Breaking Down escrita por Momoi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hello! É uma história de certa forma, curta que surgiu do nada. Eu estava na minha janela fumando meu cigarro enquanto o Sol nascia e percebi o quanto amo essa hora mas como detesto o pôr do Sol. Eu escrevi as 5h, morrendo de sono, então não me culpem se tiver uma bosta.

Fic betada ♥3



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Ao contrário da maioria das pessoas, eu sempre odiei o pôr do Sol. O clima ameno, o céu alaranjado e o barulho das gaivotas pescando suas últimas refeições do dia. Irritante.

E, olhando pela janela do meu apartamento, era exatamente esse o cenário que no qual eu tinha acesso. Meu olhar foi direcionado para baixo ao ouvir o som de palmas vindo de um aglomerado de pessoas na areia da praia. Ah, e isso. Não existia nada pior. Essa mania ridícula que alguns têm de aplaudirem o “grande espetáculo” de cores que acontecia exatamente á essa hora.

Prestei mais atenção no rosto de alguns que ali estavam. Era difícil por conta da distância. Eu não conseguiria dizer o tom de pele exato de cada um ou a cor dos olhos. Nem ao menos conseguia enxergar as feições, mas sabia que estavam felizes. Sabia, porque eu ouvia as risadas, a gritaria e as palmas acompanhadas de um assobio que eu nunca conseguiria fazer.

Suspirei, resolvendo fechar a janela para evitar o incômodo. Olhei minha sombra solitária estendida pelo chão de madeira da minha sala de estar. Caminhei até o tapete vinho repleto de almofadas. Alcancei o maço de cigarros e o isqueiro no sofá coberto por uma capa fora de moda e me ocupei em acendê-lo. Deixei meu corpo cair e apoiei minha cabeça naquele objeto macio antes de soltar a nuvem de fumaça que logo se dispersou pelo ar. O rádio não estava ligado, mas ainda assim eu era capaz de escutar uma música se repetindo claramente na minha cabeça.

― “So for once in my life, let me get what I want. Lord knows, it would be the first time” ― Cantarolei ao som de The Smiths com uma voz baixa.

E, de certa forma, me senti melancólico demais, até para mim. Traguei mais uma vez meu cigarro e dei uma batidinha para que a cinza caísse, não me importando de sujar o chão.

Talvez eles estivessem certos. Talvez eu que fosse o errado. Talvez toda aquela palhaçada de aplausos fosse o correto.

Tentei me imaginar junto com meus amigos, sentado nas cadeiras de ferro em meio à areia quase branca aplaudindo o Sol que ia embora. Sorri debochado ao perceber que isso seria impossível. Ainda que tivesse me dito que o significado das palmas era pela alegria de terem passado mais um dia com saúde e pelo fenômeno da natureza, para mim, aquilo não fazia sentido. Na verdade, aos meus olhos, só havia uma explicação: Eles aplaudiam o fim de algo. E eu odiava finais tanto quanto odiava o pôr do Sol.

Em meus vinte e três anos de vida não me recordo um dia sequer que aconteceu algo bom durante esse período de fim de tarde.

Lembro até hoje, com perfeição de detalhes, o dia em que Jiraiya morreu. Eram quase seis horas e eu podia dizer aquilo só por olhar pela enorme janela do quarto do hospital. As aves voando ao longe em borrões pretos e o céu tão laranja quantos as flores que repousavam do lado da cama. Os batimentos cardíacos do visor iam abaixando lentamente justo com a claridade do dia, logo sumindo, deixando uma linha tão reta quanto o horizonte. Meu padrinho e minha única família se foram no mesmo instante em que o Sol, deixando apenas a penumbra da noite.

Traguei pela última vez meu cigarro que já quase queimava meus dedos por estar próximo do filtro. Que tédio. E o solteicom brutalidade, quase bufando, a fumaça na minha frente. Apaguei a pequena brasa restante num jornal jogado ali por perto e voltei à minha posição inicial, com o corpo estirado no chão, as mãos apoiadas na barriga e os pés cruzados

Olhei em volta buscando algo que pudesse prender minha atenção e achei. A bagunça. Meu apartamento estava totalmente imerso no caos. Os dois sofás, juntamente com a mesinha de centro empurrados para os cantos da sala para que tivesse acesso livre ao tapete inteiro, cheio de almofadas e até um ou dois travesseiros. Ao lado da minha cabeça, em pouco menos de um metro, três pequenas pilhas de livro que nem ao menos sabia do que se tratava. A TV desconectada da tomada era apoio de uma das minhas blusas preferidas.

