava branca, como se estivesse desbotando.

– Tem algo de errado, meu amor? – Jack encarou a mãe, a mulher que menos o compreendia, estava usando uma calça jeans desbotada e uma blusa rosa sem mangas, seu cabelo loiro – a única coisa que Jack havia puxado – estava desemaranhado em um coque nada usual. Seus olhos negros estavam inquietos e um pouco tristes, o rosto anguloso fazia Jack lembrar da irmã que morrera há cinco anos.

– Não... – se apressou em dizer – Não vai trabalhar?

– Não, querido. – Joyce suspirou e passou a mão calejada no rosto do filho – Eu não queria ser a pessoa que fosse te falar isso, mas... A Lawrence faleceu, meu filho.

– O que? – Jack afastou o rosto do toque da mãe e a encarou, esperando que ela se desculpasse pela brincadeira sem graça, mas Joyce apenas abaixou o olhar e recolheu a mão.

– Ela se suicidou. Acharam um bilhete dela. – um silêncio se instalou por muito tempo, Jack ainda não acreditava, não acreditava nem na historia que mãe contou, nem que Lawrence havia morrido.

– Impossível! Ela veio aqui essa noite! – Jack não se preocupou da mãe o culpar por deixar a Lawrence entrar em seu quarto à noite, a mãe de Jack nunca gostara da Lawrence, ela devia estar feliz pela morte da garota.

– Você devia estar sonhando. – disse calmamente – O corpo está em um estágio adiantado de decomposição... Vão fazer o enterro está tarde.

– Vai embora. – Joyce hesitou e tocou o braço de Jack, que o recolheu como se mãe estivesse com alguma doença – Vai embora! Você nunca gostou dela, não tente mostrar compaixão, eu não quero a sua pena!

Jack esperou que ela brigasse com ele pelo comportamento explosivo, mas não o fez, apenas levantou e se retirou em silêncio. Jack se virou de bruços na cama e enterrou o rosto no travesseiro, esperou as lagrimas, mas elas não vieram. Ele tinha certeza que amava Lawrence, que sem ela não poderia viver, ninguém o entendia, ninguém o aceitava como ela, porem as lagrimas não vieram. Seus pensamentos deveria estar voltados somente a ela, sem acreditar que ela havia morrido, mas ele sabia que ela havia morrido, sabia. Mas seus pensamentos estavam voltados para o dia que a sua mãe contou que Lucia havia morrido.

Jack estava dormindo depois do treino de futebol, acordou com sua mãe enroscada nele chorando como se o mundo tivesse acabado. Ela não emitiu nenhuma frase, só disse o nome da irmã mais velha de Jack e continuou a chorar como se aquilo doesse. Jack não falou nada, fechou os olhos e deixou que as lágrimas rolassem sem ter vergonha, Lucia era a melhor pessoa do mundo. Depois de se recuperar a ponto de falar, a mãe de Jack disse que ela foi encontrada em um parque, esfaqueada. Nunca encontraram o assassino.

Depois seus pensamentos se voltaram para a menina dos olhos azul-violeta. Quem era ela? Por que ela ajudou Jack a matar aquele monstro e não o matou ela mesma? Mas Jack não podia responder aquelas perguntas, então decidiu esquecê-las, tinha sonhos estranhos desde criança, não era novidade.

Jack rolou na cama durante horas pensando nas melhores lembranças que tinha de Lawrence. Quando viu que eram duas da tarde, se levantou com esforço e se arrastou para o banheiro para se arrumar. Holly e Helen – as gêmeas irmãs mais novas de Jack que tinham oito anos – estavam na porta do banheiro como se esperassem irmão, ainda estava com o pijama de ursinho e os cabelos castanhos estavam emaranhados em rabos de cavalos igualmente destruídos.

– Sentimos muito pela Lawrence. – disse Holly, que não tinha um dos dentes de baixo, o que a deixava com uma feição engraçada.

– Gostávamos dela, Jack. – Helen declarou inocentemente, o que fez Jack se desmoronar e abraçar as irmãs para disfarçar as lágrimas que resolveram cair.

– Não foi sua culpa, Jack, o monstro era mau. – Jack congelou com o comentário de Holly, não tinha como a irmã saber que era uma mostro, e era só um sonho afinal, como Holly poderia saber?

***

O velório foi curto, havia poucas pessoas, algumas pessoas da escola, a mãe de Lawrence e um dos únicos amigos de Jack: Paul. O padre fez uma homilia sobre uma palavra da bíblia desceram o cachão dela, não estava aberto, disseram que estava feio demais.

– Ela está se drogando em um lugar melhor. – disse Paul atrás de Jack em quanto o menino ainda encarava a lápide nova que acabaram de fixar.

– É isso que você em a dizer? – Jack se virou e encarou Paul com a expressão mais raivosa que conseguiu.

O amigo de Jack estava vestido com o mesmo terno preto de Jack, os seus cabelos pretos estavam caindo sobre os olhos cinza. Paul tinha a mesma idade de Jack, mas agia como se tivesse menos, ele também não gostava da Lawrence, mas fora por causa de Jack e estava tentando amenizar o clima. Jack percebeu que estava sendo muito severo com ele, Paul era desse jeito, não tinha como obrigá-lo a morrer de amores por Lawrence.

– Desculpa, cara... Eu só... – ele esticou a mão e depositou no ombro do amigo.

– Eu sei, só está sendo uma barra. – Jack desviou o olhar do amigo e olhou para o pequeno grupo de pessoas que ainda estavam no cemitério.

Até que a encontrou.

– Paul... – chamou Jack com urgência, amigo de Jack seguiu o olhar do amigo e assoviou ao ver a menina que Jack encarava. – A conhece?

– Não, mas cara, que gata!

Jack ignorou o amigo e andou em passos largos até a menina na entrada do cemitério, perto do grande portão de ferro. A menina tinha cabelos castanhos que caiam em cachos perfeitos no ombro, era magra, mas tinha curvas perfeitas. Usava um vestido preto liso e uma sapato alto, mas que não estava fazendo um bom trabalho, já que a menina continuava baixinha. O que chamou atenção de Jack, alem da beleza anormal e estonteante da menina, foram seus olhos, azul-violeta, brilhando com neon. Jack se prendeu aquele olhar mágico e foi até a menina sem saber o que fazer.

– Você... você estava no meu quarto ontem. – disse Jack gaguejando, a menina sorriu levemente mostrando as covinhas, Jack congelou com tamanha beleza, nunca vira olhos como aquele.

– Que bom que me reconheceu, Jack. – a menina esticou a mão para que Jack apertasse – É um prazer finalmente conhecê-lo, meu nome é Denny.


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