Falando de Flores escrita por Arabella


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Ontem a Bella disse que estava em abstinencia de valendel e me toquei que vai fazer duas semans que não posto. DESCULPE!
Totalmente não intencional, é que é CARNAVAL. Coisa linda. Sem escola.
Tenho que parar de enrolar vocês nas notas. Oh, adorei saber que gostaram do Dan! Eu tô muito feliz. O numero de leitores e de visualizações tá crescendo muuuito rápido e to adorando isso. Vamos fazer assim, quando a fic alcançar 500 viasualizações (ta quase chegandoooo) ou 10 pessoas acompanhando (ta quase chegando 2), farei capitulo duplo.
Agora vão ler logoooo



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“Coloquei a marcha do carro em ponto morto e olhei para ele. Como era belo. Sei que este não é o adjetivo mais usado para elogiar a beleza de um garoto, mas ele era."

John Green (A Culpa é das Estrelas)

– Três irmãos? – ele perguntou.

Afirmo com a cabeça. Já andamos uns cinco quarteirões. Comecei a desconfiar de onde ele está me levando para comer. Havia passado nesse caminho mais cedo e planejava voltar mais tarde para ver algumas pessoas. Mas fico calada, faz tempo, pode ter mudado de lugar.

– Que mal te pergunte, mas quantas vezes sua mãe foi casada?

– Casada, casada mesmo? Acho que duas. Ela teve a Manu na faculdade, com um namorado. Não gosto muito de me manter nessas coisas. Ela se casou com o pai do Guilherme e ficou viúva logo. Pouco tempo depois, nasci. Sei que houve uma festa de casamento, mas nada de civil. – não é um assunto que eu goste muito de falar, até porque é difícil de explicar. – Nunca entendi minha mãe, se ela se apaixona e desapaixona toda hora. O caçula é o Lucas, é o que eu me dou melhor. Tem 3 anos e também me dava muito bem com o pai dele, era um cara legal. Durou até um meio ano atrás. Agora ela está dando ma de pedófila e pegando ex alunos.

– A sua mãe é... – ele parou, procurando uma palavra. – diferente das outras mães.

– Em todos os sentidos, pode falar a verdade, não me importo.

– Não se dá bem com ela? – ele perguntou curioso. – É por isso que dissestes que não queria voltar para casa aquela hora?

O encaro e meu olhar disse tudo, ele balança a cabeça compreensivo. Me falou que estávamos quase chegando e perguntei um pouco sobre ele. Suas respostas eram todas curtas e diretas. Estava doido para chegar a faculdade de se mudar pra longe. Não fazia a mínima idéia de que curso escolher. Sua matéria preferida era inglês, comia hambúrguer quase todos os dias, começou a tocas violão aos sete anos e achou minha risada engraçada. Espera, o que?

– O que tem de errado na minha risada? – parei de andar.

– Nunca disse tinha algo errado, só que era engraçada. Primeiro você dá uma risada longa e depois curtas como se estivesse soluçando. – ele deu de ombros. Oh, céus, aquele dar de ombros estava me fazendo mal.

– E o que isso tem de engraçado? – perguntei intrigada.

– É natural. A maioria das garotas, inclusive tua prima, toma cuidado extremo para não rirem assim.

– Era para eu me sentir ofendida? – estreitei os olhos.

– Não, não – ele se apressou –, de modo algum. Eu sou péssimo com garotas. – botou as mãos no rosto. – Acho que era para ser um elogio, acho sincero e charmoso.

Comecei a rir de sua confusão. Tentei parar a risada, mas não consegui e ele pareceu confuso.

– Desculpe. É que você fica engraçado quando se enrola. E não consigo imaginar que seja péssimo com garotas.

– De boa. Mas por que não? Elas... elas me deixam nervoso.

– Acho que você é meio vazio de si, não percebe como afeta elas. – essa mania minha de pensar alto.

– O que isso significa? – ele perguntou e viramos uma esquina.

– Err... Bem, eu quis dizer. – eu me embolei. – Ontem você estava todo seguro cantando e não conseguiu perceber todas as garotas com os olhos vidrados e admirados em você? – disfarcei. Não poderia dizer sobre a Liv, não, mesmo que esteja na cara.

– Mas é justamente isso – ele falou parando subitamente de um modo que quase derrapei. – É como se elas admirassem algo que não conhecem. Fora que eu fico nervoso só de pensar em me aproximar de alguma.

