Lightning Hunter escrita por LauC


Capítulo 16
Capitulo 16


Notas iniciais do capítulo

Galera!!! Voltei. Desculpa pela super demora kkk. Dois meses de pura preguiça. Confesso que fiquei travada no capitulo. kkkk. Capítulos Ponte são realmente dificeis e chatos de escrever. Minhas férias estão acabando e percebi que gosto de escrever quando tenho muita coisa para fazer msm kkk. Minhas ferias foram legais, conheci gente nova, fiz coisa novas e experimentei varias coisas. Tive muitas ideias para muita coisa kkk.
Vou falar a verdade eu não sei o que achei desse capitulo, mesmo tendo sido eu a escrever. Até pq como eu estava com preguiça e muita falta de criatividade fiquei escrevendo de pouquinho em pouquinho e não sei se ficou legal kkkk. Mas espero que gostem. Prometo que o próximo vai ser melhor e dessa vez prometo de pé junto que não vou demorar a postar.



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Abri meus olhos devagar, muito devagar, pareciam que minhas pálpebras estavam pesando 2 quilos. Já o meu corpo parecia que estava pesando uma tonelada, estava molhada de suor, senti os curativos molhados de sangue e dei uma respirada tremida. Procurei o meu celular e felizmente o achei do lado da cama, liguei-o e olhei as horas. 17 horas, de algum dia. Engoli em seco, minha garganta estava inflamada. Ótimo, mais uma coisa a lista.

Deixei o celular cair ao lado do meu rosto e fechei os olhos. Espero que Rei esteja melhor do que eu. Respirei fundo e forcei-me a sentar, uma dor percorreu todo o meu corpo e soltei um chiado. O curativo da minha perna estava manchado de sangue, como todos os outros curativos. Coloquei meus pés no chão e fiquei de pé, minha perna direita rangeu e flexionei o maxilar. Acho que eu deveria visitar um médico.

Caminhei lentamente, quase que me arrastando até o banheiro, procurei os remédios para a dor e os tomei. Bebi o máximo de água que consegui da torneira e lavei o meu rosto e pescoço. Comecei a fazer a troca de curativos. Depois que se passou muito tempo, finalmente voltei para a cama e desmaiei.

─ Oh deuses, Sora.... Ei Sora? Sora? ─ Escutei alguém me chamando e cutucando gentilmente o meu ombro bom. Levantei minhas pálpebras e vi tudo embaçado, mas consegui reconhecer um cabelo vermelho.

─ Gre..y ─ Sussurrei.

─ Que bom que ainda não morreu!! ─ Exclamou alegre.

─ Con...cordo. ─ Ele apareceu no meu campo de visão e pude ver um sorriso torto.

─Você é casca dura. Mas não vai aguentar muito se não for para um hospital.

Saiu do meu campo de vista e escutei-o pegando algumas coisas.

─ O que.... está fazendo? ─ Perguntei engolindo em seco.

─ Pegando roupas, para Rei .... e para você, pelo jeito.

─ Como ela está?

─ Humm, mais ou menos.

─ Como assim?

─ Ela se machucou bastante ─ Disse aparecendo a minha frente, pude ver os seus olhos castanhos claramente, sinal que minha cabeça estava voltando ao normal. Abri minha boca para falar algo e ele levantou a mão ─ Calma, ela vai ficar bem, a médica disse que ela está fora de risco, mas que ela quer falar com você, urgente.

─ Urgente não vai dar ─ Respondi levantando os dedos.

─ Verdade, mas não se preocupe, vou chamar um taxi e vou te levar para o hospital.

─ Grey, eu não quero ir ─ Falei, ele me olhou incrédulo.

─ Tá louca? Você não entendeu quando eu disse que não irá durar muito se ficar aqui?

─ Eu entendi, mas ainda não quero ir para o hospital ─ Retruquei.

─ Acho que o remédio que tomou está fazendo você delirar ─ Disse tocando na minha testa, que por sinal estava fria. ─ Você está gelada.

─ Nem percebi ─ Dei um sorriso cínico para ele. Revirou os olhos e cruzou os braços.

─ Sora, eu não vou deixar você morrer aqui.

─ Eu não vou ─ Confirmei e forcei o meu corpo a sentar, cerrei os olhos com a dor que me percorreu. Grey fez menção de ajudar e levantei a mão. ─ Eu vou ficar bem, ok? Cuide de Rei. Que quando eu me sentir melhor vou visita-la.

─ Porque você não fica perto dela? ─ Perguntou de repente. Olhei para ele, eu tinha certeza de como os meus olhos estavam. Selvagens, cheios de dor e ódio. Eu não queria olhar para Rei assim. Grey engoliu em seco. ─ Entendo.

─ Mas você pode me ajudar daqui ─ Falei, descruzou os braços e levantou as sobrancelhas. ─ No banheiro tem alguns remédios que acabaram e outros que quero que você anote o nome para comprar.

Grey foi até o banheiro e pegou todos os remédios que tinham, que claro eram só para caso de vida e morte, o que era totalmente normal para mim. Apontei para os que ele precisava comprar mais, acenei para ele pegar o meu caderno na mochila. E ditei para ele os nomes dos remédios.

─ Ok, vou comprar e volto em alguns minutos ─ Disse colocando tudo dentro da mochila de roupas que estava levando para Rei.

─ Obrigada ─ Agradeci abaixando a cabeça. Grey acenou e saiu do quarto, escutei a porta da frente batendo e suspirei. Com aqueles remédios que ele iria comprar, meus ferimentos iriam melhorar. Senti minha garganta seca e fechei os olhos, fiquei de pé devagar e fui até a cozinha, peguei uma garrafa de água e algumas frutas para comer. Comi-os rapidamente e quase engasguei com a água.

Rastejei até o banheiro e fui verificar meus ferimentos, não pareciam que iriam infeccionar, apesar de estarem com uma aparência bem ruim. Minhas costas então nem se fala. Lavei minhas mãos e os cortes arderam, passei mercúrio com álcool nos cortes do rosto, das mãos, perna e ombro. Não conseguiria passar nas costas, até porque não aguentaria a dor.

Escutei a porta se abrindo e Grey entrou no quarto. Olhou para os meus ferimentos e fez uma cara de nojo. Sorte dele que não tinha tirado as ataduras do meu torso.

─ Isso tá feio hein ─ Disse colocando o saco de remédios ao meu lado.

─ Você não viu minhas costas ─ Falei.

─ Quer ajuda para trocar os curativos? Você já comeu alguma coisa hoje? Ou algum dia?

─ Quantos dias desde que desaparecemos? ─ Perguntei ignorando as suas perguntas, eu tinha perdido a conta.

─ Contando com hoje? 4 dias. Hoje é quarta-feira ─ Respondeu.

─ Hmm ─ Então meus poderes já estavam de volta. Olhei para minhas mãos, que antes não me responderam. Acenei para ele pegar uma pomada, gases e ataduras. Começou a fazer os meus curativos da perna e do ombro. As do meu rosto apenas passei uma pomada cicatrizante. Deixei minhas mãos por ultimo. A minha preocupação era com minhas costas. Grey não aguentaria ver aquilo. ─ Grey, você pode deixar que eu cuido do resto.

─ Tem certeza? Não é melhor eu ajuda-la com as costas? ─ Perguntou, seus olhos castanhos imploravam para que eu o deixasse ajudar. Dei um respiro leve e o encarei.

─ Bem, se você aguentar ver e não vomitar. Sinta-se a vontade ─ Falei. Ele fez que sim com a cabeça. Começou a desenrolar a atadura de mim e quando o terminou cobri os meus seios com o lençol, que por sinal estava sujo de sangue.

