Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 21
Capítulo 21




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Eu me remexo desconfortavelmente próximo a uma das paredes da entrada do salão, localizado ao lado da sala destacada para a transposição da paisagem do medo, neste momento, utilizada pelos iniciandos remanescentes. Incrível o quão devagar o tempo passou desde que Tris atravessou aquela porta sem olhar para trás. Sem olhar para mim.

Parte de minha consciência percebe que Lauren fala alguma coisa para os novatos, mas não estou prestando uma real atenção. Tudo que não sejam meus próprios pensamentos são somente captados como borrões, disformes e sem importância. Frustração e raiva me dominam ao ponto de eu ter que me segurar para não socar alguma coisa ou a cara de alguém.

Olho novamente para o relógio.

Uma hora.

Se passou exatamente uma hora e continuo preso a esta sala pela minha obrigação de instrutor dos transferidos. Todo meu autocontrole é colocado à prova neste curto espaço de tempo. Corro minha mão pelos meus cabelos curtos, uma mania que denota nervosismo. Faltam quatro iniciandos e não me resta o que fazer a não ser esperar esta pequena e lenta tortura terminar.

Fixo meus olhos na sala da paisagem do medo, para aparentar interesse, mas por Deus! Tudo o que eu quero é sair daqui imediatamente, encontrar Tris e explicá-la que o que fiz foi necessário. Preciso deixar claro que eu farei o que for preciso para mantê-la em segurança e ao meu lado, mesmo que para isso precise, às vezes, me comportar como um babaca indiferente.

Isso me leva a outro pensamento.

Ela ainda não confia em mim.

Tris prefere acreditar que sou um insensível, e talvez até um sádico do Destemor como ela mesma fez questão de frisar no dia em que machuquei sua orelha. Parece que isso aconteceu há tanto tempo comparado ao quanto nos aproximamos nas últimas semanas e em como nos encaixamos perfeitamente no beijo da noite de ontem. Não é possível que ela ainda pense que eu quero provar que sou um valentão para Eric. Mostrei coisas a ela, me declarei com todas as letras.

Por que é mais fácil ela me julgar mal a entender que minhas atitudes são a de um homem apaixonado tentando acertar o ponto entre ficar com ela e deixá-la segura?

Céus, isso tudo é tão complicado. Será que ela se esqueceu de quem eu realmente sou? Que além de ser chamado de Quatro, ainda sou o Tobias. Aquele que lhe disse tudo sobre si, que a beijou com todo o carinho que possui, e o que a quer por perto, se possível, para sempre. Preciso acabar logo com isso, preciso lembrá-la que meu sentimento é verdadeiro e que ele ainda existe. Ela tem que entender que ainda que outros pensamentos maiores ocupem minha mente, ela ainda assim, estará incrustada como uma sombra contínua, da qual nunca me esqueço.

Enfim, programo a última paisagem e passo as seringas para Lauren. Vejo o desconforto em seu olhar, talvez pelo fato de estar, de certa forma, revivendo seus maiores medos. Dou um aceno de despedida para ela e deslizo para a saída. Não sem antes captar o olhar de preocupação de Christina e Will, certamente por causa de Tris, o que me lembra de que preciso ser rápido, antes que eles sejam dispensados por Lauren.

Vou até o dormitório porque é o primeiro lugar em que penso que Tris poderia estar. No caminho até lá, organizo as palavras que devo usar quando estiver com ela.

Dou algumas batidas de leve na porta, mas ninguém responde.

“Tris?” Eu sussurro. Nada. Bato mais duas vezes e empurro a porta lentamente sem fazer barulho. Olho em volta e tudo está vazio. Nenhum sinal de vida, além da minha. Olho por cima do ombro e vejo que a câmera do dormitório está ligada.

Droga, seu idiota. Você esqueceu que há câmeras nos dormitórios dos iniciandos!

Ok. Controle-se.

Coloco em meu rosto minha melhor expressão de desinteresse e saio. Assim, quem quer que esteja assistindo não desconfiará.