– É a segunda vez que alguém fala de garotas como a terceira pessoa que esquecem que eu sou uma. – bufei.

– Claro que eu sei. – ele defendeu. – Não é o tipo de coisa que dá pra esquecer. Mas você é diferente. – abri a porta da pizzaria em frente, mas ele me impediu. – Não me venha perguntar diferente como, porque ainda não sei.

– Mas e a Liv? Me pareceu que vocês eram bastante próximos e você não aparentou nervoso e tudo mais. – Opa.

– Ah, a Liv é minha melhor amiga. Somos muito próximos, acho que não fico nervoso perto dela porque sei que nunca teríamos nada mais do que amizade. – Opa 2. – Acontece que eu não sei muito bem como agir, entendeu? Tipo quando você estava chorando. – ele explicou nervosamente. – Mas o que a Cerejo tem a ver com isso?

Opa3. Disfarce, Valentina, disfarce. A Liv nunca vai te perdoar se você contar algo e nunca vai se recuperar se você dizer pra ela o que ele pensa. Você consegue, desvie o assunto.

– As vezes tudo que as garotas precisam é de alguém para enxugar sua lagrima e dizer que vai ficar tudo bem, mesmo sabendo que não vai ficar. Não de alguém que esteja mais apavorado do que elas. – disse rindo.

– Como assim?

– Oh, deuses, você está se mostrando um aprendiz devagar. – amassei minhas bochechas dramaticamente. – Simples. Ponha as mãos em seus ombros ou a abrace. – pousei minhas mãos em seus ombros largos. – Dependendo a ocasião um abraço pode só abafar mais a criatura. Levante o queixo e a encare nos olhos, estou abaixando o seu porque já é difícil olhá-los sem levantar.

Só me dei conta do que fiz quando senti o azul dos seus olhos me sugando. Tinha me aproximado dele apenas com a intenção de explicar, mesmo que não pareça. Oh, o que será que ele está pensando de mim? Que sou muito oferecida? Que seja. Espera, que cor é essa? Seus olhos que antes estavam incrivelmente azuis, pareciam o céu cinza em dia de tempestade. Não conseguia olhar algo que não fosse aquela cor primaria enquanto minhas mãos desciam e esplanavam em seu peito.

Tina, acorda. Essa não é você. E quem eu era? Meus pensamentos já tinham parado de funcionar. Geralmente ria de quando Olívia me contava sobre um garoto que conheceu e beijou no mesmo dia, sempre achei besteira e sem sentido, mas agora, com aqueles dedos marcados por cordas das horas na guitarra em meu queixo, levando meu rosto em direção a ele... Ah, não, a Liv!

– Zip! – gritei ao olhar para a pizzaria a minha frente e me afastei dele.

– O quê? – ele perguntou ainda na mesma posição. – Fiz algo errado?

– Você... se você fez algo errado? – olhei para o menino que tinha uma expressão preocupada e precisei desviar o olhar rapidamente. – Errado em relação a quê? Humpf. Não fez nada! Era aqui que você ia me trazer? – ele afirmou com a cabeça ainda achando as coisas estranhas.

Me virei e abri a porta dupla da pizzaria. Ela continuava a mesma por fora, mas deviam ter reformado por dentro. Tinha uma área de brinquedos no canto direitos. Me lembrei de quando dava mortais naqueles pula-pula. As mesas antes circulares, agora se espalhavam e pareciam ter se multiplicado. Somente as das paredes continuavam as mesmas, mas com sofás novos. O lugar estava parcialmente cheio, não me lembrava que abria para o almoço. Fui até o balcão sem dar tempo de Daniel se recuperar.

Assim que cheguei perto dos bancos, uma figura alta e barbuda me puxou.

– Valentina, é você mesma?

Um sorriso do tamanho do mundo nasceu em minha cara. Era tão bom me sentir assim. De todas as pessoas e lugares que vi depois que voltei esse momento foi de longe o melhor. Eu estava com tantas saudades. Mesmo ele não estando mais com minha mãe, ainda associava sua figura a segurança e conforto.

– Ziiiiiiiip! – o abracei com toda a minha força e ele me levantava. – Eu to com tanta saudade, tanta. Você disse que ia me visitar sempre que eu viesse.

– Oh, minha pequena, você cresceu tanto... – ele me analisou com cara de pai orgulhoso.

– Deixe de ser dramático, barbudo, faz só um ano.

