Klaroline; Areias Do Tempo escrita por Miss Mikaelson


Capítulo 5
O sol e a lua


Notas iniciais do capítulo

Espero que apreciem o capítulo...
Nos vemos nas notas finais.

Boa leitura! :D



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O vento leve e fresco de início de dia trouxe consigo a discordância e a angustia. O sol, que por sua vez brilhara com menos vigor, naquela manhã ocultou sua luz viva e cintilante das portas do palácio. Enquanto no harém a escuridão do luto passava lentamente, na sala do trono uma discussão acontecia. Conselheiros, sacerdotes, príncipes e o faraó buscavam um consenso.

Elijah invadiu a grande sala e na mesa de estratégias lançou os pergaminhos. Chefes e conselheiros abriram passagem para o rei, que estudava minuciosamente as estratégias fornecidas pelo irmão, ao mesmo tempo em que ouvia os conselhos e reclamações de todos os nobres.

— Basta! — proferiu o rei. — Se alguém tiver algo inteligente para falar, que fale agora. Caso contrário, permaneça em silêncio.

O silêncio durou cerca de meio minuto até que um dos conselheiros se manifestasse.

— Se me permite, meu senhor, acredito que seja muito cedo para liderar um novo ataque. Talvez o rei deva priorizar a insatisfação dos trabalhadores e as necessidades do povo egípcio.

— O conselheiro está certo, Hórus Dourado. — disse o sacerdote-mor, de cabeça baixa, aproximando-se do rei. — Por dois milênios vivemos em paz com os hititas e outros povos nômades. Arrisco-me a dizer que esse foi o ponto alto da nossa cultura.

— Sim — pronunciou o rei, pensativo, caminhando em círculos. — Mas não esqueça que enquanto nossos antigos governantes viveram em paz com os vizinhos, nossa prosperidade caía no esquecimento. Devo lembrá-lo do ataque surpreso dos hicsos? Devo lembrá-lo de que enquanto os nossos antigos faraós bebiam, comiam e construíam seu império baseado na boa vizinhança o Egito foi apunhalado pelas costas por aqueles que se diziam nossos aliados? Creio eu que o sacerdote tão sábio e instruído não tenha se esquecido do maior desastre militar que quase devastou o Egito.

O sacerdote abaixou a cabeça. O rei sorriu satisfeito e olhou em volta; todos haviam perdido a coragem para argumentar. Os olhos do faraó pousaram em seu irmão, parado ao seu lado, fitando o vazio e com as mãos repousadas sobre a espada em seu cinto, como se em algum momento esperasse um ataque.

— Meu irmão, o único dos conselheiros a quem confio, o que me diz? — perguntou o faraó.

Elijah encarou-o desconfortável por um momento. Em seguida, caminhou até a mesa onde estavam os pergaminhos e respondeu, cautelosamente:

— Vivemos no centro de um campo de batalha constante — anunciou. — Os líbios a oeste, os hititas a leste e os núbios ao sul. Grandes potências que devem ser reconhecias e temidas pelo seu poder. Potencias hostis que ameaçam o poder egípcio.

— Está sugerindo o que estou pensando, irmão? — disse o faraó com um notável sorriso.

— Não, meu irmão — respondeu o chefe da guarda. — Um banho de sangue seria inconveniente, levando em conta de que nós somos o principal alvo dessa guerra. Mas proponhamos um acordo de paz. Seth I viveu em paz com seus inimigos durante quinze anos. Mas foi a juventude e arrogância de seu filho, Ramsés II, nosso avô, que colocou em risco toda uma dinastia.

O faraó assentou-se em seu trono com um notável desprezo. Um rei jovem, com ânsia de poder e o sangue quente de um guerreiro que desejava conquistar seu lugar no campo de batalha. O peso da coroa deixada por seu pai era de fato um fardo imenso para se carregar. Um império vasto e grandioso deixado aos seus cuidados. Mas o seu ego falava mais alto que a responsabilidade. Ele era um excelente guerreiro, disso não tinha dúvidas. Poderia recuperar as terras egípcias perdidas para os inimigos há milhares de anos, um feito que nenhum outro faraó antes havia conquistado. E ele o faria. A qualquer custo.