Se Tris não está no dormitório, talvez ela esteja em nosso lugar secreto. Faz sentido. Ela pode ter pensado direito e está me esperando para nos explicarmos um ao outro. Corro para lá, mas assim que chego minhas expectativas se esvaem. Ela não está aqui também.

Eu sigo pelo refeitório, enfermaria, abismo, a entrada do fosso e as salas. Ela não está em nenhum lugar e não faço mais ideia de onde procura-la. Não posso sair perguntando dela para todo mundo porque chamaria atenção. De toda forma, logo os outros iniciandos, especialmente os transferidos, darão falta dela. Não quero que Tris tenha problemas, então, preciso encontra-la antes de darem o alarme.

Caminho até a sala de controle com um fio de esperança de que as câmeras tenham registrado algo que possa me ajudar.

“Hey, Guigo,” falo fechando a porta atrás de mim.

“Hey, Quatro,” responde sem desviar os olhos das telas.

“Onde estão os outros?” - pergunto quando vejo a sala praticamente vazia.

“Hum...” - ele faz uma carranca, e se vira para mim. “Intervalo 'antecipado' para o rango, você sabe. Eles descobriram que hoje vai ter bolo e me deixaram sozinho aqui, aqueles maricotes.”

Sorrio com a ideia de que Guigo adoraria estar entre os tais maricotes agora. Pelo menos assim estaria comendo bolo e, realmente, uma das coisas que é unanimidade no Destemor é o gosto por bolo. Bem, outra oportunidade como esta será difícil e o momento é perfeito. Vou aproveitar o déficit da segurança...

Viro-me para Guigo, e ele para de olhar a tela.

“Afinal de contas, o que você está fazendo aqui? Sentiu saudades de mim ou dos computadores Quatro?” - pergunta com um tom brincalhão.

“Nenhum dos dois,” respondo com o rosto impassível. “Estou atrás da Careta, ela fez algo idiota hoje, e você sabe que pelos padrões do Destemor, ela tem que ser punida e eu que sou seu instrutor é quem devo cuidar disso.”

“Wow... Eric já sabe disso?” - ele pergunta.

“Não,” respondo rápido demais e me arrependo, por isso, emendo informações adicionais. “Ele não pode saber, afinal de contas eu sou o instrutor.” Falo tentando parecer casual. Se Eric soubesse que andei procurando-a por uma possível coisa errada que ela fez, poderia querer puni-la e isso não seria nada bonito.

“Olha Quatro, eu procuro. Só que... Pega leve com a Careta. Nós já fomos iniciandos e sabemos bem como é. O que ela fez, hein?”

Sei que Guigo é de confiança, mas não quero que isso chegue aos ouvidos de Eric, ou de Max.

“Nada que devemos ficar conversando, sim?” - falo de modo a colocar um ponto final no assunto.

“Tudo bem.” - ele se limita a responder.

“Hey, Guigo, estão dando o bolo para nossa equipe de vigilância. Se você não vier rápido, ficará sem.” - diz July que só depois nota minha presença e, em consequência, fica corada.

“Ah, Quatro! Oi.”

“Oi July” - respondo. Desde que Zeke me disse que July estava interessada em mim fico sem jeito de conversar com ela, principalmente porque eu tive de dizer para o meu amigo que eu não estava interessado nela. Ela não ficou magoada comigo, mas não trocamos mais do que meras cordialidades e falamos o estritamente necessário um com o outro.

“Bem, Quatro, as câmeras são todas suas. Aproveite e veja se encontra o que procura.” - Guigo pisca em minha direção e vai até a porta.

“Não demoro, segredo nosso.” - fala baixo, de modo que só eu ouço.

Se Eric sonhasse que a equipe da sala de controle não respeita a escala de plantão e sempre arranja um jeito de dar saidinhas em sua ausência, certamente subiria pelas paredes ou arrancaria aqueles seus cabelos gordurosos.