– Não sou eu que está quase chorando. – ele disse e me sentou no balcão, como costumava fazer.

– Mas eu posso, ainda sou uma criança – ri. – Olha pra você, quase careca e com cara de tiozão.

– Olha como você fala, guria. – o abracei de novo. – Valentina, eu realmente queria te ver, teria ido no dia que chegou mas você sabe que... – ele hesitou. – que as coisas ainda não estão boas.

– Eu sei, eu sei. Eu tinha medo de que isso nos afastasse. Sabe que eu briguei com ela quando tudo aconteceu e... – ele me interrompeu.

– Vamos deixar a sessão tristeza pra lá – ele mexeu a mão. – Agora me diz, veio até aqui pra matar a saudade ou a fome? E o que aconteceu com seu joelho?

– Longa história. Eu juro que pretendia vir aqui mais tarde, mas agora eu vim com ele. – acenei com a cabeça para trás e vi Daniel assistir a cena toda a distância.

– Com o Germano? – ele perguntou espantado.

– Dá pra escutar daqui, sabia? – Daniel disse.

– É pra escutar mesmo, desaforado. – ele se voltou para mim e viu minha cara confusa. – É que geralmente ele não trás as garotas dele aqui.

Olhei para trás o vi encarando Zip com um olhar matador. O homem se limitou a soltar uma gargalhada divertida.

– Garotas dele? – perguntei.

– Ignora isso, Valentina. – Daniel disse. – Joseph não costuma falar coisa com coisa. – ele se aproximou da bancada.

– Opa, moleque – Zip disse em uma voz ameaçadora – O que aconteceu com o Valentina? Costumava brigar com quem te chamava pelo apelido, ou tem algo que eu não sei acontecendo?

– Oi? – perguntei.

– A Valentina é minha menina, nenhum cara, nem mesmo você, Daniel, pode chegar a dez metros dela. – Zip alertou.

Revirei os olhos sem acreditar naquela conversa.

– Eu quero a pizza de sempre. – anunciei. – Já que você perguntou.

– Faz um bom tempo que não faço aquela tristeza. – Zip admitiu com cara de nojo.

– Você tinha que me agradecer por ainda comer a sua pizza.

– Você sempre foi tão nojenta e fresca... – ele disse e se volta para Daniel. – Vai querer a de sempre também? Sua irmã ta lá dentro, quer que eu a chame?

– Você ta falando serio? –Daniel perguntou e Zip riu.

– Já volto. – o homem entrou na cozinha cozinha. – Mas não ache que o que eu disse sobre ficar longe da Valentina era mentira, viu?

Enterrei minha cara nas mãos e ouvi Daniel se sentar no bando perto de mim. Abri um pouco os olhos e vi que estava me encarando.

– Sinto muito, ele sempre foi assim. – minhas bochechas queimaram.

– Você é a Valentina, filha da Polliana? – ele estreitou os olhos como se entendesse tudo agora.

– Como você sabe disso?

– Estou começando a achar que te conhecia antes mesmo de te ouvir cantar.

– Ahn? – inclinei a cabeça, confusa.

– Como eu sou lerdo. – ele bateu a testa na mesa. – Flertando com a filha da Polliana, agora sim tomo pau em química. – ele falou mais para si mesmo do que para mim.

– Flertando? Quero dizer – acrescentei rapidamente –, você tem aula com ela?

– Tenho e vou ter ano que vem de novo se não conseguir fechar as próximas provas.

– Ah, qual é? Química nem é tão difícil assim.

– Você diz isso porque mora com uma professora.

Encarei a porta que levava para cozinha. Todo mundo sempre dizia a mesma coisa. Minha mãe nunca foi de influência nos meus estudos, só me ligava para dar bronca quando ia mal em algo.

– Na verdade, é a primeira vez que moro com ela desde meus pais se separaram. Não acho que ela tenha sido muito presente em relação a isso.

Ele me olha de forma apreensiva. Como se quisesse falar algo mas não tivesse coragem. Abriu e fechou a boca varias vezes.

– Você é realmente ruim nessa matéria? Porque, bem, não sou muito fã da professora Polliana.

– É a única matéria que tenho problemas. Álgebra, matemática, literatura, biologia, nem física. – apertei os lábios e soltei um barulho esquisito. – Pode rir.

– Desculpe. – falei entre risos. – É que é estranho alguém ser bom em física e não em química.