— Já está decidido! — anunciou, subitamente se levantando do trono. — Partiremos com as tropas logo pela manhã. Vingaremos o meu pai e conquistaremos nossas fronteiras. Todas as terras perdidas nos tempos de Tutmés III e Aquenatón voltarão ao domínio egípcio. Conquistarei aquilo que meu avô não teve coragem para ir adiante.

— Por favor, irmão, ouça-me — pediu Elijah, deixando de lado a postura de comandante. — Peço-lhe, não como seu comandante e conselheiro, mas como seu irmão. Aconselho a selarmos um acordo de paz com a Núbia ou a Líbia. Com um acordo entre essa duas potências, nosso reino seria invencível a qualquer ataque hitita. Ramsés não foi um covarde ao selar um acordo de paz com os hititas. Ele foi sábio o suficiente para defender o povo egípcio de um exército que poderia tê-los dizimado.

— Minha sabedoria está na minha espada — pronunciou o rei. — Com nossos inimigos nós não fazemos acordos. Nossos inimigos nós massacramos. Que assim seja escrito, que assim seja feito.

Ergueu-se do trono, levantando os cetros e em seguida fechando-os sobre o peito. Os escribas ao lado do trono do rei, quietos observando a cena, abaixaram a cabeça e começaram a registrar o decreto do faraó. Elijah sabia que nada do que falasse faria o irmão voltar atrás com seu decreto.
Deu as costas e começou a sair.

A porta principal foi aberta. Sem ser anunciada, a princesa entrou na grande sala acompanhada de sua comitiva de guardas e damas, desfilando até o trono do irmão e olhando-o com seriedade. E não se curvou. Era uma donzela deslumbrante, com olhar selvagem e penetrante, um sorriso meigo e caloroso, mas um rosto que transmitia toda a ferocidade e realeza de uma autêntica egípcia. Seus trajes e suas joias aparentavam pesar mais que uma armadura de soldado, e o peso do ouro em seu corpo chacoalhava a cada movimento seu.

— Irmãzinha — disse o faraó, claramente aborrecido com a entrada da irmã. — O que a faz pensar que pode entrar assim na sala do trono?

As feições de sua face se tornaram um misto de dor e arrogância. Era difícil deduzir os sentimentos da princesa até que, friamente, ela veio a se pronunciar:

— A rainha está morta — um silêncio percorreu o local. — Nossa mãe se juntou ao faraó na pós-vida. Como a futura rainha do Egito, eu tenho o direito de entrar e sair da sala do trono quando for do meu agrado.

Por um tempo, a expressão do rei foi de tristeza. Mas em seguida, ao sentar-se novamente no trono, seu olhar não era mais de dor nem pesar. Seu semblante aparentava incerteza. Os nobres e sacerdotes se entreolharam e murmuraram entre si, até que finalmente ouviram a ordem do rei.

— Comecem os preparativos para a mumificação — delegou aos sacerdotes. — Que a rainha-mãe possa se unir ao marido, aclamada com todos os tesouros dignos da senhora das duas terras. Vejo que a lua finalmente se uniu ao sol. Mas me esclareça, com que direito, minha querida irmã, o seu ego e a sua prepotência a intitulam futura rainha das duas terras?

O olhar trocado entre os dois irmãos foi severo e duradouro. Ele não deu permissão, mas ainda assim, a princesa subiu os degraus até o trono e fitou-o desafiadoramente.

— Meu senhor faraó, temo que a princesa esteja em sua razão. É tempo de preparar a cerimonia de coroação. O Egito precisa de uma nova rainha para que a ordem cósmica seja preservada — alertou o sacerdote-mor, lançando um olhar curto entre o rei e a princesa. Niklaus franziu o cenho. — Como chefe religioso, conselho-o a validar o casamento com sua irmã antes dos setenta dias de mumificação do corpo da grande esposa real.

— Como chefe religioso, seu dever é unicamente cuidar para que nossas preces possam chegar aos deuses — afirmou o governante. — Antes que eu o mande conhecê-los pessoalmente. O Egito terá uma nova rainha, sim. Mas não será minha irmã.