A sala de estar estava daquele jeito a quatro dias, desde que Sasuke foi embora. Fora ideia dele tirar tudo do lugar para que víssemos filme, para começar. E se ele inventou, ele que arrume.

Fechei os olhos, irritado. Não queria me lembrar da briga mais uma vez, mas foi inevitável quando as lembranças começaram a dominar totalmente minha cabeça.

Que filme de merda! Qual não foi minha surpresa ao ouvir Sasuke reclamar do meu lado. Era sempre assim. Ele que escolhia o que iríamos assistir e no final, sempre soltava alguma ofensa e reclamava durante horas de ter gastado dinheiro para alugar algo tão ruim. – Isso nem ao menos pode ser considerado terror.

Foi você que escolheu, pra variar Senti seu olhar me fuzilando.

Vai à merda ele respondeu. Agarrei seu pescoço numa chave de braço, o puxando para deitar no chão. Já sorrindo um pouco, deu três batidinhas no meu braço em sinal de desistência e virou-se de frente para mim, envolvendo minha cintura enquanto se aproximava mais do meu corpo. Sasuke não parecia que ia voltar com as reclamações por hora e agradeci mentalmente por isso.

Por que você quis afastar os móveis? Perguntei entrelaçando nossas pernas.

Você é espaçoso e sempre me bota pro outro sofá. Desse jeito nós podemos ficar juntos assim. Não é melhor? Enfiei meu rosto nos seus cabelos negros, inalando o cheiro do shampoo conhecido.

Vai dar trabalho pra arrumar.

Você fala como se não fosse eu que sempre arrumasse essa porra de apartamento.

É sua obrigação brinquei.

Não é não Senti um leve soco no meu braço, mas não me importei o suficiente para me mexer. Eu nem moro aqui, pra início de conversa.

Mas podia Senti os braços de Sasuke me soltarem e sua perna sair do entrelaço das minhas. Eu sabia que tinha tocado em um assunto proibido, mas já havia cansado daquela situação.

Já conversamos sobre isso, Naruto Acompanhei seus movimentos enquanto o via retirando o DVD do aparelho e colocando dentro da caixa para, logo após, desligar a televisão.

Não. Não conversamos porque você sempre foge do assunto Senti seu olhar me triturar, mas ignorei. Qual é, Sasuke? Você já tem vinte e quatro anos. Já passou da hora de sair da casa da sua mãe. E além do mais, você passa a semana toda aqui. É claro que seu pai já suspeita da gente.

É, suspeita. Mas não tem certeza Abriu as cortinas rapidamente e com a iluminação, pude perceber seu maxilar trincado em sinal de pura irritação. Por que não podemos deixar as coisas como estão?

Porque não estou satisfeito em levar esse relacionamento escondido. Você não é mais adolescente Se havia algo que eu podia falar sobre minha personalidade, era meu pavio curto. Geralmente, Sasuke era o que, com toda sua indiferença irritante, freava a briga antes que ela pudesse virar séria. Mas hoje isso não aconteceria já que ele também estava puto.

Você nunca está satisfeito com nadaSeu tom de voz já começava a aumentar. E realmente, eu não sou mais adolescente. Nem você. E justamente por isso deveria saber que as coisas não são tão fáceis assim.

Então vamos ser assim para o resto das nossas vidas? gritei já não segurando meu tom de voz. Você pagando de heterossexual para o seu pai enquanto nosso relacionamento não passa de sexo?

O que você esperava? – a voz de Sasuke também ecoava pelo apartamento agora. Que fossemos morar juntos e brincar de casinha depois de adotarmos um cachorro e chamá-lo de um nome bem homossexual, tipo Benji?

Não é isso o que os casais fazem, porra? Levantei em um pulo. Meus olhos não desgrudando dos dele um segundo sequer.

É isso que homes e mulheres fazem, Naruto De alguma forma, eu sabia que algo muito ruim ia vir nessa frase. Apertei minha mão em punho e contando até dez para conter a raiva que eu sabia que viria triplicada a seguir. Nós somos gays. E é isso que gays fazem. Eles fodem.

Ainda que com muito esforço, não fui capaz de controlar minha raiva. Acertei um soco na parede a menos de cinco centímetros do seu rosto. Pude ver alguns fios balançando com meu movimento.

Sai. Da. Minha. Casa. Falei entre os dentes.

