Distance escrita por Gustavo Henrique
"Peer over the edge
Can you see me?
Rivulets flow from your eyes
Paint runs from your mouth
Like a waterfall
And your lungs crystalize"
Jack Frost não sabia o que fazer. O que poderia? Cada vez mais ele se importava com o que Elsa sentia, com seu bem-estar, mas ela não podia vê-lo, muito menos sentí-lo. Queria que isso fosse diferente, que pudesse enxergar que ele estava lá.
Não queria que ela ficasse solitária.
Decidiu ir atrás de conselhos. Voou até o pólo norte, onde tinha um amigo que poderia ajudá-lo, que poderia esclarecer o que deveria fazer. Depois de algumas horas, tomando os atalhos necessários, alcançou a grande fábrica do Norte, que já visitara algumas vezes. Permanecia imensa e em movimento, como se tivesse vida própria. Entrou, indo direto até à sala do amigo. Encontrou a porta fechada e bateu.
— Sim? — Uma voz conhecida respondeu.
— Sou eu, Jack Frost.
Momentos depois, a porta se abriu e Frost viu uma grande figura, com vestes natalinas, mas com tatuagens e armas, que fugiam da imagem conhecida do Papai Noel.
— Jack! Quanto tempo! — Exclamou, abraçando-o e puxando-o para cima, deixando Jack sem ar.
— Bem... eu acho... — Disse, com dificuldade. Depois de solto, recuperou o fôlego e esbanjou um sorriso, demonstrando que estava feliz em vê-lo. Seus pensamentos, porém, o lembraram do porquê tinha vindo e julgou melhor ir direto ao ponto. — Preciso de ajuda.
— Ajuda?
O espírito contou à ele tudo que passara, sobre a garota misteriosa, seu poder de controlar o frio e como ela estava sofrendo por isso.
— Eu queria que ela me visse!
— Bem, Jack, você só pode ser visto por aquele que acreditar em você. É assim que funciona.
— Acreditar em mim?
— Sim. A partir do momento que ela tiver certeza que você existe, você será visto.
Ela tem que acreditar em mim.
Jack agradeceu, recusou as várias ofertas de biscoito e leite, e partiu, voltando ao reino de Arendelle.
Já sei o que devo fazer.
Quando chegou, já era noite. As luzes dos archotes iluminavam os corredores e o castelo dormia. Jack flutuou até o quarto onde Elsa repousava e a encontrou em um sono profundo, calmo e sereno. Teve até um pouco de culpa em ter que acordá-la, mas esse era o momento certo: ninguém atrapalharia. Rodopiou o cajado, fazendo uma pequena nevasca surgir, que caía sobre o rosto descoberto da garota. Depois de alguns segundos, ela acordou.
Abriu os olhos lentamente, sonolenta, e percebeu que algo acontecia. Sentou-se e viu a porta aberta, com um caminho de gelo que levava para o corredor. Levantou-se e seguiu a marcação, com passos silenciosos, até encontrar o portão do salão principal. Entrou.
O salão estava vazio. Bem arrumado, como fora deixado pelos empregados, e o único barulho que se ouvia era a acústica que o silêncio causava. Tinha um grande espaço vago no centro e Elsa viu no chão um pequeno boneco de neve, com cerca de vinte centímetros, e os detalhes em seu torso insinuavam um terninho chique. Ele corria e dançava, aproveitando uma música que só ele podia ouvir. Minúsculos flocos de neve surgiam no alto, tornando o cômodo inteiramente branco e gelado.
Só pode ser ele. Jack Frost.
Ela estava começando a acreditar. No começo, achou que o próprio poder estivesse tentando lhe pregar uma peça, mas as imagens eram tão vívidas e específicas que assumiu que nem a própria imaginação seria capaz de fazê-las. O boneco parou e, ao vê-la, fez uma reverência e a chamou com os bracinhos para onde estava. Elsa decidiu que não tinha nada a perder e caminhou até o centro. Lá, imitou os movimentos do amiguinho, movimentando-se alegre e despreocupada.
Ele existe!
Então, começou a ouvir uma voz. Uma voz masculina, bonita, que vinha de um rapaz encostado na parede, com o olhar fixo nela. Ele cantava de modo solene e devagar.
I'll travel the sub-zero tundra
I'll brave glaciers and frozen lakes
And that's just the tip of the iceberg
I'll do whatever it takes
To change
A cantoria parou e Jack continuou observando Elsa. O que ele não percebeu, porém, é que ela também podia vê-lo.
— Você existe!
Frost escorregou no próprio gelo com o susto e, se não fosse o apoio do cajado, teria caído sentado. Ficou novamente de pé e abriu um sorriso larguíssimo.
— Você... consegue me ver?
— Consigo! — Elsa ria, maravilhada — Você é real!
Jack caminhou até Elsa e apontou o cajado na altura de seus olhos, fazendo sua magia acontecer. A loira sorria como nunca tinha feito antes, achando o garoto incrível. Tirou uma das luvas e tocou a mão de Frost, alegrando-se ainda mais ao ver que nada acontecia.
Não posso machucá-lo.
Estou sentindo ela me tocar.
Isso é incrível.
Isso é... incrível.
Jack esticou a outra mão e levou até o rosto dela. Passou os dedos do lado dos grandes olhos azuis e da bochecha rosada da loira, apreciando cada vez mais aquela experiência. Ela podia vê-lo e ele podia sentir o toque de outra pessoa.
Elsa sentiu seus dedos dançarem por seu rosto, uma sensação que há muito tempo não tinha. Podia tocá-lo, senti-lo, e não o machucaria.
Jack, então, lembrou-se que estava diante da Rainha. Afastou a mão e ajoelhou-se, desajeitadamente, sobre o joelho esquerdo, com a cabeça baixa. Elsa riu do gesto desconsertado do garoto e abaixou-se, na mesma altura que ele. Encarava seu couro cabeludo, no entanto.
— Por que você se ajoelhou?
Jack levantou o rosto, agora a centímetros de distância do dela.
— Você é a Rainha.
— Não seja bobo. — respondeu, sorridente.
Ainda não podia acreditar. A lenda era real, o garoto de cabelos brancos e vestes azuis realmente existia. Ele estava ali, na sua frente.
Os dois ouviram passos se aproximando pelo corredor. Elsa encarou o portão, que foi aberto por sua irmã mais nova, Anna.
— Elsa? O que você está fazendo aqui?
— Estou com... — Quando encarou onde Jack estivera, não havia nada. Havia sumido. — Ninguém. — Levantou-se, indo até ela — Vamos, Anna. Estou com sono.
Frost estava do lado de fora, observando pela janela as duas irem até seus quartos. A respiração falhava, o coração batia acelerado, as bochechas ardiam.
O que está acontecendo comigo?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
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