Zachary entrou com cuidado no quarto para não acordar a esposa e o filho. Já se passava das três horas da manhã quando ele finalmente largou os papeis pelo colchão. Estava tão cansado que até teve dificuldades em subir na cama e só quando conseguiu, percebeu que ainda possuía todos os adereços de rei.

– Deveria estar dormindo. – Resmungou com esforço ao sentir Valentina o abraçar.

– Você também. – Ela se ajeitou, acariciando o rosto do marido. – E com certeza sem nenhum desses trapos. – Levantou-se e começou a retirar a roupa dele, porém desistiu. – Eu... Poderia ajudar, se você quisesse. – Zachary abriu os olhos, assustado com o que ouvira. – Só por um tempo. – A ruiva apressou-se em dizer. – Para desatolar um pouco.

O loiro forçou um sorriso, porém não pode evitar a careta ao se levantar. Fitou Valentina e passou as mãos por seu cabelo, tentando se lembrar da última vez que tivera tempo de aprecia-la.

– Nós temos um trato. – Ele a lembrou arqueando uma sobrancelha, acariciando seu rosto.

– E nós o manteremos. – Retrucou num tom duro. – Eu apenas estou me dispondo a te ajudar por um tempo para que você tenha um pouco de ânimo para mim.

Um sorriso malando atingiu os lábios de Zachary Schreave, que fez uso de suas últimas forças para tomar a esposa e a jogar na cama, ficando por cima.

– Eu sempre vou ter animo para você.

– Mesmo daqui uns trinta anos, quando meu cabelo ficar branco, minha pele-

– Até que a morte nos separe. – Ele a cortou com a sombra de um sorriso no rosto. – Por que? Já cansou?

– Ainda não. – Respondeu em meio a uma piscadela, antes de selar seus lábios.

Zachary ignorou a onda de tristeza que o atingiu com a resposta. Afinal, ele já deveria ter se acostumado. Prestes a completar três anos de casado, o matrimonio, ao seu ver, ainda era unilateral. Ele a contrariou e se declarou, porém isto nunca foi citado por nenhum dos dois, muito menos respondido.

Entretanto, o que mais partia o coração do rei era esta incerteza gerada em relação aos sentimentos da esposa. Isto não era exposto, jamais!

Enquanto se deixava levar pelos beijos e carícias de Valentina, seus pensamentos fluíam distraidamente pelas possibilidades de estar construindo uma vida tão falsa quanto a de seus pais. Pode até ver, daqui a alguns anos, as manchetes sobre o seu divórcio.

A cena o fez estremecer e trazer a mulher mais para perto, colando seu corpo contra o dela, certificando-se de que ela estava ali. Fê-lo com força, para se garantir que ela não poderia sair.

Este novo pensamento o fez mudar outra vez, considerando se valia a pena mantê-la como que em cárcere quando a ruiva deveria estar com ele por opção.

No final das contas, ela era a sua escolha.

Porém ele não era a dela.

– Se vai ficar com esse ânimo até que a morte nos separe, me avisa logo. – Valentina parou abruptamente e o fitou.

– Eu estou cansado. – Ele se desvencilhou e tornou a deitar em seu lado da cama e terminando de tirar a roupa desconfortável.

– Não é porque nos casamos que não somos mais amigos. – Insistiu, abraçando-o.

– Eu preciso dormir um pouco, Valentina. – Beijou a mão da esposa, já com os olhos fechados. – Boa noite.

– Boa noite. – Suspirou desistindo. Seu último gesto foi beijar o rosto do marido e murmurar em seu ouvido: - Eu te amo.

Zachary não estava certo se ainda estava acordado ou se já havia sido levado aos seus devaneios. Porém o sorriso em seu rosto perdurou a noite inteira. E quando acordou, com o barulho de Valentina devido a um mal estar, decidiu que aquela era sua história.

Independente da sina de seus pais ou dos sogros, ele seria feliz. E faria Valentina tão feliz quanto. Sendo ele sua escolha ou não, não era este o x da questão. A questão é que ele tinha a chance. Todas as armas lhe tinham sido entregues, era sua hora de lutar.

Não sabia o que a esposa sentia.

Porém sabia do que era capaz de fazê-la sentir.

E acima de qualquer tarefa Real que o aguardava pela frente, Zachary estava disposto a trabalhar pelo seu casamento.

Pela sua felicidade.

Pela sua mulher.