Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Depois de algum tempo de demora voltamos!!!
Estávamos bastante ocupadas com trabalho e estudo... Dissemos que postaríamos ontem, mas devido à uma falha na rede elétrica passei (Annie) a noite sem energia! Desculpe!

O negócio é o seguinte. Temos 224 leitores e destes 100 favoritaram a fanfic, mas apenas 6% comentam... A maioria sequer comentou um que fosse. Não vamos colocar meta porque não concordamos com isso, mas atualizaremos quando pudermos.
Se participarem mais faremos o possível para adiantar as postagens! :)
Imenso agradecimento à adrianararumi, Trinity e Liesel Mills pela linda recomendação! Vcs são umas queridas e este capítulo é dedicado à vocês!
Gente, faltam cerca de dois a três capítulos para concluirmos a fic... Então, por favor comentem, recomendem e nos façam felizes!! ^^
Obrigada por todos os comentários. Lemos e nos deliciamos com cada um deles!!!
Beijos!!!



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Se há uma coisa que Amar conseguiu me ensinar durante o período da iniciação foi como condicionar meu corpo a focar-se num ponto. Essa era a única forma com a qual eu conseguia concentrar meus pensamentos e me acalmar para que eu atravessasse a paisagem do medo e fazer todo o tipo de coisas que era esperado dos membros do Destemor. Com o passar do tempo, esse exercício se tornou cada vez mais fácil e minha mente tornou-se bastante objetiva; quase insensível.

Mas nem todo o sangue frio que eu tivesse apreendido como forma de sobrevivência seria o suficiente para assistir Tris ser encurralada e machucada e nada sentir. Sei que ela não manteria seu disfarce intacto por muito tempo já que sua intenção imediata era a de buscar por sua família. Talvez ela ser alvejada e presa fosse um evento fadado a acontecer. Só que não foi assim. Ela foi ferida para evitar que eu fosse assassinado e agora olhar em seus olhos e neles enxergar dor é mais do que posso suportar, principalmente diante deste sorriso maníaco de Eric. Ele está muito quieto e não moveu um músculo sequer contra nós dois. Isso basta para saber que ele já tem algo em mente. O tiro em seu pé, dado por Tris, não ficará assim.

Alguns soldados do Destemor estão com suas armas apontadas em direção à nossas cabeças. Sei que não atiraram porque algo pior nos espera.

Olho por todo o perímetro e o que minha visão capta é um cenário grotesco de corpos amontoados, crianças assustadas e homens e mulheres saciando uma fúria assassina que foi implantada dentro de suas cabeças. Assassinos que ao acordarem terão de conviver com a culpa das vidas tiradas por suas mãos. O fato de que foram instrumento dos verdadeiros criminosos não amenizará em nada.

Essa não é a Abnegação que conheci. Não é o meu antigo lar.

Por mais que me esforçasse para vislumbrar o coletivo cinza que não devia atrair atenção, não conseguia. Tudo havia sido tingido de vermelho; inclusive Tris. Não pude parar de pensar em John e Cecília porque o mesmo se repetia conosco.

Durante todo o percurso, Tris apoiou-se em mim. A minha real vontade era coloca-la em meus braços e fugir para um lugar longe e seguro. Distante de todo esse horror. Porém meu lado racional me ordena a esperar pelo momento certo para colocar em prática um plano mais possível de se realizar. Queria ser livre ao seu lado, mas se nós dois tentássemos fugir estaríamos em maior perigo. Ela poderia ter uma chance se eu me usasse como distração.

O cano frio de uma arma engatilhada nos avisa que devemos adentrar a porta logo à nossa frente. É com nenhum espanto que vejo que Jeanine está nos aguardando enquanto termina de proferir alguns comandos pelo telefone. Comandos que agora sei serem de guerra.

Seus olhos encontram Tris e meu estômago afunda.

“Rebeldes Divergentes,” anuncia o soldado do Destemor. Ele é um dos únicos que vi acordado, o que significa que ele tem completa ciência do que está acontecendo e concorda. Constatar isso faz minha raiva crescer consideravelmente.

“Sim, eu consigo ver isso.” Jeanine diz e ao retirar seus óculos revela com mais clareza olhos acinzentados questionadores e curiosos. Por trás deles é como se houvesse um mundo altamente protegido dos possíveis planos envolvendo a todos.

“Você,” ela diz apontando para Tris. “Eu esperava. Todos os problemas com o resultado do seu teste de aptidão levantou suspeitas. Mas você...” Ela lançou-me um olhar incrédulo. “Você, Tobias, ou devo chamá-lo de Quatro? Conseguiu me iludir. Tudo sobre você estava certo: resultado dos testes, simulações de iniciação, tudo. Mas, contudo, aqui está você. Talvez você possa me explicar como isso é possível?”

