Enigma escrita por Matheus Pereira


Capítulo 15
Contra o Relógio


Notas iniciais do capítulo

Reta final de "Enigma". Se você nunca leu essa fanfic, aproveite para conhecê-la desde seu início. Aos que já estão acompanhando, uma excelente leitura ;D



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11h49

Lucchesi entrou no escritório de Warwick como um furacão. Sozinho, o delegado lia alguns papéis em silêncio. Estava imóvel, muito concentrado. De prontidão, Warwick volveu o olhar para o detetive italiano, que marchava em passos largos em direção à mesa de carvalho.

– Mas que diabos está acontecendo? E, por acaso, a viatura policial não é um brinquedo – disse Warwick em tom de ordem, tirando os óculos. Lucchesi colocou a poucos centímetros do rosto do delegado Warwick uma coleção de papéis datilografados e com inscrições da policia de Unionville na capa. Warwick puxou o escrito da mão de Lucchesi com agressividade.

– Eu sei que você está frustrado, Lucchesi, mas não há razão para tamanha descortesia – disse Warwick, colocando os óculos novamente. Lucchesi bufou e posicionou as mãos na cintura. O italiano mordia os lábios enquanto Warwick arrumava a mesa, despreocupadamente, antes de iniciar a leitura do escrito.

– Lucchesi! – Thomas adentrou o cômodo num rompante e estendeu com a mão um envelope para o detetive italiano – Você recebeu um telegrama.

– Leia logo, Warwick, eu não tenho o dia todo! – disse Lucchesi, pegando o envelope das mãos de Thomas.

– É de James. James de Washington – disse o detetive italiano entusiasmado.

– O que? Washington? Você está envolvendo os federais? – Warwick perguntou em tom alto e severo, mas Lucchesi não o deu atenção alguma. Rasgou o envelope. Warwick desviou o olhar para Thomas, que nervoso, respondeu:

– Não, senhor, Lucchesi apenas contatou um amigo dele que poderia ajudar em levantar algumas informações – Lucchesi corria os olhos pelo papel e não conseguiu esconder que estava surpreso. Arqueou as sobrancelhas e sorriu com satisfação.

– Thomas, nós estamos indo para a casa da senhorita Morgan – disse Lucchesi.

Sob o olhar de espanto do jovem cheio de sardas, Lucchesi pôs as mãos nas chaves de uma viatura que deitavam na mesa de carvalho e marchou para fora da sala. Thomas, paralisado, olhou para Warwick, como se pedisse por instruções. Warwick, em um ímpeto, ergueu-se e, empurrando Thomas, saiu do seu escritório, indo atrás de Lucchesi.

– Lucchesi! – esbravejou, ainda com o papel que estava lendo em mãos – Isso ainda não prova nada!

– Como não, Warwick? Está tudo aí, em papel, documentado. É oficial – Lucchesi disse, abrindo uma viatura. Thomas se aproximava dos dois. Observava a discussão com preocupação.

– Da forma como eu vejo, e da forma como um juiz verá, é a palavra de um rapaz conhecido por transgredir as leis contra a de uma mulher que acabou de perder o noivo. E, por acaso, esse cidadão apenas tem a perder em levar tudo isso a um tribunal. Isso, para mim, é lixo. – disse Warwick, enquanto começava a rasgar o documento – E você, Lucchesi, está enlouquecido, em desespero, porque não consegue admitir que esteja errado!

Lucchesi bateu a porta da viatura e fuzilou Warwick com o olhar pelo o que pareceu uma eternidade. Thomas se aproximava, como se temesse uma luta física. O italiano respirou fundo e, então, soltou uma risada.

– Pelo amor de Deus, Warwick. E o que esse caso significa para você, em primeiro lugar? – Lucchesi se aproximou do delegado e seus olhos só faltavam queimar de raiva – Apenas uma maneira de conseguir entrevistas, ter algum reconhecimento na imprensa. Você precisa disso, não é mesmo? Você é tão inseguro que precisa da aprovação de totalmente desconhecidos. Está acusando a pessoa errada, Warwick – o delegado ficou sem uma resposta e Lucchesi lhe deu as costas e entrou na viatura.

– Eu não tenho mais tempo para isso, Warwick.

– Maldito! O que irá fazer na casa da senhorita Morgan? – Warwick berrou.

A única resposta do delegado foi o rugido do motor da viatura. Lucchesi deu uma partida violenta e, logo depois, desapareceu na esquina. Tirando do bolso uma outra chave, Warwick disse:

– Dirija, Thomas.

