O Crepúsculo do Eduardo escrita por AmandaC
- Entre. – ordenou ela, olhando para o cara que estava diante de mim.
Me senti humilhado por ser tratado daquela maneira por ela. Também me senti um pouco temeroso pela segurança dela. Afinal, era apenas uma garota.
E então me lembrei: Clara não era apenas uma garota!
Derrotado entrei no carro. O cara olhou apavorado para ela e saiu correndo, tropeçando e caindo, ele ainda se arrastou até conseguir levantar e correr para longe, como se tivesse visto... seu pior pesadelo.
Em alguns instantes Clara estava dando a partida no carro, alcançando rapidamente uma velocidade vertiginosa.
- Coloque o cinto! – ordenou ela.
- Você também deveria colocar. – reparei, enquanto obedecia seu comando.
Ela deu um sorriso torto, mas ainda estava tensa.
- Você está bem? – perguntei.
- Não. – respondeu rudemente. Seus olhos estavam em brasa.
Ela freiou o carro num ímpeto, quase voei pra frente. Ainda bem que estava com o cinto.
- Você está bem? – perguntou ela, sem me olhar.
- Sim. – respondi calmamente.
- Me distraia. – pediu de repente.
- O que? – estranhei.
- Fale de qualquer coisa idiota. – ela apertava o volante com força.
Comecei a contar do filme que tinha assistido. Ela levou a mão e pressionou o nariz, após alguns minutos pareceu se acalmar.
- Posso falar agora? – pedi irritado.
Ela não respondeu. Tomei aquilo por um sim.
- Como me encontrou?
- Como você está se sentindo? – me perguntou. Evitando minha pergunta.
- Bem.
- Não está tonto, enjoado, gelado, ...?
- Deveria? – estranhei.
Ela riu.
- Bem, estou esperando você entrar em choque.
Fiz uma careta.
- Não sou uma menininha! – resmunguei.
Ela fez uma careta.
- Tem certeza que está bem? – indagou.
- Estou ótimo. De verdade. – afirmei.
- Você nem parece abalado. – ela parecia inquieta. Seus olhos estavam num verde tão claro que poderiam ser azuis, nunca os tinha visto tão claros e límpidos como naquele momento.
- Me sinto seguro com você! – confessei, hipnotizado por aquele olhar.
- Isso é mais complicado do que eu planejei. – ela balançou a cabeça, carrancuda.
- Achei que seu humor estaria melhor com seus olhos claros. – observei. Eu não era muito de observar, mas com ela isso era difícil. – Tenho uma teoria.
Ela semicerrou os olhos.
- Mais teoria? Espero que tenha sido mais criativo do que desenhos! – ela zombou, mas ainda tinha os olhos apertados.
- Bem, não foi de desenho. Mas não inventei sozinho. – confessei.
- E? – incitou ela.
- Primeiro eu tenho algumas perguntas.
- Claro. – ela balançou a cabeça, resignada.
- Como me achou?
- Próxima.
Bufei, mas prossegui.
- Tudo bem então. – eu a fitei e prossegui, devagar. – Digamos que, hipoteticamente, alguém pode encontrar as pessoas, ler a mente delas, sabe como é... com algumas exceções.
- Só uma exceção. – corrigiu ela.
Me animei que ela estivesse cooperando.
- Tudo bem então, com uma exceção. Como é que isso funciona? Quais são as limitações? Como... esse alguém... acharia uma pessoa exatamente na hora certa? Como ela saberia que ele estava numa encrenca?
- Hipoteticamente? – perguntou ela.
- Claro.
- Bom, se estivesse prestando a atenção, o senso de oportunidade não precisaria ser tão preciso. – ela sacudiu a cabeça, revirando os olhos. – Mas você consegue se meter em mais encrencas do que eu podia imaginar.
- Estamos falando de um caso hipotético. – lembrei-lhe friamente.
- Sim. Estávamos. Como deseja que eu o chame? – ela riu.
- Como você sabia? – desisti de fingir.
Ela pareceu oscilar, dividida por algum dilema íntimo. Seus olhos pararam nos meus e achei que, naquele momento, ela estava decidindo se simplesmente me contaria a verdade ou não.
- Sabe que pode confiar em mim. – disse.
- Não sei se ainda tenho alternativa. – a voz dela era quase um sussurro, por um momento me arrepiei. – Eu estava errada... Você é muito mais observador do que eu julguei.
Ficamos em silêncio.
- Obrigado. – disse. – Já foram duas vezes.
O rosto dela se suavizou.
- Vamos tentar não ter a terceira. Concorda?
Concordei com uma careta.
- Eu o segui até o centro. – admitiu ela, falando num jato. – Nunca tentei manter uma determinada pessoa viva, e é muito mais problemático do que eu acreditava.
Dei um sorriso involuntário.
- Já pensou que talvez minha hora tivesse chegado naquela primeira vez, com a van, e você esteja interferindo no meu destino? – especulei.
- Não foi a primeira vez. – disse ela, e mal se ouvia sua voz. Eu a encarei, surpresa, mas ela olhava para baixo. – Sua hora chegou quando eu o conheci.
Senti um espasmo de medo com as palavras dela, e a lembrança abrupta de seu olhar sombrio e violento naquele primeiro dia, teve outro significado para mim.
- Você lembra? – perguntou ela, o rosto angelical grave.
- Lembro. – senti alivio por notar que tinha a voz calma.
- E no entanto aqui está você. – havia um toque de descrença em sua voz.
- É, estou aqui, graças a você. – parei. – Por que de algum modo você sabia como me encontrar hoje...? – incitei.
Ela apertou os lábios, encarando-me pelos olhos estreitos, decidindo novamente.
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