Sento-me na cadeira diante do computador central e começo a buscar pelo complexo. Olho novamente o refeitório, as salas, os corredores, a pira, o abismo.

Nada.

Onde será que ela está?

Começo a me desesperar. Se ela estiver no Complexo ela só pode estar em algum lugar sem câmeras. Mas onde?

Fecho os links das câmeras que transmitem em tempo real para verificar tudo há cerca de duas horas atrás – que é aproximadamente - quando ela saiu da sala da paisagem do medo.

Entretanto, neste momento, uma aba azul pequena se abre no canto da tela. Uma mensagem. Eu conheço esse símbolo, eu o vi na ultima vez que estive aqui trabalhando regularmente e a cor não me deixa dúvidas. Erudição.

Sem mais, clico na mensagem e surge na tela uma área de suporte com um campo aberto para inserir uma espécie de senha. Sorte que as senhas somente são alteradas semestralmente, então, ainda será a mesma de antes da iniciação...

Isso! Funcionou.

O texto está criptografado, claro, como os outros que abri antes. Tentei duas vezes, mas não consegui. Na terceira tentativa deu certo. Leio tudo atentamente.

Dessa vez não são arquivos de suprimentos, mas sim pesquisas, mapas e relatórios que não consigo entender até me deparar com a seguinte frase:

" (...) Segundo estágio pronto para ser colocado em prática - Ataque."

Acho que entendi o que eles fazem a noite para utilizar tanta eletricidade, porém porque enviá-los para o Destemor?

A resposta está clara. Uma guerra precisa de soldados treinados.

Meu sangue ferve de raiva, e para piorar não sei onde está Tris, e a essa altura, ela me odeia com todas as forças.

Guerra. Abnegação. Tris. Marcus. Evelyn. Sem facção.

Eu sinto raiva, amor, esperança, preocupação. Todos esses sentimentos encontram-se girando como um carrossel em minha mente, me deixando ainda mais confuso.

Respiro. Não posso entrar em pânico.

Fecho os arquivos e volto minha atenção para os registros das câmeras até que... Achei. Há duas horas e quatorze minutos atrás, Tris estava saindo do Complexo do Destemor.

Uma sensação gélida toma conta do meu corpo.

*************************

Ando até a entrada do Complexo, com cuidado, para não ser visto. Meu coração está disparado de medo de não encontra-la aqui, do lado de fora, apenas esfriando a cabeça.

Meu medo se torna realidade quando não a vejo. Sinto meu coração afundar em meu peito.

Onde ela foi? Deixou o complexo para quê?

Meu Deus! Será que ela desistiu de ser um membro do Destemor por minha causa? E fará o que? Tornar-se uma sem-facção? Ou... tentará que a Abnegação a aceite de volta?

E o último pensamento é o que me deixa mais angustiado. Eu sinto meus olhos arderem e as lágrimas ameaçarem a saltar deles. Passo as mãos rápido em meus olhos. Sei que se ela pedisse, principalmente sendo ela, filha de Andrew Prior, eles certamente a aceitariam de volta e eu nunca mais poderia vê-la de novo. Ela teria uma vida normal, junto de sua família. Um dia alguém poderia amá-la, não como eu, mas amá-la mesmo assim e ela teria sua própria família. Recordo-me daquele garoto da Amizade que a abraçou com carinho. Ele era da Abnegação e parecia gostar dela. Deve haver outros que continuaram lá e que gostam dela também. Afinal, o que há para não gostar em Tris?

Uma família. Algo que você nunca poderá dar a ela, meu subconsciente grita. Por outro lado, eu estaria mentindo para mim mesmo se pensasse que não lutaria por ela ainda que ela decidisse voltar para a Abnegação. Tenho certeza de que nada no mundo me feriria mais do que sua ausência.

Só que não é apenas meu egoísmo falando mais alto. Se eu deixasse Tris voltar para a nossa antiga facção e tentasse continuar com minha vida aqui ou me juntar aos sem-facção, ela não estaria em segurança. A Abnegação se encontra em risco iminente de uma guerra armada pela Erudição e o Destemor.

