Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a vocês, comentaristas lindos:
*Clove di Angelo;
*Miss Death e
*Nick Fleteher...
Continuem acompanhando!!!



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Durante o jantar, tentei ser o mais normal possível, mas volta e meia eu tornava a pensar nos olhos dela. Eles clamavam por atenção. Decido deixar para lá e me viro para Lauren, que neste momento está gargalhando das piadas de Zeke.

“Lauren como está indo com os Iniciados Destemor?” - Eu pergunto.

“Bom, estão me dando muita dor de cabeça, principalmente o irmão desse aqui.” - Ela responde enquanto aponta para Zeke. Uriah, com certeza é uma presença, digamos, notável. Zeke sempre seu irmão comparou com um enxame de abelhas, por ser barulhento e adorar uma confusão.

“Mas, e você, como está se saindo?” - Ela me indaga.

Eu adoraria esquecer como estou me saindo, mas parece que isto não é possível porque, ainda que eu não queira admitir, parte de mim quer partilhar com meus amigos sobre a garota...

“Estou bem, mas vocês sabem não é?” - Pergunto olhando pra ela e Zeke. -“Sou tão acessível como uma cama de pregos.”

“Quem te disse isso?” - Shauna pergunta sem nem sequer tentar disfarçar o riso.

“A Careta.”

“Ela tem um pouco de razão, às vezes você é tão gentil quanto um estalo de chicote nas costas.” - Zeke me diz, arrancando outra rodada de gargalhadas de Lauren.

“Muito legal da sua parte.” - Eu digo querendo mudar o assunto. - “A propósito você poderia levar os transferidos para os dormitórios, Lauren? Pretendo resolver um problema.”

“Sem chance, terminando aqui, vou levar os iniciandos do Destemor para um ritualzinho de passagem. Além do mais, Zeke e eu concordamos que está muito fácil pra eles... Então, está na hora de dificultar um pouquinho as coisas.” - Diz ela com um sorrisinho enviesado.

De repente, ela toca a palma da mão direita na própria testa, como quem tivesse tido uma ideia brilhante, se volta para mim.

“Sei quem pode fazer isso por você. O Eric!” - Lauren diz com um sorriso.

Claro que ele iria adorar assustar os iniciandos. Eu aceno, me despeço e vou em direção ao meu quarto. Deito-me na cama e tento me livrar dos pensamentos que me perturbam todos os dias e, surpreendentemente, hoje, isto foi mais fácil porque logo minha mente foi ocupada por uma garota baixinha e atrevida de olhos azuis e cabelos loiros, cujo nome não sai da minha mente.

Algo dentro de mim quer que ela sobreviva à iniciação.

Adormeço com esse pensamento.

*************************

“A primeira coisa que irão aprender hoje é como atirar, e a segunda é como ganhar uma luta.” - Falo enquanto entrego armas aos transferidos, assim que eles acabam de se alinhar na sala de alvos. Como é de se esperar, senão todos, ao menos a maioria nunca pegou em uma arma de verdade em suas vidas e percebo a inquietação que toma conta da sala. Inclusive ela está apreensiva. Mesmo assim, a segura firme em suas mãos, analisando a extensão fria e insensível do metal.

Desvio meu olhar dela e prossigo.

“Felizmente, se vocês estão aqui já sabem como pular para dentro ou fora de um trem, então eu não preciso lhes ensinar isso também.” - Olho para cada um e tenho certeza de que estão exaustos. Ainda não decorei seus nomes, mas já percebo pelos seus comportamentos que a corrida, o trem e o salto quebraram suas rotinas e o preço foi cobrado em seus corpos, visivelmente cansados.

“A iniciação é dividida em três estágios. Nós iremos medir seu progresso e classificá-los de acordo com suas performances em cada um deles. Os estágios não têm o mesmo peso na determinação das suas classificações finais, então, é possível, apesar da dificuldade, que sua posição mude drasticamente durante o processo. Nós acreditamos que a preparação acaba com a covardia, que é definida como não se deve agir diante do medo. Portanto, cada um dos estágios da iniciação tem diferentes formas de prepará-los. O primeiro é basicamente físico, o segundo emocional e o terceiro o mental.” - Eu lhes digo.

“Mas o que...” - Um garoto da Sinceridade boceja enquanto faz uma de suas ridículas perguntas. - “O que atirar tem a ver com bravura?”

