Três semanas em Storybrooke e a vida de Emma estava de ponta a cabeça. Decepcionou os pais. Bateu em uma garota que nem conhecia. Entrou tão rápido no time de rugby quando ficou machucada o suficiente pra se afastar dos treinos por duas semanas, no mínimo; sorte Mulan ainda tê-la aceitado mesmo estando tão próximo do primeiro jogo oficial pelo campeonato estadual e não para por aí: beijou o melhor amigo, tem duas semanas que foge dele por não saber o que dizer, não saber se pede desculpas ou simplesmente age como se nada tivesse acontecido. Está de castigo por tempo indeterminado pela primeira vez na vida, nunca tinha feito algo tão grave quanto socar a cara de uma garota até ela quase desmaiar - os pais de Tamara até entraram com uma ação judicial pra que Emma não ultrapassasse os cinco metros de distância da garota, o que lhe soou bastante irônico visto que não dava a mínima pra louca ex-namorada de Neal - e, o pior de tudo, não via Regina desde aquele quase beijo. A morena parecia fugir. Emma passou duas semanas indo sempre à porta da diretoria e nada. Ia à sala de música e nunca a encontrava. Perguntava por Regina para Henry, o garoto dizia que também quase não via mais a mãe, estava sempre cheia de trabalho e trabalho e trabalho, “sempre no escritório cheia de papéis da escola e problemas para resolver”.

Deitava na cama a noite e não conseguia entender como sua vida tinha se tornado tão confusa. Ainda nem entendia direito o porquê de tentar beijar Regina. Sim ela havia tentado beijar a morena em um momento de insanidade, um desejo maior que qualquer pensamento racional e ainda assim queria vê-la de novo. Queria perguntar a ela tantas coisas. Queria saber o que ela pensava. Lembrava-se do calor de suas mãos unidas, do contato visual que esquentava seus corpos quando mais próximo o contato de seus lábios, o porquê da morena ter virado o rosto no último segundo. Mas de alguma forma Emma sabia todas aquelas respostas. Estava apaixonada. Totalmente apaixonada por uma mulher, uma mulher dezoito anos mais velha, com um filho de quase treze anos, a diretora da escola onde estudava; filha única da intragável prefeita da cidade, uma mulher influente, família de nome e reputação intocável. Sabia que se Regina temesse algo seria a mancha que deixaria no nome da família, mas sabia também que a morena quase se entregara ao beijo, foi por muito pouco.

O que aquilo significava?

***

– Emma... - Mary Margaret bate na porta do quarto.- Desce, você tem visita! - Emma rola na cama, não queria receber ninguém. Levanta, olha o rosto no espelho e desce.

– Mulan! – Diz surpresa quando vê a morena sentada no sofá da sala.

– Hey, Emma...! Quase não tenho falado com você, está tudo bem? – A garota pergunta preocupada.

– Está..., Tudo certo, eu acho... – Emma responde meio desanimada se aproximando do sofá com dificuldade naquela botinha ortopédica horrível.

–Você sabe que pode contar comigo, né? – Mulan pergunta com seu melhor sorriso de consolo enquanto ajuda a loira a sentar.

– Na verdade eu sei e preciso conversar com você . - Emma vira-se para mãe que estava na cozinha: - Mãe, você se importa se eu e Mulan formos pro quarto? Temos umas coisas de garotas pra conversar. - Diz tentando parecer divertida. Mary Margaret apenas dá de ombros e as duas sobem. Emma arrastando o pé machucado e Mulan ajudando-a nas escadas.

– Então, o que é esse assunto de garotas? – A amiga pergunta curiosa sentando-se na cama de Emma.

Emma suspira sem saber direito como perguntar aquilo. Puxa o ar pela boca e pergunta de forma tímida e meio atrapalhada.

– Mulan... Como..., como você descobriu que gostava de garotas? -

Mulan sorri. A expressão sem jeito de Emma era divertida demais pra conter o riso.