– Chego a ter pavor dessa palavra. – ele fez um careta engraçada.

– Deve ser por isso achas que se dá mal com garotas.

– Essa piada foi ridícula. Mas talvez tenha razão, química é torturante em todos os sentidos.

– Cabelo comprido e bagunçado, adorador de blusas listradas, pele bem cuidada, voz boa, passa o tempo cercado de flores. Agora tem pavor de mulheres? Continue assim e vou ter certeza que você é gay.

Um canudo vôo em minha direção e cai na gargalhada enquanto o garoto balançada a cabeça.

– Qual o problema de usar blusas listradas?

– Nenhum.

Nada. Problema nenhum. A não ser no caso de você estar flertando com uma garota que adora listras e adora azul e você estar usando uma blusa listrada de azul. Que por acaso realça seus olhos e te deixa ainda mais difícil de conviver.

– Qual é? Ontem seu amigo esqueceu que eu era uma garota e ficou espantado por eu saber tanto de reações femininas. Agora a pouco você disse que tenho risada de homem. – Falei enquanto dava nós no canudo, o deixando mais pesado e por fim joguei de volta nele.

– 1) Eu não falei nada disso, e já expliquei. – corei ao lembrar do que quase ocorreu depois de sua “explicação”. – 2) Não desconte isso no pobre do canudo indefeso. – ele pegou o canudo que tinha prendido em seu cabelo, já que eu estada meio metro acima dele. – 3) Não ligue pro que o trouxa do Henrique fala.

– Ah, então o nome do ruivinho é Henrique. Porque é super normal a pessoa não falar nem seu nome mas abrir o coração apaixonado.

– Corrigindo: trouxa apaixonado. Depois o gay sou eu...

– Ah, cale a boca. Ei, o que ta fazendo?

Ele desviou os olhos do monte de canudo colorido que tinha tirado do pote e começou a trançar uns nos outros.

– Nada.

– Ok, né... Mas então, foi bem fofo o Henrique com ciúmes.

– Fofo? Foi inútil e sem nexo.

– Não fale assim, seu anti-paixão.

– Ele não ama a Isabella, não, Tina. Ele só está cego pela atração. Ele é novo demais, e, além disso, a Isa nunca deu bola pra ele.

– Mas também não deu bola pro outro. O... Rafael? – perguntei e ele afirmou com a cabeça sem tirar a concentração dos canudos. – O Henrique só parece tímido demais. E você fala como se nunca tivesse gostado de alguém.

Ele finalmente me olhou e levantou as sobrancelhas. Era possível que um ser humano nunca tivesse sentido vontade de estar sempre perto de alguém?

– Não acredito. Depois diz que não é gay. – comecei a rir jogando a cabeça para trás.

– Também não é assim. Todo mundo já foi afim de alguém, mas nada de coração dando cambalhotas, nenhuma pontada de ciúmes. Nada como o Henrique. Isso é total e completamente perda de tempo e sanidade. Pretendo continuar assim até o possível. Nada de se apaixonar.

– Nada, nada, nada? – perguntei ignorando o resto da fala.

– Bem, quando eu era menor eu tinha uma queda por alguém, mas ela começou a namorar um cara mais velho e não tive chances. Ainda acho que sou apaixonado por ela.

– Não teve chances? Quem era essa felizarda? –botei a mão no queixo, pensativa – Deixe-me adivinhas! Uma atriz! Não, não, um super heroína de gibi. Uma cantora... A MOÇA DO TEMPO NUA DO CANADÁ.

– O Canadá tem uma moça do tempo nua? – ele quis saber, antônimo.

– Esquece. Mas, ahn... aposto que é um heroína de gibi.

– Se está sugerindo que minha mulher é de desenho, está errada. – levantei uma sobrancelha e ele revelou: – Quando eu comecei a gostar de música e decidi começar a tocar, eu era meio que fascinado pela vocalista do Paramore.

Juro que tentei segurar, mas foi mais forte do que eu. Comecei a rir histericamente. Ele era apaixonado pela Hayley Williams? Ok que eu tinha uma grande queda pelo Jonny Depp, mas eu tinha 9 anos e ele era o pirata sarcástico em seu primeiro filme.

– Qual é a graça? Você perguntou...

– É que... – tentei fracassadamente parar de rir –, tudo bem o Lucas dizer que gosta da garotinha do Frozen e tudo mais, ele tem 4 anos. Você tem o que? 17?