Se ao menos eu descobrisse o que há de errado...

Um turbilhão de pensamentos passa pela minha cabeça quando ando pelos corredores do Complexo com um resquício de fé em achá-la.

Vejo Zeke sorrindo e caminhando na direção contrária a minha. “E aí, Quatro? Por acaso você está procurando sua Careta preferida? Eu acabei de vê-la...” - ele começa, mas estaco no mesmo lugar. “Onde ela está?” - disparo antes dele terminar a frase.

Por um breve momento ele me olha, como se tentasse desvendar o que meu tom ou minha expressão deveriam querer significar, mas ao invés de interpretar corretamente e me dizer o que eu estava a ponto de enlouquecer para saber, ele apenas sorri largo e diz: “A careta te pegou de jeito, não é? Quem diria que o Quatro que nunca deu bola para as garot...”

Sem pensar, puxei-o pela gola da camiseta e o empurrei contra a parede. Neste ponto, meu desespero foi tomado pela raiva. Olhei bem em seus olhos.

“Zeke, eu supunha que pelo tempo em que nos conhecemos, você teria uma melhor noção de quando é hora de brincar e quando é o momento de me dar uma reposta direta. Então, eu vou repetir a pergunta. Onde está a Tris?”

Ele se endireitou, afastou minha mão direita que ainda o prendia contra a parede e disse que ela havia desobedecido as regras e saído sem supervisão de um membro definitivo do Destemor. Para onde ela teria ido, ele não fazia ideia, mas eu sim.

Ela voltou. Significa que não pretendia ir embora. O horário em que ela saiu, registrado pelo sistema de vigilância, só pode indicar que, se ela pegou um trem e eu acredito que sim, ela foi para o Complexo da Erudição.

Uma daquelas malditas matérias publicadas pelos jornalistas da Erudição afirmava que o irmão de Tris havia se transferido para lá. Ela deve ter ido procura-lo, para que, isto ela iria me falar, mas só depois que déssemos um jeito na sua atitude impensada.

“Ela está realmente encrencada, Quatro.” Zeke diz, agora sem um pingo de humor. “Pelo que eu soube, Eric mesmo a esperava nas portas do Complexo. Agora eles estão conversando no salão do Fosso. Ele sequer a deixou entrar.”

Rápido, eu me virei para continuar o percurso até ela, mas antes que eu pudesse reiniciar meu caminho, Zeke segurou meu braço e me olhou de maneira séria.

“Quatro, é mais do que evidente que você sente algo muito forte pela Tris. Qualquer um que o observe mais de perto, que tenha o interesse seja por qual motivo for, em saber mais sobre os segredos que todos sabemos que você esconde, perceberá a relação de vocês, assim como eu e Shauna percebemos.” - ele diz de forma sombria.

Zeke solta meu braço e continua. “Você deveria tentar esconder que você gosta da Tris porque sabe muito bem como isto poderia acabar, caso não tome cuidado.” Apenas assinto e, com passos ligeiros e espaçados, me dirijo para onde Tris se encontra, pensando nas palavras de Zeke. Ele está certo, preciso ser mais cuidadoso. Não sei se devo interromper a conversa de Eric com Tris. Talvez faça mais mal do que bem aparecer lá sem uma razão aparente.

Vamos lá, Tobias. Você não possui inclinação para a Erudição, mas precisa ter uma ideia coerente agora!

Nada me ocorre. Paro e sinto que não posso esperar. Empurro as portas do salão e vejo Tris - tão pequena - com as mãos fortemente fechadas. Preparada para o pior, eu imagino. Eric está ereto e estático diante dela, olhando-a como se quisesse ver sua alma. Minha mandíbula fica tensa, tento controlar a raiva e meu instinto protetor sobre ela.

