Foi um trabalho longo e cansativo, que rendeu a Quinn vários momentos emocionantes, felizes e tristes, e pela primeira vez em anos, que a fez abrir um sorriso e a fez esquecer realmente o temor que seguia seu passado, havia lhe dado o perdão?

Valor e Quinn cresceram fortes, ágeis, e imperdoáveis, sim, eles voltaram a treinar.

Depois do acontecido naquele dia ela se viu responsável por ajudar o pobre pássaro, afinal às evidencias de que ele não tinha mais família eram tão altas que o animal morreria em pouquíssimo tempo depois de solto na floresta.

Ela o ajudou de todas as formas possíveis, cuidou de sua asa, lhe deu comida, calor, abrigo e principalmente, amor.

O treinamento era diário, eles saiam de casa logo quando o sol raiava e voltavam ao sol poente.

Podia se dizer, somente de ver os dois juntos, andando pelo mercado, treinando durante o dia ou à tarde, que eles faziam uma ótima dupla.
Ele parecia saber o que ela falava, ela, parecia entender a língua dos pássaros.

Na verdade, talvez entendesse, o convívio deve ter dado essa habilidade, mas ela nunca falou mencionou ou algo assim durante toda a sua vida.

O tempo voava, assim como as folhas caem em uma manhã fria de inverno, o tempo passava.
Assim como a virada do ano, o tempo voava.

Faltavam alguns dias, somente alguns dias, até o Rei Jarvan abrir aquela competição.
O exército de Demacia necessitava de novas pessoas, e Quinn estaria esperando aquilo a sua vida toda, treinara para aquilo a vida toda, perdera o irmão por aquilo, mas agora com Valor, ela havia retomado sua confiança, sua vontade, seu enorme desejo por aquilo, e iria tentar, novamente, a não abandonar aquele sonho.

Não tão perto de alcança-lo.

...

Quinn entrou no quarto sem muito aviso prévio, estava atrás de Valor, ele havia sumido logo ao amanhecer, não pensava que ele havia fugido e sabia que uma hora voltaria, mas aquilo era... Simplesmente estranho.

Havia procurado por toda casa e andando um pouco pela fazenda e até mesmo ido a cidade atrás dele.

Nada.

Foi então que uma pequena imagem lhe passou a cabeça.
Quando mais nova, ela e o irmão adoravam ir além da janela e sentar em uma pedra mal localizada do lado de fora da casa.
Cair era quase inevitável, mas nunca havia acontecido.
Não sabia mais se conseguia passar pela janela, mas ao menos poderia ver se ele estava...

Trunfo.

Ele estava lá, parado, olhando para a cidade, para o além, bem longe.
Não. Ele estava olhando para o nada, preso em seus próprios pensamentos, pensamentos que talvez um humano normal não entendesse.
Nem mesmo Quinn, que aprendeu a língua das aves e suas emoções o entendia bem, havia dias que ele parecia tão... Distante, tão... Diferente.

— Valor? – Quinn o olhou de forma carinhosa, mas ele não parecia corresponder, a olhando com um vazio – Valor... Eu sei que ultimamente você tem sentido falta da sua família, mas eu nunca mais os vi Valor. Eu sou sua família agora, tudo bem? Hoje é o nosso dia, nosso dia especial, então, por que não se anima? – Ela sorriu alegremente, Valor piou em resposta, parecia mais animado ao menos. – Vem, eu tenho um presente para você.

Quinn saiu da janela e Valor veio voando logo em seguida era realmente um lindo pássaro, suas penas já haviam se formado completamente, mas ele ainda era jovem e a tendência era somente de mudar ainda mais.
Penas azuis tocavam todo o seu corpo em um belo ritmo que o deixava lindo, sua barriga e algumas penas da ponta de suas asas eram um roxo apagado, o contorno de algumas penas roxas clamavam por atenção, tais, eram douradas.
Uma bela noite de luar era o que aparentava ser, deixando para trás uma tarde estranhamente agitada.

A roupa para a noite especial já estava pronta, um baile do Rei Jarvan III seria somente uma mascara para algo maior.
A seleção dos próximos guardas do Rei.
As pessoas seriam escolhidas a dedo pelo Rei, e no final do baile seriam mostradas aos guardas e treinadores.