Ele não se mexeu por um tempo. Apenas nos encaramos. A pele clara de Sasuke banhada pela cor alaranjada do fim de tarde. O barulho das gaivotas ao fundo junto com o das pessoas começando a se agitar para comemorarem o Sol se pondo.

Não soube dizer quanto tempo demorou para que ele se mexesse, pegasse suas coisas e saísse do apartamento sem olhar para trás. Poderia dizer que foram horas se não fosse pela visão do dia terminando do lado de fora. Era pôr do Sol e, dessa vez, outra coisa terminava além do dia.

E eu definitivamente, odeio finais.”

Quando abri os olhos, já estava totalmente escuro lá fora. Sinceramente, eu não saberia dizer se dormi ou se apenas me lembrei, mas pelo menos, a noite finalmente havia chegado. Levantei devagar e cambaleei assim que me pus de pé, logo recuperando o equilíbrio. Cocei minha nuca e andei até a janela, sentindo o chão limpo. Pelo menos eu varria a casa.

Não fazia ideia de quanto tempo havia passado desde que me deitei, mas fiquei feliz ao ver a praia quase completamente vazia pela areia. Algumas pessoas caminhavam pela calçada, mas nada que fosse me perturbar.

Fui em passos lentos até o banheiro e me despi da cueca, a única peça de roupa que vestia, entrando no box logo depois. Ainda que estivesse calor, optei por um banho de água morna. Demorei o dobro de tempo necessário para me banhar apenas pela preguiça de sair dali, mas uni coragem e me enrolei na toalha.

Não senti frio enquanto andava até meu quarto e fiquei agradecido por isso. Fui me vestindo aos poucos. Primeiro catei a primeira cueca que vi, seguida de uma bermuda simples e uma blusa qualquer. Calcei meu chinelo e fui até a cozinha, decidido a comer algo antes de sair do apartamento.

Depois de muito procurar nos armários e geladeira, preferi optar por pão e geleia. Eu não estava nem um pouco afim daquilo, mas era melhor do que ficar com fome. Desejei por alguns segundos que Sasuke estivesse ali, assim pelo menos, eu estaria comendo algo descente. Balancei a cabeça decidido a não pensar mais nele.

Peguei o celular e as chaves na bancada da cozinha, saindo por lá mesmo. Fechei a porta atrás de mim e apertei o botão do elevador. Achei que demorou mais do que o necessário para subir e mais ainda para descer e agradeci quando alcancei o térreo. Eu detestava esperar, afinal.

Fui educado ao dar boa noite para o porteiro e atravessei a rua com pressa, logo passando pela calçada e alcançando a areia macia. Eu tinha que admitir que em cada fim de tarde, eu odiava morar em frente a praia. Odiava os gritos, odiava os assovios, odiava as gaivotas, odiava os aplausos e odiava mais do que tudo como o apartamento se cobria de cor alaranjada graças ao pôr do Sol, que dali tinha uma vista ampla. Mas, em horas como essas, eu tinha mais é que agradecer. Era ótimo ver meus amigos precisando vir de carro ou andar bastante enquanto para mim, só era necessário atravessar a rua.

As barracas que alugavam cadeiras não estavam mais ali, e como não me preocupei em trazer a minha, apenas sentei ali sem cerimônias. Alguns grãos entrando pela minha bermuda e meus pés quase totalmente enterrados na areia agora com a aparência mais branca à luz da lua.

Coloquei os fones de ouvido e simplesmente me desliguei do mundo. Me distraí com facilidade em meio à uma música do Jaymes Young e a visão das ondas do mar indo e vindo. Imaginei que seria impossível sentir uma calma maior que essa, ainda que a briga com Sasuke me cutucasse o cérebro.

Minhas costas se curvaram com força ao sentir o impacto de algo na minha coluna. Levantei irritado pronto para acertar a cara de quem me perturbou de forma tão bruta, mas parei ao ver quem era.

Contive o desejo de arregalar os olhos ou abrir a boca em espanto, mantendo apenas minha expressão de raiva, mas não consegui ao ver o que estava ao seu lado.

– Idiota – ouvi ele me chamando, mas preferi não comprar a provocação. – Eu estava te gritando desde que pisei o pé nessa areia nojenta. Não respondeu por que?

– Eu não ouvi – murmurei.

– Tá com pau no ouvido? – Dei um soco no braço dele pela frase.

– Fone. Babaca – Sasuke esfregou o braço, mas por sorte, resolveu não revidar. – O que você quer?

–Quero que você assuma as responsabilidades – ele respondeu de forma prepotente e eu me irritei por não entender.