─ Minhas nossa...... Eu acho que vou.... ─ Grey saiu correndo para o banheiro e o escutei vomitando. Senti o vento bater nas minhas costas e chiei, como doía aquilo, meu Deus. Ele deu a descarga e lavou as mãos na pia. ─ Como você?? Como você ainda está viva, essa é a pergunta.

─ Sou casca dura ─ Respondi dando um sorriso de dor para ele.

─ Ok. O que faço agora? Isso está terrível. ─ Disse se colocando atrás de mim.

─ Como que está? ─ Perguntei.

─ Não está infeccionado se é o que pergunta. Mas isso aqui vai demorar para se curar. Sua pele está totalmente des...

─ Grey! ─ Chamei, ele calou a boca, eu sabia muito bem a situação que estava. Limpei o suor que percorreu minha testa e engoli em seco. ─ Comece a limpar com água, depois passe agua oxigenada, mercúrio, a pomada antibacteriana e a cicatrizante. E use as luvas para passar as pomadas, você não vai gostar de tocar na pele.

─O..K. ─ Grey pegou água filtrada na cozinha, deu uma rápida esquentada, pegou pano limpo e começou a limpar minhas costas, meu corpo rangeu de dor, apesar de estar me sentido mais limpa. Demorou alguns minutos para ele terminar de limpar, passou água oxigenada e cerrei os dentes. Depois foi a vez do mercúrio, minhas costas não arderam tanto quanto pensava. Grey pegou a pomada e passou o mais gentilmente nas minhas feridas, depois passou a cicatrizante. Colocou gazes e me enfaixou com a atadura. Ele era até bom nisso. ─ Pronto. Mais alguma coisa?

─ Não, obrigada Grey. ─ Falei e me deitei na cama de costas. Não havia nenhuma posição melhor para ficar.

─ Certo. Você vai ficar bem com isso, não é?

─ Sim, com esses remédios vou ficar melhor, agora só me dê aquelas pílulas ali e pronto. ─ Grey pegou o remédio para dor e foi até a cozinha, voltou com um copo de água. Tomei o remédio e relaxei.

─ Certo, então. Vou indo para o hospital, qualquer coisa me ligue ─ Disse e olhou em volta rapidamente e coçou os cabelos. ─ Acho que vou passar aqui mesmo quando não ligar, preparar alguma comida e lhe ajudar com os curativos.

─ Se não for um problema pra você, eu aceito o convite. ─ Dei um sorriso de canto para ele. Ele deu uma piscada e acenou. A porta se fechou e eu caí no sono novamente.

Eu não lembrava dos meus sonhos quando acordava, apesar de que meu corpo parecia sempre pior quando isso acontecia. Olhei para a janela e vi o céu azul, levantei minha mão direita e a vi enfaixada, respirei devagar e o meu peito deu um rangido. Virei o rosto para a direita, na direção da porta e não vi nenhum movimento. Minha barriga roncou e me sentei na cama lentamente. Minhas costas doeram e cerrei os olhos, olhei para os outros curativos e eles estavam limpos.

Grey não devia ter trocado os meus curativos enquanto dormia, vou bater nele quando o ver.

Coloquei os pés no chão e levantei, um choque percorreu minha perna direita e me apoiei na parede mais próxima. Engoli em seco e olhei em volta, não tinha nada que eu pudesse usar como apoio. Andei meio perneta até a área de limpeza e peguei o cabo da vassoura para fazer como bengala. Voltei para a cozinha e percebi que tinha um papel na mesa.

“ Como não sei se olhou o celular, vou falar aqui. Troquei os seus curativos enquanto dormia, fiquei preocupado com receio de infeccionar já que não acordou por dois dias. Não se preocupe eu não vi nada! E preparei algumas coisas para comer, estão na geladeira – Grey”.

Fui até a geladeira e percebi que tinha carne de bife, arroz, salada e feijão, em um prato enrolado em insulfilm. Peguei o prato e coloquei no micro-ondas. Tirei o pote de suco de uva e enchi um copo. Esperei 2 minutos a comida ficar pronta e me sentei na mesa. A comida estava uma delicia, não sei se era porque não comia há dois dias ou porque estava gostosa mesmo. Comi tudo e coloquei as coisas na pia. Estava me sentindo melhor, fechei minhas mãos e respirei fundo.

─ Vamos ver se está tudo certo, mesmo ─ Falei e estalei o dedo, senti eletricidade percorrer o meu corpo e as luzes da casa piscaram. ─ ótimo.

Mas ainda não estava forte o suficiente, olhei para a parede e encarei a tomada. Caminhei até lá e me abaixei devagar, minha perna direita reclamou e tentei ignorar a dor. Coloquei minha mão sobre a tomada e me concentrei, então meu corpo foi atingido por uma grande carga elétrica. Meu corpo ficou dormente e meus cabelos se arrepiaram, mas me senti renovada. Levantei e fui até o banheiro, lavei o meu rosto e olhei os pontos da cabeça, estavam quase bons. Escovei os dentes e tomei os meus remédios.

Deitei na cama e peguei o celular. Havia algumas ligações e mensagens, a maioria de Dana, Bea, Cloe e Grey. Dois dias se passaram, então hoje era sexta feira. Larguei o celular na cama e encarei o teto. Bem, espero que eu melhore logo, preciso visitar Rei. Coloquei o meu braço direito na testa e suspirei.

Lembrei de como agi e o que senti naquele dia. A dor que senti, a raiva por terem me feito passar por aquilo e principalmente por terem machucado Rei. O rosto das pessoas que matei passaram em um flash pela minha mente e cerrei os dentes. Eles me deixavam com raiva só em lembrar, mas não me deixavam esquecer algo que eu não gostava.

Matar pessoas não era exatamente algo que estava na minha lista de coisas legais, mas sim, na que eu tentava evitar o máximo que podia. Entretanto, parece que não veio adiantando muito. Engoli em seco e lambi os lábios. Mas tudo bem, preciso apenas esquecer isso. O estrago já está feito.

Tirei o braço da testa e olhei para o céu. Espero que Dana esteja bem. Eu tenho certeza que a assustei naquela hora. Na verdade eu estava tão cansada, machucada e meu peito doía de tanta raiva, que apesar de tudo eu fico feliz de ela ter ido embora logo quando a ameacei, não sei dizer se eu a teria machucado caso ela não fosse. Mas algo lá no fundo diz que teria.

Dei um sorriso sem graça para o céu e balancei a cabeça.

─ Aí de mim se eu for presa ─ Digo em voz alta.

No mínimo eu iria pegar prisão perpetua pela quantidade de pessoas que feri e matei, e pelas coisas que fiz e roubei. Espero que minha sorte com os agentes continue, por que se não...

Virei o rosto e olhei para o guarda roupa, vi a caixa de amostras no canto e a imagem de quando tentei usar os meus poderes vieram na minha cabeça. Droga maldita, graças aos deuses que não deixei isso ir para o mercado negro. Peguei o celular e pesquisei no google algo relacionado aquilo. Não havia nada, nem dados, nem pessoas. Como diabos Rider fabricou isso?

Suspirei e abri as mensagens, digitei uma mensagem para Grey avisando que ainda estava viva e agradecendo pela comida. Procurei por noticias relacionadas ao meu final de semana emocionante e bem, o que não faltou foi matérias. Havia várias falando de como estavam a situação dos corpos encontrados, das duas vans queimadas, e da quantidade de armas no lugar. Eles tinham duas certezas, uma que aquelas pessoas eram de uma gangue e a outra era que uma guerra silenciosa tinha acontecido. Tinha uma terceira da qual ainda não tinham provas, mas por um depoimento, de um agente, chegaram a conclusão que eu estava envolvida. Como sempre.

