Lightning Hunter escrita por LauC


Capítulo 18
Capitulo 18 - Diario


Notas iniciais do capítulo

Olá meu povo haha, postando aqui este lindo, belíssimo capitulo para vocês. Espero que todos voces gostem tanto quanto eu adorei escreve-lo. E aposto um Real que ninguém vai acertar o que vai ocorrer neste capitulo kkkkk. Mas tá tão lindo e emocionante



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Por um momento nada aconteceu, até que o barulho de algo se destrancando atrás de nós, nos fez virar de costas. A linha na parede se abriu com um rangido para os lados, o que me lembrou a portas de elevadores. Uma luz azul iluminou a entrada do negocio, só que não era uma entrada propriamente dita, era uma outra porta, perfeitamente prateada, e a sua frente tinha uma tela.

─ Estou em duvida se isso é legal ou não ─ Comentou Rei desligando o flash do celular.

─ Nem me fale ─ Me aproximei da tela e toquei-a com um dedo, ela se acendeu e uma voz robótica feminina disse.

“ Coloque sua mão no painel, para leitura digital”

Fiz o que ela pediu, e a tela começou a escanear a minha mão, um brilho verde apareceu no canto da tela e a vos tornou a falar.

“ Aproxime seu rosto para leitura de retina”

─Mas hein? ─ Soltei surpresa.

─ Se foi seu pai que construiu esse super cofre, ele está de parabéns ─ Disse Rei quase batendo palmas. Aproximei meu rosto e olhei para a tela que ficou branca e um laser começou a escanear os meus olhos.

“ Entrada aprovada” Disse a voz robótica por fim, e então a porta prateada se abriu com um barulho suave, semelhante á aquelas portas eletrônicas que abrem rápido e que parecem que estão soltando um gás ao faze-lo.

E dessa vez não teve mais portas para destrancar, e sim uma sala. Havia uma mesa com vários livros, o chão estava repleto de frascos vazios e com pouquíssimos cheios. Papeis amassados e mais livros. Não era o mesmo lugar dos meus sonhos.

─ E aí? Igual aos seus sonhos?

─ Não ─ Respondi. ─ Mas se meu pai queria que achasse esse lugar, deve haver algo aqui que ele quer que eu saiba.

─ Concordo ─ Rei guardou o celular no bolso da calça, havia luz o suficiente no lugar. ─ Vamos procurar então.

Cada uma de nós pegou um livro e começamos a folhear, era estranho, os livros na maioria eram de genéticas, biologia, alguns tinham desenhos. Nada daquilo fazia sentido. Não sei quantos minutos passamos procurando algo ali procurando por algo que não sabíamos.

─ Olha isso ─ Disse Rei, olhei para o que ela estava segurando nas mãos, era um caderno de anotações velho, as paginas estavam amareladas e a capa desgastada. ─ Parece um diário, olhe.

E de fato parecia, eu não reconhecia a letra, não era a do meu pai, e se parecia mais com a de uma mulher.

1º de março de 1998.

Hoje descobri uma nova formula que vai impulsionar a minha pesquisa. Não tenho ideia se vai realmente funcionar, mas espero que sim, isso me causou uma baita dor de cabeça no trabalho.

12 de março de 1998

A formula não deu certo, tentei de tudo, tudo que o meu laboratório permitisse, mas não deu resultados, estou sendo colocada contra a parede esses dias. Talvez eu realmente deva ir para essa comemoração de 5 anos da empresa, quem sabe não descanso um pouco e tenho alguma nova ideia?

13 de março de 1998

Desenhos de DNA.

14 de março de 1998

Mais desenhos de DNA e Átomos.

16 de março de 1998

Estou aqui, exatamente ás três horas da manhã relatando o que aconteceu hoje. Primeiramente o dia não foi nenhum pouco progressivo, minha cabeça está doendo de tanto pensar em formulas químicas, ou será que era por causa do vinho?

Depois de várias tentativas inúteis no laboratório, finalmente decidi ir para a festa de comemoração da empresa. E bem, acho que fiz a escolha certa, a comida estava excelente, a bebida não posso nem comentar, mas a melhor parte foi que conheci um jovem cientista que era muito bonito por sinal.

Não pedi o seu telefone e nem ele o meu.

Mas quem sabe se o meu fio do destino vai se encontrar com o dele.

─ Isso realmente parece um diário ─ Comentei, Rei acenou com a cabeça e passou para a próxima página.

24 de março de 1998

O fio do destino se entrelaçou.

─ Olha ela deve ter se encontrado com o cara novamente ─ Disse Rei.

Estava entrando no meu laboratório quando avistei o meu patrão com o rapaz que conheci na festa. Ele estava usando o mesmo casaco branco que eu, por um momento fiquei sem reação ao me deparar com os seus olhos cinzas.

─ Espere, olhos cinzas? ─ Perguntei levantando as sobrancelhas. ─ Será que ela é....

A chefia disse que ele seria o meu parceiro de trabalho, já que parecia que estava estancada na pesquisa, e que o seu nome era John. Pediu para nós darmos bem e colocarmos a mão na massa.

Das datas entre 27 de março a 18 de abril, apenas anotações químicas, formulas e desenhos.

20 de maio de1998

As vezes fico em duvida se uso esse caderno como diário ou anotações do trabalho, mas no fim acho que acabo fazendo os dois. John e eu estamos juntos faz quase dois meses e descobrimos que estou gravida de uma semana. Estamos super felizes, nunca imaginei que casaria com um colega de trabalho.

Quanto a pesquisa? Bem, John e eu estamos sendo bem cuidadosos, temos uma má impressão a respeito dessa pesquisa, mas não podemos parar por aqui. Descobrimos novas formulas e substancias, mas até agora não obtivemos nenhum resultado significativo.

25 de maio de 1998

Uma foto deles dois.

─ Merda! ─ Falei antes de pensar no que dizia. ─ Ela é a minha mãe?

Olhei para a foto, ela tinha um traço japonês, mas não parecia ser japonesa legitima, seus cabelos eram longos e negros, olhos verdes atrás de um óculos de grau. Meu pai estava parado ao seu lado, muito mais jovem do que se quer imaginava. Cabelos castanhos penteados para trás, jaleco branco e um sorriso discreto.

─ Seu pai não era um gangster? ─ Disse Rei confusa.

─ Era ─ Falei coçando a cabeça. ─ Mas ele nunca me contou que trabalhou em um laboratório.

─ Que loucura.

Pulamos algumas fotos do laboratório, formulas, desenhos, cálculos. E paramos na metade do caderno.

10 de novembro de 1998

No momento estou em casa, enquanto John está preparando algo para comer. Minha barriga está muito grande para poder trabalhar, minha ginecologistas disse que meu bebê vai nascer prematuro e que era melhor descansar o quanto podia. E assim estou, John não me deixa sair de casa sem a sua supervisão, e quando não está em casa, está no trabalho, tentando encontrar um fim para a nossa pesquisa.

Data para o nascimento do bebê : 25-28/12/1998.

─ Nasceu em que dia?─ Perguntou Rei.

─ Meu pai disse que foi em 1 de janeiro de 1999 ─ Falei. Esfreguei a mão suada na perna da calça.

─ A menos que essa criança não seja você, acho que o seu pai esqueceu a data do seu nascimento ─ Disse, fiz que sim com a cabeça e voltamos a leitura.

07 de abril de 1999

Não tive muito tempo para escrever aqui, estive ocupada com a pesquisa e o bebê, que por acaso se chama Sora.

─ Merda ─ Dissemos em uníssono.

Ela nasceu prematura como prevíamos, mas incrivelmente saudável. Seus olhos são cinzas iguais ao do pai e seus cabelos negros iguais aos meus. Acho que foi uma boa combinação, um pouquinho de nós dois, só espero que quando ficar velha não pinte o cabelo de loiro.

─ Sua mãe é engraçada ─ Comentou Rei e revirei os olhos.

Por um bom tempo não houveram anotações delas.

─ Será que algo aconteceu?

─ Não faço a mínima ideia ─ Falei passando para a próxima pagina escrita.

