Avatar: A Lenda de Zara - Livro 3: Fogo escrita por Evangeline


Capítulo 20
Cap 19: Em Busca da Caverna - Parte 2




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A luz do sol batendo na roupa avermelhada, a deixava alaranjada. O reflexo nos fios negros era de um estranho amarelo claro, e os olhos ainda estavam quase fechados, fitando o chão aos seus pés.

Ele era mais alto, mais largo e mais forte do que eu. Mas ali, diante daquela luz, em meio àquela breve neblina, ele parecia ser um igual. Eu sentia que ele tinha algo em comum comigo, algo muito forte.

Seu rosto, cujo eu já sabia ser tão macio, ficava ainda mais claro ali, junto ao sol. Seu cabelo bagunçado estava preso a um rabo de cavalo feito as pressas, que lhe caía perfeitamente bem. Alguns fios balançavam com os passos fortes dele, me hipnotizavam.

A postura perfeita, os passos silenciosos. Era encantador. Por um instante esqueci de que ele havia me sequestrado, me tratado mal. Por um instante, eu consegui imaginá-lo mais uma vez sem camisa diante de mim. Com a luz solar iluminando-o.

Definitivamente, o sol combinava perfeitamente com os olhos amarelados de Avalon. Procurei não ficar olhando muito, mas tudo parecia ter se silenciado só para que eu o olhasse, como um evento natural, como se algo maior quisesse que eu visse.

Zara corou brevemente quando desviou o olhar de Avalon, que logo em seguida começou a observá-la. Ele não notou o comportamento estranho da garota, mas olhava para ela de um modo quase carinhoso.

Depois de algum tempo, numa abertura da montanha, Zara encontrou uma linda parede coberta por hera, que mais pareciam cipós caindo no chão e se espalhando por ali. O chão era coberto por uma grama baixa e úmida graças ao orvalho. Haviam pequenas flores brancas pelo chão, e alguns insetos polinizadores que começaram a trabalhar cedo.

– Vamos descansar aqui! – Disse a garota, imediatamente. Avalon não pestanejou e ambos sentaram-se no gramado. Ela levou as duas mãos aos cabelos, soltando o laço que prendia os fios negros, assim fazendo-os caírem sob seus ombros. Tinha um formato curioso, a parte da frente era maior que a de trás, e a sua nuca ficava completamente a mostra.

Ela se deitou no tapete esverdeado e ficou olhando para as nuvens no topo da montanha. Precisavam subir, mas não sabia se encontraria a caverna e sentia-se culpada por aquilo. De fato, Zara sentia-se culpada por tudo aquilo.

– Zara... – Chamou Avalon, logo se arrependendo de ter chamado. Não sabia ao certo o que dizer.

– Oi. – Ela respondeu, virando a cabeça para ele.

– Ahm... ainda está com frio? – Perguntou por fim, fazendo Zara estranhar a pergunta.

– Um pouco, mas eu não pediria para você fazer uma fogueira aqui, estragaria o lugar... – Ela comentou voltando a olhar para o topo da montanha. – Desde que você falou sobre Damon eu estou com vontade de vê-lo... – Disse Zara, como um comentário casual.

– Isso é possível mesmo? – Perguntou Avalon, sentando-se mais confortavelmente com uma perna esticada e a outra dobrada, onde ele pousou o braço.

– Claro que sim... Na verdade, Damon e eu somos a mesma pessoa... – Ela tentou explicar, falando mais para si mesma do que para ele.

– Se são a mesma pessoa, para quê precisa vê-lo? – Perguntou mais uma vez, tentando entender a situação da garota. – Damon foi o Avatar do fogo mais habilidoso que já teve.

– Não... – Ela negou, sem saber ao certo o porquê.

– Então quem você diria que foi? Roku? – Ele brincou por um instante.

– Não... Eu não sei, mas tenho a sensação nítida de que não foi Damon. – Falou mais para si mesma do que para ele. – Mas faz sentido... para que eu preciso consultar Avatares anteriores, se eu sou todos eles juntos?

