Miseráveis e Inconstantes escrita por Vulpvelox


Capítulo 1
E ainda perguntam o motivo de tanta loucura!


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, gente! Se você engoliu a sinopse estúpida que eu escrevi e está lendo essa notinha, parabéns, você é muito legal! Não vai ganhar dinheiro, casas, carros e nenhum outro prêmio; apenas a história de uma menina desorientada, criada por uma menina mais desorientada ainda. Se eu tiver reviews, posto um capítulo toda a semana, enquanto ainda eu tiver leitores. Vou parar de ser chata, talvez você nem esteja lendo essa primeira notinha aqui e já tenha pulado pro capítulo em si. De qualquer forma, bom entretenimento (ou boa sorte, dependendo do que você achar da escrita no decorrer da leitura)! HAHA!



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O celular começou a fazer um som esquisito de vibração contra a madeira do meu criado-mudo. Eu estava deitada de borco contra o colchão quando os primeiros raios de sol invadiram a janela de meu quarto. Eu não enxergava muito disso, pois minha cara estava enfiada contra o travesseiro, mas a ausência do breu denunciava exatamente esse cenário iluminado que acabava com o meu sono. Como eu ainda não morri de asfixia eu nunca vou saber, muito menos sobre como conseguiria arranjar forças para levantar a mão e desligar o alarme de despertador do celular. Também adiei o máximo possível o ato de erguer a cabeça para ver o horário que mostrava o relógio.

O celular exibia seus sons e o modo de vibrar, com a melodiada guitarra fazendo o que podia reproduzir de melhor: os acordes de Syn Gates.

Uma dica para você, meu caro: nunca coloque uma música que você goste como som de alarme. Você não vai acordar com um sorriso no rosto como nos filmes. Muito pelo contrário, pois vais odiar a musica pelo restante da vida depois de certo tempo. A não ser é claro, que a voz que lhe acorde seja do senhor Shadows ou de Leto. Esses dois soam como uma melodia até quando me acordam. Na verdade, esses vocalistas podem até ofenderem a minha avó numa composição que eu vou continuar achando as vozes de ambos as mais maravilhosas existentes.

Esperei o longo minuto de música do despertador, que iria parar por si só. Now your nightmare comes to life. Sim, e que pesadelo. Eu não me recordava do por que, mas eu sabia que esse dia em particular iria dar início a um grande sonho ruim. No entanto, eu não estava ligando para mais nada que não fosse o meu precioso soninho, e nada poderia fazer eu me separar dos braços de Morfeu. Nada, a não ser uma coisa. Ou melhor, uma pessoa.

— LOLAAAAAAAAAAAAA! — Esse grito de longo alcance foi o que bastou para o caos da manhã começar. Com certeza veio de lá do hall, atravessou todo o percurso que se faz na escada e chegou até à porta de meu quarto com enorme frequência. O susto foi grande, tanto que me fez rolar de minha cama para o tapete branco. Para ser bem franca, a voz da mulher era algo semelhante ao soar de um alarme do inferno.

— Já vou. Já vou! Dá pra esperar um minutinho? — Grunhi de frustração, com o semblante pressionado no piso. De cara com o chão, lutei contra os lençóis que me enrolavam como um burrito e levantei-me, escutando dona Carmen subir as escadas com seus saltos e chegar ao corredor de meu quarto.

— Vamos lá, Lola! Você vai se atrasar pro primeiro dia de aula! — Gritou ela, batendo na porta duas vezes.

Correção: a voz dela é a do próprio diabo. Para ser honesta, acho que o próprio demônio pode muito bem ter feito um plágio dos berros de Carmen. Carmen, para quem não sabe é... Bem...

— Tá mãe. Tô indo! — Respondi com um novo berro para a mesma, afinal é assim que nos comunicamos harmonicamente em casa: na base dos gritos. Minha família tem as cordas vocais perfeitas para alcançar notas altíssimas.

Espera um pouco aí.

Ela disse “primeiro dia de aula.” Isso me lembrou de qual pesadelo que iria começar. Your fucking nightmare! Arregalei os olhos. Colégio. Ah não, o colégio. Bufei e revirei os olhos antes de passar a mão dramaticamente na frente do rosto, tentando acordar do pesadelo.

Agora, você deve estar pensando algo como: “Nossa Camille, quanto drama por pouco!”. Ou “Do quê você está reclamando? Você só estuda.”. Mas as coisas não são tão simples assim, mesmo se tratando apenas de um espaço acadêmico. Não mesmo. Não quando você estuda no mesmo antro que eu, é o que eu digo.