As mesmas seriam treinadas para proteger o Rei, entretanto teria uma terceira fase.
A de enfrentar os próprios colegas.
Após treinados, iriam para o campo de batalha onde lutariam até quase morrer, o Rei daria o sinal para parar e aquele que vencesse, passaria para a próxima fase.
Três oponentes era esse número o número da sorte.

Depois deles, nada estaria na frente do sonho de servir a guarda real.

Demacia precisava de heróis, e eles, se encontravam dormindo.

— Ei Valor, vem cá, deixe-me ver se isso servirá em você.

Uma pequena roupa para seu amigo.
Uma armadura que cobria o peito, totalmente nova, brilhava em branco vivo.
Combinando com a roupa de sua dona.

A festa era esta noite.
A roupa de Quinn quem havia feito era sua mãe com o dinheiro que a filha havia ganhado ajudando as pessoas na cidade.

Sua roupa era delicadamente costurada.
Seu umbigo estava à mostra, seu peito era com um tecido roxo apagado, havia um triangulo logo abaixo dourado com detalhes brancos, como se fosse galhos de flores, um pano branco descia por suas costas e nádegas e formavam uma capa, em sua cintura vinha uma faixa azul que formava um cinto, cobrindo sua parte intima.
Uma jaqueta azul cobria seu ombro e braços, onde na gola havia um símbolo de um pássaro dourado.
Sua cabeça era coberta por um diadema banhado por ouro, valioso, mas não suficientemente para ser roubado, havia pintado seu cabelo de roxo, não, ninguém iria reconhecê-la!
Em seus pés havia uma bota de couro com salto alto, em seu tornozelo a bota se revelava amarelo claro, em suas coxas o tecido se dividia para cada perna, atrás era azul claro, na frente, branco com a ponta azul.
Quinn estava bela.

Não, bela era pouco para tal aparência naquele momento.
Sublime, estupenda.

Não seria a atração da festa.
Mas iria fazer de tudo para ser notada pelo Rei.

E como qualquer boa dama, uma arma escondida em sua roupa.
Em seu cabelo, em sua bota...

Ela se vestiu, a festa era em duas horas.
Duas horas de pura agonia do lado de fora, tendo certeza que o convite não era falso.
Aquele convite havia sido entregue para o Reino todo, todas as casas iriam enviar somente um representante, em sua maioria homens, todas as pessoas em Demacia podiam ser do exército real.
É claro, se treinassem.
Ou se não, estariam mortas, ou feridas gravemente.

~...~

Na porta do castelo, o sino tocou.
Forte, alto, anunciando o início da festa, a noite demonstrava a escuridão e a lua com suas estrelas faziam a iluminação juntamente com as lamparinas.
Na porta, a alta classe era vista, e para os homens mais atentos, e menos atentos, Quinn acabava por chamar atenção.
Aquela roupa havia algo errado nela? Ou seria sua forma de andar?
Há claro, como esquecer? Era o pássaro devidamente vestido e comportado em seu ombro.

Mulheres e homens mascarados eram encontrados do lado de fora, evitavam olhares entre uns e outros.
Na frente da porta para o Palácio, havia três homens que verificavam os convites, a Quinn entregar o dela para eles, a pergunta veio instantaneamente.

— Esse pássaro é verdadeiro?
— Sim, entretanto não causará confusão.
— Assim espero. – E lhe deram passagem.

Mulheres com longos vestidos de todas as cores e tamanhos, homens de gravata e terno eram visto por todo o salão de dança, comida e bebida circulavam por entre as pessoas pelos garçons ali presentes.

Não causar pânico sem necessidade poderia ser o logo de Demacia, infelizmente não era.
Guardas Reais estrategicamente posicionados em cada canto da sala, apesar de tudo, era uma festa e quem tentasse estragar ela, iria pagar caro.

~..~

— Os superiores não irão descobrir Talon, iremos apenas investigar nosso inimigo, é uma festa, somos de Demacia e estamos apenas indo nos divertir como as outras centenas de pessoas lá dentro, certo? Entraremos, iremos nos camuflar, puxar alguém para dançar e ficar de olho no movimento dos guardas.

Uma garota de cabelo ruivo proferia as palavras, seu cabelo estava com uma mecha de cabelo preto atrás em uma presilha dourada, olho verde com uma cicatriz que era escondida por uma delicada máscara preta, totalmente adornada com prata e vermelho , um vestido preto delicadamente decorado no busto e em suas mangas, pulseiras, brinco e colar se destacavam em pleno ouro, sua pele era branca como uma nuvem, e salto alto preso em seus pés davam um ar quase de autoridade.

