A porta foi batida com força, não propositalmente. A lua banhava os campos de plantação e enchia a casa de uma luz doce, branca, pálida e limpa, não que precisasse, a casa tinha iluminação e era aconchegante, duas crianças se encontravam ali, afinal, um pai e uma mãe de família, uma casa comum de um camponês alegre, e eles tinham voltado de mais um dia trabalho no campo.

– Caleb você viu aqueles guardas que passaram hoje de manhã aqui perto? Eles estavam armados, todos com pelo menos uma espada! E você viu que o Rei vinha na frente de todos?! Talvez estivessem voltando de uma longa jornada onde tiveram que matar Noxianos e outros inimigos perigosos! – A garota falava hipnotizada, saiu pulando na frente do irmão, ela agora andava de costas para poder olhar para o irmão enquanto falavam sobre o assunto, seus olhos amarelos mostravam animação e alegria, afinal, falava sobre algo que realmente ela gostava e se interessava muito, e seu irmão não parecia menos interessado.

–Eu vi! Suas espadas eram do tamanho de seu corpo ou até maiores! E eles tinham poses firmes, como se a qualquer movimento que eles vissem a qualquer momento os fizessem partirem para a ação! Ou até mesmo como se qualquer um que ousasse tocar no rei fosse cortado ao meio pelo primeiro que conseguisse alcançar o suposto inimigo! Eles são incríveis!

O garoto falava tão animado quanto sua irmã, se olhos que não os conhecessem pudessem olhar por outro ângulo, falaria que eles eram a mesma pessoa ou até mesmo um clone, bom, era algo parecido, eles eram gêmeos, vindos do mesmo ventre no mesmo verão e com pequenas horas de diferença. Porém os gêmeos se davam perfeitamente bem.

Ambos eram realmente bem parecidos, tinham cabelos marrons, olhos amarelos como os de uma cobra a espreita esperando sua presa, a pele branca como a lua pálida que ilumina um campo cheio de tulipas rosa, porém eram tão iguais quanto diferentes em aparência e atitude, apesar de gostarem da mesma coisa e terem o mesmo sonho. A garota tinha o cabelo na altura do queixo, já o garoto tinha o cabelo da altura do início da orelha, ambos, como crianças, não tinham muita diferença de corpo, porém no garoto já se notava um pouco de musculação a mais que na garota. Tinham a mesma idade, porém a garota era apaixonada por ataque a longa distancia, e desprezava, nem que fosse um pouco, a luta corpo a corpo com a espada, já o irmão era apaixonado pelo poder que uma espada poderia lhe dar e não tinha interesse pela luta a longa distancia, como se fosse uma desonra a si mesmo não olhar diretamente nos olhos do inimigo e tremer com o beijo que a morte lhe propunha.

No fim, realmente eram bem diferentes.

–Caleb, Quinn, parem com essa bagunça e vão se lavar a comida logo estará na mesa. – Falou sorrindo

– Está bem pai – Foi algo sonoro, ambos falaram ao mesmo tempo e saíram correndo pelo resto da casa até chegar ao banheiro.

– Eles ainda nos darão muito trabalho – A mulher falou, desligando a ultima panela que ainda estava no fogo e beijando seu marido. – Mas esse interesse deles pelo exército me deixa preocupada...

– São crianças querida, quando crescerem verão que isso é puro sonho, um sonho impossível de acontecer. Somos camponeses, e camponeses não podem nem chegar perto do exército, quanto mais de fazer parte de um deles.

Ele tinha mais coisa para falar, mas não havia mais tempo, as crianças tinham voltado à sala, e esperavam ansiosas pela janta deliciosa que a mãe fazia.

Pode se dizer que a característica dos gêmeos, o cabelo roxo, não foi dada pela mãe, e sim pelo pai. A mãe tinha longos cabelos negros, sua pele era branca e limpa, seus olhos, amarelos, eram idênticos ao dos gêmeos, e como ela preparava a janta, estava de avental, um avental branco que se destacava do cabelo, por baixo tinha um vestido azul escuro e havia tirado as luvas de cozinha para finalmente, poder jantar.

O pai tinha os cabelos roxos, ninguém soube como os gêmeos pegaram a característica do roxo já que a mãe, com seu cabelo preto, tem a característica mais forte, porém, pegaram. Diferente das crianças e da mulher, o homem tinha a pele um pouco mais escura e manchada por culpa do Sol, seu porte físico era forte e tinha músculos, usava uma camisa com a manga dobrada, a mesma estava um pouco rasgada pelo trabalho que faz todo dia, usava uma calça marrom e botas de couro.

– Lavaram as mãos? – O pai falou sorrindo

– Sim! – As crianças se sentaram correndo

– Então vamos ao melhor da noite – A mãe disse quase rindo, porém com um sorriso gentil no rosto – A janta! Hoje nosso prato principal é carne ao molho.

As crianças riram da atitude da mãe e se puseram a comer, não eram ricos, mas adoravam o modo que viviam.

Todos terminaram a janta e saíram da mesa. O pai foi tomar banho, a mãe lavar a louça da janta.

– Quinn? – Caleb falou procurando a irmã que avia sumido depois da janta – Onde você está Quinn?

