Uma semana. Uma maldita semana naquele palácio e as únicas companhias de Valentina Leger eram meninas cujo maior objetivo de vida era entrar para a família real. Claro que era algo tentador, mas o fato de ter que se casar com Zachary Schreave tirava toda e qualquer vontade que ela pudesse ter de usar uma coroa.

Nenhum contato com ninguém além daquelas meninas e suas empregadas estava deixando-a louca. Entretanto, ela não poderia se render a Zachary tão fácil. Se ele quisesse algo com dela – e ele, com certeza, queria – teria que vir. Ele já havia chamado dezesseis das vinte garotas que restaram para um passeio. Inclusive Melanie – a única das selecionadas que parecia ter um cérebro -, que confessou a ruiva que ela e o príncipe quase deram uns beijos, mas foram atrapalhados, pois o pai dele o chamava.

Valentina não pode deixar de se sentir mal pela amiga, a jovem de cabelos azuis não fazia ideia do que perdera ao não beijá-lo. Entretanto, admitir qualquer tipo de relação com o príncipe Schreave fora do castelo estava fora de cogitação.

A garota repensava pela milionésima vez os motivos pelos quais ela se inscrevera e os colocava na balança para ver se realmente valiam tanto a pena enquanto massageavam seus pés no Salão das Mulheres. Talvez toda esta história de ter outras dezenove garotas te vendo como concorrente e fazendo todo o possível para se sobressair umas às outras não fosse tão ruim se você pudesse contar com uma massagista. Ou pelo menos, assim pensava Valentina.

E naquela tarde de quinta feira, tudo continuava monótono como nos cinco dias anteriores. Três garotas receberam um bilhete de Zachary pedindo que a moça o acompanhasse num passeio pelos jardins naquela tarde. Elas nem mesmo se importaram dos três bilhetes possuírem a mesma mensagem. Fato que fez Valentina e Melanie se entreolharem com nojo, mas nenhuma das duas disse nada.

O dia das selecionas, então, passou a ser idêntico como os anteriores a partir do almoço, quando os encontros começaram. A ultima garota, Clarice Hollo, terminou de se arrumar pouco antes das seis horas, o que fez todas as outras acharem que o jantar atrasaria. Entretanto, às sete horas, o príncipe Zachary estava sentado à esquerda de seu pai e o lugar de Clarice, vazio.

Ninguém disse uma palavra durante a refeição, como sempre, mas era diferente desta vez. O silêncio não era por educação à família real, mas sim à Clarice. Apesar de estarem competindo, as meninas reconheciam uma eliminação como uma perca.

E os vários olhares direcionados à Valentina durante o jantar deixou claro o que se passava pela cabeça das outras: a ruiva era a próxima.

E ela foi dormir ainda sentindo os olhares não tão discretos de suas companheiras. Ela sabia que não seria eliminada tão cedo, Zachary precisava dela. Aurora precisava dela. E aqueles dois não se veriam livre de Valentina tão cedo. Ela seria seu pesadelo ruivo.

As meninas ainda conversavam animadas enquanto se encaminhavam para o desjejum. Naquela noite apareceriam em rede nacional e ainda estavam entusiasmadas com o fato. Todas fizeram um grande esforço para se calarem quando foi preciso. Pela primeira vez, o assunto do dia não seria Zachary Schreave.

– Vally – Melanie sussurrou enquanto iam ao Salão das Mulheres – Tudo bem com você? Por... Você sabe.

– Mel, se este príncipe não me quiser, com certeza há uma fila de reis que o farão – Terminou jogando um beijo para a amiga.

– Senhorita Leger? – As Selecionadas que andavam em bando pararam para ver quem havia chamado, mas Zach não prestou atenção em nenhuma delas, seus olhos pertenciam à ruiva – Se não for ousadia de minha parte, a senhorita se incomodaria de passar o dia comigo? – Ele fez uma pequena reverencia.

As outras prenderam o folego, o máximo que conseguiram fora algumas horas perto do príncipe.

– Estou proibida de te negar qualquer coisa, alteza – Com outra reverencia, ela aceitou a mão no loiro e o deixou conduzi-la para fora do palácio – Aonde vamos? – Valentina perguntou quando não podiam mais ouvi-los.

– Ficar sozinhos.

Eles rodearam vários jardins sem trocar uma palavra, andavam cada vez mais rápido, sedentos por privacidade. Até finalmente achar o que procuravam: o jardim particular de Aurora. Os portões eram fechados com uma chave que era entregue apenas aos empregados de maior confiança. Zachary a retirou de um bolso interno do casaco e abriu o portão de ferro, trancando após o casal entrar.