O garoto respirou fundo, não, aquilo não era de sua vontade.
Queria estar treinando ou fazendo qualquer outra coisa do que estar naquela festa.

— Eu ao menos posso matar todos se não der certo, Katarina?

O homem vestia um traje de gala, paletó e um sapato social, fora sua mascara preta sem nenhum detalhe, que cobria todo o lado direito de seu rosto, deixando somente sua boca e uma parte de seu olho aberto, a parte do olho seguia e cobria o outro lado, era quase como a mascara de um assassino, seu cabelo marrom estava preso atrás com duas mechas formando um rabo de cavalo e o resto solto.
Obviamente ambos estavam armados até os dentes, prendedores eram armas, fora as facas, lâminas e adagas no corpo deles, estrategicamente escondidos.

— A claro Talon, como se você fosse conseguir sair vivo depois disso, vamos de uma vez.

E eles foram para a entrada de braços dados, um suposto casal apaixonado.

~..~

Se você olhasse com cuidado, era possível ver alguns rostos famosos e conhecidos.
Lux, a irmã de Garen, conhecida também como “A Dama da Luz” estava conversando esteticamente com seu namorado, Ezreal, um explorador.
Garen estava de guarda ao lado do Príncipe, Jarvan IV.
O Rei se sentava em uma majestosa cadeira vermelha contendo em cima o símbolo de Demacia, ao lado de seu filho, ambos completamente bem vestidos com malhas, peles, tecidos.

“Parecem dois metidos que ficam falando de bolo o dia inteiro” Foi o que Quinn pensou, e sorriu com esse pensamento, mas não mencionou nada, Valor pareceu notar ao se abaixar e olhar para ela, mas não estava lá para arranjar encrenca, e sim poder finalmente cumprir seu tratado com Calleb.

Foi até uma mesa e pegou uma taça de vinho, não gostava muito do gosto, entretanto era só para passar a noite, somente no final da noite iriam chamar aqueles que eram os “premiados”

Fora da multidão, dava para ver uma pequena Yordle no canto da sala, Poopy era seu nome, uma Ferreira muito respeitada, do outro lado da sala estava Xin Zhao, muitos o chamavam de “ O senescal de Demacia” Sim, soava estranho, mas não podia ser falado nada, ele era respeitável e bondoso em certa parte.
Segundos depois desse pensamento, se ouviu um estrondo na porta que fez a música ser parada de soar e os casais pararem de dançar.
Miss Fortune, a caçadora de Recompensas de Bilgewater.
Convidada pelo Rei Jarvan para garantir que não haveria problemas em relação a coisas roubadas.
Bom, ELA parecia ser o problema.
Preferiu chamar ela em vez da Policial Caitlyn para não arranjar maiores problemas, e também porque em Piltover, Jinx estava arranjando “pulga para se coçar”


— Olá meus queridos, desculpa atrapalhar a festa com tamanho estrondo, mas não acreditaram que eu era convidada, então passei a força, Rei Jarvan, pelo amor! Fale para eles que me convidaste.

O Rei se levantou e pode-se ouvir sua voz rouca, firme e quase cansada se pronunciar.

— Ela é minha convidada, e não irá atrapalhar a noite de vocês.

E se calou, o salão inteiro se calou e ele se sentou.
Ao ver melhor, foi possível notar que Miss era ruiva, cabelos encaracolados e presos na ponta, usava um vestido roxo com detalhes de flores lilás, usava duas armas douradas, meio antigas.
“Tenho a leve impressão que me daria bem com ela, mas não irei me meter por enquanto”.
Ao se virar, Quinn deixou o copo depositado na mesa, não havia dado um gole, não iria dar.

— Gostaria de dançar comigo? – Valor se mexeu no ombro da garota, quase que reprovando o encontro.
Ao se virar, Quinn viu um belo rapaz de cabelo marrom.
Quem era? Não o reconhecia.

Ela sorriu, e aceitou a mão estendida do homem desconhecido.