O detetive Bones e o Prefeito estavam surpresos com aquilo, principalmente pela quantidade de pessoas mortas, todas de uma única gangue. Para eles aquele ato era algo novo, e que apesar do depoimento, não acreditavam que uma garota sozinha podia fazer todo aquele estrago. Então eu não era culpada, por enquanto. O que foi até um alivio. Porém, o que li depois não me agradou. Tanto agentes quanto policiais vão estar em circulação mais tempo, pois vários cidadãos, os de bem é claro, reclamaram que Skillity não estava segura. E realmente não estava. Pelo menos não enquanto a minha divida não estivesse quitada. Faltavam 36 milhões de 100. Faltava pouco.

O que me preocupava era os 30 milhões de Van, ele nunca entrou em contato comigo para nada. Pelas histórias que meu pai dizia quando estava vivo, era que Van era o Líder da maioria dos gangsters da cidade e que tinha um comércio de drogas em outro país. Ele não era muito de brincadeira. Agora os outros 6 milhões eram de Frank. Fácil de conseguir.

Larguei o celular e fechei os olhos, demorei um pouco para cair no sono, mas o fiz. Meus sonhos foram confusos, sempre via meu pai com uma mulher jovem, cabelos negros e olhos verdes, não fazia ideia de quem era ela. Os dois sorriam juntos e eu olhava para eles animada. Escutei a voz do meu pai dizendo “ Observe tudo, sinta tudo, cada detalhe é importante, como está chave” e acordei.

Passei a mão no rosto e percebi que estava molhada de suor, mesmo com o ar condicionado ligado. Estava de noite, peguei o meu celular e olhei a data. Um dia tinha se passado. Era domingo de madrugada, 2 horas da manhã pra ser exata. Estalei o dedo e as luzes da casa acenderam, olhei para minha mão alegre, os ferimentos tinham sumido. Sentei na cama e fiquei de pé, um choque percorreu minha perna e me inclinei para o outro lado. Agarrei o cabo da vassoura e fui até o banheiro. Olhei meus cortes no rosto e eles tinham sumido. Os pontos já estavam caindo, peguei a tesoura e a pinça, e comecei a tirar os pontos que sobravam.

Arranquei o esparadrapo do meu ombro e comecei a tirar os curativos, o ferimento feito pela bala tinham sumido, minha pele estava rosada no lugar. Estava me sentido feliz, parece que os remédios e aquela carga de eletricidade fizeram o meu corpo se restaurar mais rápido. Tirei os curativos da minha perna e ela ainda estava ferida, não tanto quanto antes. Mas ficaria uma cicatriz maior do que a anterior.

Respirei fundo e comecei a desenrolar as ataduras do meu torso, tirei com cuidado as gazes sujas de sangue, minhas costas doeram e suspirei. Fiquei de frente para o espelho, totalmente nua. Pelo menos o meu corpo de frente estava ok. Contei até três e virei de lado. Minhas costas ainda estavam rasgadas, não tanto quanto dias atrás, a pele estava começando a se curar e estava uma mistura de cores. Quanto as minhas tatuagens? Seria um milagre elas voltarem a serem como antes.

Aquilo me deixava triste, afinal uma das coisas que me davam mais orgulho eram as minhas tatuagens, ela mostravam quem eu era. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e encarei o espelho. Meus olhos tinham voltado a serem calmos e selvagens como sempre. Pelo menos agora podia tomar um banho de verdade. Fechei a porta do banheiro e entrei na parte do chuveiro, abri-o e a água começou a me molhar. Minha costa não gostaram muito da água e tive que aguentar um pouco ali. Sangue escorreu no chão, passei sabão nas partes não machucadas, lavei o meu cabelo com shampoo e condicionador.

Tive que lava-lo inclinada para não correr o risco de tacar shampoo nas minhas costas. E deu certo. Enxuguei-me com cuidado e refiz os curativos da costa, com dificuldade, mas fiz. Passei pomada na minha perna, mas não a enfaixei. Vesti uma camisa preta folgada e uma calcinha branca. Sequei os cabelos e troquei os lençóis da cama, que estavam manchados de sangue, e por sorte o colchão não estava. Desliguei o ar e abri a janela do quarto.

Fui para a cozinha apoiada no cabo da vassoura e abri a geladeira, havia um sanduiche de atum e queijo. Peguei-o, mais o resto de suco de uva e me sentei no sofá, liguei a Tv e achei um filme. Fiquei comendo e assistindo por um bom tempo. Não estava com sono e estava no meio da noite. Olhei para o cabo de vassoura e suspirei. Não tinha um pressentimento bom a respeito da minha perna, talvez seria melhor comprar uma bengala por via das duvidas.

Procurei um site na internet e achei uma que me agradava, eles tinham uma loja na cidade, fiz o pedido e quando amanhecesse eles iriam vim entregar. Lavei a louça e voltei a assistir outro filme. No meio tempo acabei caindo no sono e tive o mesmo sonho confuso.

Acordei com alguém batendo na porta, limpei a baba que tinha escorrido no meu queixo e me levantei devagar, andei até a porta e a destranquei. Dei de cara com o sindico.

─ Filips? ─ Perguntei e esfreguei o rosto. Ele olhou para mim e suspirou.

─ Você fez alguma encomenda? ─ Perguntou de volta.

─ Aham, já chegou?

─ Sim, mando subir?

─ Aham ─ Respondi, ele acenou com a cabeça e andou pelo corredor. Fui até o quarto e peguei uma jaqueta para cobrir as minhas tatuagens do braço e vesti uma bermuda. Alguém bateu na porta novamente e peguei o cartão de crédito. ─ Já estou indo.

Abri a porta e um rapaz com um boné laranja sorriu.

─ Sra. Akibara? ─ Disse olhando para o papel preso na caixa.

─ Sim ─ Confirmei, ele me entregou uma caixa fina e cumprida. Ele estendeu uma prancheta e assinei o meu nome. Entreguei o cartão para ele ─ Entregam rápido, hein? De manhã cedo.

─ Na verdade já é 11 horas ─ Disse sorrindo, me entregou a maquina do cartão e digitei a senha, o comprovante saiu e me entregou a segunda via. ─ Prontinho, obrigado pela compra e tenha um ótimo dia.

─ Obrigada, para você também ─ Respondi dando um sorriso, fechei a porta e olhei para a caixa, abri a parte de cima e tirei a nova bengala. Ela era preta, com o punho de metal com prata. Ajustei-a para a minha altura e testei, ela era bem confortável. Andei pela casa e não senti a minha perna direita doer. Peguei o cabo da vassoura e coloquei-a no lugar que pertencia. ─ Agora posso visitar Rei.

Preparei algo para comer, que foi macarrão com carne. Escovei os dentes, penteei os cabelos, vesti uma calça folgada preta, na verdade não era a calça que era folgada, era eu que estava mais magra. Peguei uma camisa vermelha xadrez, um tênis preto, o celular de Rei e o meu, e a bengala. Avisei Grey que estava indo para o hospital e ele me mandou um emotican feliz.

Chamei um taxi e relaxei o peso da perna no banco. Demorou 12 minutos para chegar lá, eu estava ansiosa, queria ver Rei, matar a minha saudade. Apesar de que tenho certeza que ela está com raiva por não ter ido antes. O motorista me ajudou a descer do carro e o paguei. Olhei para a entrada do hospital e respirei fundo, segurei a bengala e fui em frente.

Andei pelo corredor e as atendentes olharam para mim, dei um sorriso de canto para elas e fui para o elevador. O quarto privado ficava na parte de trás do segundo andar. Entrei no elevador e me apoiei na bengala. O elevador subiu e mal deu 10 segundos e ele parou. A porta se abriu e me pus a andar, passei por algumas portas e parei na frente do quarto 4B. Grey tinha me enviado o numero do quarto minutos atrás.