Ela mantinha uma postura confiante, mas claro que seu ego havia sido ferido. Por mais de uma vez consegui enganar a tecnologia de que a Erudição tanto se orgulha. Claro que não foi sem ajuda. Quando eu ainda não sabia que precisava disfarçar minhas escolhas, Marcus me orientou. Só que eu não lhe devo nada. Se ela quiser terá de descobrir sozinha.

“Você é o gênio,” digo friamente. “Por que você não me explica?”

A boca de Jeanine se curva em um sorriso presunçoso. “Minha teoria é de que você realmente pertence à Abnegação. Que sua divergência é fraca.” Claro que sim. Isso seria o mais aceitável para justificar seus instrumentos falhos.

“Sua capacidade de raciocínio dedutivo é assombrosa. Considere-me impressionado. Agora que sua inteligência foi comprovada, você deve querer prosseguir com isso de nos matar.” Fecho meus olhos com o terror que as palavras me causaram. Sei que não deveria provoca-la ainda mais; que eu deveria tentar tirar Tris daqui, mas não vou abaixar a cabeça para ela. “Você tem muitos líderes da Abnegação para matar.”

Não sei se a dor se intensificou ou se Tris sentiu-se mais fraca pelas minhas palavras. Ela apoia todo seu peso em mim. Olho para ela, deslizo meu braço ao seu redor e a seguro pela cintura. O aperto é reconfortante para ambos e por um breve momento esqueço de Jeanine; pelo menos até ela voltar a falar.

“Não seja bobo. Não tem por que ter pressa. Vocês dois estão aqui para um propósito extremamente importante. Veja só, me deixa perplexa que Divergentes sejam imunes ao soro que eu desenvolvi, então tenho trabalhado para corrigir isso. Eu pensei que teria conseguido com o último lote, mas como vocês sabem, eu estava errada. Por sorte, eu tenho outro lote para testar.”

Claro que ela não contava que os divergentes não poderiam ser controlados pelo soro. Sei que pelo menos Uriáh está acordado. Quantos mais divergentes estão conscientes do que está acontecendo?

Se ela precisa testar outro soro é porque deve ser conseguido obter um produto mais forte. Preciso arranjar um jeito de tirar Tris daqui.

“Por que se preocupar?” Tris pergunta com desgosto na voz.

“Tenho me feito a mesma pergunta desde que o projeto Destemor começou...” Ela dá um passo para o lado, deslizando seus dedos sobre a mesa. “Por que a maioria dos Divergentes são os de vontade fraca, tementes a Deus da Abnegação, de todas as facções?”

Não consigo deixar de rir porque esse discurso me lembra os que Marcus fazia enquanto utilizava seus métodos - desconhecidos pela Abnegação - para me convencer de que apenas estava me tornando um homem melhor. Mais forte.

O curioso é que mesmo sendo ele o modelo de homem mais forte, ainda precisava de seus punhos e o que achasse pela frente para me ensinar. Jeanine é como Marcus. Não são fortes. São fracos e covardes.

“De vontade fraca,” caçoo. “É preciso uma força de vontade muito grande para manipular as simulações, pelo menos da última vez que chequei. Fraqueza é ter que controlar as mentes de um exército porque é muito difícil para você treinar um.”

“Eu não sou tola,” Jeanine diz, com o gélido olhar. “Uma facção de intelectuais não é um exército. Nós estamos cansados de ser dominados por um monte de hipócritas que rejeitam todo tipo de riqueza e avanço, mas não poderíamos fazer nada por nós mesmos. E seus membros do Destemor ficaram todos mais do que felizes em me apoiar contanto que eu garantisse a eles um lugar em nosso novo e melhorado governo.”

Ela está fora de si se acha que para fazer um governo melhorado precisa matar pessoas. É como tudo o que aprendemos no Nível Mediano sobre o mundo antes da guerra. Sempre os mesmos discursos que precedem a queda de um governo.

Mulher arrogante.

“Melhorado,” bufo.

“Sim, melhorado,” Jeanine enfatiza. “Melhorado e trabalhando em direção a um mundo em que cada um poderá viver com riquezas, conforto e prosperidade.”

E quem sobrará para desfrutar de tanto conforto? Pessoas estão sendo assassinadas lá fora! Se tivessem perguntado para os que seguram as armas se eles prefeririam uma longa de vida de conforto e riquezas ou conviver com o peso de ter tirados vidas inocentes, o que responderiam?

“A que custo?” Tris pergunta, ecoando os meus pensamentos. Sua voz fraca e lenta. “Toda essa riqueza... não vem de lugar nenhum.”

“Atualmente, os sem facção representam um buraco nos nossos recursos,” Jeanine responde. “Assim como a Abnegação. Tenho certeza de que assim que os últimos da sua antiga facção forem incorporados ao exército Destemor, Sinceridade irá cooperar e nós finalmente seremos capazes de arrumar as coisas.”