27 de dezembro de 1999

Sora fez um ano hoje, fizemos uma pequena comemoração em casa, com poucos amigos do trabalho. Ganhamos presentes de roupas e alguns brinquedos, acredito que ela gostou dos presentes, principalmente de um ursinho de pelúcia verde.

31 de Julho de 2000

Está sendo difícil as coisas no trabalho, nossos chefes cada vez mais pedem por soluções, mas simplesmente não são fáceis de se obter, John e eu estamos cansados aos extremos. Sora fica com uma babá de 18 anos em casa.

04 de agosto de 2000

Nossa empresa faliu.

08 de agosto de 2000

Fomos contratados por uma nova empresa. Ela nos deu um salário maior, uma laboratório maior e a possibilidade de ter tempo livre para ficarmos com Sora. Eu me sinto mal por não passar às 24 horas do dia com ela, mas tinha que me contentar. Essa pesquisa era importante demais para ser deixada para trás.

─ Legal, ela preferiu trabalhar a cuidar de mim ─ Comentei sarcasticamente.

─ Não que ela quisesse ─ Disse Rei dando um balançar de ombros e limpando as mãos na calça. ─ Apenas falta de tempo para os dois.

Setembro a novembro apenas formulas, me impressionava como aquele caderno tinha durado tanto tempo e dado tantas folhas.

27 de dezembro de 2000

Sora está crescendo tão rápido, começou a falar algumas palavras, mas ainda não disse papai e nem mamãe. Hoje fez dois aninhos. Brincamos o dia inteiro com ela, fomos a praça, foi um dia bem divertido, na verdade o melhor que tivemos em dias.

Então o que se viu pela frente foram apenas anotações e mais anotações, sem nenhuma data marcada.

05 de abril de 2001

Levamos Sora para conhecer o laboratório. Queríamos ver se ela lembraria dele anos mais tarde, apesar de ter apenas 2 anos.

E de certa forma eu lembrei, em forma de sonhos. Eu não estava errada em pensar que aquilo se parecia memorias.

18 de Agosto de 2001

As coisas estão ficando feias. A nossa pesquisa deu um grande salto depois que achamos uma formula escondida, enquanto observávamos algumas células. John e eu não temos uma boa sensação sobre isso. Nós não deveríamos seguir com isso adiante. Não deveríamos.

Sinceramente, estou começando a ficar com medo do que pode acontecer a seguir.

Talvez seja tudo paranoia da pobre cientista Sakura.

04 de setembro de 2001

A merda bateu no ventilador.

Eu sabia que isso não ia prestar, meus sentidos diziam que era para empacotar nossas coisas e dar no pé o mais rápido possível daquele lugar. Mas não conseguimos, estávamos sendo vigiados dia e noite. Estávamos com os nervos à flor da pele. Dois dos nossos companheiros de trabalho já haviam morrido, e estávamos com medo de sermos os próximos.

11 de outubro de 2001

Testamos o soro 1 em um macaco, os resultados não foram bons.

Tinha alguma coisa errada na formula e tínhamos que descobrir antes que sofrêssemos as consequências.

12 de outubro de 2001

Testamos o soro 2 e 3, sem resultados.

14 de outubro de 2001

Testamos o soro 4, sem resultados.

02 de novembro de 2001

Teste do soro numero 12, foi um sucesso.

Conseguimos deixar o soro perfeito.

John e eu guardamos o soro a sete chaves, escondido no cofre secreto do laboratório.

Paginas em branco.

Olhamos para as paginas em branco com um leve desespero, eu queria saber o que tinha acontecido com a minha suposta mãe, e o que tinha feito meu pai a parar de ser cientista. Depois de folhear várias paginas, uma folha de reportagem caiu no chão e eu me abaixei para pegar. Era uma noticia do dia 20 de dezembro de 2001.

─ Doutora em genética e bioquímica é encontrada morta em laboratório de pesquisa ─ Li a manchete em voz alta. E tive que engolir em seco com a noticia. Rei olhou para mim chocada e depois para o caderno.

─ A letra... mudou ─ Disse passando a mão no rosto. Me aproximei dela com receio de saber o que estava por vim.

Observei a letra e notei que a reconhecia.

─ Esse garrancho aí é do meu pai ─ Falei pegando o caderno da sua mão.

24 de dezembro de 2001

Não tenho ideia de onde estou. Tenho fugido por dias a fio, Sora esta dormindo na cadeirinha de bebê ao meu lado no carro. Minha esposa está morta.

E tenho medo de ser o próximo.

Essa pesquisa foi uma maldição para a nossa vida.

Ninguém está procurando o assassino da minha esposa, eu estou sendo procurado. Não como suspeito de crime, pois tinha álibis para a hora que aconteceu. Estou sendo procurado por aqueles que mataram minha esposa, por aqueles que querem a pesquisa. Que querem o soro.

31 de dezembro de 2001

Belo natal e ano novo que tivemos.

Estou em um quarto de hotel a quilômetros de distancia de onde morávamos. Mais ainda se ouvia as explosões dos fogos de artifício, mesmo a uma distancia realmente considerável. Sora como um bebê muito comportado, está dormindo profundamente na cama, e agradeço a Deus por ela não me dar trabalho, não sei o que faria sem Sakura por perto para ajudar.

Sinto saudades dela.

04 de janeiro de 2002

Estamos dentro de um avião rumo ao desconhecido. Tive que comprar passagens para qualquer lugar, ainda estávamos sendo seguidos e tinha que despista-los. Não poderia partir agora, não sem deixar Sora em segurança.

Confesso que meus olhos estavam cheios de lagrimas lendo tudo isso.

07 de janeiro de 2002

Nosso segundo dia na Itália. Sinto que ainda estamos sendo observados. Tive que usar uma lan house para comprar as passagens para um outro lugar.

No momento Sora está brincando com o seu ursinho verde no chão do quarto do hotel.

08 de janeiro de 2002

Estamos novamente dentro de um avião com destino à Londres. Sora esteve chorando por vários minutos durante a decolagem, o barulho das turbinas a incomodaram, felizmente estou conseguindo cuidar bem dela.

Sinto uma falta tremenda de Sakura.

11 de Janeiro de 2002

Londres está frio, não tanto como no inverno, mas está frio. Sora está dormindo em volta de 3 cobertores na cama.

Hoje quase não me reconheço no espelho. Meus olhos estão fundos, minha barba está grande e meus cabelos antes castanhos, estavam ficando prateados. É incrível como o ser humano mudava em um espaço de pouquíssimo tempo.

12 de janeiro de 2002

Conheci um homem chamado Carlos, ele não parecia estar me seguindo. Mas não confiei nele. Quando o vi pela primeira vez estava com uma jovem moça tomando café no hotel. Ela disse que iria para o quarto, e após alguns minutos conversamos sobre futebol.

Depois voltei para o quarto e fiquei junto com Sora, acho que ela tinha passado a ser uma extensão do meu corpo agora.

Na hora do almoço tive que pedir serviço de quarto. Apesar de todo o cuidado que estava tendo com Sora, parecia que ela tinha pegado um resfriado. Dei uma sopinha de legumes morninha para ela, e alguns remédios para resfriado. E felizmente ela acordou melhor no outro dia.

Lágrimas escorreram pela minha bochecha, passei a mão no rosto e continuei a ler. Rei estava silenciosa ao meu lado.

14 de janeiro de 2002

Eu sabia que existia uma cidade para super dotados, afinal, era por causa deles que a nossa pesquisa foi para frente. Eu não tinha mais ideias para onde viajar, sei que precisava ficar em algum lugar para cuidar de Sora devidamente. Meu dinheiro não iria durar para sempre a ponto de ficar viajando de cidade em cidade.

Talvez não fosse o lugar certo para morar, mas eu tinha que tentar.

15 de janeiro de 2002

Acho que pela terceira vez que escrevo aqui estou em um avião, agora com destino a Skill City. Encontrei com Carlos na hora do embarque, e pensei seriamente se ele não estava me seguindo. Tive certeza de o ver passando pelo detector de metais, e olhar atentamente se ele não estava armado.

Nos últimos dias, tive estado profissional em saber isso. Ninguém era confiável.

18 de Janeiro de 2002

Muitas coisas aconteceram nesses três dias que cheguei em Skill City.