Bati na porta e esperei alguém destrancar-la. Escutei um estalido e o rosto de Grey apareceu. Deu um enorme sorriso para mim, seus cabelos estavam bagunçados e a sua camisa amassada.

─ Finalmente! Como você está? ─ Perguntou e olhou para baixo. ─ Bela bengala.

─ Valeu, e eu estou melhor ─ Respondi dando um sorriso de volta. Passei por ele e olhei na direção da cama. Meus olhos se encontraram com aqueles pares de olhos castanhos lindos, que por acaso estavam zangados. Aproximei-me devagar e parei ao seu lado. ─ Como está?

─ Estou bem ─ Respondeu Rei fazendo bico. ─ Podia ter vindo antes, né?

─ Desculpa, mas não estava bem ─ Falei, Grey pegou uma cadeira para mim e sentei ao seu lado. Rei cruzou os braços com raiva, eu entendia o seu lado, mas fazer o quê? Cutuquei o seu braço e ela olhou para mim de canto. ─ Não faça essa cara.

─ Ah, essa daí passou os dias reclamando que não vinha visita-la ─ Disse o rapaz de cabelos vermelhos de repente, olhei para ele surpreso e sorri.

─ E foi é?

─ CALA A BOCA GREY! ─ Exclamou Rei com raiva.

─ Ok, Ok. Calei ─ Disse caindo na risada, foi até a porta e a abriu. ─ Vou dar uma saída. Mais tarde eu volto.

─ Beleza ─ Respondi e ele saiu do quarto. Olhei para Rei e suspirei, ela ficava mais bonita com raiva. Dei um sorriso e ela me observou em silencio, segurei a sua mão. ─ Não sabe o quanto estou feliz em vê-la bem.

─ Eu estava preocupada com você, Grey disse que você tinha se machucado muito ─ Seus olhos ficaram tristes por um momento e apertei sua mão.

─ Mas estou melhor agora, não 100%, mas melhor ─ Falei com firmeza, ela olhou para a bengala ao meu lado. ─ A.... bem, minha perna direita não está boa, vou pedir para Anne dar uma olhada depois.

─ Entendo.

Inclinei-me e beijei os seus lábios, ela ficou se reação e eu fiquei ali. Coloquei minha testa contra a sua e olhei dentro dos seus olhos. Senti um aperto no peito e minha garganta se fechou.

─ Eu estava com medo de você ter se machucado muito ─ Falei, beijei a sua testa e respirei pesado. ─ Não saberia o que fazer caso algo acontecesse com a minha namorada.

─ Namorada, é? ─ Perguntou dando um olhar brincalhão.

─ E não é? ─ Perguntei surpresa.

─ Somos, mas nós nunca oficializamos ─ Disse ficando sem graça.

─ Não? ─ Ela confirmou com a cabeça. Cocei a minha nuca e sorri. ─ Então, vamos fazer oficial. Quer ser a minha namorada?

─ Mas é claro ─ Disse dando um sorriso enorme, beijei-a mais uma vez e sorri.

─ Então, quando vai receber alta?

─ Amanhã ou depois, Anne quer ter certeza se não tem nenhum problema com os meus órgãos.

─ Com os seus órgãos? ─ Perguntei engolindo em seco.

─ É, acho que Grey não disse, mas alguns órgãos ficaram comprometidos por causa da tor... você sabe ─ Confirmei com a cabeça. ─ Ela fez cirurgia na maioria deles, e bem, está dando tudo certo até agora.

─ Fez algum transplante?

─ Não ─ Respondeu rapidamente. ─ Pelo menos isso, o que ela disse que foi até sorte, já que está em falta.

─ Isso é bom ─ Falei e cocei a nuca ─ Que susto você me deu agora.

─ Eu percebi que você ficou pálida ─ Disse rindo da minha cara. ─ Mas de grave mesmo foi só isso, quebrei a perna e um braço, uns cortes aqui e outros lá, mas já estou curada. E você?

─ Bem... Tiro no ombro, corte na perna, pontos na cabeça, sobrancelha e boca. A mão também ficou machucada. ─ Não falei das minhas costas, não saberia a sua reação.

─ É não foi assim tãoooo grave ─ Disse sorrindo.

─ Pois é! ─ Só quase morri. Ficamos em silencio por um momento e mudei a posição das minhas pernas. O rosto de Rider passou pela minha cabeça e uma raiva me invadiu. Como eu o odiava!

─ Sora? ─ Ouvi Rei me chamando e olhei para ela, ela me olhou assustada. Então percebi que estava segurando a sua mão com força e relaxei.

─ Desculpa, eu.... ─ Coloquei minha mão no rosto e tentei ignorar as imagens na minha cabeça. Lembrei da sensação maravilhosa quando minha mão atravessou a sua caixa torácica e puxei o seu coração para fora.

─ Sora? Está tudo bem, estamos bem agora ─ Rei colocou a mão na minha cabeça e olhei para cima, eu sabia que meus olhos estavam tristes e ao mesmo tempo com raiva. Levantei sem a bengala e coloquei minha cabeça no seu ombro. Fechei os olhos e contei até 10, e o que estava sentindo foi embora e lambi os lábios. Ficamos naquela posição por um tempo até que ela perguntou. ─ Me diga o que aconteceu lá.

─ Rider nos prendeu, usou uma espécie de droga que ele desenvolveu, que tira os poderes do usuário por um tempo.

─ É, isso eu percebi ─ Disse. ─ Mas o que aconteceu? Como conseguiu sair dali? O que houve com Rider?

─ Pra resumir estão todos mortos, consegui achar você e ligar para Grey, ele veio pegar você, enquanto eu fui atrás de Rider, que estava tentando fugir com as drogas ─ Falei e escutei o seu coração batendo.

─ Hmm, entendo. Vi algumas reportagens sobre o que tinham descoberto. Acham que você pode estar envolvida, por causa de um depoimento.

─ Eu sei.

─ Sabe de quem é o depoimento?

─ Sei ─ Respondi e me afastei, olhei para os meus tênis e continuei a respostas ─ Foi Dana.

─ A loira, agente, que estuda com você?

─ É, na fuga encontrei com ela no caminho, e meio que a ameacei de morte ─ Falei, Rei fez uma cara de surpresa e riu.

─ Por essa eu não esperava. Ela é a prova de como está no lugar errado e na hora errada! Pelo amor de Deus! Alguém dê o premio ─ Rei bateu palmas devagar e eu sorri.

─ Pois é ─ Cruzei os braços e apoiei minhas costas na cadeira.

─ Você é demais, oh ─ Me puxou para um beijo e esse foi mais envolvente, alguém bateu na porta e nós duas paramos, a porta se abriu e Anne entrou no quarto. Olhou para nós duas que estávamos super próximas e levantou a sobrancelha. Sentei na cadeira devagar e Rei se ajeitou na cama.

─ Vejo que as duas estão bem ─ Disse dando um sorriso descarado.

─ Somos boas pacientes ─ Disse Rei dando uma piscadinha para mim.

─ Você sim, Sora nem tanto ─ Deu um sorriso de canto e se aproximou da cama. Seus olhos percorreram o meu corpo e cruzou os braços. ─ Que houve com a sua perna?

─ Faca ─ Falei dando um olhar para baixo e balançando os ombros. Anne deu um suspiro cansado e olhou para a bengala.

─ Doí quando anda? O ferimento já está fechado?

─ Sim, e mais ou menos. Quero que dê uma olhada depois, pode ser?