E então os dois partiram, aos solavancos, pela pobre estrada, logo atrás de Lucchesi.

12h04

Ruby Morgan segurava uma foto emoldurada de Daniel. Ele devia ter dezesseis ou dezessete anos na imagem e, apesar de mais jovem, tinha o mesmo rosto. Era um rosto sério, a mandíbula era forte e tinha frios olhos castanhos. O pequeno Daniel vestia um terno com uma gravata desajeitada. Ruby Morgan lembrou-se de sua pele branca e macia. O cabelo liso, curto e elegante, era penteado num arrogante topete. Ruby Morgan iluminou a fotografia com um sorriso, passando os dedos pelo retrato.

Seguiu-se uma forte e repetitiva batida na porta da entrada. O barulho repentino assustou a senhorita Morgan por um segundo. Respirando fundo, ela largou o porta-retrato com a fotografia de Daniel numa mesinha próxima ao modesto sofá. As batidas continuaram e, sem hesitar, a senhorita Morgan abriu a porta.

Seus olhos verdes cor do mar encontraram o olhar fumegante e cansado do detetive Lucchesi.

– É um prazer vê-la novamente, senhorita Morgan – disse Lucchesi em uma voz forçadamente suava, aproximando-se ainda mais de Ruby – Vai me convidar para entrar, não é mesmo? Eu tenho perguntas a serem feitas, se não for incômodo demais.

Seus rostos estavam quase se encostando. Lucchesi sentia a respiração acelerada e quente de Ruby lhe tocando o rosto. O italiano lia uma mistura de fúria e surpresa nos olhos de Ruby e arriscou um discreto sorriso de satisfação. Próximo dali, Thomas e Warwick fechavam a porta da viatura. Foi a saída que Ruby encontrou para desviar seu olhar.

– Pode entrar, sim. Vejo que trouxe seus amigos – ela disse, com voz decidida, já recomposta do susto. Assumia, novamente, uma postura de uma mulher segura de si.

– Com licença, senhorita Morgan. Não tem necessidade que... – iniciou Warwick, que chegava a entrada da casa com pressa e respiração ofegante.

– A senhorita Morgan se dispôs a nos receber, senhor delegado. Não há motivos para se exaltar tanto. Olá, Thomas – Lucchesi disse secamente.

– É claro. Por favor, entrem – a senhorita Morgan disse e os três homens entraram na casa. Dessa vez, as janelas da sala estavam abertas e a luz do sol invadia o ambiente, revelando os móveis baratos que colecionavam poeira. Thomas respirava com alívio.

– Do que se trata isso tudo? – perguntou Ruby, trazendo uma cadeira de madeira consigo e permitindo que os homens se acomodassem no sofá da sala de estar. Thomas, quase espremido, observava Lucchesi com curiosidade. "O telegrama... O que será que a mensagem diz?", o jovem inspetor pensava consigo mesmo. Warwick, por sua vez, parecia extremamente insatisfeito. "Rapaz miserável... Irei expulsá-lo daqui com minhas próprias mãos caso ele incomode a senhorita Morgan", pensava o delegado.

– Ruby Morgan, há algumas coisas curiosas que a senhorita esqueceu de nos contar quando a interrogamos. – disse Lucchesi, observando a jovem passar a mão nos cabelos negros, um pouco nervosa.

– Bom, eu apenas respondi às perguntas que a mim foram feitas. Caso eu tenha esquecido de relatar algum detalhe, não fiz por mal. Foi tudo tão rápido, logo depois de eu ter encontrado o corpo. – suspirou, como se lembrar daquilo fosse um pesar – Eu tentei me manter o mais calma possível para responder as perguntas.

– Eu lembro de tê-la perguntado quando a senhorita havia visto o seu noivo pela última vez. Você disse que havia sido na madrugada anterior ao crime, não é mesmo? – Lucchesi se levantou e passou a dar alguns passos lentos em frente à Ruby.

– Sim, está correto. Eu acordei, ele não estava mais lá. Pensei que voltaria à noite... E, você sabe, ele nunca mais voltou – ela disse, pausadamente.

– Explique-me, por favor, senhorita Morgan, porque foi vista com seu noivo após as 22 horas, na noite do crime, em frente à sua casa? – Lucchesi perguntou e, agora, ficou paralisado em frente à senhorita Morgan. Ela se encolheu na cadeira e seu rosto se enrugou em surpresa. Em um segundo, porém, ela voltou ao normal.