A primeira delas foi que a cidade era muito grande e que fiquei perdido no primeiro dia.

No segundo dia, Carlos me indicou um apartamento, não confiei nele novamente. Afinal, quem ajuda um estranho assim? Talvez eu estivesse mais louco do que imaginava. Mas resolvi dar uma tentativa.

E a terceira coisa que aconteceu foi que descobri que era uma das pessoas super dotadas. E não foi de uma forma muito agradável, mas foi na hora exata.

Aconteceu no meio do caminho para o apartamento, Carlos estava andando a alguns passos a minha frente na rua. Em um braço levava Sora, e nas costas levava nossas mochilas, que eram três ao todo.

Quando dobramos a esquina, me deparei que estava cercado por dois caras, que reconheci imediatamente como aqueles que me seguiram nos primeiros dias logo após a morte de Sakura.

Meu sangue congelou na hora, armas apontadas na minha direção e na de Carlos. A única coisa que se passava na minha cabeça era para correr e proteger minha filha dos tiros, enquanto era atingido por milhares.

E eu não sei o que diabos aconteceu. Só sei que a próxima coisa que houve foi que Carlos foi acertado no ombro por uma bala e tombou no chão sangrando, e percebi que de fato ele não estava me seguindo, porque se não já tinha me matado.

Foi questões de segundos, e um decimo de segundo eu estou com Sora no braço e no outro ela está no chão, e no outro segundo os dois caras foram jogados contra a parede por um jato de água mais forte do que já vi em toda a vida. Então notei que eu estava ensopado, que sora estava ensopada e que Carlos estava me olhando assustado e sangrando.

21 de janeiro de 2002

O apartamento é nosso. Carlos está no hospital se recuperando, Sora está com uma leve febre, mas nada do que não consigo cuidar. Acho que hoje vou me permitir uma garrafa de uísque e uma noite de choro.

Então mais paginas em branco. Então formulas e desenhos feitos por meu pai. Páginas em branco.

─ Acho que acabou ─ Disse Rei e então deu uma fungada. Olhei para o seu rosto e vi que tinha estado chorando também. Folhei até as ultima paginas e parei ao ler o começo da folha.

19 de Fevereiro de 2015

Sora se vocês estiver lendo isso, quer dizer que estou morto, e que você conseguiu achar o cofre e ler todo o diário de anotações de sua mãe. Sim, sua mãe foi essa cientista genética e bioquímica, a mulher mais inteligente que conheci em toda a minha vida e do qual tive a filha mais linda do mundo. Posso ter sido uma falha como pai, mas acredite fiz tudo que pude para manter você a salva.

Como pode ter percebido paginas antes, eu trabalhei com a sua mãe como assistente no laboratório, dedicamos grande parte de nossa vida nessa pesquisa. Tínhamos a sensação de que poderíamos dar um grande salto para a humanidade, só que bem, o tiro saiu pela culatra. O soro que desenvolvemos se tornou algo perigoso e muitas pessoas com desejos obscuros tentaram rouba-lo.

Sua mãe morreu por causa dele. Se tivéssemos percebido isso antes.

Sakura morreu no dia 19 de dezembro de 2001. Foi morta com dois tiros no peito no laboratório. Eu estava no deposito no 1ºandar, pegando alguns frascos e livros com um colega de laboratório, quando escutei os tiros. Eu sabia exatamente de onde tinham vindo, e corri o mais rápido que podia, e quando basicamente derrubei a porta com um chute, encontrei a sua mãe no chão do laboratório. Todo o lugar estava revirado. Quem quer que seja, estavam atrás do soro.

E mais do que nunca eu me odiei por ter criado aquela merda.

Outros cientistas e alguns seguranças entraram logo em seguida, vasculharam todos os andares do prédio e as câmeras de segurança, mas por incrível que pareça, nenhuma das câmeras capturaram nada. E eu sabia que estavam trabalhando para a empresa ou tendo algum tipo de acesso as informações. Ali não era mais seguro.

Apenas 4 pessoas sabiam as formulas para a criação do soro, e três delas estavam mortas agora. E eu era o único que sabia como o produzir e onde o achar. Voltei para casa imediatamente e peguei você e o máximo de suprimentos que consegui colocar no carro, fui para um hotel. A reportagem sobre sua mãe saiu um dia depois no jornal local, mas não haviam nenhum suspeitos.

Fiquei rodando com você por alguns dias, e na madrugada quando você dormia no carro, entrei no laboratório, desativei as câmeras de segurança antes de entrar. O lugar tinha estado o mesmo, sem manchas de sangue no chão, livros espalhados e alguns frascos quebrados. Fui até o cofre que ficava atrás do armário de aço, que pesava uns 30 quilos, Sakura tinha sido esperta em colocar tantas seguranças no cofre, tinha senha, leitura biométrica e de retina, e confirmação por voz.

Dentro havia duas coisas, uma caixinha que continha os dois únicos frascos do soro, eles tinham uma cor esverdeada, e a outra era a foto de nós dois. Essa foto que está dentro do diário. Não havia livros e nem formulas, fomos bem claros de não deixarmos papeis para trás.

Depois disso deixamos o Japão e ficamos indo para alguns países, até chegarmos em Skill City. Durante todas as viagens fui perseguido e tive que mantem você e o soro em segurança. Eu poderia ter destruído aquela maldição, mas meu corpo não deixava, era a ultima coisa que sua mãe tinha feito. Tinha sido o trabalho de nossas vidas.

Anos se passaram, você cresceu, tive que mudar a sua data de nascimento e o nome da sua mãe, na verdade, mudei até o meu nome. Talvez não soubesse, mas meu nome completo era John Heiz Mansur.

Tive receio de continuarem nos perseguindo e por isso mudei nossos dados. Passei a me chamar apenas de John Akibara, manti o sobrenome da sua mãe e o dela ficou Yui Maurer. Meus avós se chamavam Maurer, temos origem alemã. Mas não consegui mudar o seu nome, sua mãe que tinha o escolhido. Acho que deve ter se perguntado o que significava o M. do seu nome.

Não significa Maurer, e sim Mansur. Sora Mansur Akibara.

Tive ajuda na hora de modificar os registros de seu nascimento. Espero que me perdoe por não ter dito antes.

O problema era que nunca deixei de ser perseguido, a diferença era que agora tinha poderes para nos proteger e Carlos nos ajudou bastante. Não posso dizer o quão surpreso e feliz fiquei ao saber que tinha poderes anos depois. Sua mãe não tinha poderes quando viva, talvez fosse a parte do meu DNA, quem sabe. Mas poderes de eletricidade! Nossa, quão incrível e perigoso era isso!

Tinha que ensina-la a controla-lo perfeitamente, por isso que a fazia treinar horas por dia. Queria deixar pronta para o que viesse pela frente, para aprender a sobreviver sozinha, quando não estivesse mais aqui.

Deixei de trabalhar na área de ciência, e passei a trabalhar com as coisas que você já sabe. Tive que ficar na surdina por vários anos. Criei esse cofre secreto que poderia ser aberto apenas por você, nem mesmo Carlos sabia sobre ele, e fiquei até mal por nunca ter dito a ele. Depois de tudo o que ele fez por nós, acho que devia ter mais confiança nele.

As folhas estão acabando. Sora, o soro está guardado neste cofre, depois de tantos anos não consegui me livrar dele, e agora o passo para suas mãos, o que quer que faça, nunca deixei-os cair em mãos erradas. Se for preciso destrua-os. Tenho certeza que você não vai ser tão sentimental quanto eu a respeito disso.

Saiba que sua mãe e eu a amamos muito. E ficamos felizes pela a mulher que se tornou. Um pouco problemática, mas nada que possa ser ignorado. Seus poderes são grandes, você não tem ideia do quanto pode fazer com eles. Imagine se você aprendesse a controlar as cargas elétricas de um corpo, controlar os átomos, talvez pudesse até mesmos voar, ou levitar. Tudo é questão de controle.

Controle, técnica e corpo forte.

Acho que você deve estar me perguntando do porque de ter deixado tantas dividas para você. Bem, esse deposito é seu.