─ Aham, estava querendo falar com você mesmo ─ Virou o rosto e olhou para Rei. ─ Então, como se sente? Alguma dor ou se sentindo estranha?

─ Não, estou bem, sem nenhum problema ─ Rei deu um sorriso para ela, o que até foi uma surpresa para mim, visto que nunca tinha visto Rei sendo tão amigável com Anne. Acho que as visitas emergenciais estavam as fazendo ficar mais próximas. Anne fez mais algumas perguntas e alguns exames, e quando terminou me chamou para ir a sala dela. Dei um beijo na testa de Rei e saí com a minha bengala estilosa.

A sala não era grande, tudo branco, uma mesa de madeira branca, uma maca branca, cadeiras de alumínio com almofadas brancas. Anne colocou a prancheta sobre a mesa e me encarou.

─ Antes de tudo, me conte com que diabos vocês se envolveram.

─ Humm, nós fomos raptadas ─ Respondi cruzando os braços, dei de ombros devagar e suspirei. ─ Nos torturaram, consegui fugir e salvar Rei. Os detalhes você não precisa saber, afinal você é médica e não delegada.

─ Que seja, é o seguinte. Eu não sei onde você estava, mas quando Rei chegou a esse hospital, ela estava a beira da morte, e nós conseguimos salva-la ─ Anne estava brava, deu um suspiro e me encarou. ─ Entretanto, percebemos que por ser a segunda vez que ela se machuca gravemente, nós não sabemos até quando os órgãos dela vão aguentar.

─ Quer dizer, que ....ela... está com os dias contados? ─ Falei engolindo em seco. Ah não... Senti meu corpo pesando e algo dentro de mim começando a quebrar.

─ Não, nada disso! ─ Disse rapidamente.

─ Não? ─ Perguntei aliviada.

─ Não, o que eu quis dizer é que ela não pode entrar em conflito ou usar muito os poderes dela, porque o corpo dela não vai aguentar. Sabe, ela não é você, que é invencível.

─ Humm ─ Abaixei a cabeça e dei um sorriso triste ─ Não sou tão invencível quanto pensa.

─ Tirando a perna, tem outro ferimento do qual devo ficar sabendo? ─ Perguntou olhando nos meus olhos. Fiquei em duvida se mostrava o meu corte nas costas, mas fiz um sim com a cabeça. ─ Onde?

─ Minhas costas ─ Respondi olhando para baixo.

─ O que houve com elas?

─ Bem.... ─ Tirei a minha camisa devagar e virei de costas, não precisei dizer nada, ela apenas se aproximou e começou a desenfaixar minhas costas. Quando fiquei seminua a sua frente e o ar bateu nas minhas feridas, vi apenas Anne dando um passo para trás.

─ Mas que ..... Como? O quê? ─ Ela estava totalmente surpresa.

─ Eu disse, nos torturaram ─ Falei e passei a mão no meu rosto. ─ O que acha?

─ Eu acho que precisa de pontos ─ Ela se aproximou e observou o ferimento. ─ Devia ter vindo antes. Não está tão feio, já está se curando e não tem sinal de infecção. Mas vou ter que colocar alguns pontos, tudo bem?

─ Yeah ─ Sussurrei e olhei para o chão.

─ Deite na maca, vou pegar o material de sutura ─ Disse e logo saiu da sala, deitei na maca devagar e esperei, contei os segundos, e ela chegou em 1 minuto. Trancou a porta e se aproximou de mim, preparou as coisas e começou a costurar alguns lugares da minha costa. Demorou uns 9 minutos para arrumar tudo, vesti a camisa por cima da atadura e fiz cara feia quando senti uma dor. ─ Bem, os pontos vão cair sozinhos. Mas do jeito que está, não vai demorar muito a suas costas ficarem boas, uns dois ou três dias.

─ Isso é bom ─ Falei coçando a nuca.

─ Vamos olhar a sua perna, então? ─ Perguntou indo para a porta. Fiz que sim com a cabeça e segurei a bengala, levantei devagar e a acompanhei. Fomos para a sala de raio-x, tirei a calça e ela fez o que tinha que fazer. Olhou para o raio-x no computador e levantou as sobrancelhas.

─ Que foi? ─ Perguntei sem entender o que estava de errado.

─ O seu fêmur esta com uma pequena rachadura.

─ Hein?

─ É, mas não está quebrado. Não é tão grave. Só descanse e se alimente bem, de preferencia de comida que são ricas em cálcio.

─ E isso vai fazer minha perna ficar boa?

─ Provavelmente.

─ Certo ─ Peguei minha calça e a vesti.

Depois disso voltei para o quarto, passei o dia e a noite no hospital com Rei. Anne pediu para que Rei ficasse mais um dia lá, e Grey foi me substituir a noite. Tomei um banho e deitei na cama, estava cansada e ainda era segunda feira.

Adormeci pensando em Rei e tive o mesmo sonho de antes, só que agora estavam mais claros. Estava em uma sala branca, havia uma mesa de alumínio com vários livros e papeis, tinha um computador mais ao canto. Meu pai estava falando animado com a mulher de cabelos negros, enquanto que ela sorria e olhava para mim. Não consegui ouvir nada, apenas um chiado de som sem sinal, e por fim a frase do meu pai “Observe tudo, sinta tudo, cada detalhe é importante, como está chave”.

Escutei um bip irritante ao meu lado e procurei o meu celular no chão, peguei-o e atendi a ligação.

─ Alô ─ Falei esfregando os olhos.

─ Sora? Acordou agora? ─ Reconheci a voz de Rei e tirei a mão do rosto. Olhei as horas 11:40, tinha me esquecido que ela iria receber alta de manhã. Pelo visto meu corpo ainda não estava 100% restaurado.

─ Yeah, desculpa Rei ─ Sentei na cama devagar e olhei para minha perna direita. ─ Já recebeu alta?

─ Sim, Anne disse que pode vim me buscar ─ Disse animada do outro lado. ─ Estou morrendo de fome, a comida de hospital não é gostosa.

─ Verdade ─ Fiquei de pé e um choque percorreu minha perna, cerrei os dentes e peguei a bengala. ─ Vou me arrumar rapidinho, passar para pegar você e vamos almoçar em um restaurante, que acha?

─ Acho ótimo ─ Respondeu, quase pude ver um sorriso no seu rosto.

─ Ok, me dê só alguns minutos ─ Caminhei até o banheiro.

─ Ok, vou está a espera. Beijos.

─ Beijos ─ Respondi e desliguei a ligação. ─ Espera, beijos? ─ Sacudi a cabeça e fechei a porta do banheiro. ─ Isso é estranho.

Tirei a roupa que estava e tomei um rápido banho, averiguei minhas costas e de fato elas estavam quase boas, talvez mais dois dias os pontos caíssem. Soltei um suspiro e peguei minhas escovas de dentes. Minhas tatuagens não ficariam curadas tão pouco. Passei a pomada cicatrizante e me enfaixei novamente, vesti uma camisa cinza de mangas longas, calça jeans e um tênis preto.

Coloquei o celular, o cartão e as chaves no bolso, segurei a bengala, a minha amiga, e saí do apartamento. Peguei o elevador, dei um aceno de cabeça para o Sr. Filips e chamei um taxi. Logo chegamos ao hospital e encontrei Rei na sala de espera folheando uma revista, deu um enorme sorriso que fez minha estrutura balançar e sorri de volta.

─ Finalmente! Estou faminta ─ Disse segurando o meu braço.

─ Percebi, mas vou ter que ir pagar a conta antes ─ Falei apontando para o balcão na recepção.

─ A não precisa, já paguei ─ Olhei para Rei e levantei as sobrancelhas. ─ O quê? Eu tenho dinheiro também, sabia?