~..~

“Aqueles sem mascaras não vieram para se divertir “
Tais palavras repetiam em sua cabeça, falas da assassina que veio com ele.
Enquanto Katarina havia tirado um homem mais velho para dançar, Talon preferiu uma garota reservada que carregava um pássaro em seu ombro.
Suspeito? Não, nem um pouco.

A música clássica ecoou forte, firme, enquanto os dois dançavam delicadamente no canto da sala.
Até que a garota proferiu a palavra, não que importasse, mas havia algo de errado.

— Eu não o conheço em Demacia, é de outro lugar?
Foi então, que havia pegado no “Calcanhar de Aquiles” dele.
Outro lugar, que outro lugar podia ser...

— Minha moradia é Piltover, mas fui convidado para tal festa maravilhosa. – Ele chegou mais perto do rosto de Quinn e sussurrou em seu ouvido – E você não parece da nobreza de Demacia, a quem quer enganar, criança?

Quinn ficou pálida, quem... QUEM ERA ELE?!

— Vamos, não se assuste querida, é notável que não age como os ricos de Demacia, você veio do campo, sua força mostra isso.

Gelada, gelada, a música parecia tocar mais baixo e a voz dele parecia se sobrepor a tudo.
O raciocínio de Quinn não funcionava, e o que salvou a garota foi seu amado parceiro.
Ao notar o desespero da dona, bicou o rosto daquele desconhecido, o fazendo sangrar.

~..~

A mulher ruiva dançava com um homem de aproximadamente 55 anos, ou mais, os passos eram lentos pela idade do senhor, mas havia escolhido ele pelo simples motivo de tentar encontrar o seu secreto amor.
E o avistou como não o tinha visto antes, ao lado do Príncipe.

— Com licença senhor, terei que me retirar por um momento, espero poder encontraste em outro momento – Mentira– Então, agradeço pela dança, até mais ver.

E se pôs a andar, para frente, para seu amado poder vê-la, poucos a reconheceriam, mas ele iria.

O encontro dos olhares só demonstrou uma coisa: Desejo.

— Com licença vossa Majestade, preciso me retirar por um instante.

O Rei fez um aceno o liberando, e ele saiu de encontro com a sua amada, que saia ligeiramente para um canto mais escuro da festa.

Ao se encontrarem, ela sorriu para ele, um doce e amável sorriso.

— Olá Garen. – Ela se pendurou no braço dele, quase o abraçando, seu vestido rodou a ela se virar, uma princesa doce e inocente era o que ela parecia.
— Katarina o que você está fazendo aqui? Você... Você vai acabar se matando assim.

Ela colocou sua cabeça sua cabeça no peito dele e falou meio baixo.

— Vim lhe ver, o que mais estaria fazendo aqui?
Katarina se pendurou no pescoço de Garen, o forçando a abaixar, e o beijou, seu beijo era tão doce que o açúcar mais doce do mundo, o doce mais gostoso não chegava aos pés daquele doce beijo.

— Katarina, você não pode ficar... Você... – Ele a amava, ele queria ficar com ela, mas algo o impedia. Algo gritava em sua alma que não podia. – Katarina, eu irei dar uma passagem para você e -

Um grito de um homem que parecia um xingamento, seguido por um granir de um pássaro interrompeu a fala de Garen, que sem pensar duas vezes falou para ela.

— Irei abrir um caminho, saia daqui!
— Garen! Espere!
Ele saiu correndo para a origem daquela pequena confusão

~..~

— Seu pássaro filho da Puta! – Ele jogou o pássaro longe.
— Valor! Seu desgraçado, o que pensa que está fazendo?! – Ela deu um soco no peito dele e correu para ajudar seu pássaro.
As pessoas somente observavam sem fazer nada, algumas agarradas a seus parceiros, outras se afastando sozinhas.
E Garen se aproximou da confusão, o que estava realmente acontecendo?

Talon ao ver Garen se aproximar, saiu correndo para as sombras, e por estar escuro, ninguém o viu saindo pela janela alta do castelo.
Aquilo havia sido quase, ele realmente esperava que Katarina tivesse se dado melhor que ele.

Garen ajudou a garota a se levantar e ao ver que não usava mascara, sabia de quem se tratava.
Quinn agarrou seu pássaro em um abraço.

— O que ouve garota, quem era aquele homem? – Garen perguntou para a menina enquanto via sua amada andar lentamente para fora da festa.

— Eu... Eu realmente não sei.