Olhei em volta para o depósito deteriorado, apenas aquela sala estava em condições razoáveis.

Tive que pegar dinheiro emprestado para comprar o lugar, e para ficar sempre mudando de nomes, em tese esse lugar é uma empresa fantasma que criei, por isso que ninguém conhece esse lugar, lugar perfeito para um cofre desse tipo. Depois de tantos anos estudando em uma escola vagabunda da periferia, meu subconsciente dizia que estava na hora de você estudar em algum lugar descente, onde você aprenderia mais sobre você mesma, suas habilidades e diversas outras coisas. E só havia uma escola boa o bastante, a High Royal.

Nos últimos dias meus sentidos vieram mandando fazer tudo o que podia para deixa-la bem depois que partisse, e dessa vez eu segui meus instintos. O único problema disso era que deixaria uma divida enorme para você, mas acho que você daria um jeito para paga-la. Peço desculpas por deixa-la em uma situação dessas.

─ Valeu pai ─ Comentei sarcasticamente.

Enfim, cuide-se minha filha e aprenda o máximo que puder, este cofre está cheio de livros que quero que dê uma olhada, não sei que carreira profissional pretende seguir, mas acho que deve ser um bom começo.

Quanto ao soro, vou explicar para qual finalidade ele foi feito.

E viramos a pagina e não vimos mais nada a não ser a capa de trás do caderno. Passei a mão no meio do livro e engoli em seco.

─ Está faltando uma página ─ Falei, minha voz saiu quase que um sussurro para mim mesma.

─ Será que caiu? ─ Rei ficou em pé e olhou para o chão a nossa volta.

─ Não. Foi arrancado ─ Fechei o caderno e coloquei em cima da mesa. ─ Mas não faz sentido, ninguém poderia arrancar algo sem antes entrar no cofre.

─ Sora...

Olhei para onde Rei estava apontando e escondido entre os livros no chão, junto a outros frascos de cores estranhas, estava dois de cor esverdeada.

─ Você acha que...

─ Tenho quase certeza ─ Confirmei me abaixando e pegando os dois frascos em mãos. Os frascos não eram de vidro, pareciam serem feitos de plástico e estavam bem lacrados.

─ Resistentes à queda ─ Disse Rei pegando um deles da minha mão.

─ É.

Fiquei encarando aquela cor esverdeada tentando imaginar para qual proposito ela tinha sido feita. O motivo de minha mãe ter sido morta.

─ Sora ─ Olhei para Rei e nossos olhos se encontraram ─ Como o seu pai morreu?

─ Incêndio, uma explosão de gás no prédio em que morávamos ─ Respondi, Rei formulava alguma coisa na sua cabeça. ─ Por que?

─ Seu pai disse que nunca parou de ser perseguido, já passou pela sua cabeça que ele pode ter sido assassinado?

─ Não, eu estava no prédio quando tudo aconteceu ─ Falei cruzando os braços com o frasco na mão.

─ Não sei, está faltando uma peça nisso tudo ─ Disse coçando a cabeça. ─ Carlos?

─ Morreu no incêndio. Uma coluna caiu em cima da perna do meu pai e Carlos foi ajuda-lo a sair, no fim não conseguiram, isso foi o que me disseram, os que saíram por ultimo.

─ Hummm ─ Rei estava tentando fazer as peças se juntarem.

Escutei o som de passos e olhei para a entrada da sala. Mais passos, não dava para ver nada lá fora. Olhei para Rei e ela tinha escutado também, nos aproximamos da porta e ficamos quietas. Alguns ratos passaram pela nossa frente e escutamos algo sendo pisado à poucos metros, e a próxima coisa que escutamos foi o disparo de uma arma, nós duas nos jogamos para frente. A porta do cofre começou a se fechar, talvez ela tinha leitor de movimentos ou detector de calor.

Outro tiro passou por nossas cabeças e eu estalei o dedo, despejei o máximo de eletricidade possível no chão e tudo ficou em silêncio.

─ Esconda o frasco ─ Sussurrei para Rei que ainda estava com o frasco na mão.

Eu não sabia onde esconder, o lugar mais seguro que tinha estava lacrado a nossas costas e eu não iria tentar destrava-lo enquanto não tivesse certeza que o que nos atacou estava morto. Levantei minha perna direita e enfiei o frasco no meu tênis.

─ Rei, vou verificar o lugar ─ Sussurrei, eu sabia que ela estava ao meu lado, mas não podia ver o seu rosto, estava tudo escuro. Rolei para o lado e fiquei de pé, olhei nervosa para o breu total e forcei meus olhos a verem alguma coisa, dei alguns passos para frente e escute o nada. Estalei o meu dedo novamente, para ter certeza que não tinha ninguém e tudo ficou claro por um segundo, não havia ninguém onde o raio iluminou, nenhum corpo também.

Andei com passos mais firmes para frente e escutei algo pisando sobre um cascalho, estalei o meu dedo naquela direção e um tiro passou a centímetros do meu braço. Mas que diabos? Eu não conseguia atingir quem estava lá.

Vi o brilho de uma arma e me abaixei bem a tempo. Fiquei de pé e avancei rapidamente, derrubei quem quer que fosse no chão com um chute na canela e dei um soco onde seria a sua cabeça. Minha mão atingiu a lateral do que seria um capacete e chiei. E então o prédio se iluminou.

Meus olhos demoraram alguns segundos para se acostumar com a luz na minha cara e preferi não ter enxergado nada para ser honesta. Havia homens vestindo trajes pretos, não ternos, mas sim uniformes padronizados, usavam um capacete que não dava para ver nem um fio de cabelo do cidadão, carregavam armas de fogo e lanternas em mãos. Tinham ao todo uns 15 no local.

Estalei o dedo e nada aconteceu, olhei para minha mão confusa e estalei novamente, os raios da eletricidade apareceram, fizeram piscar as lanternas, mas os homens permaneceram intactos.

─ Mas que.....

─ Seu poder não vai funcionar ─ Disse alguém dando um passo a frente, não reconheci a voz. ─ Nosso traje foi feito especialmente para você.

Olhei para o traje dele, o mesmo dos outros, e cerrei os olhos na direção dos seus pés, uma bota preta com detalhes vermelhos, olhei em volta e todos estavam usando a mesma bota.

─ A prova de eletricidade ─ Disse o mesmo dando uma batidinha no chão com as botas.

Se meu poder não funcionasse, teria que ser rápida com os golpes físicos. Mas acabaria levando um tiro e Rei também. Rei. Olhei para trás e abri minha boca pra dizer algo, quando ela simplesmente veio correndo na minha direção, seus olhos ficaram cor de sangue e levantou as mãos, 5 dos guardas caíram no chão se engasgando no próprio sangue dentro de seus capacetes, me movi rápido e derrubei dois no chão. O que tinha falado desviou do meu golpe e puxou uma pistola da cintura, não mirou em mim, mas sim em Rei.

Tentei me mover para frente, mas não deu tempo, Rei deu um solavanco para trás e caiu no chão. Fiquei um segundo sem reação e corri até ela. Coloquei-a nos meus braços e procurei a bala, mas não era uma bala. Era um tranquilizador. Levantei o olhar, mais do que confusa e guardas me puxaram, me afastando dela.

─ Quem diabos são vocês? O que querem com a gente?! ─ Gritei dando uma cotovelada no estomago de um deles, o outro me deu um coronhada com a arma e cai de joelhos no chão. O que tinha dito algo, colocou as mãos no capacete e o retirou, um longo cabelo negro caiu sobre as suas costas, abriu seus olhos lentamente, e tinham cores roxas. Nunca o tinha visto antes. ─ Quem é você?

─ Me chamo Van ─ Disse dando um sorriso de canto sombrio e um arrepio percorreu minhas costas. Merda.

Minha cabeça só processava isso. Merda. Merda. Merda. Merda.

─ O que você quer? ─ Perguntei olhando para os seus olhos roxos, eles eram assustadores e ao mesmo tempo atraentes. Dois caras pegaram Rei pelo braço e se afastaram de mim, segui-os com o olhar. ─ Onde a estão levando?

─ Para o carro ─ Respondeu Van ─ Vamos levar vocês para um passeio.