Realmente, não gosto das pessoas da Sinceridade. Giro a arma que estava em minha mão e a pressiono na testa dele, - vamos ver quanta bravura você tem, eu penso - e o encaro.

“Qual é o seu nome?” - Eu pergunto.

“É... Peter.” - Ele responde.

“Acorde, você está segurando uma arma carregada, seu idiota. Aja como tal.” – Eu lhe digo.

Afasto-me, mas percebo que ele ainda está com medo e não é à toa que está tentando disfarçar. Contudo, seu rosto não nega e, num claro sinal de submissão ele abaixa a cabeça. Não consigo deixar de comparar esta cena com a que ela me proporcionou no refeitório ontem. Tris não desviou seu olhar, não demonstrou nem ao menos minimamente, temor por suas atitudes e palavras. Ela me encarou de forma firme, porém, impassível, como se não tivesse sido abalada.

Peter é um garoto alto, musculoso e, aparentemente, seguro de si. Tris é pequena e desprovida de massa muscular. No entanto, isso não significa nada. Ela é forte, ele não.

Vou andando até o final do corredor e começo:

“E para responder sua pergunta, Peter... É muito menos provável que você molhe suas calças e chame por sua mamãezinha se souber se defender. Essa é a primeira informação que vocês talvez venham a precisar no primeiro estágio. Então me observem.”

Posiciono-me com os pés separados, seguro a arma com ambas as mãos, encaro uma parede de alvos, e atiro, acertando todos no meio, exatamente da forma como Amar me ensinou. Viro-me para eles, todos ainda estão olhando boquiabertos pra mim. Todos menos ela, que fita a própria arma em punho e, depois, a parede na qual os alvos se encontram dispostos. Tris é a primeira a tentar, mas erra. Os outros a seguem e tentam também. Observo um a um, até parar, por um relance, os olhos em um garoto alto e loiro que está ao lado dela, lhe falando alguma coisa. Ela acerta o alvo e olha para ele com um tímido sorriso que ele retribui. Aperto os punhos e não sei porque esta cena me deixou irritado. Quem ele pensa que é?

Não sei porque senti isso, mas melhoro assim que ele se afasta dela. Eles tentam mais e, de acordo com Christina, o garoto que me irritou sem que eu saiba explicar a razão, se chama Will. Ele realmente é bom de pontaria, mas eu não vou parabenizá-lo por isso.

Tris acerta mais alguns alvos, Christina também se supera; Peter não tem uma excelente pontaria, mas à vista de Albert, - um garoto que eles chamam de Al -, ela é perfeita.

Depois de algumas horas, eu os dispenso do treinamento, dizendo para irem ao refeitório. Fico por último e observo enquanto eles se retiram. Peter sai com Drew e Molly - percebi que eles se acham os melhores aqui; Edward e Myra se retiram se olhando, sempre encostando um no outro – acho que eles tem algum tipo de relacionamento... Logo após, Tris sai acompanhada de Christina, Al e o tal garoto Will.

************************

No refeitório percebo que são bem unidos. Vejo Tris rindo, e é meio que encantador para mim. Acabo por soltar um suspiro e me arrependo imediatamente - voltando à minha postura de antes -, mas já era tarde demais porque Shauna havia percebido e me encarava com dúvida.

“O que você tem Quatro?” - Ela pergunta.

“Nada. Estou cansado apenas.”

“Hum...” - Ela se senta do meu lado tentando acompanhar minha visão, eu viro rapidamente para ela e a encaro.

“Olha de novo pra que saiba quem é ela, já que não vai me dizer. Ou será que é ele?” - Ela diz enquanto ri.

“Não tem ninguém. Não é porque você e Zeke estão flertando que é obrigado todo mundo estar apaixonado.” - Tento soar neutro, mas minha voz treme quando digo a palavra apaixonado. Será que é isso que eu estou sentindo? Não claro que não, é coisa da minha mente.

“Sei, mas me diz pra quem você, "não estava olhando.”– É aí que eu entendo que não adianta eu não falar. De qualquer forma ela fará Zeke me perguntar e, junto com ele virão as piadinhas.

“Tris, a careta...” - Repondo enquanto procuro um lugar para olhar. - “Você sabe que eu gosto de observar as pessoas.”