– Bem... Eu gostava de garotos, ou achava que gostava, quando era pequena. Aos 11 anos fui apaixonada por um garoto do ensino médio, essas paixonites platônicas sabe. Daí, quando tinha 13 anos a aurora se mudou pra cidade com os pais, assim como você. Nos tornamos amigas, muito amigas, melhores amigas e com o tempo e a proximidade, não sei..., passei a vê-la de uma forma diferente.

– Diferente como? - Interrompe Emma tentando parecer não muito interessada.

– Não sei se você vai entender. Era como se eu a visse em câmera lenta. Eu reparava no sorriso, no jeito de jogar o cabelo, na voz meio fraca e doce, na expressão espantada que ela fazia toda vez que eu ia pra cima de qualquer garoto que desse uma de engraçadinho perto dela. Ela se divertia com aquilo, me abraçava forte e me beijava as bochechas, meu coração parecia que ia sair pela boca toda vez que ela fazia aquilo. Até perceber que aquilo não era uma simples amizade, mas percebi tarde e do pior jeito. - Mulan baixa a cabeça.

– Desculpa perguntar..., mas de que jeito foi? - Emma pergunta curiosa.

– Ah... Uns anos depois ela se interessou pelo Philipe, eu tentei afastar os dois dizendo pra ela que ele não era um garoto legal, que ele não a amava, tentei convencê-la, mas..., ela estava louca por ele, ele era incrível, bonito, o máximo, segundo ela. - Fala com uma expressão irritada. - Aquilo doeu tanto. Eu não gostava do Philipe, não gostava de vê-los juntos na escola, na praia, na rua, meu coração se partia, mas o que eu podia fazer? Ela parecia feliz então apenas tentei engolir tudo.

– Por que você nunca contou pra ela? Talvez se você tivesse contado vocês poderiam estar juntas agora...

– Eu tinha medo, Emma. Eu não sabia como ela agiria, eu não queria estragar nossa amizade, eu amava tanto estar perto dela. - As lágrimas enchem as órbitas da morena que tentava com esforço impedir que caíssem.

– Então eu resolvi me afastar. No começo Aurora insistia em saber o porquê, mas eu não nunca disse nada até que ela desistiu. Eu fui vivendo. Tentei transferir toda minha vontade de beijar Aurora pra outras garotas, os beijos eram bons, mas não me satisfaziam como imaginava que o beijo dela me satisfaria. Resolvi tentar com garotos e foi um desastre, eles definitivamente não me atraem. Hoje em dia Ruby tenta me animar. - Mulan dá uma pausa, seu rosto muda de expressão ao falar em Ruby. - Sabe por que o apelido dela é lobinha?

– Dão. - diz Emma.

– Ela uiva na cama, saca? - Mulan fala com um sorriso safado.

– Emma faz uma expressão de surpresa total. - Então, vocês duas tem tipo... Uma amizade colorida?

– Uma amizade com benefícios eu diria.

– Mas e Killian. Ruby o namorava, não?

– Sim, mas isso não impedia nossos benefícios. - Mulan sorri como se recordasse dos benefícios de sua amizade com Ruby.

– E a Aurora? Você poderia tentar se aproximar dela de novo e contar o que sente.

– Ahh..., Emma! Com o tempo ela foi ficando pra trás. É claro que ainda dói. Hoje ela deve me julgar a lésbica despudorada da escola, por influência daquele idiota do Philipe, mas eu não ligo. Acho que não tem mais como, passou sabe... – Diz com a voz meio fraca. Era obvio para Emma que Mulan se fazia de forte. Não tinha passado tão bem assim como ela dizia.

– Nossa... É uma história no mínimo sofrida. Mas até que você se deu bem, pega todas as garotas mais bonitas da escola. - Emma diz entre sorrisos.

– Menos você, né loirinha? - Mulan fala tocando o queixo de Emma.

– Qual é, Mulan.. - Emma diz desconcertada rompendo o contato da morena em seu queixo.

