Os seguranças me levaram de volta ao centro de comando da ALRS de Moscou. Eles estavam irados comigo, mas eu nem ligava. Meu plano deu certo, eu voltei de trem e assim que pisei do lado de fora me cercaram. Mas eles não sabiam do Steve, nem imaginavam que eu passei o dia com o Capitão em outra cidade.

—Flyer! –Gabrielle apareceu com as muletas.

Eu sorri ao vê-la. Ela podia ser a minha irmã gêmea que eu odiei por anos, mas tinha protegido Klaus dos diretores da ALRS quando ele foi capturado. E por mais que eu não estivesse mais namorando com ele, eu estou eternamente grata. Klaus é parte da minha vida.

—Flyer Morozov, nunca faça isto de novo. –Burlem praticamente me atacou com um forte tapa no rosto.

Senti minha bochecha queimar. Havia anos que ele não me batia, Burlem gostava de ser bruto com quem saia de seu controle. Esse é o único modo que ele via em causar medo nas pessoas e ser superior. Fui obrigada a olhar para a minha irmã, que tinha aos mãos sobre a boca perplexa.

—Flyer Morozov. Eu sou Iris Batch. –uma mulher de cabelos ruivos e com luvas brancas de seda ergueu a mão para mim.

—Cumprimente-a. –Burlem me obrigou.

Ergui meu braço furiosa e a encarei por um tempo. Ela sorria com um olhar superior, vestia um sobretudo bege e estava muito bem arrumada, ela era bonita.

—Ela vai assumir o lugar do seu pai na ALRS.

—Eu prefiro olhar as coisas de outra forma. –ela encheu um copo de uísque e me entregou. –Vamos conviver muito juntas, eu espero.

—Vou para o meu quarto. Com licença.

Dou as costas aos dois e faço Gabrielle apoiar um braço em meu ombro, ajudando-a a andar pelo corredor. Olho para trás pela ultima vez e vejo Burlem e Iris nos observando. Ela tinha um olhar meio... Maldoso.

—Vamos transformá-la. –eu a escutei dizer.

Minha irmã bufou ao meu lado. Entramos em seu quarto novo, que praticamente parecia um quarto em um hospital. Mas tinha TV, uma cama de solteiro, banheiro e um armário.

—Ela é terrível. Quando eu a conheci, ela sem querer pisou no meu pé quebrado com o salto de agulha dela e ainda riu enquanto eu tentava não chorar de dor. –Gabrielle sentou na cama.

—Não duvido nada que foi intencional. Temos um novo inimigo na área.

Suspiro e começo a tirar minha blusa para tomar um banho.

—O que você fez esses dias?

—Briguei com Klaus. Terminamos. Fui a uma boate. Me diverti. E agora estou aqui.

—Eu conversei com ele.

Gabrielle explicou que Klaus disse que não me pediria desculpas, como sempre fazia. Mas também se pedisse, eu não aceitaria. Não mais, não conseguia mais ver Klaus como meu namorado. Minha vida se tornou muito melhor com ele, porém meu objetivo mudou.

—E qual é o seu novo objetivo? –Gabrielle perguntou com tom de deboche.

—Encontrar meu pai e mudar para um lugar que ninguém me conheça.

—Eu sempre achei que você casaria com Klaus.

—E eu também. Mas nós dois mudamos muito. –digo e ligo o chuveiro.

—E quem te mudou?

—Uma pessoa que conheci hoje.

(...)

Voltei a minha rotina, porém em Moscou. Acordava cedo, tomava café da manhã, treinava com Burlem, almoçava, voltava a treinar e tinha meu tempo de descanso a noite. Ele estava me ensinando alguns golpes terríveis de Krav Maga, uma das artes marciais mais letais do mundo.

—Não vou pegar muito leve, ok? Pode me derrubar. –ele avisou enquanto nos cumprimentávamos no centro do tablado.

—Eu vou. –sorrio.