Quando se trata de estudar o Ensino Médio inteiro no St. James, a palavra “colégio” é apenas mais uma definição para “ser torturada pelos funcionários, sofrer de bullying de atletas, reclamar das patricinhas e dos engomadinhos e, achar o local similar ao inferno”. Ok, isso existe em toda a escola, porém nessa é dez mil vezes pior.

O ensino não é ruim, muito pelo contrário. Mas as pessoas de convivência tornam o colégio um local impossível de se permanecer por mais de cinco minutos sem querer atear fogo nos próprios cabelos.

Esfreguei novamente a face com os dedos, pestanejando algumas vezes antes de encarar a realidade do relógio de meu despertador no criado-mudo.

Seis e três da manhã. Que ótimo, pensei de modo rabugento.

Eu poderia ter dormido mais e me arrumado em cinco minutos, mas os berros e a antecipação de dona Carmen não permitiram isso. No entanto eu agradeço-a por um lado, pois eu poderia tomar um banho mais demorado e me preparar psicologicamente para um novo período letivo. Havia tentado meditar — como mamãe disse que eu poderia fazer — o dia anterior inteiro para obter forças para aturar aquelas criaturas que eu devo chamar de colegas de colégio, porém a única coisa que eu consegui fazer foi dormir a tarde inteira.

Mas por um lado, minha mãe está orgulhosa do meu êxito com as técnicas de meditação e isso é bom, só que mal sabe ela que eu só fiz tirar uma longa soneca.

O que os olhos não veem o coração não sente.

Depois que eu tomei um longo banho e desejei que a água me levasse pelo ralo — que infelizmente não aconteceu — olhei para o relógio novamente, apenas para me certificar de que o tempo estava passando depressa demais para o meu gosto. Seis e trinta e sete da manhã. Eu teria que estar presente ao colégio as sete e quinze para o primeiro tempo de aula, e como ainda estava a fim de tomar o café da manhã, esperava que minha mãe não me apressasse ainda mais. A última coisa que eu queria era ver todos aqueles idiotas com meu estômago vazio. Estômago vazio me deixa de mau humor, e de mau humor... Eu não quero nem saber do que eu seria capaz de fazer.

Sentei-me na cama enquanto penteava os meus cabelos lisos e compridos, sem nenhuma pressa aparente, apenas desembaraçando os nós da cortina escura que eu ainda me permitia chamar de madeixas. Enquanto eu trabalhava pacientemente, meus olhos varreram o quarto à procura de apenas uma coisa. Não demorei a encontra-lo. Em cima de minha escrivaninha para deveres de casa e estudo (como se eu utilizasse muito desse móvel) estava o objeto mais precioso que eu tinha. Uma moldura com a foto de meu pai.

É uma foto um pouco mais recente dele. Estava com uma boina azul anil que escondia seus cabelos cortados rentes e um uniforme bege, cheio de insígnias das Forças Especiais americanas. Atrás dele havia a bandeira dos Estados Unidos como plano de fundo. Ele é um soldado militar de elite do país, e há um ano que não retorna para casa, desde que fora levado para a guerra do Afeganistão. Nunca perdi as esperanças em relação ao retorno dele, e também nunca duvidei de sua capacidade de sobrevivência. Ele treinou a vida inteira para esse momento. Meu pai é forte. E ele me liga de vez em quando. A cada dois meses ele recebe permissão para falar com a família e parece nunca estar de mau humor.

Meu pai é meu herói.

E um exemplo, de certa forma.

— Volte logo pra casa, pai. — Murmurei, largando a escova de cabelos enquanto levantava-me e soltava um suspiro. Estufei o peito enquanto imaginava meu pai no meio da zona de perigo em tempo constante, sobrevivendo sem esforço. Então, se ele podia lutar contra milhares pelo seu país sem reclamar um momento sequer da função que lhe foi incumbida, por que eu não poderia encarar mais um ano de Ensino Médio?

Tomei a mochila com os materiais em mãos, saindo do quarto.

***

Quando atingi o meio da escada, não sabia o que havia me atingido velozmente e me feito oscilar nos degraus. Havia duas opções, um mini ciclone havia entrado na casa, ou meu irmão mais novo havia acordado e acabado de se dar conta de que era o primeiro dia de aula.

— Mãe! Tá na hora da escola!

Grunhi de frustração enquanto terminava de descer as escadas, rumando a cozinha apenas para me deparar com o menino completamente empolgado com a ideia de voltar para o colégio.