– Como é que é? – perguntei incrédulo.

– Foi por sua culpa, - Seu dedo foi direcionado para meu rosto, e logo tratei de dar um tapa para afasta-lo. – que eu estou aqui agora.

– Você é retardado ou o que? Fala direito – respondi já puto da vida.

– Eu estava em casa e quando estávamos vendo televisão, eu contei para eles que gosto de pau. Meu pai ficou puto e me tirou de casa. É seu trabalho me dar abrigo.

A família Uchiha é daquele tipo de família que assiste televisão e janta todo mundo junto. Fiquei imaginando como deve ter sido a cara de todos quando, durante um filme, Sasuke solta um “eu gosto de pau.”. Tentei não rir com a cena na minha cabeça, pelo momento ser sério.

– Eu sinto muito por você ter sido expulso – falei sinceramente.

– Não se preocupe. Minha mãe disse que logo ele me liga falando que precisa da minha ajuda em casa. Mas é claro que seria só uma desculpa pra eu voltar. – Sorri concordando que não existia nada mais “Uchiha” do que arrumar desculpas para não demonstrar sentimentos. – Mas não sei se volto. Não é sempre que tenho a chance de ter um servente em casa.

Ri de leve. Ele havia feito exatamente o que o pai fazia. Escondia o sentimento por meio de desculpas. Mais uma vez minha atenção foi direcionada para o ser que se remexia ao lado de Sasuke.

― E esse é?

―Ah, eu comprei ele hoje a tarde. Achei que seria legal ter um cachorro. – Prestei atenção no filhote de border collie. Ele era diferente do da maioria que eu via na rua. Mas era claro que Sasuke não escolheria um comum. Ele não tinha nada comum. Seu peito era branco como o padrão da raça, porém, onde devia ser preto, era coberta por uma pelagem cinza com pequenas manchas escuras. O nariz rosa, também possuía manchinhas e os olhos de um azul bem mais claro que o meu.

― Qual o nome dele?

―Benji.

Sorri por um momento me lembrando da briga e não pude deixar de responder.

―É um nome bem gay.

―É – Concordou

―Mas eu gostei ― Seu olhar cruzou com o meu e quando dei por mim, já estávamos nos abraçando com Benji se agitando ao nosso lado.

Não contive o impulso de procurar os lábios de Sasuke com os meus. O beijo não durou muito, já que o cachorro já puxava em sua coleira para correr por aí. Só então reparei nas mãos dele. Vazias.

―Onde estão suas malas?

―Na portaria, idiota. O porteiro me disse que você veio pra cá. Ou você acha que eu sou vidente?

Resisti à tentação de mandá-lo ir à merda. Fomos até meu prédio e subimos com as três malas enormes de Sasuke. Abri a porta do apartamento com dificuldade, e joguei tudo em cima do sofá de qualquer jeito.

Soltamos Benji e ele tratou de correr pelo local cheirando e fazendo xixi no pé do sofá.

―Você limpa – Olhei para ele não acreditando naquilo.

―Por que eu?

―Porque a ideia do cachorro foi sua.

―Mas você que comprou!

―Eu já vou limpar o resto desse apartamento imundo. Para de reclamar.

Sorri, o puxando para perto pela cintura.

―Eu limpo o xixi. Mas não agora ― Sussurrei ao seu ouvido e o empurrei para o tapete cheio de almofadas, tacando-o ali e subindo por cima dele tomando seus lábios com urgência.

X

Meus olhos abriram quase instantaneamente. Não ouve movimentação e nenhum alarme tocou. Eu apenas acordei. Me estiquei para abrir a cortina e me deparar com o Sol aos poucos surgindo.

Sempre gostei da hora da manhãzinha. Do vento refrescante e do céu ainda claro e esbranquiçado. Era revigorante. Porque ao contrário do Sol se pondo, que terminava algo, o nascer sempre trazia algo novo.

Olhei para o lado. O corpo nu de Sasuke coberto por um lençol branco enquanto um pouco de suas pernas escapava para fora, onde Benji acomodava-se confortavelmente. Agora eu tinha certeza.

Mais do que meu desgosto por finais, é a minha satisfação por inícios.

Porque apesar de cada fim de tarde que o Sol se vai, existe a manhã para trazê-lo de volta junto com um começo.

Abracei o corpo magro de Sasuke, dando um beijo em sua nuca e sentindo o pelo de Benji aos meus pés.

Ou recomeço.


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Notas finais do capítulo

Foi isso. Comentários são sempre muito bem aceitos, viu? ♥3