Sherlock respirou fundo e começou:

– John, você é meu melhor amigo, mas eu fiz algo que você não sabia, algo errado. Eu roubei uma coisa sua. Uma coisa que não te fará falta, tenho certeza, mas que significa muito pra mim. Seu suéter listrado, aquele que você achou que tinha perdido, eu tenho usado como capa de travesseiro. É só uma maneira de sentir você mais perto. Eu nunca gostei das suas namoradas. Sempre monopolizando você, querendo acabar com a nossa amizade. Agora eu que quero acabar com a nossa amizade. Eu quero segurar sua mão e te levar comigo para todos os lugares, eu e você contra o resto do mundo! Nós não podemos mais continuar com isso, nós deveríamos ser... - alguém batia na porta. Sherlock suspirou, saiu da frente do espelho e abriu uma fresta. Era Mrs. Hudson.

– John já está lá na sala. Ele veio buscar o resto das coisas que esqueceu aqui. – ela avisou

– Eu já separei tudo. Caixa marrom, em cima da mesa.

– Mas Sherlock, você nem vai cumprimentá-lo?

– Hm, não. Estou ocupado no momento. Diga a ele que mandei meus cumprimentos à Mary. - falou fechando a porta.

Mrs. Hudson voltou à sala e entregou a caixa a John.

– Você aceita alguma coisa, John? Chá, biscoitos?

– Aceito chá, obrigado - respondeu - Sherlock está no quarto?

– Sim e ocupado, como sempre. Mandou cumprimentos à sua esposa.

– Ah, obrigado, vou transmitir.

Mrs. Hudson foi à cozinha e John ficou admirando seu antigo endereço. Encontrou o chapéu de Sherlock no chão. Aquilo lhe trazia tantas lembranças. Aproximou o chapéu do nariz e riu. Tinha cheiro de perigo, cheiro de Sherlock. Balançou a cabeça, como se tentasse espantar algum pensamento indesejado. Naquela hora, Sherlock resolveu aparecer na sala. O primeiro impulso de John foi enfiar o chapéu no bolso.

– O-oi, Sherlock.

– O conteúdo da caixa está completo? - foi direto

– Tudo certo. - disse John, sem nem mesmo olhar o que tinha dentro.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Sherlock resolveu dizer alguma coisa.

– John, você sabe que é meu amigo mais querido, mas... - travou. Definitivamente não era bom em expressar sentimentos.

– Mas...?

– Mas você não tem aparecido muito aqui, venha jantar de vez em quando. - disse esboçando um sorriso rápido.

– Tudo bem - ficou sem saber o que dizer - eu vou indo, então. A gente se fala.

Sherlock deu um aceno de mão sem jeito e observou John sair. Mrs. Hudson apareceu com o chá.

– Mas ele já foi embora? E quanto ao chá?

– Fica pra depois, Mrs. Hudson. - disse Sherlock, que logo se recolheu e passou a tarde deitado em seu travesseiro que cheirava à tranquilidade.

Já no táxi, John tirou o chapéu do bolso.

– É, ele não vai sentir falta disso - e se deixou apreciar o cheiro do perigo mais uma vez. Dentre todas as dúvidas que tinha, John mantinha a certeza de que nunca deixaria nada estragar sua amizade com Sherlock.