O garoto procurou por todos os cômodos da casa, quartos, sala, cozinha, banheiro, porém nada da irmã, então, em uma ultima tentativa, lembrou-se de um lugar que não ia há um tempo, o telhado.

Foi para o seu quarto e sumiu na cômoda que ali havia, saindo por uma pequena janela que dava para o telhado. Olhando para os lados não viu nada, porém de repente ouviu uma voz, uma voz doce cantante. As pressas subiu de qualquer jeito e fechou a janela, logo avistou de quem era aquela voz.

– Quinn? – O garoto falou em duvido, não pareceu a irmã

– Hum? O que foi? – Quinn virou sua cabeça, olhando para os olhos do irmão.

Porém, não teve movimento do irmão, poderia ser que ele estivesse dormido, ou apenas já estivesse sonhando, porém na irmã ele viu.

– Um anjo... – Falou baixo, quase um sussurro, o vento começou a bater no cabelo dos dois, o cabelo do garoto indo para frente, e o da garota para trás.

Aos olhos de Caleb ele havia visto na irmã longas asas em suas costas, asas azuis, brilhantes e refletidas pela luz da Lua, seu cabelo levado pelo vento como se o mesmo estivesse abraçando ela e a convidando para se juntar a ele e ir para um lugar longínquo, seu vestido branco era levado junto ao cabelo pelo vento, transformando-a em um perfeito anjo, porém, só por pequenos segundos.

– Caleb, oi, tem alguém ai? – Quinn falou se levantando e ficando de frente ao irmão – Parece que você viu o fantasma do antigo Rei de Noxus.

– N - Não é nada – Falou virando a cabeça, um susto, coisa incomum, porém quando se está em volta de coisas da sua mente, isso era coisa fácil de acontecer com Caleb. – Vamos para dentro, papai está nos chamando.

Caleb abriu a janela e entrou, a irmã foi em seguida, ainda em dúvida pelo motivo da mudança repentina de atitude do irmão.

Ao entrarem no quarto o pai já estava de prontidão na porta, era hora de dormir.

– Vamos vocês dois, já para a cama – Sorriu, não estava bravo apesar do tom de autoridade, somente tinha aquela postura naturalmente.

As crianças se deitaram em suas camas, porém não tinham sono, o pai não demorou a sair.

– Caleb, você acha mesmo que um dia vamos entrar para o exército Demaciano? Às vezes me pergunto se isso é só um sonho...

Caleb se levantou.

– O que é isso de repente Quinn?! É claro que vamos, e seremos os melhores de lá, iremos mostrar para todos que se uma pessoa realmente quiser algo, ela poderá conseguir. – Falou animado, estava tentando encorajar a irmã, apesar dele mesmo ter duvida do que afirmava.

– Você está certo, mostraremos para eles que não somos qualquer um – Mostrava os punhos fechados enquanto falava como se estivesse pronta para ir a briga.

Ambos riram e com medo do pai ouvir, fecharam os olhos apressadamente, em poucos minutos ambos estavam dormindo.

Sonhos de crianças são simplesmente belos e delicados, porém pesadelos não, e quando o pesadelo é ver você mesmo em certa situação, se torna quase um desafio ficar dormindo.

– Não! – Gritou assustado, estava suando.

– Caleb, o que foi? Tudo bem? – Quinn havia acordado com o grito, porém já estava sentada e com o coração na boca.

Caleb agora estava sentado com a mão na cabeça, não estava chorando, mas a vontade era enorme. Os pais deles não demoraram chegar, também haviam acordado e se assustado com o grito.

– Caleb! O que foi?! – O pai falou afobado, entrando apressadamente, quase derrubando a porta que ali havia, a mãe dos dois veio atrás.

– Eu vi... Eu estava morto, sem realizar o meu sonho, e a morte... A morte veio me buscar, falando que não tinha mais chance para mim, que era para eu desistir de... – Suas palavras foram interrompidas.

– Caleb! Foi um sonho! – Quinn falava olhando para o irmão, agora segurava a mão dele com toda a força que tinha, o encarava, fria. – Você não vai morrer! Não antes de entrar no exército! Se for para você morrer, você vai morrer segurando uma espada e lutando contra Noxus, ao lado de outros guerreiros!

– Sua irmã está certa, foi só um sonho, nada vai acontecer com você, tente voltar a dormir – O pai o encarava, falava firme, mais frio até que Quinn, a mãe agora, estava sentada ao lado de Caleb.

– Sim, foi só um sonho, tente voltar a dormir Caleb, não se esqueça que amanhã vocês tem um trabalho duro pelo dia – Sorria, aquele sorriso doce que fazia qualquer um se derreter, Caleb olhava para ela, parecia ter se acalmado.

– E amanhã vamos ajudar o papai, lembra? – Quinn agora sorria, estava animada, os pais estavam saindo do quarto.

– Então tratem de dormir, teremos o dia cheio amanhã.

E eles saíram, Caleb deitou na cama parecia ter finalmente se acalmado e agora dormia. Quinn diferente dele, não.

– Morrer... Isso é impossível, não vamos morrer antes de ir para os campos de Demacia e lutar ao lado de todos os guerreiros contra os Noxianos – Pensava, olhando para o teto, não tinha vontade de dormir, mas o sono falou mais alto, e naquela noite, seus sonhos foram turbulentos.