É fácil quando você está apenas no primário.

É. Meu irmãozinho tem apenas oito anos. Mal sabe ele os momentos que o aguardam no secundário, e depois no médio. Se ele não se sentir torturado, temo ter de lidar com o fato de meu irmão ser um nerd.

E ele se mantinha empolgado, quase pulando em sua cadeira, enquanto mamãe estava colocando seu cereal colorido numa tigela na sua frente e adicionando um pouco de leite. Murmurava e cantarolava baixinho:

— Hora da escola, da escola...

Sentei-me numa cadeira na outra ponta da mesa da cozinha e arqueei as sobrancelhas, enjoada daquela musiquinha dele.

— Obrigada por me lembrar, Preston. Eu nem fazia ideia. — Falei com um sorriso sarcástico e um tom azedo, colocando cereal açucarado dentro de minha tigela, mais iogurte de morango no conteúdo. Mamãe franziu o nariz, porém nada disse sobre isso. Apenas colocou meio copo de suco de laranja para mim, deu um beijo na minha testa e bagunçou os cabelos do caçula, dizendo:

— Lola, eu vou levar Preston para a escola hoje. Shane vai pra universidade, mas te deixa no caminho? Tem problema?

Parei de mastigar por um momento e cogitei a ideia. Sem minha mãe tagarelando no caminho para o consultório no qual ela possui, nem Preston chutando meu assento do banco de trás. Parecia perfeito para mim, porém tentei soar um pouco indiferente. Se me mostrasse alegre, poderia magoar minha mãe, pois dona Carmen adora me levar para o colégio no primeiro dia de aula, mesmo sabendo que eu odeio o local onde eu estudo.

— Sem problemas.

Minha voz soara completamente neutra, o que foi bom, já que minha mãe parece aliviada com a minha reação. Como se estivesse com medo de me magoar.

— Ok. Mas se apresse, pois logo seu irmão vai descer. — Ela acrescentou e eu me apressei um pouco, dando as últimas colheradas no meu cereal e algumas goladas no copo de suco quase intocado.

Dei uma olhada no relógio da cozinha. Quase sete horas da manhã e nada de Shane descer daquele quarto. Era melhor eu subir e chama-lo. Peguei a mochila e levantei-me da cadeira bem a tempo, pois Preston insistia em chutar uma mesa pesada de madeira e não desistiria até fazer os copos pularem e derramarem suco para todo o lado. Saí do cômodo, escutando minha mãe lhe dar uma reprimenda.

Enquanto eu subia as escadas, mal precisei terminar o percurso, pois meu irmão mais velho já estava percorrendo escada abaixo. O mesmo não tardou em me ver e me dirigiu um enorme sorriso, com as mochilas nas costas. Por incrível que pareça, estava mais arrumado. Para quem iria estudar, estava produzido em demasia. Preferi não comentar antes de receber um devido bom dia.

— Bom dia, Fusquinha! — Ele disse, se aproximando na escada, dobrando os joelhos por estar um degrau acima e por eu ser um tanto mais baixa. Agarrou as minhas duas orelhas de leve e beijou meu nariz. Eu franzi o mesmo quando ele o fez, aceitando de bom grado o gesto carinhoso.

— Bom dia, Grandão. — Respondi-o, tentando colocar um sorriso no rosto, porém este devia estar bem amarelo para não ter convencido Shane de meu entusiasmo. Franziu o cenho e questionou:

— Qual o problema, baixinha?

Minha face se transformou numa leve carranca enquanto eu dava as costas para meu irmão e começava a descer o restante das escadas, rumo ao hall da casa. Ele seguiu atrás de mim enquanto eu abria a porta, rumando o jardim e a frente da casa, onde estavam estacionados os devidos carros dos que já podiam dirigir. Shane gritou, com a cabeça ainda dentro do hall:

— Tchau mãe!

A resposta foi: “Tchau queridos, tenham um bom dia.” Como sempre, porém hoje tinha um adicional. “Estudem e não voltem burros.” Revirei meus olhos e marchei até o carro preto de meu irmão. Sinceramente, não sei que tipo, marca ou fabricante. Nunca fui uma conhecedora de carros, por isso eu não estava nem ligando. Tenho homens em casa, e esses podem me ajudar a escolher um bom carro quando eu tirar a minha carteira de motorista.

Já a caminho do colégio, Shane soltou um pigarro e olhou-me de esguelha.

— Vai me contar o motivo de tanta frustração?

Semicerrei os olhos e descruzei os braços, voltando o mirar para meu irmão, esperando que ele adivinhasse o óbvio. Afinal, ele também estudou em St. James.