– Para você não fugir de mim – Ele explicou com uma piscadela enquanto guardava a chave.

– Não tinha isso em mente – Valentina deu os ombros enquanto se aproximava do rapaz e o abraçou – Senti sua falta, Encantado.

– Odeio que me chama assim – Fez uma careta – Mas hoje pode porque eu também senti a sua falta ruiva – Ele a apertou com força e a levantou, girando-a no ar – Hoje você é minha – Sussurrou, fazendo a moça rir.

– Como se você fosse fazer algo comigo – Revirou os olhos, se soltando dos braços dele e explorando o jardim – Aliás, que sorte a minha, não? Ser sorteada dentre milhares de garotas para estar aqui.

– Pois é, gata. Você vai descobrir que eu tenho muita sorte dentro deste lugar – Zachary sorriu enviesado e a observou a curiosidade da garota com as plantas. - Valentina Purpurina – Ele chamou, indo a sua direção.

– Não me chame assim – Grunhiu – Não tenho mais doze anos.

Zachary riu com graça. Quando a alcançou, a puxou pela cintura até seus corpos se colarem. Devido à diferença de altura, a boca dele ficava alguns centímetros acima de seu ouvido, onde sussurrou com a voz rouca:

– Sorte a minha, seria tão desagradável se você fosse mais nova.

Valentina tentou se soltar novamente, mas ele a segurou com força contra seu corpo enquanto percorria a lateral do rosto da garota com a boca.

– Zachary. Schreave. Me solte. Agora.

– Ou o que?

Ele riu novamente e afrouxou os braços, indo se sentar num banco próximo. A ruiva o olhou com raiva, mas logo cedeu e se sentou ao lado.

– Você vai ajudar não é? Não posso fazer nada sem você – Valentina pediu, fazendo bico.

– E eu lá tenho escolhas? – Bufou – Meu melhor amigo e minha irmã! Com tanta gente no mundo, os dois resolvem se apaixonar!

– Zach – Ela gemeu, forçando-o a olhá-la – Eles se amam! Tem que ficar juntos!

– A vida não é um conto de fadas onde a princesa se casa com seu amor verdadeiro.

– Mas nós temos que tentar!

– Se eu te ajudar, tenho alguma chance de te levar para a cama?

– Zachary! Olha para mim. Foca nos meus olhos. A felicidade dos nossos irmãos está em jogo.

O loiro fez cara de cansado e encarou o nada, considerando. Ele sabia o quanto Lorenzo se importava com sua irmã, mas não podia deixar de considerar que ela era a princesa de Illea e deveria ser prometida em casamento para fazer aliança com outro reino. Era essa a tradição. Tão antiga quanto a Seleção. Zachary não queria dá-la esperanças de que poderia ficar com seu amigo para depois vê-la com o coração quebrado.

– Zach – Ela o chamou novamente – Eu entendo se você não quiser ajudar, mas então me diz logo, então não tenho que ficar aqui aturando estas meninas.

Zachary respirou fundo e olhou para Valentina novamente.

– O que quer que eu faça?

O sorriso que se abriu nos lábios da ruiva quase o fez se esquecer dos perigos que o que ela planejava fazer tinha. Era algo genuíno, vindo diretamente de seu coração – algo raro naquele palácio. Valentina se importava tanto com seu irmão quanto ele se importava com sua irmã. E mesmo que no final tudo desse errado, talvez valesse a pena proporcionar pelo menos alguns momentos juntos para o casal.

Ela retirou um colar de dentro dos seios – o que o fez arquear as sobrancelhas, malicioso – e o entregou.

– Por hora, isto é dela. A única coisa que tem que fazer é me manter aqui dentro, por enquanto. Quando eu precisar de algo, te aviso.

– Você faz isso parecer uma missão secreta ou algo do tipo. Aqui seria o nosso QG?

– Claro! Missão: Juntando Nossos Irmãos. Você é o Agente Encantado e eu, Agente...

– Purpurina?

– Agente Purpurina, mas só até eu achar algo melhor. Agora, descansar – Ela bateu continência, levantando-se num salto.

– Somos agentes ou soldados? E o que você está fazendo de pé?

– Não sei se você sabe, mas vou aparecer em rede nacional hoje, tenho que relaxar, preciso de uma massagem e decidir o que vou fazer com o meu cabelo. Agora, se não se importa... – Valentina acenou para o portão trancado.

– Eu disse que o fechei para não fugir de mim – Ao ver os olhos da mais nova se arregalarem assustados, ele riu – Qual é Leger, ainda temos um dia inteiro pela frente.