– Mas me diz, por que todo esse interesse? Não vai me dizer que está realmente interessada na diretora Mills como eu já suspeitava?

– Eu quase a beijei. - Emma fala apreensiva pela reação da amiga, mas não conseguia segurar aquilo sozinha, queria contar para todo mundo sobre ela e Regina.

– O queeeê???!!!! Você quase beijou a Regina???? A diretora??? A mulher mais gostosa dessa cidade???!!! – Mulan pergunta quase caindo da cama.

– Fala baixo! - Emma a repreende.

– Ok, me conta como foi isso pelo amor ou eu vou ter um ataque agora mesmo! – Fala de forma exagerada levando ambas as mãos ao peito.

Emma conta tudo que aconteceu na noite do incidente com a ex de Neal. Conta sobre os olhares que as duas haviam travado enquanto Regina cuidava de seus ferimentos, do café da manhã e principalmente do carro, do quase beijo, da forma como aproximou seus lábios dos lábios da diretora e de como quase consegui selar seus lábios nos dela. Mulan ouve tudo com o queixo caído. Sabia que Emma se interessava pela senhorita Mills, mas jamais, nunca, de forma alguma, imaginou que a loira pudesse alcançar o pedestal no qual Regina se mantinha longe de todos os mortais.

– UAU! E qual a sua dúvida, Emma? Ela quer beijar você, ela está interessada. Só está... Confusa, talvez.

– Eu sei, mas o que eu não sei é o que aconteceu comigo. Você acha que...

– Pelo amor de deus, Emma!!! - Mulan a interrompe. - Você está louca por essa mulher e ainda tem dúvidas quanto a isso?

– Não é isso, é só que... Que... ai.. Eu não sei o que fazer. Eu fico tentando vê-la, mas ela parece se esconder de mim, eu quero me aproximar, eu quero fazer parte da vida dela, eu quero que ela abra o coração pra mim. Eu percebi que poderia beija-la naquele carro, ela estava tão vulnerável, mas eu quis respeitar a vontade dela, sabia que deveria estar confusa..., eu não esperava que ela sumisse assim. E se eu realmente a beijar, o que eu faço depois? Eu numa estive com uma mulher antes e ela é uma mulher vivida, eu não sei por quais experiências ela já passou na vida, eu posso não ser o suficiente..., não sei, tenho medo e ao mesmo tempo quero tanto. - Despeja em uma única tomada de ar todas as suas duvidas agora sem medo do que Mulan pensaria.

– Caramba. Você está toda ferrada, garota. Olha Emma, você está muito afim dela e pelo que percebi não apenas afim, você está apaixonada, você que conhecê-la melhor, você quer que ela conheça você melhor, você quer ir pra cama dela, mas não sabe se daria conta, né?

– É. - Emma confirma balançando a cabeça positivamente com um leve bico nos lábios.

– Eu entendo isso. Você está com medo, ela também deve estar. Ainda mais por que você é uma adolescente, com certeza isso é algo que ela nunca imaginou que aconteceria. Ela é mulher, Emma, precisa de confiança. Se eu fosse você não cometeria o mesmo erro que eu, vai lá, não espera pra vê-la, vai lá e olha nos olhos dela, segura ela se for preciso e faz ela olhar pra você. Pensa sobre o que você quer dizer pra ela, o que você quer que ela saiba e fala com confiança, com segurança, com propriedade. Mostra pra ela que você não é uma adolescente qualquer que nutre uma paixão platônica pela professora. Faz ela saber. E quanto a você não saber o que fazer depois do grande beijo, não se preocupe. Apenas siga suas vontades. Toque onde você sentir vontade de tocar, beije onde você sentir vontade de beijar e deixa as coisas fluírem.

– Falando assim parece tudo muito fácil. – Diz num suspiro arqueando os lábios.