— É o primeiro dia de aula.

Ele me olhou interrogativamente.

— Pensei que gostasse do colégio. — Ele tentou supor, falhando lamentavelmente na sua indagação. — Eu gostava de lá, no meu tempo. — Acrescentou.

— Ah é, eu havia me esquecido. — Rebati causticamente. — Shane Linsenbröder. Eleito o melhor jogador de futebol americano que atuou pelo colégio St. James. — Ele sorriu de canto e deu um revirar de olhos enquanto eu falava de seu título notório nos seus tempos de Ensino Médio. Aproximei o rosto do meu irmão, arqueando as sobrancelhas para fechar o ato de zombaria — Turma de 2011.

Dessa vez ele riu de verdade e tentou me afastar com o cotovelo, mantendo ambas as mãos no volante.

— Para, Fusquinha. Eu estou dirigindo. — Ele olhou para mim e continuou sorrindo, sem sair um dedinho da faixa enquanto conduzia o automóvel. — E coloca o cinto de segurança. Parece que você nunca aprende.

— Você quem manda papai. — Falei, franzindo o nariz com azedume e colocando o raio do cinto de segurança. Não podia bobear. Shane realmente parecia com papai. Os mesmos cabelos castanhos, o rosto rígido e másculo, porém com um sorriso que faz qualquer traço de severidade desaparecer. Eles tinham até o mesmo queixo. Porém meu irmão tem a aparência menos assustadora, já que nosso pai tem tatuagens escondidas no corpo pela farda e, era militar. Enquanto isso, Shane era estudante de medicina, pretendendo seguir os passos de minha mãe; sem contar com o fato de que ele era altamente fofo apesar do porte.

O percurso até a escola não era longo e nem tinha trânsito, apesar do horário de pico. Boise pode ser a capital do estado, porém não possui tantos habitantes para fazer aglomerações de automóveis. Entrementes, Shane sempre dava um jeitinho de fazer um papo curto render.

— Você ainda não me disse por que está revoltada com o primeiro dia de aula.

Olhei-o de cara fechada, largada no banco e de ombros enrijecidos. Tentei ao máximo não utilizar do meu estoque de sarcasmo para respondê-lo, fazendo isso do modo menos sem educação que eu podia.

— Por quê? Porque eu estou cansada de estudar com aquele bando de imbecis. — Falei. — É isso.

Ele parou no sinal e coçou a barba, me olhando com um leve sorriso que ainda portava. Quando viu o nível de seriedade de minha sentença ao ver minha expressão sem quaisquer feições de humor, fez uma careta de lábios franzidos e se sentiu confuso.

— Imbecis? — Questionou o adjetivo. — Todos são imbecis?

Cruzei os braços fronte ao corpo e assenti uma vez em sua direção, como se isso fosse óbvio.

— Hã, é.

Ele levou um dedo ao queixo, fingindo-se de pensativo enquanto fazia um bico exagerado. Me olhou de esguelha como me perguntasse: “é meeeeeesmo?”. Às vezes, meu irmão me assusta. Desconfiava de que ele fosse um pouco louco.

— Sério? — Ele perguntou outra vez, porém eu não respondi. — Até mesmo seus amigos?

— Meus amigos são uma rara exceção. — Assinalei. — Pois eles compartilham os mesmos ideais e pensamentos que eu.

— E você vai vê-los hoje, certo?

— Certo.

Shane esperou o sinal abrir, permaneceu em silêncio por um tempo antes de dizer sábias palavras. Quase pude ouvir meu pai nesse conselho.

— Se seus amigos estarão com você, nada mais justo que vocês dividirem esse perrengue. Afinal, se vocês vão passar pela merda do Ensino Médio e reclamar das pessoas, nada melhor que fazerem isso enquanto estiverem juntos.

E por incrível que pareça, ele conseguiu arrancar o meu primeiro sorriso genuíno do dia.


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Notas finais do capítulo

E aí? Curtiu? Curtiu? Curtiu?! *-*Comenta, recomenda pros coleguinhas, faça críticas construtivas... Só não me xinga, tá? Não sei, não fiz nada pra você (eu acho, não sei se você me conhece), mas sei lá. Talvez eu tenha ofendido-lhe diretamente com a minha escrita ruim e enfim.Obrigada por ler ao menos o primeiro capítulo, e se você tem alguma sugestão (uma que me dê uma produtiva melhor para a história, por favor), comenta também. Opiniões são sempre bem-vindas.



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