─ Nem a pau ─Falei tentando me soltar dos guardas, ele sorriu e apontou a arma para mim.

─ Você não tem escolha, ou vai com a gente acordada ou carregada ─ Disse colocando o dedo no gatilho da arma.

─ Sem opções? ─ Perguntei, ele fez que sim com a cabeça, respirei fundo e concordei.

No caminho de volta o lugar não estava mais escuro como quando entramos. Colocaram Rei em um carro, e Van acenou para ir com ele no outro.

─ Do que se trata tudo isso? ─ Perguntei olhando para ele, sua arma ainda estava apontada para mim.

─ Negócios. Futuro ─ Respondeu. Engoli em seco, devia para ele 30 milhões de S’s, e temia em saber qual seria a missão que ele me daria para quitar a divida. Droga pai! Mexi minha perna esquerda devagar e o frasco ainda esta intacto. Será que Rei conseguiu esconder o dela?

O carro tinha um insulfilm muito escuro, quase não conseguia ver do outro lado, passamos por algumas ruas perto do festival e seguimos em direção á uma empresa de eletrônicos. O carro entrou no estacionamento subterrâneo e parou ao lado do outro carro, um guarda abriu a porta para mim e outro ficou logo ao seu lado apontando uma pistola na minha direção, Van acenou para sair e obedeci. Um dos uniformizados pegou Rei no colo e esperou Van tomar a liderança.

Subimos alguns degraus e entramos na área central da empresa, e bem, não tinha nada de eletrônicos lá. Era um grande espaço vazio, salvo por alguns equipamentos que eu não fazia a mínima ideia do que e para quê servia aquilo. Tinha uma maca, equipamentos de cirurgia, dois computadores ligados a uma tv, frascos de armazenamento com cores vermelhas, e fios. O mais estranho era que tudo isso se ligava.

Van foi até Rei e meteu a mão no bolso da sua calça, dei um passo para frente para o impedi-lo e 4 espingardas levantaram em minha direção, abri minhas mãos calmamente, mostrando que não iria atacar e observei enquanto ele tirava o frasco verde do bolso de Rei, e então colocaram-na no chão.

─ Você podem aparecer, agora ─ A voz de Van ressoou no lugar inteiro. E uma porta que não tinha notado antes se abriu. Outros guardas apareceram, alguns com o traje e outros sem, e então pessoas apareceram, e eu não tinha entendido o porquê deles estarem ali.

─ E aí ? ─ Disse Lyn dando um olá com a mão. Então Phanix e Frank apareceram, Van andou até eles e os quatro gangsters olharam para mim.

─ O que diabos está acontecendo aqui? ─ Perguntei nervosa, os guardas se moveram acompanhando os meus movimentos. ─ Pensei que o negocio seria com você ─ Falei apontando para Van.

─ Continua impaciente como sempre ─ Disse alguém, por um momento pensei ter imaginado a voz, mas era real, e era o inicio do meu pesadelo.

Um homem alto, de cabelo curto cinza, usando um traje muito semelhante ao que os outros estavam usando, a diferença era que as dele eram brancas, deu um aceno para mim com a cabeça e se colocou ao lado de Van. Outro homem apareceu logo em seguida, era Gurt, o loiro mal encarado que tinha ido a mim e a Francis no dia que tínhamos trabalhado na boate para Frank.

Minha cabeça não estava processando exatamente o que diabos estava acontecendo ali, talvez o motivo era a coronhada que tinha levado na cabeça ou simplesmente porque aquilo era confuso demais para entender, e então a única coisa que saiu da minha boca foi algo parecido como um sussurro, mas que ressoou por todo o lugar.

─ Você deveria estar morto.

─ Eu sei ─ Disse o homem de branco, Van entregou o frasco para ele, e o mesmo o olhou com tamanha admiração. ─ Não sabe o quanto esperei por esse dia.

─ Ok. O que diabos está acontecendo aqui? ─ Falei com raiva, os homens voltaram a levantar as espingardas para mim. ─ Como você pode estar vivo? O que vocês estão fazendo aqui? E para que infernos são esses equipamentos?

─ Calma, parece que o tempo não ajudou a treinar o seu temperamento ─ Disse o homem de branco, o homem que eu jurava estar morto, que foi melhor amigo de meu pai. ─ Vamos explicar tudo em alguns minutos.

─ Acho bom ─ Repliquei, senti meus cabelos se arrepiando e Carlos sorriu.

─ Primeiro de tudo ─ Começou Van a dizer olhando para mim. ─ As suas dividas estão mortas aqui ─ Olhei para ele sem entender. ─ Todas elas.

─ E qual o motivo? ─ Perguntei desconfiada.

─ Oh, minha cara. É simples ─ Carlos deu um passo para trás e acenou para Gurt, o mesmo confirmou com a cabeça e se sentou na maca. ─ Você nos ajudou a conseguir um poder que fará nós sermos os donos da Cidade.

─ Como assim? ─ Falei engolindo em seco. Gurt tinha dito isso quando nos conhecemos.

─ Ora, foi você que trouxe todos os equipamentos para nós ─ Deu uma balançada de leve no frasco e acenou com a mão livre para todos os equipamentos. Eu não me lembro de ter pego nada daquilo. Então um homem de jaleco branco, que imediatamente reconheci sendo o cientista genético que tinha raptado para ajudar Lyn com a sua sobrinha doente. Ele olhou para mim nervoso, quase que pedindo ajuda.

─ Ela não está entendo nada ─ Sussurrou Phanix para Lyn ao seu lado, Van deu um suspiro e lambeu os lábios.

─ Para resumir as coisas, você nos trouxe os equipamentos de pesquisa que estavam no mesmo laboratório do nosso amigo cientista ─ Apontou para os equipamentos esquisitos, que provavelmente estavam dentro daquela caixa de metal que tinha roubado com T1 e T2 ─ trouxe-nos a pedra verde, que é uma grande fonte de energia acumulada ─Apontou para o equipamento e entre os fios e os frascos de armazenamento, estava a pedra verde com pontos dourados que tinha roubado na joalheria para Phanix ─ e por fim nos trouxe a ingrediente x, que tornará nosso sonho em realidade.

─ Ok ─ Falei cerrando os olhos, estava tendo uma ideia do que era tudo aquilo. ─ Vocês me usaram para conseguir essas ─ Acenei para tudo daquele lugar ─Coisas, exatamente para quê? E o que esse frasco tem de tão importante?

─ Você não sabe? ─ Perguntou Frank surpreso quando respondi que não. Olhei para Rei que ainda estava apagada, mas tinha movido a mão.

─ Claro que ela não sabe ─ Cortou Carlos, enfiou a mão no bolso da calça e tirou de lá um papel que tinha a aparência desgastada e antiga ─ Ela não leu a ultima página do diário da mãe dela.

Olhei para aquela folha e abri minha boca, como diabos Carlos tinha conseguido aquela folha? Se apenas eu e meu pai tínhamos acesso ao cofre? E porque era tão importante aquele frasco? E como ele estava vivo e meu pai não?

─ Ah, qual é? Ficou surpresa? ─ Disse Carlos com um sorriso cínico, andou até onde estava Gurt, e entregou o frasco para ele. Gustav o cientista começou a se movimentar ligando os equipamentos. Então como em um piscar de olhos Carlos apareceu ao meu lado, levantou a folha antiga para mim e eu a segurei.

─ Você tem poderes? ─ Perguntei surpresa para ele.

─ Sim, nunca revelei para o seu pai ─ Disse ele dando de ombros ─ Não até o ultimo suspiro dele.

─ Como...

─ Leia o que diz a folha ─ Me cortou e pousei o olhar sobre a letra de meu pai.

No começo a pesquisa era voltada para procurar um jeito de controlar as células responsáveis pelos poderes dos super dotados, verificar qual era o limite de cada um e as suas possíveis fraquezas, com essa pesquisa teríamos um controle de todos. Porém, nossas descobertas levaram a pesquisa para um rumo totalmente diferente e perigoso.

Agora o nosso foco era em saber até que ponto um corpo humano poderia aguentar um determinado tipo de poder, ou um determinado numero de poderes. Em suma, o soro que produzimos depois de anos, tinha como efeito aumentar as capacidades físicas e psíquicas da cobaia.

