Abro os olhos.Estou na completa escuridão.Não reconheço o local.Tento me levantar, mas estou presa por algemas de ferro muito fortes.Tento gritar, mas minha voz simplesmente não sai.Então as portas grandes se abrem e Snow entra.Ele caminha diretamente em minha direção, segurando várias cores de rosa.Sinto um cheiro terrível enquanto ele caminha até mim, são as rosas.Sei disso.Então, ele saca uma tesoura e começa a cortar o cabinho das rosas.Depois, ele joga uma por uma em cima de mim, com o rosto sem expressão.Começo a me afogar naquele cheiro terrível.Snow começa a gargalhar, é um som tão estranho, um som de...terror.Começo a me debater, até que as rosas cobrem meu rosto inteiro e o veneno entra em minhas narinas.
A imagem muda.Vejo Prim caindo, com lágrimas nos olhos, e logo depois morrendo.

Abro os olhos atordoada.
Tenho sonhos com Prim quase todos os dias, mas nunca aconteceu nada com o Snow e não faço ideia do que isso possa significar.
Vou até a cozinha e encho um copo com água, minhas mãos ainda estão tremendo.Bebo aquilo e volto a dormir, não sem antes notar uma luz no lado de fora.
Tiro a cortina fina da janela de vidro.Está nevando, mas a luz vem dos pacificadores.Eles estão praticamente na frente de casa.Ouço uma batida na porta e meu coração começa a bater muito forte.
–Katniss? - a voz chama.A reconheço e no mesmo instante tiro um peso de minhas costas.É Peeta.
Abro a porta.
–Entre.Aconteceu alguma coisa?
–Tem pacificadores na porta da sua casa. - diz ele com uma cara preocupada.
–Eu sei.
(hahaha esse "eu sei" da Katniss kkkkkkkkkk)
Permanecemos em silêncio por alguns segundos.
–Eu achei que...que tinha acontecido alguma coisa com você. - diz Peeta olhando pro chão. -E sua mãe, é claro.
–Obrigada pela preocupação, mas não entraram aqui.Na verdade, não tenho nem noção do que podem estar fazendo aqui.
Ele concorda.
–Bom, acho melhor eu voltar pra casa.
Acho que ele espera que eu diga para ele ficar, e ele veio aqui durante a noite se preocupando comigo.Não quero ter mais uma divida com ele.Peeta está apenas com uma blusa de manga curta e uma calça, mas devia estar bem frio lá fora.
–Ahn...não quer tomar um chá?Faço em um segundo.
–Tudo bem então. - fala ele se sentando de novo na poltrona.
Corro para o fogão.Não é bem um fogão, é um pedaço de pedra e tem lenha, acendemos o fogo na madeira e colocamos um tipo de placa de metal em cima, para ferver.Pego uma panela com água e ponho algumas ervas.A água ferve.Está pronto.
–Aqui. - digo dando uma xícara para Peeta.
–Obrigado.
Não falo com ele desde o dia que ele chegou aqui no 12, amanhã começa a turnê da vitória e ele vai ficar um tempo fora.
–Ansioso pra turnê? - digo ironicamente.É claro que ele não está.
Ele toma mais um gole do chá e coloca em cima da mesinha.
–Não, nem um pouco.Entrevistas, fotos, invasão de privacidade.Já não basta terem me colocado naquela arena? - diz ele com raiva.
Não falo nada.Queria dizer que sei como ele se sente, mas a verdade é que não sei.
–Katniss, eu queria te pedir uma coisa.
Fico surpresa com isso.
–Dependendo do que for. - digo dando de ombros, mas a verdade é que estou curiosa para saber o que é.
–Queria que fosse comigo na turnê.
Minha boca abre um perfeito "O".De tantas pessoas que ele poderia levar, por que eu?
–Eu tenho que pensar...
Ele parece um pouco desapontado com isso.
–Certo, entenderei sua decisão se a resposta for não.
–Mas por que quer me levar?E vocêpode me levar?
Uma coisa eu sei, não quero arranjar problema para ninguém, muito menos a Peeta.
–Vamos eu, Haymitch e Effie, e perguntei a ela se poderia levar uma pessoa.Não há nenhum problema nisso.Posso dizer que é uma ajudante, uma secretária pessoal, invento alguma coisa.Vai ser bom para você sair um pouco daqui. - fala ele. -E também porque...porque sinto que você está em perigo.