– 15. – ele corrigiu.

– Certo, 15 anos e tem uma paixão secreta por uma cantora de cabelos coloridos.

– Não é uma cantora. É A cantora. Ela é bonita, descontraída, talentosa, tem senso de humor e é sincera. E não liga mais para o cabelo dela do que pro mundo.

Peguei uma mecha do meu cabelo. Ele tinha sofrido, coitado. Me perguntei como esse bando de atrizes conseguia mudar a cor do delas sempre e continuar com a aparência saudável. O meu já tinha enfrentado anilina verde, tinta rosa, tonalizante preto e por ultimo um tom mais claro, na tentativa de voltar pro meu tom natural.

– Por falar em cabelo, qual é a cor do seu de verdade? – ele perguntou e eu continuei a encarar minha mecha. A cor estava voltando e a tinta saindo, aos poucos. Mas ainda tive que pensar, a cor era particularmente estranha, mas era só uns tons mais claros do que o de agora.

– Acho que era loiro claro, meio claro, fraco, não loirão. Quase branco. Nunca soube dizer ao certo.

– Ele é cacheado naturalmente? – ele perguntou pegando uma mecha do meu cabelo comprido. Ele sempre fora curto, mas desde que decidi voltá-lo ao normal, vinha tentando manter ele longe de tesouras. Agora batia quase na cintura.

– Na verdade não, ele é bem liso. Eu faço cachos nele sempre, quando se cresce ao lado de uma morena linda de cabelos vivos, você acaba se sentindo morta com ele liso. Se bem que agora a Liv está com ele liso... – terminei com uma cara meio confusa por só ter me dado conta de que o cabelo da garota agora estava liso.

– Sua prima é outra que liga mais pro cabelo, os cachos dela eram bonitos.

Ela adoraria ouvir isso, precisaria dizer a ela. Digo, só a parte dele achar o cabelo dela bonito.

– A Polliana tem cabelo pretos, assim como suas primas, o Guilherme também...

– Você conhece ele?

– Todo mundo conhece, e, ahn, ele anda muito com a minha irmã.

– Se sua irmã for como ele, agora entendo porque passa seu tempo falando com flores.

– Você nem tem idéia... – ele disse baixinho. – Onde eu estava? Certo, o cabelo do seu irmão é quase castanho, o Lucas é loiro, mas só porque o Joseph é inglês... Seu pai é loiro?

– Meu pai? Não mesmo.

– Então, ou você é adotada ou não a Olívia não fala muito sobre a família dela.

– Eu, hein, eu saberia se fosse adotada.

– A maioria das protagonistas de filmes que são adotadas descobrem isso só no final.

– Isso não é um filme, parceiro. Minha tia mais nova era loira e linda, todo mundo diz que puxei muito ela.

– A Liv disse uma vez que a mãe dela era a irmã mais nova.

– Bem... a tia Amélia faleceu quando eu ainda era pequena demais. A Liv não era muito ligada a ela e tal.

– Sinto muito... – ele falou mais baixo.

Mesmo tendo convivido muito pouco com a tia Amélia, sempre fui muito ligada a ela. Todos diziam que éramos iguais. Segurei meu colar com força. Era uma corrente com uma pequena pedrinha azul céu. Tinha pertencido a ela e, depois de sua morte, a peguei de uma das varias caixas de jóias deixadas. Lembro-me quando minha avó deu falta e descobriu que eu roubara, não sabia se brigava comigo ou se me pegava no colo. Por fim, me deu a caixa toda e me pediu para nunca esquecer da minha tia. Ah, como se isso fosse possível. Nunca dei muito valor as diversas jóias e pedras dentro dela, mas a caixinha continha uma foto bela da tia Amélia. Meu maior medo era de esquecer o rosto dela.

Não, não, não. Eu não ia chorar duas vezes na frente dele.

– Detesto acabar com sua praia, mas o cabelo da Hayley nem sempre foi liso daquele jeito.

– Não? – ele perguntou decepcionado.

– Você é mesmo tão ingênuo assim? – perguntei rindo e ele me deu um soco de leve no ombro.

– Então acho que vou ter que dar isso para outra pessoa. – ele mostrou finalmente o que fazia com aqueles canudos.

Havia trançado seis. Dois azuis, um preto, um branco, um vermelho e um rosa. Parecia uma pulseira. Ainda não sei bem como fez aquilo ou se o canudo era diferente, acontece que ficou legal. Até bonitinho. Mas muito engraçado.