– Isso não é possível, detetive. – disse ela, incrédula – Quem diz ter visto tal coisa ou está mentindo ou está enganado. Detetive, o meu noivo não retornou para casa.

– Por que alguém mentiria quanto a isso, senhorita Morgan? Por que alguém mentiria que você estava com seu noivo, pouco tempo antes do assassinato do rapaz? – Lucchesi se aproximou ainda mais. Ruby Morgan estava totalmente encolhida na cadeira. Seu rosto pálido era tomado por um rubor.

– É vocês da polícia que devem se ocupar do maldito assunto. Se alguém mentiu sobre isso provavelmente quer desviar a atenção de si mesma e deve ser o verdadeiro assassino – ela disse, cuspindo as palavras. Lucchesi observou que as mãos alvas de Ruby tremiam.

– Você tem certeza que não estava com seu noivo na noite do crime, senhorita Morgan? – Lucchesi perguntou.

– Pare de pressionar a moça, pelo amor de Deus! – Thomas falou em tom alto.

– Não! Eu não... Eu não estava com Daniel, pela milésima vez! Eu estava em casa! – Ruby disse, limpando uma lágrima que lhe descia o rosto com a mão tremula. Warwick estava a ponto de intervir quando Lucchesi arrancou do bolso da calça um papel.

– Interessante também, senhorita Morgan, que uma moça tão bonita como você, com todo o respeito, tenha se envolvido com Daniel Smith. Um rapaz que estava envolvido com bebidas, jogos de azar e não podia lhe dar conforto algum – Lucchesi prosseguiu.

– Pare! Eu... Eu amava Daniel... Eu amo Daniel – ela disse, chorosa.

– Daniel Smith fez um seguro de vida há alguns meses, não é mesmo? – Lucchesi perguntou e os olhos arregalados de Thomas e Warwick se fixaram nele – Um seguro de vida avaliado em três mil dólares. Ele poderia passar a vida trabalhando e talvez não conseguisse tanto dinheiro. Mas isso não importa. O que chama atenção é que a única beneficiária, Ruby Morgan, é você.

– Eu... Eu não sabia disso – Ruby disse, pousando uma mão na testa.

– Por que o senhor Smith fez um seguro de vida, mesmo sendo tão novo? – Lucchesi questionou, observando com curiosidade enquanto a senhorita Morgan se desesperava.

– Eu nem mesmo... Eu não sabia que ele tinha feito um seguro de vida! Ele não me disse nada a respeito disso, nunca. Pelo amor de Deus, me deixe em paz!

– Sabe, senhorita Morgan, eu não consigo acreditar na senhorita. Eu acho que a senhorita não esperava por isso. Algumas coisas não se encaixam ainda, devo admitir. Mas a senhorita escondeu coisas o tempo todo – Lucchesi disse severamente e os olhos chorosos de Ruby o encontraram, suplicantes – Há mais alguma coisa que eu deva saber, senhorita Morgan? É melhor que diga de uma vez, pois, no final das contas, eu irei descobrir a verdade.

– Eu sei o que está insinuando, detetive. Mas eu não matei meu noivo! – ela limpou as lágrimas – Isso é um absurdo. Eu jamais, jamais faria tal coisa, com qualquer pessoa.

– Deixe-a em paz, Lucchesi. – Warwick disse firmemente, levantando-se.

– Sim, já é suficiente. – o italiano disse, observando a bela moça chorando por mais alguns segundos. Era de impressionar que uma moça, a primeira vista tão suave e segura se desfizesse em copiosas lágrimas. O olhar do detetive, então, se desviou para uma fotografia emoldurada. No retrato apagado, via-se um rapazinho de pele muito branca, vestindo um terno. Ele posava para uma fotografia com um semblante fechado e olhos castanhos sem vida. Tinha alguns dezoito anos na foto, não mais que isso. O cabelo preto e brilhante estava arrumado num topete, que lhe acrescentava um ar arrogante.

– Vamos, Lucchesi – chamou Thomas, numa voz fraca, da porta da casa.

– Desculpe-me por minhas indelicadezas, senhorita Morgan, mas você mereceu. – disse Lucchesi, deixando o ambiente.

As viaturas estavam estacionadas a alguns metros da entrada da casa da senhorita Morgan, à margem da estrada. Lucchesi, no descampado, observava ao longe a floresta que ia se avolumando, lembrando-se da descoberta do cadáver de Daniel, todo ensangüentado e mutilado.