Apesar de Burlem ser meu treinador, Natasha Romanoff era bem mais habilidosa. Ele era mais forte e pesado, já ela tinha leveza e velocidade. Então, não foi muito difícil de derrubá-lo. E Burlem ficou surpreso, porque consegui executar o golpe com tremenda perfeição Eu usei minha força do braço e do corpo, segurando sua cabeça e pressionando seus olhos pelos polegares para baixo, e logo ele estava no chão.

—Ou eu estou ficando velho ou você está mais forte do que eu imaginava.

—Pode ser os dois. Estou preparada para tudo.

—Até mesmo se quem você acha que é seu amigo, virar seu inimigo?

Eu escuto uma voz feminina, um braço em meu pescoço, me jogando ao lado de Burlem. Tudo obra da novata Iris Batch. Aquilo havia doido.

—Você não está preparada para tudo. –ela balançou a cabeça com superioridade e deu um sorrisinho de lado. Depois se aproximou e sussurrou: -Nunca estamos.

Reviro os olhos e bufo.

—Sr. Burlem, preciso de você imediatamente. –anunciou ela e saiu.

—Isso pareceu uma ameaça.

—Ela é uma boa pessoa Flyer. Era amiga do seu pai, pode confiar nela. E ela realmente te derrubou. Devo agradecê-la e você também pela lição de moral.

Burlem sai do ginásio me deixando sozinha. Eu teria belos problemas na coluna. Voltei para meu quarto resmungando. Gabrielle estava na fisioterapia. Tomei meu banho e deitei, preparada para dormir por umas boas horas. Mas sou acordada não muito tempo depois.

—Flyer! Flyer! Recebemos uma mensagem do meu pai. Meu pai enviou uma mensagem.

—O que? –levando imediatamente assustada com a notícia.

—Sim. Foi o que você ouviu. Ele enviou para a central da ALRS e não tem como localizar de onde veio.

—O que ele disse?

—Não me deixaram ver.

Eu a olho indignada. Eles não podiam fazer isso com a gente. Depois de tudo. Levantei da cama e a ajudei a andar rápido pelo corredor, até chegarmos na entrada da sala de reunião principal. Pelo caminho, sentimos o silêncio que estava no prédio. Provavelmente todos pararam o que estavam fazendo para ver o que era. E apenas nós duas éramos impedidas.

—Vocês não podem entrar.

—Como não?

—Todos da ALRS estão lá dentro e temos o mesmo direito. –Gabrielle aumentou o tom de sua voz.

—Nem todos senhoritas. Apenas os de maiores níveis.

Cruzei meus braços e olhei o rosto fantasmagórico de Gabrielle. Podíamos ser gêmeas, mas éramos tão diferentes. Mas uma coisa que tínhamos em comum era a vontade de saber sobre o paradeiro do nosso pai. O segurança mantinha sua postura, até que minhas pernas se impulsionaram sobre ele e minha irmã abriu a porta da sala de reunião.

—O que está acontecendo? –Iris Batch levantou se de sua poltrona.

Mas eu e minha irmã fingimos não ouvir. Estávamos atenta ao rosto do meu pai exibindo no telão no centro da sala. Ele estava sentado em uma cadeira, a barba estava um pouco maior, mas eu podia escutar um pouco da sua voz rouca e profunda.

—É o meu pai! –sussurrou Gabrielle perplexa. –Como vocês não nos deixaram entrar antes? Meu deus...

—Vocês não estão preparadas para isso. –Burlem falou chamando a minha atenção. –Nem nós estamos.

—Não estamos preparadas? Dei a minha vida por esta aliança, estou definitivamente preparada.

Eles trocaram olhares silenciosos. Iris mantinha sua postura rígida, ela olhou para baixo e voltou a se sentar cedendo o nosso pedido. Ajudei Gabrielle a se apoiar no chão e peguei sua mão. Eu estava preparada, certo?