O humano que utilizar o soro, terá suas habilidades aumentadas em até 4x, e poderá obter novos tipos de poderes se for adicionado com um determinado DNA. Muitas pessoas querem adquirir poderes, muitas querem dominar cidades, exercer o medo e a força para alcançarem o que querem, quem colocar as mãos neste soro terá tudo isso, apesar de que, o usuário terá alguns pontos fracos, como raciocínio, falta de empatia, perda de memórias e entre outras coisas que não tivemos tempo de verificar.

Esse foi o motivo de termos sidos perseguidos. Espero que proteja o frasco como eu protegi.

Com amor, John.

─ Não se preocupe Sora, o soro está em boas mãos ─ Carlos me deu um sorriso de canto e cerrei meus punhos, aquilo estava errado, muito errado.

─ Como você conseguiu isso? ─ Perguntei balançando a folha e olhando para ele.

─ Bem, eu sabia da história do seu pai, ele guardou o diário por um bom tempo em casa, e quando terminou de escrever, eu o localizei e arranquei a ultima página sem que ele percebesse ─ Deu de ombros e fiquei em duvida se ele estava mentido ou não. ─ Descobri o seu segredo e o segui até aqui, tentei por anos teleportar para dentro do cofre, mas parecia que tinha uma barreira em volta, que me impedia, e o cofre tem um sistema de autodestruição caso a pessoa errada a tente abrir. O jeito foi esperar e guia-la até aqui.

A história fazia sentido até aí, mas tinha algo que realmente me incomodava.

─ Como vocês planejam usar o soro? E como você escapou do incêndio? ─ Perguntei, a ultima pergunta era obvia demais até para mim. Só que eu não entendia o motivo de meu pai também não ter sobrevivido.

─ Sora, Sora. Muitas perguntas para pouco tempo ─ Carlos disse balançando a mão. ─ Artos será a nossa cobaia. E Gustav irá proceder com o nosso plano, se não, toda a sua família será aniquilada.

Olhei para Gustav e me senti tremendamente mau por ele, era minha culpa ele estar metido ali. E quem diabos é Artos? Gustav aplicou alguma coisa em Gurt, que agora estava amarrado a maca, prendeu vários outros fios no seu corpo, ligou os computadores e ficou quieto.

─ Pode começar ─ Ordenou Van, Gustav fez que sim com a cabeça e aplicou uma seringa com o soro no braço de Gurt. Os outros fios, agora que notei, tinham umas pontinhas que entravam no peito e braços do rapaz preso a maca. Tudo se passou em questões de segundos, que se pareceram horas.

Todo o local se iluminou quando a energia da pedra foi ativada, líquidos vermelhos começaram a entrar no corpo de Gurt, que logo percebi que era sangue, ou seja DNA, o lugar começou a se encher de eletroestática, os computadores apitaram loucamente, todos ficamos silenciosos por um momento, e então um grito agonizante percorreu todo o lugar, fazendo minha espinha tremer.

O corpo de Gurt começou a entrar em convulsão, os músculos dos seus braços estavam tensionados e as veias do seu corpo estavam completamente visíveis. Meus olhos não conseguiam acreditar no que estava vendo. Gustav estava correndo de um lado para outro desesperado e da mesma forma que os gritos vieram, cessaram no segundo seguinte, e o único som que se ouvia era os dos nossos corações batendo descontroladamente em nossos peitos e os estalos das máquinas. A pedra estava quase totalmente dourada agora e fumaça saia de um dos computadores.

─ Então, deu certo? ─ Perguntou Lyn depois de um minuto.

─ Não sei ─ Sussurrou Phanix em resposta.

─ Gustav! ─ O cientista de curvou rapidamente com medo. ─ Como Artos está?

Gustav correu rapidamente e parou ao lado de Gurt, ou melhor Artos, colocou o estetoscópio sobre o seu peito, depois focou uma lanterna nos seus olhos e abriu a sua boca. O cientista estava com uma cara surpresa, de quem não acreditava que a cobaia tinha sobrevivido ao experimento.

─ Tá vivo ─ Respondeu.

Ficamos alguns segundos observando o corpo de Artos. Eu estava preocupada com Rei, ela ainda não tinha acordado, aproveitei que estavam distraídos e andei lentamente até ela, me abaixei e toquei a sua testa com a mão, estava normal. Dei um tapinha no seu rosto e ela abriu os olhos lentamente.

─ Hã? O que... que ─ Começou a falar confusa.

─ Está tudo bem ─ Falei para ela, então Artos ficous de pé ─ Por enquanto...

Demorei poucos segundos para notar a diferença no seu corpo, primeiro foi que ele tinha em média uns 2, 50 m de altura, os músculos do seu corpo estavam maiores e definidos, o seu cabelo antes loiro, agora era uma careca, e seus olhos cintilavam uma cor dourada igual ao ouro, e tinha o olhar tão frio quanto o oceano congelado.

─ Merda ─ Disse Frank surpreso. A roupa de Artos, a parte de baixo ao menos, estava minúscula no seu corpo.

─ Você se lembra da gente, Artos? ─ Perguntou Carlos, os olhos dourados se viraram na sua direção, e ele fez que sim com a cabeça. ─ Ótimo!

─ Mas que diabos é isso? ─ Perguntou Rei em meus braços, ela estava tão chocada quanto eu.

─ Parece que a bela adormecida acordou ─ Disse Van com um sorriso, Rei cerrou as sobrancelhas.

─ Consegue ficar de pé? ─ Perguntei para ela, acenou positivamente e a ajudei a levantar. Senti o frasco na minha perna e encarei Carlos. ─ Então Carlos, e agora? Conseguiu o que queria. Agora me responda, como você sobreviveu e onde está o meu pai?

─ Seu pai? ─ Disse dando um sorriso. ─ Ele está morto, oras.

─ Você não tinha ido salva-lo? ─ Perguntei confusa.

─ Salvar John?! ─ Disse com escarnio. ─ Não mesmo.

Paralisei com aquela informação, e como se alguém estala-se uma ideia na minha cabeça, o quebra cabeça começou a se ligar, e eu não queria que fosse verdade.

─ Você disse que conhecia a história do meu pai, como? Ele falou no diário que nunca tinha dito nada a ninguém.

─ Vamos usar a cabeça, né Sora? Você jura mesmo que eu encontrei o seu pai por acaso? Que trabalhei com ele por que eu gostava dele? ─ Senti meu coração parar de bater. ─ Não, né? O seu pai era um pé no saco, para ser sincero. Tive que aguentar ele durante todos aqueles anos, ele tinha escondido tão bem essa formula, o soro, que fui obrigado a conviver com ele sem reclamar. Até que finalmente chegou a oportunidade de acelerar com tudo isso ─ Disse acenando em volta.

Minha mente estava absorvendo as informações mais rápido do que meus ouvidos escutavam a sua voz, como se meu corpo soube-se a verdade. Meu pai tinha confiado em Carlos durante todos esses anos, eu tinha confiado nele. E ele vem falar que tudo aquilo tinha sido um fingimento, era como correr e se chocar contra uma parede invisível. Rei estava imóvel ao meu lado, apenas observando e tentando montar o quebra cabeça.

─ O meu pai não morreu no incêndio, não foi? ─ Perguntei encarando os seus olhos castanhos com raiva.

─ Não ─ Disse dando um sorriso frio, Artos parou ao seu lado e encarei aquele gigante. Talvez com Artos ali, Carlos estivesse com mais coragem para contar a verdade, visto que tinha conseguido o seu objetivo de anos de procura. O que me fez pensar, se Carlos estaria envolvido com o assassinato da minha mãe, o que eu não achava improvável, já que nunca encontraram nenhum culpado e muito menos pistas. Era como se o assassino tivesse desaparecido do local do crime em um piscar de olhos. E Carlos sabia teletransportar. ─ Um tiro na testa resolveu o problema.

Encarei-o em choque, Carlos surgiu na minha frente e colocou a sua mão na minha testa, e por um momento era como se suas memórias entrassem na minha mente. E me vi em meio a um incêndio. Ao menos isso era verdade. O incêndio tinha sido provocado por um vazamento de gás. Havia fogo para todos os lados, John estava preso entre as vigas de madeira que tinham caído sobre a sua perna, ele estava tentando controlar o fogo ao redor com o seu poder de água.