O silencio ficou por algum tempo, até Zara se sentar e ficar olhando para as próprias mãos. O corpo de Avalon fazia sombra em cima dela, mas o sol estava quase imediatamente atrás dele. Uma borda brilhante parecia contornar todo o corpo dele, deixando-o mais escuro e claro ao mesmo tempo.

Ela olhou por algum tempo para ele, brevemente admirada. O sol era algo incrível mesmo... Mas ainda não estava convencida de que o fogo era um elemento confiável, ela imaginava que dobrá-lo poderia ser uma constante batalha, que o fogo era trapaceiro.

– O que foi? – Perguntou Avalon depois de algum tempo. Era muito estranho a garota ficar encarando-o daquela maneira.

– Nada... Eu estava olhando para o sol... – Ela respondeu. – Acho que não vou conseguir dobrar o fogo. – Falou baixinho, desestimulada. – E não faço ideia de como vou reagir ao ar... – completou.

Avalon se levantou devagar, ofuscando a visão de Zara com a luz do sol. Ele estendeu a mão aberta para a garota, que a segurou um tanto hesitante e se levantou com a ajuda dele.

Zara ficou de pé diante do rapaz, mais alto que ela, e o olhou nos olhos amarelados.

– Abra a mão. – Ele disse. Zara prontamente obedeceu, abrindo a mão direita diante do corpo. Avalon levou as duas mãos à boca e soltou o hálito ali, um hálito flamejante e azul. Quando tirou as mãos unidas da frente da boca, uma estranha chama azul meio esverdeada se encontrava ali. Ele a manteve numa só mão e então olhou para Zara.

– No início, o fogo criado pelo dobrador podia ter inúmeras formas e cores. – Ele disse olhando fundo nos olhos azulados da garota. – Quanto mais vermelho é o fogo, mais impuro ele é. Quanto mais próximo do azul ciano, mais puro ele é. – Explicou. – O fogo de Airon é Azul escuro, próximo ao violeta, e o meu é azul-água, próximo ao verde. O fogo do Avatar Damon era do mais excitante vermelho, como sangue.

Zara estranhou um pouco. O Avatar Damon, um dos mais habilidosos, dobrava o fogo do mais impuro?

– A cor do fogo reflete o seu poder de dobrá-lo, de controla-lo. – Ele continuou explicando.

– De dançar com ele. – Zara completou, olhando para as chamas na mão de Avalon. Ele segurou a mão dela com a palma para cima, e depositou as chamas ali. Zara fechou os olhos prontamente com medo de se queimar, mas nada aconteceu.

Ela sentia algo morno em sua mão, e logo abriu os olhos para ver. O fogo de Avalon estava ali, brevemente afastado de sua pele, flutuando.

Ele soltou a mão da menina e deu um passo para trás. Ela logo trouxe a outra mão para perto da que segurava o fogo, e manteve as duas em concha como se segurasse um pouco de água. Era fascinante.

Ela abriu um sorriso descrente. Estava com o fogo azulado próximo ao rosto, como se estivesse vendo um filhotinho em suas mãos. O reflexo do azul do fogo em seus olhos era algo realmente bonito. Quase desconcertante.

Ela me olhou em seguida, com um sorriso sincero nos lábios. Eu quase sorri de volta, não tinha aquela habilidade de expressar o que se passava dentro de mim. Mas ao menos consegui o que eu queria fazer.

Esquentá-la.

Agora o ambiente não estava sendo ferido, e ela não estaria mais com frio. Me sentei de volta onde estava e a vi sentar-se próxima ao rochedo coberto por cipós e hera, ainda olhando hipnotizada para o fogo. Parecia uma criança.

Quando Zara tentou se encostar na rocha atrás de si, descobriu que todas aquelas plantas não estavam presas a uma pedra, e sim caindo por cima de uma grande abertura. Zara quase caiu para trás com o movimento, para só então virar-se e disponibilizar uma das mãos para tirar alguns cipós de sua frente e ver a completa escuridão dentro da tal caverna.


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Notas finais do capítulo

:D