Os sacerdotes declamaram sua insatisfação. A princesa, no entanto, proferia suas blasfêmias e insultos contra o irmão.

— Não ousaria! — disse ela notavelmente insultada e alterada, agora encarando o irmão Elijah, esperando algum pronunciamento seu. — O trono do Egito é meu por direito legal e divino. Ele não pode colocar qualquer uma de suas concubinas no trono. Você não pode fazer isso! Elijah, ele não pode

— Não somente posso como vou — argumentou. — E você não está em condições de me dizer como eu devo ou não reinar, irmãzinha.

— Se me permite, alteza — começou o sacerdote, antes de ser interrompido pelo chefe da guarda.

— Acho que todos vocês se esqueceram do que realmente é importante — falou com firmeza, atraindo todos os olhares para si. — Nossa mãe está morta, mas a única preocupação dos dois é quem ascenderá ao trono. Isso é uma mácula para a memória da rainha. Peço ao clero que dê prosseguimento aos preparativos para o sepultamento. E aos dois, peço para adiarmos essa discussão para mais tarde. Temos setenta dias para decidir quem será a nova rainha.

— Isso é uma total falta de noção, Elijah — expressou-se a princesa. — Convocar uma assembleia para decidir quem será a nova rainha quando o trono é meu por direito — apontou para o rei aborrecido. — Ele suja a memória da nossa mãe ao desejar desposar uma puta qualquer.

— Chega, Rebekah! — berrou o rei. — Esse assunto está encerrado. Guardas! Acompanhem a princesa até os seus aposentos, e certifiquem-se de que ela não sairá de lá por várias luas. No atual momento, sou capaz de dá-la por casamento ao primeiro vendedor de camelos que cruzar o meu caminho.

Ela se esquivou dos guardas, seguindo para fora da sala no mesmo passo arrogante com que entrara, acompanhada de sua comitiva. Em seguida, os sacerdotes e nobres foram dispensados pelo faraó, até que na sala real restassem apenas o rei na companhia de seu irmão.

— Quem diria que comandar um reino seria assim tão difícil — comentou, erguendo-se do trono.

— Ninguém disse que seria fácil, Niklaus — retrucou o irmão. — Ainda mais quando um rei se recusa a ouvir seus conselheiros.

A expressão de Niklaus endureceu.

— E o que quer que eu faça? — repeliu. — Que me curve aos conselhos de vários imbecis? Acredite, irmão, eu faço o que é melhor para o Egito. Recuperarei as nossas terras e farei a nossa nação grande novamente. Tudo o que foi perdido, tudo o que nos foi tirado voltará novamente ao nosso poder.

Partiram lentamente através do corredor que ligava a sala do trono aos demais cômodos do palácio, até que o faraó se encontrasse em seu quarto, o antigo aposento de seu predecessor. As pinturas de vegetação nilótica estavam adornadas entre as paredes e tetos do grande quarto. Nas três colunas colossais no centro do aposento estavam retratadas pequenas inscrições da vida dos antigos governantes. Na primeira delas, um breve relato da batalha de Kadesh, na segunda, a infância e ascensão de Merneptá e na terceira, por sua vez, uma pequena inscrição do início do reinado do novo faraó. Niklaus desabou sobre o leito.

— E a nossa irmã? — perguntou Elijah, com notável preocupação. — Você sabe que a partir do momento em que a múmia da nossa mãe entrar no solo sagrado do vale das rainhas, o povo exigirá uma nova esposa real.

— Mas que merda! — disse o rei, estendendo a mão para que um de seus servos o servisse vinho, em seguida, virou-se para o irmão. — Eu achei que esse assunto já estivesse encerrado. Rebekah não subirá ao trono ao meu lado. Você mesmo viu a euforia da sua irmã. Como eu vou controlar uma esposa que já é rainha por direito?

— Como desejar — Elijah assentiu em concordância, embora fosse contra. — Mas lembre-se, para toda escolha há uma consequência — se retirou do quarto em passos largos.