─ Não falei nada ─ Dei um sorriso de canto e saímos daquele lugar. Entramos no taxi e olhei para a garota ruiva ao meu lado. ─ Então, onde quer almoçar?

─ Pode ser naquele restaurante que você sempre vai? A comida de lá é muito boa.

─ Se você diz ─ Falei dando de ombros e sorrindo, passei o endereço para o motorista e segurei a mão de Rei. Ela olhou para mim e sorriu, ela estava radiante. Beijei a sua bochecha e vi os olhos do motorista no retrovisor, ele balançou a cabeça negativamente e eu sorri. Demoramos poucos minutos para chegar ao restaurante de Minna. Paguei o taxista e descemos, observei a entrada e suspirei, fazia um tempo que não vinha aqui.

Entramos no restaurante e Minna sorriu surpresa, deu a volta no balcão e parou a minha frente.

─ Quanto tempo! Como você está criança? ─ Disse se aproximando e parando a nossa frente.

─ Estou bem, só estive um pouco ocupada ─ Respondi ignorando o “criança”.

─ Quem é vivo sempre aparece! ─ Disse alguém, me inclinei para a direita e vi Lucy com uma bandeja.

─ Oi Lucy! Como está? ─ Perguntei.

─ Vou bem ─ Deu um Ok com o polegar. ─ Deixa eu entregar isso aqui.

─ Ok.

─ Se sentem, tem uma mesa ali ─ Minna apontou para uma mesa vazia a esquerda.

─ Valeu ─ Agradeci e fomos para a mesa.

─ Eu gosto dela ─ Disse Rei olhando para Minna.

─ É, ela é uma boa chefe ─ Falei, sentei à mesa e coloquei a bengala apoiada na parede. Olhei em volta e não vi Cloe, Lucy entregou a comida para uma família e veio na nossa direção.

─ E então que vão pedir? ─ Disse puxando um bloco de notas do bolso.

─ Eu quero um espaguete e uma Coca ─ Disse Rei com um sorriso. Lucy fez um sim com a cabeça e anotou, olhou para mim com as sobrancelhas levantadas.

─ Acho que vou querer o mesmo ─ Falei sem ter ideia do que pedir.

─ Ok. Mais algumas coisa?

─ Por enquanto não ─ Respondi e cocei a nunca ─ Cloe está na cozinha?

─ Aham, está na hora do descanso dela ─ Respondeu Lucy, fez um risco no bloco e deu um sorriso. ─ Vai lá dar um oi. Logan está com saudades também.

─ Já que eu vou ─ Dei um sorriso para ela. Um rapaz acenou para Lucy e ela se despediu com um aceno. Olhei para Rei e ela fez um sim com a cabeça. ─ Vou lá rapidinho.

─ OK. Vou estar esperando aqui ─ Disse dando uma batidinha na mesa. Peguei a bengala e fui para a cozinha. Quando entrei vi um rapaz de cabelos castanhos lavando as mãos. Logan e Cloe não estavam lá. O rapaz olhou para mim sem entender e suspirei. ─ Cloe e Logan?

─ Ah, eles estão conversando com uns amigos na sala de espera ─ Disse um pouco irritado pegando uma faca e começando a cortar um tomate. Dei um sorriso de canto com aquilo, ele devia ser o novo cozinheiro e provavelmente o explorado da turma. Saí da cozinha e fui para a sala de descanso.

E a primeira coisa que vejo é Logan abraçado com uma garota ruiva, olhei para o lado e Cloe e Dana estavam conversando. Abri a minha boca para falar algo, mas nada saiu quando a garota se virou e notei que não era ninguém menos que Beatrice. Fiquei parada olhando a cena apoiada na bengala.

─ Sora? ─ Disse alguém, pisquei e olhei para Cloe que tinha dado um pulo e parado ao meu lado. ─ Uoo, quanto tempo!

─ Pois é ─ Concordei engolindo em seco. Passei a mão no cabelo e respirei fundo. Cloe fez menção de me abraçar e levantei a mão. Nada de abraços enquanto minhas costas não sararem.

─ Sora! Quanto tempo! ─ Logan se afastou de Bea e me deu um grande sorriso.

─ O que houve com a sua perna? ─ Perguntou Dana de repente. Olhei para baixo, lembrei-me do dia que a quase matei e dei um sorriso falso.

─ Caí de uma escada, fratura leve ─ Menti dando de ombros. Dana cerrou os olhos e alguém deu um tapinha no meu ombro, virei o rosto e Bea me deu um sorriso.

─ Estávamos preocupadas, você sumiu por quase duas semanas ─ Disse ela me encarando com aqueles olhos verdes.

─ Desculpa ─ Falei coçando o nariz. Olhei para Logan e coloquei a mão na cintura. ─ Eu não imaginava que Bea que era sua namorada Logan.

─ Eu também não acredito ─ Disse dando um sorriso e recebendo uma cotovelada de Bea.

Olhei para Cloe e coloquei minha mão na sua cabeleira loira, deu um sorriso e baguncei o seu cabelo ao ver os seus olhos azuis brilharem intensamente. Dana cruzou os braços atrás dela, me deu uma olhada e retirei minha mão.

─ Conheci o novo cozinheiro ─ Dei um sorriso e mudei o peso da perna. ─ Vocês já estão explorando o coitado, não é mesmo?

─ Claro, eu também fui quando você não estava aqui ─ Logan fez bico e Bea deu um tapa no ombro dele, que o fez sorrir.

─ Foi mal por isso ─ Falei sorrindo. ─ Mas ele parece estar se dando bem. Qual o nome dele?

─ Erik ─ Respondeu Cloe dando um sorriso para Dana que estava me encarando com raiva. Bem, pelo menos eu acho que era ciúmes. Antes ciúmes do que ela saber a minha real identidade.

─ Ele cozinha bem ─ Bea disse dando de ombros.

─ Bem? Uma vez ele queimou toda a carne que tínhamos! ─ Logan deu um olhar sem acreditar para Bea.

─ E é ele que vai fazer a minha comida? ─ Perguntei já com medo de a comida ser ruim, Rei iria ficar uma fera.

─ O que pediu? ─ Perguntou Cloe colocando a mão na cintura de Dana.

─ Espaguete ─ Respondi mudando o peso da perna novamente.

─ Dois para ser exata ─ Disse alguém atrás de mim. Virei o rosto e Rei me deu uma piscada de olho.

─ Pensei que tinha dito para esperar na mesa ─ Falei ficando um pouco tensa. Rei olhou para trás e seus olhos ficaram semicerrados.

─ Pensei que tinha dito que não iria demorar ─ Disse colocando a mão na cintura e dando um sorriso de canto para mim, sorri com aquela resposta e coloquei minha mão na sua cabeça.

─ Ok. Bem ─ Olhei para os outros, Dana e Beatriz olhavam desconfiadas para Rei, Logan olhava sem entender e Cloe estava sem reação nenhuma. Bem, acho que tirando Logan elas não gostavam muito de Rei. Posso dizer o mesmo de Rei. Ainda não confio muito em deixar ela a sós com Dana e Bea. ─ Nós vamos voltar para nossa mesa, nos falamos depois.

─ Na escola ─ Completou Rei retirando minha mão da sua cabeça. Dei um aceno e saímos da sala de descanso. Passamos pela cozinha e no meio do caminho Rei sussurrou. ─ Queria socar aquelas duas.

Dei uma risada daquilo sem querer e nos sentamos à mesa. O nosso almoço não demorou a ficar pronto. Dana e Beatrice sentaram em uma mesa separada e deram um aceno quando foram embora. O espaguete estava ótimo, Rei tinha adorado. Depois disso ficamos rodando por aí.

