Um oito em química ? Aquilo era real ? Mike Chang havia acabado de receber um ‘asian F.’ Como ele explicaria aquilo aos seus pais ? Logo ele que fazia o possível e o impossível para conciliar o clube do coral, o futebol e as notas mais altas da classe... Com certeza, naquela noite, seu pai o mataria verbalmente.

– Ei, amor. – Era Tina. Estava feliz e sorridente como sempre esteve desde o início do namoro. – Estava te procurando. – Ela revelou ao chegar perto dele que ajeitava as coisas em seu armário. Pousou uma das mãos em um dos braços fortes de Mike, mas quando viu seu rosto preocupado se assustou. – Mike ? – Ela fez uma pausa. – Aconteceu alguma coisa ? – E então ele lhe mostrou a prova. – Oh, meu Deus, Mike ! Você tirou um asian F ? – Ela disse horrorizada, mas logo se arrependeu. Viu o quão frustrado seu namorado parecia estar – Como isso foi acontecer ?

– Eu não sei, Tina. Bom, talvez... – Ele suspirou - acho que passo tempo demais me preocupando com o clube do coral e o futebol... Eu não sei. – Disse balançando os ombros para cima e depois para baixo, tentando espantar a tensão. Ela não sabia o que lhe responder. – Está tudo bem. Eu tentarei reverter a situação.

– É... Não é tão difícil assim. – Forçou um sorriso. – Digo, oito e quase nove, e para voltar à nota dez é quase um pulo. – Suas palavras não o convenceram. – Olha, vai ficar tudo bem ! – Ela esfregou seus ombros tentando confortá-lo. – Não é grande coisa, você pode se recuperar...

– Você não entende... – Ele a interrompeu. – Eu não posso ir à faculdade de medicina com um asian F. – Ele pareceu sentir vergonha de si mesmo ao citar o último termo.

– Espera ! – Ela perguntou indignada. – O quê ? – Estava incrédula enquanto Mike fitava o chão. Respirou fundo. – Mike, não é você que vive sonhando em ser um dançarino profissional e rodar o mundo ensinando as pessoas o quão mágico a dança pode ser e... – Ela ainda tinha muito para falar.

– É apenas um sonho. – Disse para depois bater a porta do armário e andar pelo corredor.

– Espera ! Eu não terminei. – Ela o seguiu enquanto levantava a voz. – Você se forma este ano, Mike, não pode simplesmente mudar de planos assim: do nada. – Ela chegou perto dele, mas parou ao ver seu olhar furioso. Ninguém o entendia, estava cansado daquilo.

– Diga isso ao meu pai ! – Ele cuspiu as palavras e a encarou por uns instantes. Tina digeriu aquilo e não conseguiu formar uma resposta em seu cérebro.

Mike caminhou pelos corredores da escola e assistiu as seguintes aulas sem prestar muita atenção no que elas o ensinavam. Durante a aula do clube do coral, ele sentou no extremo oposto à Tina e preferiu não participar da aula. Ele quase nunca cantava, mas dessa vez nem seus maravilhosos passos de dança foram expostos. Mr. Schue poderia comentar alguma coisa, mas estava ocupado demais pensando em como o New Directions enfrentaria e derrotaria – de forma amigável – as Troubletones.

Quando a aula acabou, ele deu graças a Deus por ser a última do dia. Não estava com cabeça para continuar ali e não conseguia encarar Tina. Ela o buscava com o olhar toda vez que podia, mas ele se sentia covarde e envergonhado demais para olhá-la.

‘Mike !’ Ela gritou antes que o menino cruzasse a porta da escola. Eles precisavam conversar, porém o asiático não tinha tamanha coragem. Não naquele momento. Por isso decidiu continuar seu caminho até atravessar a porta.

*

Era quarta-feira de manhã. Ao invés de estar na sua primeira aula de matemática, Mike Chang estava sentado em frente à mesa do direto Figgins. Seu pai o acompanhava.

– Meu filho nunca tirou uma nota assim. Deve haver algum engano. Alguma coisa está errada. – Seu pai tentava manter a calma enquanto dizia, quase que pausadamente, cada palavra.

– Eu entendo sua frustração, senhor. Não há nada que possamos fazer. O próprio Mike Chang conquistou esta nota. – Figgins lhe explicou. O pai de Mike olhou para o jovem rapaz e depois olhou para Figgins.

– Este é o primeiro asian F, na vida do meu filho. Há algo de errado nisso ! – Tentou convencer o diretor mais uma vez.Mike parecia sentir medo.