– É fácil. Você é uma garota de atitude, eu sei disso, eu sei que você consegue quebrar esse muro de vez. Vai com tudo pra cima dela, loirinha. Não deixa aquele quase beijo esfriar. Regina só precisa de uma pessoa doida o suficiente pra encostar ela na parede e fazê-la descer daquele pedestal. Vai lá e enlouquece! - Emma suspirou novamente. Tudo aquilo que a morena falava fazia sentido. E ela queria fazer aquilo, queria sair dali agora e ir correndo atrás de Regina, jogar a morena na parede, segurá-la forte, olhar nos seus olhos e dizer que jamais a soltaria. Queria fazê-la se render.

– Vou pensar sobre tudo isso que você disse. Na verdade... Não vou pensar por que pensar demais prejudica. - Diz sorrindo.

– Ótimo! - Mulan concorda. - Se é experiência que te falta tenho um presente pra você, Emma. Vou no carro buscar e já volto...

A morena saiu do quarto deixando Emma pensativa: “Um presente? Como assim? Nem é meu aniversário”.

Não demora muito e Mulan retorna com um sorriso no rosto.

– Aqui! - entrega à Emma um Pendriver.

– O que é isso? - Pergunta a loira sem entender nada.

– Um pendriver. – Responde com uma expressão de obviedade.

– Eu sei..., me refiro ao conteúdo.

– Você vai ver. Mas..., se quer um conselho, ponha os fones de ouvido antes de abrir os arquivos, ok? – Fala numa piscadela. – E se quiser companhia pra assistir eu posso vir aqui te explicar tudo. – Conclui com um sorriso safado, daqueles que dava par Ruby ao ver a lobinha servir a mesa no Granny’s abaixando-se o suficiente para Mulan checar seu decote.

– Mulan, isso é o que estou pensando? – Emma pergunta desconfiada. Mulan sorri.

– No que você está pensando, loirinha?

– Isso é pornô? - Pergunta abaixando o tom da voz.

– É. O melhor do pornô lésbico. - Fala com uma expressão entre o sexy e o irônico e continua: - Eu..., bem..., eu e Ruby costumamos assistir pra esquentar nossas noites. - Diz a morena num sorriso safado. – Assiste..., talvez te dê algumas ideias interessantes. – Sugere.

– Não vou assistir isso! Deve ser no mínimo estranho. Imagina..., eu assistindo pornô só pra ter ideias de como ir para cama com a diretora da minha escola.

– É, falando assim faz você parecer uma pervertida..., mas vai assistir sim. - Insiste Mulan. Emma apenas revira os olhos e põe o pendriver em cima do criado mudo.

Ficam caladas por dois segundos e Mulan resolve mudar de assunto:

– Amanha é o aniversário da Anna, ela te convidou no primeiro dia de aula, lembra?

– Lembro. Não vou poder ir..., castigo por tempo indeterminado tem dessas coisas. – A loira diz visivelmente chateada. - Mas meus pais irão. – Conclui.

– Poxa, chato isso. Mas você não vai perder muita coisa além de rir dos vexames de pessoas bêbadas no final da festa. Eu mesma não queria ir. Mas Ruby insiste que quer provocar Killian na festa e..., bem.., Eu tenho que estar lá pra defendê-la caso necessário. - Emma sorri divertindo-se ao imaginar a cena.

– Vocês realmente tem uma relação maluca.

– Sim. - Mulan confirma. -Então, loirinha..., pensa sobre tudo que conversamos, eu vou indo.

Emma levou a morena até a porta de casa, despediram-se com um abraço. A garota viu a amiga entrar na caminhonete, dar a partida e desaparecer no horizonte da rua, mas as palavras de Mulan ficaram gravadas em sua cabeça, cada palavra, cada vírgula, tudo aquilo Emma já sabia, de alguma forma sabia, apenas não tinha externado aqueles pensamentos, mas agora..., agora sabia o que queria fazer e não iria demorar muito para agir, sim..., estava apaixonada, totalmente apaixonada e não deixaria que aquilo simplesmente morresse.