Eric se vira para mim. Seu olhar de ira quase me fulminando. Tenho certeza de que se ele pudesse soltar fogo por seus olhos, neste momento, eu jazeria em chamas no chão.

“O que você está fazendo?” - pergunto para Eric.

“Vá embora.” – ele diz, mais alto do que o necessário. Um líder do Destemor, mas sempre se sentindo acuado por mim. Sua postura mudou radicalmente, desde que atravessei aquelas portas. Ele sabe que precisa mais que isso para me intimidar. “Não,” começo. “Ela é só uma garota tola. Não existe necessidade de levá-la a um interrogatório.”

“Só uma garota tola” - Eric diz. “Se ela é só uma garota tola ela não estaria em primeiro lugar, estaria?”

Eu sei qual é o seu jogo. Eu o deixei na segunda posição e é por isso que ele desconfia dela. Viemos transferidos da mesma facção, e ambos nos destacamos daqueles que poderiam ser atribuídos como promissores.

Tris terá que mostrar que é frágil e diferente de mim. Isso fará ele baixar a guarda sobre ela. Não posso dizer isso para ela, mas posso tentar fazê-la entender. Espero que desta vez surta efeito, já que falhei miseravelmente em todas as vezes em que contei que ela entendesse meus sinais.

Pressiono os dedos contra a ponte de meu nariz, olhando entre eles para ela. Ela olha em minha direção, franzindo levemente as sobrancelhas como se tentasse resolver um problema insolúvel.

Tris suspira, abaixa a cabeça e coloca as mãos dentro do bolso.

“Eu só... eu só estava envergonhada não sabia o que fazer.” Então seus olhos encheram-se de lágrimas, e ela olhou inocentemente, e com uma expressão de culpa e vergonha em sua face. “Eu tentei... e...”

Ela é fantástica!

“Você tentou o quê?” - Eric perguntou curioso.

Ela representou bem seu papel de garotinha arrependida. Agora eu posso dar uma forcinha.

“Me beijar. E eu a rejeitei, e ela fugiu como uma menininha de cinco anos. Realmente não podemos culpá-la de nada, a não ser de ter agido de maneira estúpida.”

Eric olha para ela, depois para mim e começa a rir como o idiota que ele é. Seus risos se transformam em gargalhadas altas que preenchem todo o salão.

“Ele não é um pouco velho demais para você, Tris?” - diz ele no intervalo de seu ataque de risos.

“Posso ir agora?” – é tudo o que ela diz, enxugando as próprias ‘lágrimas’. Eu gostaria de saber como ela conseguiu chorar...

“Tudo bem, mas você não está autorizada a deixar o Complexo sem supervisão novamente, entendeu?” - ele se vira para mim com os olhos ainda animados, de certo, acreditando que não gostei dela ter tentado me beijar; que isso me deixou constrangido.

Ele não sabe de nada.

“E você...é melhor garantir que nenhum de nossos outros transferidos deixe o Complexo novamente. E que nenhum deles tente beijá-lo.”

Ele está se divertindo às minhas custas e eu as custas dele.

“Certo” – digo.

Tris não espera muito e quando Eric se vira novamente ela sai da sala. Passa por mim, mas não me olha. Eric está me encarando e seguro meu olhar no seu. Assim que Tris fecha a porta ele caminha até a mim.

“Então a Careta te beijou?” - diz ele em tom de piada. “Você acha que eu deveria me preocupar que ela tente me agarrar também?”

Ele pergunta me analisando. Eric quer me provocar e eu quero quebrar sua cara. Se não posso fazer o que tenho vontade, ele também não conseguirá me afetar.

“Acho que não, penso que ela já teria feito se te achasse interessante.” Sorrio para ele e me viro para a porta.

“Claro. Você pode ir.” - ele diz.

Como se eu tivesse pedido sua autorização para sair daqui, penso, mas nada digo. Estava próximo da porta.

“Quatro, você sabe que o lugar dela não é aqui. Ela é só uma garotinha tola, você sabe disso mais do que ninguém.” – ele diz como se fosse um amigo me aconselhando a não me envolver com a garota.