Minha expressão deve ter ficado muito confusa, porque Peeta continua falando:
–Esses pacificadores aí na sua casa, eles não foram aí só hoje.Isso anda acontecendo a semanas, desde que voltei.Estranho, não acha?
–Sim, muito estranho. - respondo assustada.
–Katniss, posso te perguntar uma coisa? - faço que sim com a cabeça. -Você já quebrou alguma regra?
Fico me perguntando porque ele está me fazendo essa pergunta...será que ele desconfia de algo?Posso acreditar nele?
–Bem, eu...
–Sei que caça além do local permitido para nós, além da cerca.Sei disso porque meu pai compra esquilos seus e é meio difícil encontra-los dentro do nosso limite.
–Parabéns, Peeta, acertou!Agora vai me entregar pro Snow? - digo encarando os olhos dele.
–Claro que não, só queria saber...e se eles descobriram?Podem te matar, ou pior, te torturar!
Começo a pensar nisso.Eu e Gale, quando começamos a caçar juntos, falamos uma vez sobre isso.Concordamos que seria muito melhor morrer por um tiro na testa do que de fome, mas tortura...acho que nunca falamos sobre isso.Tortura é muito pior, não posso nem imaginar o que uma pessoa doente como Snow pode fazer.
–Não, Peeta.Eles não descobriram. - digo tentando mais convencer a mim mesma do que a ele.
–Talvez.E é por isso também que quero que vá comigo.
–Do que está falando?
–Se eles descobriram, vão te caçar, e não posso deixar isso acontecer.
Ah, tinha me esquecido dele falando que um dos motivos de querer me levar era por causa da minha segurança.
–E quanto a Gale?Minha mãe?
Peeta assume um olhar tristonho com a menção de Gale.
–Sua mãe não fez nada, e não acho que possam saber sobre Gale, se não estariam viajando ele.
Concordo fracamente com a cabeça.
–Então, você vai ir comigo ou não?
Só tenho agora para pensar...as onze hora o trem sai...mas isso é uma decisão difícil, nem arrumei as malas.
–Certeza que quer que eu vá com você?
Ele assente.
–E minha mãe, Peeta?Snow é cruel, ele pode fazer alguma coisa com ela mesmo ela sendo inocente.
–Haymitch!
–O que?
–Esconderemos sua mãe na casa de Haymitch!Ninguém se importa com ele, não os pacificadores.E...e se baterem lá, ela pode dizer que é uma empregada.
–Mas conhecem o rosto da minha mãe das entrevistas... - digo, então me lembro de uma coisa. -Não!
–O que? - pergunta Peeta assustado com a minha exclamação.
–Não sabem do rosto da minha mãe, só eu participei das entrevistas!Ela não queria aparecer, mesmo na praça publica, sempre fechada.E ela pode pintar o cabelo, e ficar diferente, só nesse tempo!
Peeta abre um sorriso.
–Ótima ideia!Posso contar com você amanhã?
Lá vem essa pergunta de novo...vou ou não vou?Já resolvi os problemas de segurança de minha mãe, e Gale...mas viajar pra Capital...
Vou matar Snow, penso, mas não falo nada para Peeta.Nessa viagem não arriscarei nada, apenas observarei.
–Tudo bem, Peeta.Eu vou.Mas não tenho roupas dignas dessa viagem.
Não que me importe com roupa, mas Effie não deixaria eu ir para Capital com os trapos que tenho.
–Tenho certeza que Cinna adorará fazer vestido para você, se é que já não fez!
–Que?
–Falei com ele sobre querer que você fosse...
–Você é um gênio, pensou em tudo mesmo!
–Ahn...obrigado... - diz ele olhando para baixo.
–Nos vemos amanhã, então...que horas devo acordar minha mãe?
Ele consulta o relógio.
–São duas da manhã.Seria bom ela se aprontasse desde agora, e fosse para casa do Haymitch o mais cedo possível, melhor.Amanhã terão muitas câmeras na vila dos vitoriosos.
Assinto.
–Amanhã, ficarei de olho em Snow e em todos os idealizadores.
Ele concorda, um pouco desconfiado.
–Mas não se preocupe, não quebrarei nenhuma regra.
Não matarei Snow, quero dizer.