– Nossos professores fazem o melhor que podem. – O pai de Mike apertou os olhos. Não acreditava que a culpa poderia ser dele. – talvez seu filho esteja envolto em muitos projetos... – E então seu pai o olhou.

– Hm... Talvez o futebol... – Tentou se desculpar.

– Ah não. A temporada já terminou por este ano. – Figgins disse despreocupado. – Talvez o clube do coral...

E ouvir aquilo foi o suficiente para seu pai.

*

Mais uma vez Mike fugiu de Tina. Ele não suportava isso, mas com certeza as coisas se tornariam piores quando ela o achasse e começasse a julgá-lo sobre sua escolha. Ele fugiu também da aula e do ensaio do clube do coral naquele dia, assim, teria parte do dia livre para estudar e ia se acostumando com a idéia de deixá-los...

Naquela tarde Tina estava atrasada para sua aula, e quando andava apressada pelo corredor ouviu uma pequena discussão vindo da sala a esquerda. Eram duas vozes masculinas. Mike Chang e seu pai. Era errado, mas ela precisava ouvir. E como esperado, a discussão era sobre o sonho de Mike. O sonho de se tornar um bailarino profissional e rodar o mundo ensinando tal arte.

Naquele momento Tina teve certeza de apenas uma coisa: Deveria interferir. Mike precisava de alguém que o defendesse, de alguém o ajudasse..

E então, quando a discussão pareceu se encerrar ela se escondeu na esquina do outro corredor. Mike iria embora depois que seu pai deixasse o estacionamento. Não queria dividir o trajeto com ele nem por um decreto. Resolveu seguir até a biblioteca. Já estava na hora do ensaio e Tina estranhou sua direção, mas preferiu ignorar. Deveria fazer algo muito mais importante.

Assim que o senhor Chang cruzou a porta do estacionamento ela correu até ele. O surpreendeu chamando-o por seu nome e quando viu seu olhar frio se arrependeu do que fazia. Era tarde demais.

‘O que quer ?’ Ele perguntou sem paciência para depois ver a doce menina se transformar em uma pessoa extremamente irritada e indignada. Ela falou tudo o que devia e não devia. Não o faltou com respeito, mas ninguém o tratava daquela maneira. Estava acostumado com o medo que as pessoas sentiam dele. E, sem saber o que responder, ele engoliu todas as reclamações da jovem. Ela estava certa: Ele não tinha direito algum sobre a decisão e o futuro de Mike. Mas ele não podia aceitar aquilo. Ele só queria o melhor para o seu filho.

‘Por favor, venha assistir a apresentação. É daqui há dois dias. O senhor verá: Mike é o menino mais talentoso que existe nesse colégio.’ Baixou a guarda e suplicou por fim.

‘Agora eu sei o que realmente desvia a atenção do meu filho.’ E foi assim que ele resolveu cortar aquele monólogo.

*

– Você não devia ter se metido. – Era Mike. Ele andava furioso pelo corredor quando avistou Tina, Mercedes, Artie e Kurt. A puxou pelo braço deixando seus amigos amedrontados e a levou até a outra ponta do corredor.

– Mike ! – Ela exclamou quando ele a soltou. – Eu só estava tentando ajudar. – Disse em um tom de briga. Sabia do que ele falava. Seus olhos o denunciavam. – Você deveria me agradecer !

– Agradecer ? – Ele riu ironicamente enquanto revirava os olhos. – Pelo quê ? Pelo fato de eu ter recebido um não como resposta quando pedi aos meu pais a autorização para a apresentação ? Pelo fato de eu ser obrigado a deixar o clube do coral ?

– Mike... – Ela lamentou. Seus olhos estavam cheios de água. – Eu não queria... Oh, meu Deus... – Ela deixou suas lágrimas escaparem quando se deu conta de como havia arruinado tudo. – Você não vai se apresentar ?!

– Isso não é nada. – Ele bufou. – Consegui a assinatura da minha mãe. Creio que seja o suficiente. Está tudo bem. – Ele tentou tranquiliza-la. – Mas essa não é a pior parte. – Voltou a dizer mostrando seu desapontamento. – Eles também não me deixaram mais ver você.

E naquele momento, a asiática sentiu como se o mundo tivesse parado e o chão tivesse sumido. Sua visão ficou escura e ela precisou fechar os olhos e respirar fundo. Mais uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ela não conseguiu desgrudar os pés do chão quando Mike virou e pôs-se a andar.