– O que é isso, Daniel? – meu lábio inferior tremeu. Era a primeira vez que pronunciava o nome dele. Sua mão estremeceu por um momento, poderia até dizer que fora coisa da minha cabeça. Isso não podia afetá-lo desse modo. Sua prima gosta dele, Tina. Não é porque ele está segurando sua mão que você deve ficar assim. Pêra, ele ta fazendo o que?

– Uma pulseira super ecologica. Agora, faça sua mão parar de tremer, sei que tenho esse poder sobre as garotas – dei um soco em seu peito –, mas nesse momento preciso da sua mão estável.

– Disse o garoto que não sabe lidar com garotas. – eu retruquei.

– Não, sabe, é? – disse uma voz rouca atrás de mim.

Zip saíra da cozinha segurando duas bandejas. Tinha uma cara séria, mas sabia que era só fachada. Nunca o tinha visto bravo, nem quando chegava tarde em casa, saia sem avisar ou quebrava acidentalmente as louças. Ele simplesmente passou a me perguntar se estava tudo bem quando eu chegava, nada de “onde esteve?” “com quem esteve?” – minha mãe já fazia muito bem esse papel – e começou a me manter longe da cozinha quando percebeu que eu era mesmo desastrada.

– Ele te disse que não sabia lidar com garotas, que ficava nervoso e sem jeito. Você foi dentar ajudá-lo na maior inocência e se perdeu nos olhos mar do garanhão? – o homem barbudo disse, apoiando o cotovelo no balcão de forma apaixonada.

– Ahn... – fiquei tão vermelha quanto os cabelos do Henrique. – Perdida nesse olhos, humpf. Claro que não. – mexi a mão tentando disfarçar meu rosto e meu nervosismo sem sucesso.

Zip começou a rir enquanto Daniel fechava a pulseira em meu pulso.

– Você é sempre tão direto, coroa. – O garoto disse fazendo jóia com o polegar.

– Ele faz isso com todas, Valentina. – ele olhou para Daniel que ia começar a se defender e foi mais rápido. – Já lhe mandei trocar a estratégia.

Peguei um pedaço da minha pizza e comecei a comer enquanto os dois discutiam sobre como o Daniel não estava dando em cima de mim. Olhei para pulseira de canudos nova, presa ao meu pulso. Senti vontade de sorrir, apesar de ser ridícula, era fofa.

– O que é isso? – Zip perguntou.

– Ué, uma pizza.

– Não isso. Isso. – ele apontou para meu pulso.

– Acho que ele já mudou de estratégia, barbudo, agora ele dá pulseiras recicladas.

– Olha – o homem se virou impressionado para Daniel –, essa foi boa. É melhor do que aquela da flor e o café enfeitado...

– Eu disse que você tinha que mudar as táticas. Tá meio enferrujado, chefe.

– Não estou não – ele se defendeu olhando para mim –, é só que meu coração já pertence a uma mulher.

– Uma mulher pior do que a madrasta da Branca de Neve. – acrescentei com raiva. De todos os namorados que eu odiei da minha mãe, de todos os babacas enjoados, ela tinha que jogar fora o que eu mais gostava?

– Não fale assim dela, Tina. – o pizzaiolo abraçou meus ombros. – Você sabe que não é bem assim.

– Ela é uma trouxa egocêntrica que te deixou por um cara com a idade da Manu.

– Não é pra tanto, ele é mais velho que a Manuela sim.

– O quê? Dois meses? Ele podia ser meu cunhado, não meu... – fiz cara de nojo antes de dizer a palavra que tanto odiava: – padrasto.

– Quando eu comecei a sair com sua mãe você também não gostava de mim.

– Isso é totalmente diferente, Zip. – defendi. Eu nunca iria gostar daquele motoqueiro. – Primeiro que seu nome é mais bizarro que o meu, isso me fazia sentir melhor, e as siglas são divertidas. Segundo porque você tem a idade dela. Terceiro porque você nunca fumaria perto de mim sabendo de... – travei e ele percebeu. – de tudo. Quarto, ele nunca faria a pizza que eu quisesse.

– Por falar nisso, qual é o seu segundo nome? – Daniel perguntou percebendo meu mal humor. – Digo, o que é o I? Joseph...

– Inááááááácioooooo. – falei rindo. Zip também tinha seus problemas com o nome, vivíamos fazendo piadinhas com isso. – Peixoto.