– Não esperavam por isso, não é mesmo? – Lucchesi perguntou, virando-se para Warwick e Thomas. Os dois estavam pensativos, próximos à viatura.

– Um seguro de vida, num valor tão alto? Não, eu não esperava, Lucchesi. – Warwick respondeu, calmamente – É claro que esse fato curioso levanta suspeita, principalmente levando em conta a crise que abate o País.

– Está dizendo, então, que a senhorita Morgan assassinou o seu próprio noivo? – Thomas perguntou para Lucchesi.

– Não, eu não afirmo isso. Porém, o depoimento da senhorita Morgan é inconsistente em diversos pontos. É só pensar na reação dela ali em sua própria casa que fica claro que ela está em desespero. E, na realidade, todo o caso é cheio de peculiaridades, quero dizer, muitas coisas não foram esclarecidas. Por isso mesmo, é sensato investigarmos um pouco mais antes de acusar um inocente. – Lucchesi falou calmamente. Os raios de sol lhe tocavam a pele e ajudavam a espantar o cansaço. No interior do bosque, alguns pássaros gorjeavam e uma brisa soprava suavemente.

Warwick e Thomas entreolharam-se como se perguntassem, em silêncio, quem responderia Lucchesi. O detetive recebeu com estranheza aquela comunicação muda.

– O que há de errado? – perguntou Lucchesi. O silêncio perdurou por mais um tempo, rompido apenas pelo canto de pássaros ao longe.

– Há algo que não lhe contamos, Lucchesi. – Thomas disse finalmente. Lucchesi franziu as sobrancelhas – As coisas parecem claras para nós. É claro que algumas poucas questões não foram respondidas satisfatoriamente, mas não é nada que afete nossa acusação. Esta manhã, eu e Warwick estávamos conversando, enquanto você estava em Unionville. Como nós esperávamos, você não conseguiria apontar nenhum nome como o assassino de Daniel Smith. Decidimos que era inútil perder tempo esperando até o fim da tarde para fazer uma acusação formal contra David Becker, pois isso apenas lhe daria mais vantagem em escapar da polícia.

– Não posso acreditar! – disse Lucchesi, interrompendo Thomas.

– É apenas um requerimento de prisão temporária, Lucchesi. Não é o fim do mundo. Você deve admitir, David Becker é o principal suspeito. E ele está foragido. – Warwick disse, com voz macia. Pausou por alguns segundos, observando o olhar desapontado de Lucchesi. – Não é sua culpa, Lucchesi. Você está exausto, não está em seu juízo perfeito. Está se torturando e o está fazendo por pura teimosia.

– Não, Warwick, eu certamente estou cansado, mas eu estou raciocinando perfeitamente. É um disparate dizer que David Becker assassinou Daniel Smith! – disse Lucchesi, em tom mais alto – Há muita coisa de errada com essa teoria. A motivação é inexistente. Os meios, a oportunidade que o senhor Becker teve para empreender o crime, por sua vez, são terrivelmente obscuros. David Becker desaparece cerca de meia hora antes do horário mínimo da morte do senhor Smith. Onde esteve nesse tempo? Não podemos ignorar que o senhor Smith foi visto com a senhorita Morgan a poucos minutos antes do crime.

Thomas o olhou em silêncio e finalmente disse:

– Lucchesi, de nada adianta todo esse alvoroço. David Becker, sendo ou não assassino, é uma peça-chave do quebra-cabeça, sendo ou não assassino. Deve, então, explicações à polícia.

– Mas me parece que a polícia já está colocando a cabeça do rapaz numa corda – respondeu o detetive, lançando um olhar acusador para Warwick.

– Não temos dúvidas de que David Becker assassinou Daniel Smith – Warwick respondeu.

– Se é esse mesmo o caso, por que não me explicam, afinal, como foi que o senhor Becker cometeu o crime? Qual é a teoria?

– Lucchesi, é simples. David provavelmente queria se vingar de Daniel. Essa história de idolatrar o rapaz, buscar uma figura paterna é um pouco doentia, não acha? David já planejava matá-lo aquele dia em que eles se encontraram no bar. Tenho certeza que orquestrou tudo metodicamente e que levava a arma do crime consigo quando eles se encontraram. Após isso, é tudo uma questão de analisar alguns horários que você mesmo, Lucchesi, coletou no bar clandestino. Mesmo com o viés premeditado do crime, David Becker não deve teve coragem para seguir adiante com o plano. Ele se despediu do senhor Smith assim que chegou a sua casa, onde a senhora Becker o esperava. Daniel seguiu adiante. David Becker deve ter se escondido entre as árvores que margeiam a estrada assim que percebeu que a irmã estava deixando a casa. A escuridão também dificultaria que ela visse qualquer coisa muito de longe.