Durante os setenta dias de mumificação, por ordem do rei, todas as esposas secundárias e concubinas dariam suas melhores jóias como oferta para a rainha falecida, agora tida como uma deusa, para que esta pudesse olhar por todos. Ainda nos primeiros dias de preparação do corpo, todos os filhos da grande esposa juntaram-se aos servos divinos para assistir a mumificação da senhora das duas terras.

No fim dos dias estipulados para a cerimônia, as duas terras se reuniram no vale das rainhas para sepultá-la. Os filhos mais jovens acomodaram-se atrás do irmão mais velho, na entrada do vale, aguardando o sarcófago de ouro que gentilmente era conduzido até o interior da câmara, ao mesmo tempo que ouviam os servos divinos anunciando seus nomes e títulos.

— Anuncio-vos — disse o arauto, seguido com os olhares atentos da multidão em cada movimento seu —, a realeza egípcia. — ensaiadamente, príncipes e princesas legítimos caminharam até a entrada do templo, cada qual de acordo com o anúncio. — O sangue de Rá na terra, herdeiros divinos. O rei das duas terras, predecessor das duas coroas. Primogênito de Rá. Hórus vivo que caminha sobre a terra. O senhor do Baixo e Alto Egito. Rei falcão.

Posicionou-se à direita da múmia, e com um gesto pediu para que a multidão se levantasse. Á esquerda do corpo da rainha, esposas secundárias e filhos bastardos de Merneptá prestavam sua homenagem, sempre a um passo atrás dos filhos reais.

Em seguida, o arauto continuou seu decreto:

— O príncipe secundogênito, nascido da guerra, herdeiro dos campos; chefe da guarda real, príncipe Elijah. — foi então que Elijah se moveu para próximo ao irmão. O arauto continuou proclamando: — A princesa hereditária, herdeira das duas terras, nascida de Ísis; querida de Ptah, por ela o sol brilha. Herdeira do sul e do norte, a filha de Rá; a prometida do grande falcão, futura rainha do Egito.

Niklaus sorriu desdenhosamente, discreto, porém não tão discretamente que não passasse despercebido pelos olhares da irmã.

O rei e a princesa, sendo os dois filhos educados para o trono, recitaram os textos sagrados e dirigiram a cerimônia de abertura da boca da múmia, cada um segurando de um lado do antigo cetro da mãe.

— Sabe que quando tudo isso acabar eu serei a nova rainha — sussurrou para o irmão, relembrando-o. — Você é o rei, mas não pode ir contra a tradição.

— Eu não teria tanta certeza — disse ele, sem conter o sorriso malicioso ao contemplar o rosto em fúria da herdeira das duas terras.

Mesmo amando-a, tinha plena convicção do que queria. Rebekah não subiria ao trono ao seu lado, e isso era fato. Sua determinação falava mais alto que seu amor de irmão, afastando qualquer ideia de contrariedade. Já havia feito sua escolha. A nova rainha das duas terras sangue egípcio não possuía. Mas no coração do rei habitava.

Do alto das montanhas de areias, além do horizonte dourado, duas figuras corriam com cautela entre as rochas do vale e pouco a pouco se aproximavam do local da cerimônia. Assim que se chegaram mais perto, o rei de imediato os conheceu, entregou os cetros para a irmã e foi até a multidão, que abriu passagem para os guardas. Hotep e Chennar, os dois oficiais enviados como espiões ao acampamento hitita resfolegaram aos pés do rei, deixando cair as espadas.

Antes que o faraó perguntasse, Chennar apressou-se em responder:

— O rei hitita... marcha... com seu exército.

As palavras do soldado voaram de encontro ao rei, antes que este desfalecesse aos pés do faraó.


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Notas finais do capítulo

Enfim, não quero nem imaginar a raiva de vocês quando virem que nesse capítulo não tem nenhum momento Klaroline, rsrsrs.
Gente, como vocês perceberam, esse capítulo foi bem mais atento aos acontecimentos nos reino do que a qualquer outra coisa. Mas lembrem-se: tudo é necessário para que a história seja bem contada. E este capítulo, apesar de sem ação e sem romance, é bem importante para o resto da história.
Vou tentar responder alguns comentários antigos ainda hoje.
Beijocas.



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