Na verdade, Rei dizia que precisava comprar algumas coisas, e assim passamos o resto do dia no shopping, comprei algumas roupas também e um sobretudo novo. E em meio a isso tomava uns copos de leite para ajudar com a perna. Mas eu não achava que cálcio iria resolver a dor. À noite dormirmos de conchinha, eu atrás claro, ainda não queria dizer para Rei sobre as minhas costas.

Na manhã seguinte, acordamos cedo para irmos para a escola. Eu me arrumei primeiro, enquanto ela preparava o café da manhã. Olhei para o meu reflexo no espelho e sorri, pareciam anos desde a ultima vez que tinha vestido aquele uniforme. Minha cicatriz na perna não aparecia, e meus pontos nas costas caíram pela manhã. Penteei os cabelos de lado e calcei os meus tênis pretos.

Rei entrou no quarto e deu um sorriso ao me ver de uniforme.

─ Que foi?

─ Nada ─ Disse se aproximando e me dando um beijo rápido. E afrouxando a minha gravata vermelha. Deu uma batidinha no meu peito e se afastou. ─ Minha vez agora, vá tomar o seu café.

─ Ok ─ Falei dando um sorriso e pegando a bengala ao lado da cama. Olhei para o punho de metal e suspirei. Caminhei até a sala e olhei para a mesa, havia ovos mexidos, torradas, frutas e um copo bem grande de leite com café. Sentei a mesa e comecei a comer, enquanto passava o jornal da manhã.

Nada de muito grave tinha acontecido nos ultimo dias na cidade, algumas tentativas de assaltos e brigas, mas nada que a policia não resolvesse. Acho que o detetive e os Agentes devem ter ficado aliviados com a minha ausência, eu não os culpava, já que sempre trazia problemas mesmo. Mas eles também não tinham nada que se meter nas minhas missões.

Bebi um gole do meu copo e balancei a cabeça. Rei tinha me dito ontem, nas compras, que Grey e ela tinham ganhado 1 milhão de S’s no cassino. E que tinham tido uma mãozinha dos poderes de Grey. Esses dois são irmãos mesmo. Dei um sorriso para a Tv e terminei de comer a torrada.

Peguei a louça suja e levei para a pia, lavei o que estava sujo e escutei Rei fechando a porta do guarda-roupa.

─ Estou pronta! ─ Falou.

─ OK, pegue a minha mochila ─ Pedi, colocando o copo de cabeça para baixo no escorredor. Enxuguei as mãos na toalha de mão e virei. Não tinha como não dar um sorriso ao ver Rei com o uniforme, ainda era estranho a ver com aquilo. Mas tinha ficado muito bem nela, a gravata combinava com o seu cabelo. Entregou-me a mochila e saímos.

O caminho para a escola pareceu maior com a minha perna machucada e chegamos ao portão exatamente 10 minutos antes da aula começar. Passamos pelo jardim e entramos no prédio, alguns alunos que chegavam olharam surpreso para mim por causa da bengala. O que de certa forma me deixava incomodada.

Subimos as escadas e entramos na nossa sala. Dana e Bea estavam conversando, deram um aceno para nós duas e nos sentamos nas nossas carteiras. Para a minha felicidade. A aula começou logo em seguida e os professores ficaram surpresos com a nossa aparição na sala. Não fizeram nenhuma pergunta do motivo do sumiço e muito menos perguntas sobre as matérias, e pela primeira vez, me vi totalmente perdida nos assuntos.

A hora do intervalo chegou e eu me preparei para ter o mesmo intervalo de sempre. De forma que Richie não demorou a aparecer na sala.

─ Estava demorando ─ Falei ao ver entrando na sala. Seus olhos azuis percorreram a sala e deu uma boa olhada para a bengala em baixo da minha cadeira.

─ Serio Sora, eu me pergunto como ainda não te expulsaram do colégio ─ Disse dando um sorriso e abrindo os braços.

─ Já vão começar? ─ Disse Dana cruzando os braços e se aproximando da minha cadeira.

─ A sua resposta é simples Richie ─ Falei cruzando os braços e revirando os olhos. ─ Eu pago a mensalidade.

─ Haha e você tem dinheiro para pagar? ─ Disse se sentando em uma mesa a três passos da minha. Dana e Bea estavam de prontidão a minha frente e Rei estava sentada ao meu lado, olhando com diversão para aquilo.

─ Acho que até mais que você ─ Digo inclinando a cabeça e dando um sorriso sarcástico.

─ Duvido muito ─ Disse colocando as mãos ao lado do corpo. Olhou para minha perna e se abaixou rápido o bastante para pegar a bengala. Rei e Dana se mexeram, e eu dei um suspiro. ─ O que houve com a sua perna? Finalmente a estragou?

─ Se estraguei ou não, não é da sua conta Richie ─ Respondi respirando fundo.

─ É, mas tenho curiosidade, sabe? ─ Deu uma batida na mão com a bengala, como se fosse uma palmatoria e deu um olhar afiado para mim. ─ Acho que com a sua perna assim, não vai ser fácil se defender.

─ Richie...

─ Nah, você sabe que acabo com você sem muito esforço ─ Dei de ombros e o encarei de volta. ─ Ou vai me dizer que das ultimas vezes, foi sorte?

Rei deu um riso baixo, fazendo Richie olhar para ela. Ela colocou a mão na boca e deu de ombros, aposto que ela estava adorando isso.

─ Ah, eu não contaria com isso se fosse você ─ Disse passando a mão no seu cabelo loiro. ─ Afinal, um dia desses dei uma surra na Lightning Hunter.

Olhei de canto para Rei que tinha se mexido ao meu lado, suas mãos estavam fechadas. Hora de acabar o show.

─ Que eu saiba foram 5 contra 1. Não foi uma luta exatamente justa ─ Discordei, ele deu de ombros e sorriu. Olhou para Rei ao meu lado e levantou suas sobrancelhas.

─ Vermelhinha, quanto tempo! E aí, ainda quer ter aulas particulares comigo? Vou ter tempo livre essa semana ─ Disse. Ao escutar aquilo tive apenas vontade de soca-lo ali mesmo, Rei se mexeu ao meu lado e respirou devagar, levantou a cabeça na sua direção e lhe deu um enorme sorriso.

─ Claro, no dia que quiser ─ Respondeu ficando de pé, segurou a minha bengala e Richie lhe deu um sorriso satisfeito. E então ela fez o que eu temia. Rei cerrou os olhos com raiva e deu um soco certeiro na cara de Richie, que o fez cair da mesa. ─ A minha surra é de graça.

─ Oh droga ─ Beatrice disse olhando Richie que começava a se levantava do chão. ─ Acho que é hora de chamar um supervisor, Dana.

─ Eu também acho ─ Concordou ela.

─ Ora sua ─ Richie ficou de pé, seus olhos estavam dourados de raiva. ─ Vai se arrepender por ter feito isso ─ Ele avançou contra Rei e eu me movi. Não deixaria nada tocar ela. Minha perna direita latejou quando coloquei meu peso sobre ela e o atingi em cheio com o outro pé. Richie foi lançado para frente, mas se manteve firme.

Flexionei o meu maxilar com a dor na perna e encarei Richie.

─ Sora você está bem? ─ Disse Rei colocando a mão no meu ombro. Fiz um sim com a cabeça.

─ Richie não comece outra briga ─ Dana disse colocando a mão no ombro dele e ele olhou para ela. ─ Se acalme ─ Os olhos de Richie brilharam entre azul e dourado, até que ficaram azul finalmente ─ Volte para a sua sala e não entre em mais brigas.