Então a próxima coisa que vi, foi uma arma apontada na direção da sua testa, meu pai olhou atônito para Carlos, os dois trocaram algumas palavras e um tiro silencioso botou fim a conversa.

Pisquei os olhos confusa e peguei Rei me encarando, mais a minha frente estava Carlos com um sorriso no rosto, Van e os outros estavam mais ao canto, os guardas estavam com as armas apontadas na nossa direção. Eu não sabia o que estava sentido, se era tristeza, raiva, dor, traição, medo. Meu pai tinha confiado em Carlos durante todos esses anos e foi traído, confiou em mim para proteger o soro e não cumpri com a promessa.

Meu olhar se encontrou com o de Rei e ela fez um não levemente com a cabeça, mas a ignorei. Meu corpo tinha escolhido a sensação que iria sentir, e ela era raiva. Estalei o dedo e desliguei as luzes do local, meus pés voaram sobre o concreto, tiros soaram ao meu redor, mas me certifiquei de colocar uma barreira em volta de Rei, não tive dificuldades em encontrar Carlos no escuro e levantei meus punhos para acertar o seu rosto, quando fui jogada para trás como se não fosse nada.

Rolei no concreto e as luzes voltaram a se acender. Rei estava abaixada no chão, a sua volta tinha meia dúzia de homens caídos. Levantei com cuidado, sentindo o frasco inteiro ainda no meu tênis e encarei Artos. Vários pares de armas se voltaram para mim.

─ Não ─ Disse Van, Carlos e os guardas uniformizados olharam para ele. ─ Deixe Artos cuidar disso, vamos ver as suas habilidades.

─ Seu maldito! ─ Gritei para Carlos ─ Meu pai confiou em você!

E corri o mais rápido que pude, e como se fosse um mosquito, fui jogada para trás novamente. Artos estava inexpressível a minha frente, sua cabeça se inclinou para a direita e a sua pele começou a mudar de cor, e confesso que nunca tinha visto algo assim.

Sua pele passou de metal para pedra, e então parou em uma superfície igual ao concreto abaixo de mim. Levantou as suas sobrancelhas como se estivesse surpreso com aquilo e partiu para cima de mim, afastei-me o mais rápido possível dele e vi Rei levantando suas mãos tentando controlar o sangue de Artos, mas nada aconteceu. Ela olhou para mim totalmente confusa, e Artos sumiu do meu campo de visão, e no próximo piscar de olhos ele estava sobre Rei, levantei minha mão e crei uma barreia a sua frente, bem na hora que ele abaixou o seu punho.

─ Saí daí Rei! ─ Gritei para ela, minha barreira não iria aguentar nem mais de que 3 segundos. Ela se jogou para trás e corri para o seu lado, Artos se moveu mais rápido do que se imaginaria para o seu tamanho e jogou nos duas contra a parede.

Caí de lado no chão, havia sangue escorrendo da minha testa, cutuquei Rei ao lado e ela se mexeu devagar. Fez um ok com o polegar e nos levantamos. Artos levantou a mão esquerda e uma bola de fogo surgiu, Rei e eu ficamos estáticas, como se alguém tivesse apertado o botão de Stop de um filme. Aquilo era impossível, ninguém jamais conseguia controlar ou muitos menos ter mais que dois poderes. E como se estivesse brincando com o nosso imaginário, Artos levantou a mão direita e gelo começou a se formar na sua mão.

─ Nossa!!! ─ Disse Carlos animado, os outros estavam rindo também.

Três poderes, além da sua super força e velocidade. Estávamos ferradas.

E apesar de estar em total desvantagem, a única preocupação que eu tinha era em como achar um jeito de matar Carlos da forma mais dolorosa possível, vingança era uma coisa engraçada e autodestrutiva. Eu não poderia medir meus poderes com Artos e respirei fundo, levantei minha mão direita, eletricidade começou a percorrê-la e estalei o dedo.

Lancei o meu poder na sua direção, mas era como atingir o nada. Carlos deu uma gargalhada profunda, que me fez perder os nervos, virei o meu corpo na sua direção e estalei o dedo, e nada aconteceu. Malditas roupas especiais. Rei levantou as mãos e mais da metade dos guardas caíram no chão, os que não foram atingidos, começaram a atirar na nossa direção, e antes que eu pudesse se quer pensar em levantar uma barreira.

Fui atingida no estomago por um soco congelado e rolei no chão. Senti uma falta de ar súbita e coloquei a mão no peito tentando voltar a respirar, foi quando vi Rei caindo no chão, sua perna estava sangrando.

─ Acabe logo com elas ─ Ordenou Carlos, Artos fez que sim com a cabeça e andou lentamente na minha direção e fiz a única coisa que poderia salvar a minha vida naquele momento.

Puxei o frasco do meu tênis e todos pararam, acho que ninguém imaginava que tinha outro soro, e que estava comigo durante todo esse tempo. Artos estava me encarando com aqueles olhos dourados assustadores. Bem, se ele tinha conseguido, por que não eu? Afinal, para combater uma super maquina de matar, era melhor ter outra super maquina de matar.

─ Ora ora, não é que tinham outro soro ─ Disse Van cruzando os braços.

─ Artos, pegue ele para nós ─ Disse Carlos me encarando com raiva. Era claro que ele queria o soro, quanto mais monstros tivesse, melhor seria o processo de conquista.

Gurt fez um movimento de aproximação e fiz a única coisa que poderia fazer para não deixar o soro cair nas suas mãos, destampei o frasco o mais rápido possível e virei sobre a minha boca.

Aquilo tinha um gosto péssimo de ferrugem com xarope estragado, tanto que me engasguei no meio. Artos estava em pé a dois passos de distancia me encarando com curiosidade, Rei estava com um olhar assustado para mim e os outros estavam apenas observando. Por um momento nada aconteceu, nenhum som e nenhuma mudança repentina com o meu corpo.

Fiquei de pé esperando alguma mudança e olhei para Artos, ele de perto era bem mais alto do que pensava. Cerca de dois segundos se passaram e senti algo diferente, dei um sorriso de canto e estalei o meu dedo. Mas a reação foi mais diferente do que eu imaginava, primeiro que o meu poder tinha atingido a parede atrás de Artos, eu tinha errado completamente o tiro. E segundo o punho de concreto de Artos me acertou em cheio no rosto.

Senti-me voando por milésimos de segundos e caí no concreto, minha visão estava totalmente embaçada, senti o sangue na minha boca e cuspi para o lado. Então foi que algo realmente estranho aconteceu, uma dor desmesurada tomou conta do meu peito, arrancando todo o ar de mim, coloquei minhas mãos sobre o meu peito e meu coração parecia que iria explodir, tentei puxar o ar e forçar meus pulmões a trabalharem normalmente, mas era como estar no mar e não saber nadar.

─ O soro não está funcionando ─ Conclui Carlos, sua voz parecia um sussurro, apesar de eu saber que ele estava gritando de alegria. ─ Acabe logo com isso.

─ Nem pensar! ─ Disse Rei em algum canto. A próxima coisa que minha visão conseguiu acompanhar foi uma bola de fogo passando ao meu lado, não sabia o que diabos estava acontecendo, mas sei que a confusão era grande. Meu corpo estava tremendo mais do que vara verde, passei a mão sobre os meus olhos e forcei a minha vista o máximo que pude, Rei estava usando uma arma de fogo e atirando em Artos, Carlos e os outros tinham sumido do lugar.

Gustav estava olhando para tudo aquilo assustado, correu para a próxima porta e sumiu de vista, acredito que Van não iria mais precisar dele. Então vi um vulto passando por mim e caindo mais ao lado, inclinei a cabeça e percebi que era Rei, ela tinha apagado, sua testa estava com um grande machucado. Vi uma sombra alta se aproximando e estalei o dedo, mas dessa vez nada saiu da minha mão, Artos estava parado a minha frente me observando com curiosidade, talvez ele pensasse que eu fosse ficar que nem ele, bem eu também pensei.