“Qual o propósito disso? Você sabe, se o lugar dela não é aqui ela será descartada ao final da iniciação com os demais.” - digo me virando para ele com um rosto impassível para esconder a irritação borbulhante em mim.

“E ela será. O Destemor não é o lugar adequado para uma garotinha que quando se sente frustrada corre atrás do irmão em outra facção. Eu a levaria, sim, para um interrogatório porque ela foi parar no escritório de Jeanine Mathews, e pelo tom dela no telefone, ela estava se sentindo... bem... afrontada por alguma coisa que a Careta lhe disse. No fundo eu sabia que ela não seria capaz de arquitetar uma traição contra o Destemor.”

Escuto o que Eric diz e penso no que poderia ter acontecido com Tris se não fosse eu o seu instrutor. Outro, também teria descoberto sua divergência e não teria apagado os arquivos como eu fiz. Jeanine a descobriria.

“Só que mesmo assim, acho que superestimei a Careta,” Eric continua. "Não supunha que suas razões fossem tão fúteis. Se eu fosse você ficaria mais atento para que isso não aconteça novamente, se você fizer bem o seu trabalho, pouparemos meu tempo. Sim?”

“Você já disso isso.” – eu digo.

Retiro-me da sala, fechando a porta atrás de mim. Caminho um pouco e encontro Tris sentada no chão, com a cabeça descansando sobre seus joelhos. A minha raiva passou, um pouco. Preocupação e saudades são maiores.

Ela se levanta e cruza os braços, como se estivesse esperando por uma bronca.

“O que?” – ela pergunta na defensiva.

Não vou brigar com ela. Nenhum muro deve ser construído entre a gente. Já existem barreiras demais em nosso relacionamento e não vou dar mais motivos para ela se afaste de mim.

“Você está bem?” - eu pergunto e gentilmente elevo minha mão para recosta-la em sua bochecha. Meu próximo movimento seria beijá-la e acalmar tudo que senti na droga deste dia. Antes disso, ela afasta bruscamente a minha mão de seu rosto e isso me machuca.

“Bem, primeiro fui humilhada na frente de todos, depois tive uma conversa com a mulher que está tentando destruir minha antiga facção, e então Eric quase expulsou meus amigos do Destemor, então é, esse dia está sendo um dia maravilhoso, Quatro.” – ela fala tudo num só fôlego.

Eu balanço a cabeça em exasperação. Ela acabou de usar meu apelido no Destemor como um insulto contra mim, porque sabe que eu quero que ela me chame pelo meu verdadeiro nome. Parece que tudo que conversamos e fizemos há menos de vinte e quatro horas atrás, simplesmente não aconteceu para ela.

Sua idiota, eu gosto de você! Queria poder gritar com ela.

“Porque você se importa de qualquer forma? Você não pode ser o instrutor cruel e o namorado preocupado ao mesmo tempo” as palavras saltam de sua boca e ela para, como se quisesse recolhê-las de volta. “Você não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.” – Tris conclui.

“Eu não sou cruel, eu estava protegendo você essa manhã. Como você acha que Peter e seus amigos idiotas iriam reagir se descobrissem que você e eu... Você nunca ganharia. Eles sempre diriam que sua colocação é uma consequência do meu favoritismo e não do seu próprio mérito” – digo olhando fixamente em seus olhos.

Ela abre a boca para dizer algo, mas desiste. Coloca as mãos em ambos os lados de sua bochecha.

“Você não precisava me insultar para provar nada a eles.” – ela diz.

“E você não precisava correr para seu irmão só porque magoei você. Além disso, não funcionou, não foi?” – digo, por fim.

“Às minhas custas.” – Ela olha em direção ao prédio ao lado, parecendo magoada.

“Eu não achei que fosse te afetar tanto.” Olho para baixo e encolho meus ombros. “Às vezes esqueço que posso machucar você. Que você é capaz de ser machucada.”