─ Ok ─ Rangeu ele fechando as mãos, deu um olhar de ódio na nossa direção e saiu da sala. Soltei um suspiro e sentei na cadeira, coloquei a mão sobre a coxa e engoli em seco. Rei olhou para mim preocupada e eu fiz um ok com o polegar.

─ Sua perna está legal? ─ Perguntou Bea olhando para mim.

─ Sim, só um pouco dolorida ─ Respondi.

─ Você devia ter me deixado cuidar dele ─ Rei disse cruzando os braços com raiva.

─ Da próxima vez eu deixo ─ Falei bagunçando o seu cabelo. Dana me olhou preocupada e eu suspirei. ─ Estou bem, é serio.

─ Vou te dizer viu ─ Dana sentou na cadeira a minha frente e coçou a cabeça. ─ Richie está cada vez mais irritante. Até nas missões ele é assim.

─ Só não piora mais quando ele estava com Ice ─ Comentou Bea. ─ Acho que a personalidade deles são iguais.

─ Deve ser, mesmo ─ Concordou Dana.

─ Só espero que ele não tente mais nada ─ Disse Rei encostando as costas na cadeira e cruzando as mãos. ─ Se não da próxima vez acabo com ele.

Dana e Bea se entreolharam e eu balancei a cabeça. Eu tinha quase certeza que Rei realmente acabaria com ele se tivesse um outro confronto. Toda aquela cena tinha acabado comigo. Olhei para a minha perna e abaixei a cabeça, acho que meu corpo também não vai aguentar mais tantas lutas.

Depois disso tivemos que ir para a sala dos professores, conversar a respeito das notas que tínhamos perdido. E marcaram um simulado semana que vem e nos entregaram os assuntos das matérias do qual Rei e eu deveríamos estudar. As ultimas aulas foram normais e logo após voltamos para casa.

Quando chegamos, Grey estava preparando alguma coisa para comer, e estava cheirando muito bem.

─ Está com um cheiro ótimo ─ Comentou Rei ─ Talvez melhor do que a comida de Sora.

─ Ha! Duvido muito ─ Falei sorrindo e entrando no quarto. Larguei minha mochila no canto do quarto e peguei uma roupa limpa no guarda-roupa. Rei entrou logo em seguida e colocou a sua mochila junto a minha. Arrancou a sua gravata e começou a tirar o seu casaco. ─ Eu vou ao banheiro rapidinho.

─ Ok ─ Disse desabotoando a camisa social, entrei no banheiro com a roupa limpa e tirei o uniforme. Abri a torneira e lavei o rosto e o pescoço, dei um longo suspiro e comecei a me vestir. Coloquei uma bermuda preta e uma camisa de manga curta azul. Dobrei o uniforme e saí do banheiro, Rei estava guardando os tênis. Coloquei as roupas no guarda roupa e fui para a cozinha ajudar no almoço, mas antes recebi um olhar de Rei que não consegui desvendar.

E o almoço estava delicioso, o prato principal tinha sido salpicão de frango e o não principal tinha sido filé de carne. Rei e eu nos matamos de comer e passamos a tarde deitadas no sofá assistindo e comentando filmes. Grey tinha tirado o dia de folga e nos mostrou como que estava o apartamento dele com os moveis novos. E tinha ficado bem bonito para um cara solteiro.

A noite caiu, Grey foi embora e ficamos só nós duas novamente. Fechamos a casa e fomos para o quarto, Rei se trocou no quarto mesmo, enquanto eu fui para o banheiro trocar de roupa, escovei os dentes e quando saí recebi um olhar fulminante dela, que me fez parar de respirar.

─ O quê? ─ Perguntei esperando a bomba.

─ Sora me diga uma coisa, porque toda vez desde que voltamos você sempre se troca no banheiro? Está com vergonha de mim? Ou aconteceu alguma coisa que não estou sabendo? ─ Disse ficando de pé e parando a dois passos a minha frente. Encarei os seus olhos castanhos e respirei devagar, ela estava certa, eu não deveria esconder isso, afinal estávamos namorando, sem dizer que uma hora ou outra ela iria descobrir de qualquer jeito. Cocei minha nuca e mudei o peso da perna, minha bengala tinha ficado do lado da cama.

Eu tinha que contar para ela, mas como poderia? Como começaria?

─ Você pode contar para mim, afinal estamos juntas, moramos juntas ─ Disse se aproximando e colocando uma mão no meu ombro direito, olhei para sua mão e depois para o chão. ─ Somos uma equipe.

Dei um longo suspiro e olhei para o seu rosto.

─ Você tem razão ─ Fiz uma pausa e mordi a boca. ─ Sabe o motivo de não ter ido antes visita-la?

─ Por que estava machucada? Mas pelo o que me disse quando nos vimos, não estava tanto assim ─ Disse sem entender.

─ Bem, eu me machuquei mais do que eu falei para você. E quando me soltei lá, perdi o controle ─ Rei me olhava preocupada e com atenção. ─ Senti tanta raiva, tanto ódio, queria fazer todos pagarem pelo o que quer que tinham feito com você. E de certa forma eu fiz. Eliminei todos no caminho, mas isso me custou um pouco da humanidade, e precisava de um tempo para recuperar isso.

Fiz uma pausa e respirei profundamente, o olhar de Rei nunca tinha mudado, esperou calmamente terminar o que eu tinha para falar.

─ E junto com isso, aconteceu uma coisa que me fez ficar para baixo ─ Falei sem saber descrever como me sentia a respeito das minhas tatuagens. ─ Algo que me define.

─ O que houve? ─ Perguntou curiosa e preocupada.

─ Se lembra quando eu disse que me machuquei, certo? ─ Rei confirmou com a cabeça e dei um passo para trás. Segurei a camisa que estava vestindo e a tirei, Rei olhou para o meu corpo de frente e olhou confusa. Engoli em seco e virei de costas. Por um momento não consegui escutar nada a não ser as batidas rápidas do meu coração. Depois do que se pareceu um longo minuto, a mão dela tocou minhas costas, seus dedos percorreram a cicatriz vertical sobre as minhas tatuagens e tremi.

─ O que fizeram com você? ─ Sussurrou com a voz tremida.

─ Me chicotearam ─ Sussurrei de volta olhando para o chão. A sua mão parou de se mexer e Rei segurou o meu rosto. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, deu um sorriso triste para mim e uma lágrima escorreu pela sua bochecha.

─ Está tudo bem ─ Disse baixinho, me envolveu em um abraço e colocou seu rosto no meu ombro. ─ Tudo vai ficar bem.

Não consegui dizer mais nada depois disso, um nó se formou na minha garganta e envolvi os braços em volta dela. As lágrimas não se contiveram e escorreram pela minha bochecha. Chorei tudo que tinha para chorar, liberei aquela dor que tinha no peito. Rei me abraçou mais forte e ficamos ali, só duas chorando nos braços uma da outra.

Ela também tinha passado por muita coisa. Era estranho nós ver chorando, quando geralmente tínhamos jeito de pessoas duronas. Mas também somos humanos depois de tudo. Não somos incansáveis. Nós machucamos como qualquer um. Choramos e sofremos como qualquer um.

E consequentemente, amamos como qualquer um.


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Notas finais do capítulo

Está em mãos, espero que tenham gostado apesar de eu achar que está meio escroto o capitulo. A melhor parte na minha opinião foi o final, confesso que chorei escrevendo isso. Eu sou mau, mas também tenho sentimentos . Prometo que semana que vem vai ter um novo cap. E que possivelmente nessa semana ainda poste um novo cap de QUENTE, yes QUENTE baby. Bjus amigos. Comentem aí pra eu saber se gostaram e o que acham que vai acontecer em diante.



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