– Como eu nunca soube disse? – o garoto perguntou entre risos e de boca cheia. O que me fez rir ainda mais.

– Ele não gosta muito. – expliquei quase cuspindo a pizza. Desci do balcão e fui até o refrigerador para pegar um suco.

– Quer o que pra beber, Daniel? – perguntei, pegando chá verde.

– Você come pizza com chá? – ele perguntou como se eu fosse de outro planeta.

– É por causa dela que tem chá nesse lugar – Zip respondeu por mim então se endireitou. – Não acha que ta abusada demais não, menina?

– Eu? – me fiz de inocente. – Não venho aqui faz um ano, você que ta me devendo 365 chás. – tentei persuadi-lo. Algo que aprendi que era fácil, o velhote parecia duro mas dentro era mole.

– É, bem... você tem razão. – ele falou pensativo quando joguei uma lata de coca-cola pra Daniel. – Não, espera.

Já era tarde demais, eu e Daniel sentamos juntos na bancada, começando a comer e a beber. Zip jogou as mãos para cima e foi atender os clientes que começavam a aparecer agora.

Comemos como crianças, falamos de boca cheia, contamos casos e fizemos bastante hora com a cara do meu ex padrasto. Ele riu da minha pizza – uma mistura que tinha criado assim que a pizzaria abriu: uma espécie de quatro queijos com tomates e temperos, devido ao meu vegetarianismo, já que todas as pizzas do Zip tinha muita carne nojenta – e fez uma careta quando o fiz experimentá-la. No momento que um garota de curtos longos e castanhos abriu a porta da cozinha, Daniel me puxou para baixo, me fazendo praticamente deitar em cima dele. Posição contraria do início da manhã, mesma proximidade e mesmo coração acelerado.

– Desculpe. – ele pediu casualmente. – Era a minha irmã, se ela me ver aqui eu to completamente perdido.

Ele levantou um pouco a cabeça para espiar e abaixou rapidamente, nervoso e com os olhos arregalados.

– O que foi? – perguntei impaciente. – Ela te viu?

Comecei a me levantar lentamente, mas ele segurou meu pulso, transmitindo uma descarga elétrica pelas minhas veias.

– Acho melhor você não ver isso. – disse ele, ainda em choque.

– Qual é? – me ajoelhei mais curiosa que antes. – Ela está vindo pra... – me interrompi quando avistei meu irmão na porta.

Avistei meu irmão na porta aos beijos com a irmã de Daniel.

Ah, não. Ah, não. Ah, não. Falei várias vezes e só percebi que foi e voz alta quando Daniel murmurrou algo como “Ah, sim”.

– O que a gente faz agora? Sabe, eu meio que saí de casa sem falar com ningué, netão se ele descobrir que eu to aqui... – perguntei desesperada. Se eu fosse pega ali, bateria meu Record de tempo sem me encrencar.

– Não acredito que eu vi a Vick... se agarrando com... com...

– Com o Guilherme. – completei, reparando que o garoto ainda estava paralisado. – Vamos, eu tenho um plano.

– Desde que eu não tenha que ver essa cena por muito tempo...

– Seguinte, a gente passa rápido e vaza, acho que eles estão... – arg – ocupados demais pra notar o mundo ao redor, se eles nós virem, sempre poderemos fingir que não é com a gente.

Ele balançou a cabeça, mas ainda parecia perplexo. Levantei a mãe a tateei o balcão até achar nossas coisas e soquei meus patins dentro da minha mochila, agarrei o braço dele e nos levantei. Daniel voltou ao normal e atravessamos de uma vez a porta, parei só pra fazer cara de vomito e o garoto me deu um empurrão no ombro por fazê-lo quase rir.

Saímos rápido, mas não agüentei a tentação de olhar pra trás. O beijo tinha enfim terminado. Eles sorriam e falavam algo. No momento em que Guilherme botava uma mecha do cabelo da menina pra trás da orelha dela seu olhar levantou como se notasse alguém o observando. Vi o susto em seus olhos, ele soltou a garota e foi em direção a porta, espantado.

– Daniel? – sussurrei e ele se virou para mim. – Então, acho que essa é a parte que a gente decide rir.


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Notas finais do capítulo

Ta pequeno, né? Dane-se, to com bloqueio. Volto no fim de semana (ta chegando3). Criticas construtivas e elogios são bem vindos!
Marie



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