Estalei o meu dedo novamente e nada saiu, era como se tivessem aplicado a droga de Rider em mim, então como se Artos desistisse de ficar me vendo fazer nada, agarro minha camisa e se afastou, a próxima coisa que sinto são minhas costas sendo massacradas contra a parede e então estou rolando no asfalto.

Demorei quase um minuto para voltar a sentir o meu corpo, e só o fiz quando vi Rei sendo jogada no asfalto também, forcei minhas pernas a se moverem e me coloquei de pé com dificuldade, meu peito doía e tentei puxar o ar sem muito sucesso. Minha camisa preta e branca estava com diversos buracos de tanto rolar pelo chão, sangue escorria da minha testa e da minha boca, olhei para onde Rei tinha caído e Artos estava marchando na sua direção.

─ Ei grandalhão! ─ Gritei o mais alto que podia, ele se virou na minha direção, estava irritado e provavelmente queria acabar logo com isso, então escutei uma explosão vindo de dentro da empresa e uma fumaça preta começou a sair. ─ Venha me pegar!

E ele obedeceu, comecei a andar/rastejar para mais longe possível de Rei, e foi quase impossível por causa da minha perna direita. Foi questão de poucos passos que ele me alcançou, tentei levantar uma barreira a minha frente, mas o seu punho agora de metal me atingiu em cheio, caiu de costas no chão e ele me agarrou novamente e me jogou no asfalto, rolei por mais alguns metros e uma tosse seca saiu da minha boca, estava totalmente acabada, não sabia o quanto mais iria durar aquela surra.

Enquanto eu lutava para me manter lúcida, o fogo na empresa ia aumentando rapidamente. Maldita seja a hora que eu tinha tomado esse soro, pelo menos com os meus poderes poderia ter pego Rei e dado o pé dali, mas, agora, mal conseguia parar de tremer. Senti meus pés saírem do chão e recebi outro soco no rosto, agora eu não conseguia dizer se eu estava vendo 8 ou 5 Artos a minha frente.

─ Eu esperava um pouco mais de você ─ Disse ele para a minha surpresa, ou não, eu estava mais preocupada em manter o meu coração batendo por alguns segundos a mais. Sua mão estava em volta do meu pescoço e por um momento pensei que ele iria quebra-lo, mas em vez disso ele me jogou para o outro lado da rua, minhas costas atingiram a lateral de um carro e soltei um grito de dor, minha mente escureceu de repente e me vi flutuando, esperei que Artos viesse terminar o serviço, mas nada aconteceu.

Consegui abrir os meus olhos e pude notar que ele não estava mais lá, ao longe, ou perto dependendo de quão bem minha cabeça estava, escutava-se o barulho de sirenes, tanto da policia quanto dos bombeiros. Olhei para baixo, para o meu corpo e tentei engolir em seco, mas o que realmente fiz foi engolir sangue.

Minha perna esquerda e meu braço estavam em um ângulo totalmente estranhos, minhas roupas estavam os farrapos e ensanguentadas, eu conseguia sentir minhas costas molhadas contra a lataria do carro. E junto tudo a isso, estava a falta de ar e o meu coração que batia aceleradamente. Bem, se eu não morresse por causa dos ferimentos, talvez fosse de infarto.

Virei minha cabeça lentamente para a direita e consegui ver Rei no chão, ela se mexeu e então olhou em volta e quando me notou veio correndo na minha direção o mais rápido que podia, ela também estava em farrapos.

Seu rosto estava coberto de sangue, havia um buraco na sua testa, seus lábios partidos, sua perna estava com um corte transversal, e o seu braço direito estava caído ao seu lado, sem movimento e totalmente quebrado. Isso mais algumas costelas quebradas talvez e vários hematomas.

Parou ao meu lado, seus olhos vermelhos estavam cheios de sangue, olhou para mim preocupada, mais do que o normal. Olhou para a sua direita e cerrou os olhos.

─ Sora.... nós temos que ir ─ Disse e deu uma tossida, seu peito fez um barulho muito estranho. ─ Eles estão vindo.

Fiz que sim com a cabeça, a verdade era que eu não conseguiria dar um passo dali sem antes morrer de dor, sem dizer que ela também não aguentaria me carregar do jeito que estava.

─ Você consegue ficar em pé? ─ Perguntou, já sabendo a resposta. Abri a minha boca para responder algo, mas fechei-a em pânico, quando não consegui sentir minhas pernas, olhei para baixo, e forcei minha perna direita que estava aparentemente normal a se mover, mas não se moveu nem um centímetro se quer. Senti uma dor imensa no lugar onde seria minha coluna lombar e engoli o sangue seco da minha boca.

─ N-n-não ─ Sussurrei, seus olhos se encheram de medo e segurou a minha mão direita. Comecei a sentir um frio e dei um sorriso triste para ela. Não teria como me mover dali. ─ Você tem... que... ir.. embora.

─ Não. Eu não vou sem você ─ Disse, lágrimas começaram a escorrer pelo o seu rosto, e tive quase certeza que também chorava.

─ Rei.... vá

─ Não! Eu não vou ─ Ela segurou minha mão com mais força, mas não o suficiente para machucar ainda mais. ─ Eu consigo carrega-la até o hospital, Anne vai cuidar de você, como sempre faz.

─ Rei ─ Dei um sorriso triste e usei o braço que não estava quebrado e toquei a sua cabeça, beijei a sua bochecha, as sirenes estavam mais perto, e sussurrei. ─ Vou voltar, eu prometo.

─ Não, eu não vou ─ Disse teimosa, acho que ela percebeu que, talvez, essa promessa fosse a ultima. ─ Não vou deixa-la aqui.

─ Eu não.... ficar aqui ─ Sussurrei, meu peito doía com o esforço de falar. ─ Vá....vou voltar.

─ Mas...

─ Sem...mais ─ Retruquei dando um sorriso para ela, apertei a sua mão e ela beijou minha boca, não senti nada mais do que lábios frios, mas não poderia ficar mais feliz por vê-la razoavelmente bem, ou ao menos melhor do que eu. ─ Vá.

─ Promete que vai me procurar quando melhorar? ─ Os seus olhos estavam cheios de lágrimas.

─ Prometo ─ Falei. Beijou minha testa, e relutantemente se afastou.

Não faço ideia de quanto tempo demorou para que me achassem contra aquele carro, eu escutava ao longe o barulho de pessoas se movimentando, estava exausta e destruída. A próxima coisa que minha mente conseguiu captar foi quando alguém gritou dizendo que a Lightning Hunter estava ali.

E em questão de segundos havia mais pessoas a minha frente do que eu podia contar, tudo bem que minha vista estava embaçada, mas havia alguns policiais ali e apesar de verem que eu estava machucada, estavam com armas em mãos, sinceramente, eu não os culpei. Se eles soubessem da metade das merdas que já tinha feito, era capaz de eles estarem usando o equipamento tático completo e mais algumas armas de grande porte.

─ Precisamos de uma equipe médica aqui, rápido ─ Escutei alguém falar.

Minha mente apagou por alguns minutos ou segundos, vai saber, e quando abro os olhos, encontro Dana e a Diretora dos Agentes me encarando. Eu estava cansada demais para retrucar algo.

─ Sora? ─ Disse Dana com uma voz chocada, me surpreendi que ela tinha me reconhecido entre todo aquele sangue. E tentei dar um olhar calmo para ela, apesar de tudo.

─ Saiam da frente, vamos ter que remove-la ─ Disse um paramédico abrindo espaço. Dois deles se aproximaram de mim e mal me moveram um centímetro de distancia do carro, quando soltei um grito desesperado de dor.

─ Não, não ─ Comecei a falar em meio a dor e lágrimas. ─ Minha coluna, eu-eu- não sinto as minhas pernas, minhas pernas.

Depois disso a minhas vista escureceu, meu corpo ficou leve como uma folha e o meu ultimo pensamento ficou na promessa de Rei do qual não poderia cumprir.


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Notas finais do capítulo

Assim, eu espero que ninguém me mate por causa desse final kkkkkkkkkkkkkkkk.
COMENTEM aí galera, me façam feliz. :DDD



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