*

E até o momento da apresentação, Mike e Tina não conversaram. Finalmente o asiático correspondia aos olhares melancólicos da namorada. Com certeza ele estava magoado com toda a situação, e todos notavam isso.

‘Boa sorte.’ Foi o que ambos desejaram um ao outro em um sussurro. Poderia haver um abraço, um beijo... talvez eles não quisessem deixar a emoção dominá-los naquele momento. Havia tensão demais para isso.

‘ABC’ do Jackson Five foi a música de abertura para o New Directions. Todos estavam lindos. Tina estava linda. E Mike não conseguia, de jeito maneira, desviar sua atenção. Todas as letras que saíam de sua boca se dirigiam a ela.

Até que ele se atreveu a olhar a platéia. E lá estava ele. Seu pai. Ele havia ido e estava sorrindo. Seria aquilo real ? E naquele mesmo instante ele ouviu a voz de Tina mais próxima de seu ouvido. A olhou e a viu sorrindo. Retribuiu transmitindo toda sua alegria.

Se havia alguma pessoa capaz de amolecer aquele coração, aparentemente, feito de gelo que batia no peito do senhor Chang, era sua mulher. Ela fez questão de lembrá-lo como ele havia desistido de seu sonho, durante a adolescência, para se tornar um advogado renomado – bem como seu pai queria. Ela também fez questão de lhe mostrar os vídeos de Mike quando era apenas uma criança e encantava a todos os convidados das mais diversas festas em família fazendo passos idênticos aos dos irmãos Jackson.

Naquele auditório, o pai de Mike lembrou-se de tudo. Lembrou-se de seu sonho, da infância de seu filho e do quão orgulhoso ele ficaria se Mike conseguisse realizar seu sonho – coisa que ele mesmo não teve coragem o suficiente para fazer.

*

– Tina ! – Era Mike. A competição havia acabado e o New Directions havia levado o troféu. Comemoravam felizes, mas por dentro sentiam por Mercedes, Brittany, Santana e até Sugar – as quais faziam parte da Troubletones.

A asiática virou seu corpo no mesmo instante em que ouviu a voz do namorado. Ela estava sorrindo, porém, receosa, resolveu encurtar seus lábios. Ao ver a expressão de felicidade no rosto do namorado, ela pareceu confusa. Ele esteve tão sério nos últimos dias.

– Obrigado ! – ele disse empolgado quando se aproximou mais. Ela sorriu mas continuou sem entender. – Muito obrigada ! – Lhe sorriu mais forte.

– Espere... Mike. – Ela tentou chamar sua atenção e se desfez do abraço. – Obrigado pelo quê ? Eu achei que...

– Oh, Tina... Me perdoa. Por favor. Eu fui um tolo, um idiota... Você só quis me ajudar e... Droga. Eu estraguei tudo. – Lamentou-se.

– Não ! – Ela o repreendeu e acariciou seu braço. – Só não entendo porquê está me agradecendo...

– Meu pai ! – Disse contente. – Ele viu a apresentação. Ele está orgulhoso de mim. Eu poderei seguir o meu sonho, Tina. – Disse sem conter sua felicidade enquanto chacoalhava os ombros da jovem.

Ela não sabia o que dizer ou o que fazer. Estava extremamente feliz por aquilo e só pôde sorrir.

– É a melhor notícia que alguém poderia me dar hoje. – Ela passou a encará-lo ternamente e alisou sua bochecha. – Estou tão feliz por você... – Aproximou seu rosto e o beijou.

Selaram seus lábios de uma forma doce e calma. Permaneceram assim por alguns instantes até que a asiática se afastou alguns milímetros e inclinou a o rosto. Novamente selou os finos lábios de Mike Chang, mas agora, sentira sua língua afastar seus dois lábios. E quando houve o pequeno e sensível contato ela teve certeza do quão feliz estava pelo seu namorado e o quanto o amava. Finalmente, quando o ar faltou, eles se separaram.

– Eu te amo. – Sussurraram em uníssono enquanto seus olhos pareciam fechar devido ao imenso sorriso que mostravam um ao outro.

Tina, por algum motivo, olhou por cima do ombro de seu namorado. No final do corredor, ela avistou o senhor e a senhora Chang de braços dados. Eles sorriam emocionados. Mike decidiu virar seu rosto e sorriu ao ver seus pais. Olhou para Tina que lhe sorriu com lágrimas nos olhos e a abraçou.