– Nod, espera ai! – A voz de Anna já soava longe enquanto o garoto corria e saltava pelos telhados das casas.

Sem ao menos se virar, ele continuou a correr, mais veloz ainda, com saltos de tirar o folego.

Logo a garota se tornou uma diminuta forma, muito distante dele.

Os dois adolescentes eram parte de uma trupe de circo, treinada em habilidades de luta com facas e defesa pessoal.

Anna era inacreditavelmente forte e flexível, mas Nod tinha a habilidade de saltar mais alto do que os humanos comuns, quase como se estivesse flutuando por alguns segundos.

O chefe dessa trupe, Coelhão como era conhecido, havia escolhido Aaron como próxima cidade na qual se apresentariam.

A verdade era que eles eram pouco mais que um show de aberrações. Crianças e jovens com habilidades estranhas e incríveis, mas que eram excluídos pela sociedade.

Aquele era o refugio dos perdidos e esquecidos pelo resto do mundo.

Coelhão havia dito que eles explorassem a cidade em busca de um bom lugar para acampar, mas Nod não seguiu as ordens ao pé da letra. E Anna viera com ele, afinal, a garota era como uma irmã mais nova, não conseguia sair de perto dele.

Saltando pelos telhados, subitamente ele se moveu ate uma casa grande de pedra, com a aparência sombria. Antes que pudesse reagir, seu pé escorregou em uma buraco no teto e ele encontrou se caindo direto contra o chão de pedra.

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– AHHHH! – o grito do garoto despertou Mavis de seu estado semiconsciente. Mal conseguindo sustentar a cabeça, ela levantou o rosto e viu um adolescente caindo na direção dela.

Porem no ultimo momento, ele impulsou o corpo para a outra direção e caiu deslizando no chão úmido.

Ela tentou se mover, mas se arrependeu logo em seguida ao sentir as correntes rasgarem sua pele.

O garoto levantou no momento seguinte, pondo se de pé tão rápido que assustou Mavis.

– Ai, porcaria, mas o que... ? – Seus olhos correram pela sala. Em lenta e agonizante espera a vampira aguardou o momento inevitável em que os olhos do garoto cravaram-se nela, uma expressão de horror passando por suas feições.

Mavis pode observar o corpo do garoto chacoalhar da cabeça aos pés.

– O que aconteceu... o que é, quem é você? – Nod não podia conter a curiosidade transbordante de suas palavras.

A vampira simplesmente deixou seu cabeça cair em seu peito mais uma vez, desmaiando.

– Ei, não, espera! Acorda, vamos lá... – Nod se moveu ate ela rapidamente levantando seu rosto pálido. Sem demora buscou uma faca de bronze que sempre carregava em sua bota, começando a chocar a lamina contra as correntes que mantinham a garota suspensa.

Nesse momento, Anna mostrou o rosto pela abertura no teto.

– Nod, você esta legal?

– Eu estou bem Anna, mas essa garota não. Desça aqui pra me ajudar.

– Nod... Ela é, ela é uma...

– Pare de gaguejar e me ajude rápido.

A garota engoliu em seco e saltou, deslizando pela corrente ate em baixo da câmara.

Eles levaram a garota desmaiada para um canto da sala, tomando cuidado com as marcas de queimado por toda a sua pele.

Quando finalmente foi tirada do sol, Mavis tossiu um pouco e se moveu.

Anna estava assustada por alguma razão, porem o garoto não teve tempo de perguntar. Sua atenção estava na pálida jovem a seus pés, com tremores passando por seu corpo, deixando Nod preocupado.

– Nod, ela é uma vampira.

A voz de Anna eccou disante por um momento, ate que a realidade o atingisse com força.

Uma vampira. Isso era perigoso, muito perigoso. Se fossem encontrados ajudando uma dessas criaturas, a morte seria certa.

Mas olhando ate ela, os cabelos cobrindo parte de seu rosto, ela não parecia menos humana que eles.

Ele estendeu a mão ate sua bochecha, mas ela tossiu novamente, sangue espirrando por entre seus lábios.

O estado de seu corpo era deplorável. Grandes feridas vermelhas em todos os membros, bolhas estouradas em seu rosto e arranhões, provavelmente causados pela tentativa de curar-se e não conseguir cobriam seu pescoço e mãos.

– Temos que tira-la daqui.

– O que? Nod, você enlouqueceu?! – Anna parecia prestes a dar um soco no meio de sua cara, mas ele permaneceu firme, mesmo sabendo o quanto de força essa garotinha tinha.

– Escuta, ela precisa de ajuda, nos não podemos simplesmente abandona-la aqui, podemos?

Anna fechou os punhos e os olhos. Ela considerou as palavras de Nod.

Eu vou me arrepender disso.

– Esta bem, vamos, temos que voltar logo para dar o relatório a Coelhão.

Carregando Mavis em seus braços Nod saltou para fora, voltando logo depois para buscar Anna.

O sol já descia lentamente no horizonte. As sombras dos três adolescentes se destacava contra o céu ainda azul.

Essa seria uma viagem cheia de surpresas, Anna pensou, quando se aproximavam das luzes do acampamento.

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