“Sei, ela foi a primeira a pular, ela é corajosa não é?”

“Sim, ela é.”

Zeke se aproxima, me cumprimenta e chama Shauna, que olha pra mim com um sorriso de cumplicidade e fala baixinho: “Não se preocupe seus sentimentos estão a salvo comigo.”

E sai antes que eu possa perguntar o que ela quis dizer sobre sentimentos? Meus sentimentos? Quais? Isso apenas soma mais confusão à minha mente...

**************************

Depois do almoço guio os iniciantes para a sala do treinamento, alinho-me no centro e vejo todos.

“Como eu disse essa manhã...” - Eu começo. - “a seguir vocês vão aprender como lutar. O propósito disso é ensiná-los como agir; preparar seus corpos para responder a ameaças e desafios. Algo que vocês vão precisar, se quiserem viver como integrantes do Destemor. Vamos treinar técnica hoje, e amanhã vocês irão começar a lutar uns contra os outros, então recomendo a vocês que prestem atenção. Aqueles que não aprenderem rápido, vão acabar machucados.”

Lembro-me do meu primeiro dia de luta e foi contra o Eric. Ele até tentou lutar sujo, mas mesmo assim acabou com aquele dente quebrado que ostenta até hoje. Começo a ensiná-los passo-a-passo sobre socos. Depois, mando-os tentarem fazer o que aprenderam no saco de pancadas. Edward é de longe o melhor, suas habilidades são mais precisas do que as de Peter. Tris, entretanto, não está indo nada bem. Ela não tem musculatura de uma mulher, e sim o corpo de uma garota de doze anos. Ando em sua direção e paro em sua frente.

“Você não tem muitos músculos..." - Falo da maneira mais objetiva que consigo. - “O que significa que você se sairia melhor usando os joelhos e cotovelos. Você pode colocar mais força neles.”

Ela olha pra mim, me observando, absorvendo para si meus conselhos. É quando eu posiciono minha mão em seu abdômen, o pressionando. Sei que o que queria ser era profissional, mas então porque me sentia preso nela?

“Nunca se esqueça de manter a tensão nessa área.” - Digo em voz baixa o bastante para que só ela ouça.

Minha reação logo após isso seria tirar a mão de lá, mas meu corpo não queria isso. Os olhos dela estavam fixos nos meus, me deixando mais confuso. Lembro do que Shauna sobre eu não precisar me preocupar "sentimentos estão a salvo com ela”. E se ela tivesse razão? Retiro a mão de seu abdômen, rapidamente, e continuo andando. Tento parecer casual.

Depois deles treinarem até o tempo programado libero-os para o jantar e a observo sair. Preciso falar com Shauna. A culpa é dela se agora estou confuso. Eu a vejo no refeitório ao lado do Zeke. Eles estão bem entretidos e nem notam quando eu chego.

“Oi...” - Digo.

“Hey, Quatro.” - Diz Zeke olhando cúmplice pra Shauna. Shauna fala alguma coisa no seu ouvido e ele diz que vai sair pra pegar bolo pra nós. Shauna pisca pra Zeke e algo me diz que ela não cumpriu sua promessa.

“Senta aqui, Quatro...” - Ela começa, mas a interrompo.

“O que você quis dizer com ‘sentimentos’?”

“Bom eu quis dizer que sua ‘admiração’ pela careta vai ficar só entre nós!”

“Nós? Você falou pro Zeke, não foi?” - Eu a encaro.

“Sim, mas disse que eu desconfio, não que eu tenho certeza.” - Ela diz sorrindo.

Eu tinha ido pra falar sobre isso, mas me senti um estúpido, então troquei de assunto e perguntei sobre eles. Conversamos por um bom tempo depois que Zeke chegou – sem o bolo.

Decidi ir dormir e pular o jantar. Afinal, tenho que estar pronto para amanhã.

Assim que chego ao meu quarto, meus pensamentos vêm com força total e me assombra o fato de que Tris passou a fazer parte deles. Tudo no que penso, por mais bizarro que seja o pensamento, acaba pairando sobre ela, ainda que para isso tenha que dar uma volta completa, em nó no meu cérebro.

Adormeço pensando... E se Shauna estiver certa?


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Gente, se tiver algum erro nos avisem e perdoem por favor!!!