A vaidade é o que a matará. Jeanine não sabe o que eu sei. O grupo dos sem-facção hoje é maior do que o de qualquer facção e eles não ficarão inertes por muito tempo ao perceber que ficarão sem os provimentos que a Abnegação distribui.

“Arrumar as coisas,” repito amargamente. “Não se engane. Você estará morta antes que o dia acabe, você...”

“Talvez se você fosse capaz de controlar seu temperamento” Jeanine diz, suas palavras cortando-me “Você não estaria nessa situação, Tobias.”

Como se eu fosse culpado por ela ser louca.

“Eu estou nessa situação porque você me colocou nela.” Não consigo me controlar. “No segundo em que você orquestrou um ataque contra pessoas inocentes.”

“Pessoas inocentes.” Jeanine ri. “Eu acho isso um pouco engraçado, vindo de você. Eu esperaria que o filho de Marcus entendesse que nem todas as pessoas são inocentes.” Ela se empoleira na borda da mesa, encarando-nos. “Você pode me dizer honestamente que você não ficaria feliz em saber que seu pai foi morto no ataque?”

Não, não ficaria.

Marcus transformou-me em uma cicatriz visível. Tudo o que ele me fez ainda se reflete em meus pesadelos e nas projeções da paisagem do medo. Deixei de ser eu mesmo há muito tempo; até Tris. Mas ainda assim sei que sua morte não traria a mim alívio.

“Não,” digo entre dentes. “Mas ao menos a maldade dele não envolvia manipular toda uma facção e sistematicamente matar cada líder político que nós temos.”

“O que eu estava dizendo...” ela continua. “É que em breve, será incumbida a mim a tarefa de manter sob controle dúzias de adultos e crianças da Abnegação, e não é bom para mim que grande parte deles possa ser Divergentes como vocês, incapazes de serem controlados pela simulação.”

Jeanine fica de pé e caminha alguns passos para esquerda. Seu semblante permanece inalterado. O mesmo desde que chegamos e isso atiça a minha ira. Nunca achei que um dia eu poderia querer matar alguém. E é isso que eu sinto agora: vontade de mata-la com minhas mãos.

“Portanto, é preciso desenvolver uma nova forma de simulação a qual eles não sejam imunes. Tenho sido forçada a reavaliar minhas próprias suposições. E é aqui que vocês entram.” Ela dá alguns passos para a direita. “Você está certo em dizer que vocês têm muita força de vontade. Eu não posso controlar suas vontades. Mas existem algumas coisas que eu posso controlar.”

Pensei em Tris. Ela poderia controlar-me por meus sentimentos, disso não tenho dúvida. A ideia de Tris nas mãos de Jeanine para ser torturada é algo que me faz estremecer.

“Eu posso controlar o que você vê e ouve,” ela diz satisfatoriamente. “Então criei um novo soro que vai ajustar o seu entorno para manipular sua vontade. Aqueles que se recusam a aceitar nossa liderança devem ser monitorados de perto.” Uma pequena pausa e Jeanine continua. “Você vai ser a primeira cobaia, Tobias. Beatrice, entretanto...” ela sorri. “Você está muito ferida para ser útil para mim, sua execução vai acontecer assim que esta reunião for encerrada.”

Matar Tris?

“Não,” digo. Um tremor percorre meu corpo e minha respiração acelera. Sinto todo meu sangue ser drenado do meu rosto. “Eu prefiro morrer.”

E é verdade. Não posso suportar a ideia de Tris morrer e eu ser usado por Jeanine para ela encontrar a solução para as inconsistências na reação do soro. Nunca me senti tão desesperado. Pelo menos se eu conseguisse que Tris saísse em segurança...

Mas é tarde demais.

Há guardas armados por toda parte e não conseguiríamos dar mais do que alguns passos sem sermos alvejados. Eu fracassei em deixar Tris em segurança. Tudo o que fiz desde que saímos do complexo da Audácia... Eu poderia ter fugido quando encontrei Cecília. Poderia ter procurado refúgio em outra facção ou mesmo ter ido para junto de Evelyn. Fiquei por Tris. Queria ter certeza de que ela ficaria bem e não adiantou. Eu a coloquei em perigo. Ela se machucou para me proteger e agora será a primeira morrer.

“Temo que você não tenha muita escolha,” Jeanine responde tranquilamente e sua calma me corrói.

Não sei o que fazer.

Tris não pode morrer.


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Notas finais do capítulo

P.S: Aqui está Amar e não Amah como em Convergente porque quando escrevemos os demais capítulos tínhamos por base apenas Divergente, Insurgente e Free Four. Na tradução que a Rocco disponibilizou de Free Four estava como Amar e não Amah... Para não alterar os capítulos anteriores, continuamos como Amar...

Link da nossa outra fanfic:

http://fanfiction.com.br/historia/497964/Coracoes_Convergentes/