– Como explica, porém, que Daniel Smith foi visto discutindo com a senhorita Morgan logo depois? – Lucchesi perguntou a contragosto.

– Lucchesi, se tem algo que você acertou foi em dizer que a senhorita Morgan estava insatisfeita. Certamente ela iria discutir com o noivo assim que ele voltasse, por ter retornado tão tarde de um bar clandestino. Aliás, iria discutir por ele ter até mesmo ido a tal lugar e consumido bebidas com álcool. Nesse meio tempo, suponhamos que David Becker toma coragem e resolve pôr seu plano de maníaco em ação, mesmo que signifique um duplo homicídio, abatendo também a senhorita Morgan. Não é necessário, felizmente, pois Daniel está voltando ao bar clandestino, após ter brigado com a mulher, coisa que o tal John afirma ter presenciado, ao passar por tal região. Quero dizer, aonde mais Daniel Smith iria, não tendo lugar algum para ficar? Daniel encontrou David no caminho, uma infeliz coincidência. O legista atentou para um golpe desferido na cabeça na autópsia, feito por algum objeto pesado. Sugeriu algo feito de madeira. David não planejou tal parte, é claro, mas achou conveniente portar tal objeto.

– Fantasioso a primeira vista, mas plausível, admito. – concordou Lucchesi.

– David desferiu, assim, o golpe com toda a força que pôde, atingindo Daniel na cabeça. Arrastou o senhor Smith, desacordado, por alguns metros, a fim de pôr fim à vida dele na floresta, o que atrasaria a descoberta do corpo. Isso lhe daria mais tempo para uma fuga. Não conseguiu carregá-lo muito mata adentro, o que frustrou seus planos, é claro, pois a senhorita Morgan viria a descobrir o corpo na manhã seguinte. A senhora Becker chamou atenção para o fato de que David era "delicado". Não tinha muita força física, assim entendo e, logo, não foi capaz de arrastar Daniel para mais longe. Após tal esforço, David Becker assumiu seu espírito maldoso e impiedoso, cometendo o crime da forma mais cruel possível, com os detalhes gráficos que já sabemos. Também é sabido que David tinha uma quantia de dinheiro que juntou. Teria emprestado-a para Daniel Smith, num ato de lealdade. Porém, não há motivo pelo qual achar que tenha emprestado todo o dinheiro. Teria, então, usado uma possível quantia remanescente para fugir, sabendo que, uma vez descoberto o corpo, que as suspeitas invariavelmente cairiam nele. Acabou, contudo, deixando para trás um único rastro: um reconhecível chapéu estilo Fedora – Thomas terminou, mas em uma voz que demonstrava insegurança, como se buscasse a aprovação de Lucchesi.

– Falha em explicar a situação da senhorita Morgan, na manhã seguinte ao crime. Ela escondeu o fato de que o noivo tinha voltado para casa. E sua teoria toma essa circunstância como verdadeira. – apontou Lucchesi.

– Fácil. Se dissesse que Daniel tinha voltado para casa, teria que explicar também porque ele não permaneceu ali. Ela teria, assim, que relatar a discussão que fez Daniel ir embora, minutos antes do crime. A briga, ao menos assim pensou a senhorita Morgan, poderia ter feito dela uma suspeita em potencial. E, na mente dela, omitir tal fato não prejudicaria em muito as investigações – Thomas falou claramente, agora inflado com sua própria importância.

– E quanto ao seguro de vida? Por que Daniel Smith teria feito um? A senhorita Morgan é a única que realmente teve benefícios com a morte do senhor Smith. – Lucchesi disse logo em seguida.

– Estou inclinado a pensar que ela é genuína quando diz que não sabia que ele havia feito um seguro de vida. – disse Warwick.

– Pensa assim porque ela tem um rosto de anjo? – retrucou Lucchesi.

– Lucchesi, vá para casa. Descanse. Não preciso mais dos seus serviços. Você está dispensado do caso. – Warwick disse, com voz austera.

– Ótimo. O senhor fez um excelente trabalho acusando a pessoa errada. Já que eu não sou mais útil, queira me dar licença – respondeu Lucchesi, indo embora logo em seguida.


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Notas finais do capítulo

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