Tris é sempre tão forte. Apanhou e foi humilhada de várias formas desde que chegou ao Complexo. Não pensei que minhas palavras a machucariam. Contudo, parece que eu estava enganado, mais uma vez.

Ela abaixa as mãos e as enfia dentro dos bolsos, ainda pensativa. Ela me olha, fica nas pontas dos pés e me dá um beijo suave e tímido, como se fosse um pedido de desculpas.

Congelo pela felicidade do seu toque em meus lábios. Eu não tinha noção da falta que senti dele hoje. O calor que corre em mim agora é de vida e não mais de raiva.

Ela me perdoou.

“Você é brilhante sabia?” - diz ela se afastando um pouco. “Você sempre sabe exatamente o que fazer.”

“Só porque tenho pensado sobre isso por muito tempo,” digo unindo nossos lábios novamente. “Como lidaria se você e eu...” Me inclino para trás e sorrio, sem esconder a animação. Entendi que a sua intenção antes quando me bombardeava com acusações era esconder o que ela tinha dito sem querer. E, por um momento ela conseguiu. Se aquela simples palavra não fosse uma das que eu mais queria ouvir dela, talvez eu até esquecesse.

“Ouvi você me chamar de namorado, Tris?” - pergunto ansioso, porém sorrindo.

“Não exatamente...” - ela encolhe os ombros e sinto meu rosto caindo. “Por quê? Gostaria disso?”

Deslizo minhas mãos gentilmente no seu pescoço e pressiono meus polegares em seu lindo e macio queixo, e inclino sua cabeça para trás para apoiar minha testa na sua. Fecho meus olhos, sentindo sua respiração e calor em mim. Hoje, em meio a tanta confusão, não havia outro lugar que eu gostaria de estar a não ser perto dela. O medo de perdê-la e o pensamento de que pudesse não tornar a vê-la ainda não desapareceram. Prova disto é meu coração martelando descompassado como sinal de que a adrenalina ainda corre por minhas veias, me deixando em alerta.

Ela me fez uma pergunta. Namorados. Sim, isso é o que somos. Não importa que seja um segredo para os outros.

“Sim,” digo em um suspiro, então me recordo de Eric, da mensagem da Erudição e que ela esteve naquela facção. Fico preocupado. “Você acha que o convencemos que você é só uma garota tola?”

“Espero que sim, algumas vezes ajuda ser pequena. Mas não tenho certeza se convenci a Erudição.” - ela diz e isso só aumenta meus temores. Se eu tivesse contado a ela sobre minhas desconfianças sobre a Erudição, talvez ela não tivesse se aventurado lá hoje.

É hora de Tris saber que sua família, e ela mais do que qualquer um deles, corre grande perigo.

“Tem uma coisa que preciso contar a você.” – digo rápido porque preciso sair daqui logo, antes que alguém apareça.

“O que é?”

“Agora não” - digo e olho ao redor. “Encontre-me aqui, às onze e meia. Não diga a ninguém onde você está indo.”

Espero e ela assente. Eu me viro para o salão do Fosso, sentindo dor de cabeça. Vou ao meu quarto para reorganizar meus pensamentos e esperar até a hora da conversa mais importante.

É como se este dia não tivesse fim.


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Notas finais do capítulo

Lindos, Magníficos, Belíssimos e atenciosos leitores...
Como anteriormente falamos, amamos seus coment's, suas sugestões por Mp, e etc...
Então estamos mandando um beijo super grande no coração de vocês:
Filha de Hades
Manu Maddox
ThamyLomiel
Cristal Cipriano Potter
Miss Death
Rebeca Woset
Nicky Fletcher
Aquaria
Clove di Angelo
Anna Hemsworth
Izzy Eaton
Um bem vindo a nossa mais nova e linda leitora: Kally Lovegood
Como já dizia nossa linda Clove di Angelo...
Beijos Brilhantes kkkk^^
Beijús amamos Vcs seus meigos!!!!