Justin

Se fosse há alguns meses atrás, eu até me acharia sortudo por ter uma mulher gostosa só de calcinha e sutiã em cima de mim em uma cama. Mas como os tempos mudaram, eu não estava nem um pouco feliz em ter aquela mulher me agarrando. Ok, eu poderia estar curtindo, mas quando ela mordeu meu lábio inferior tão forte a ponto de sair sangue e parecia se deliciar com o sangue que ficou em sua boca, percebi que as coisas não estavam tão bem para serem curtidas.

Eu afastei a mulher de mim com um empurrão, foda-se se era uma mulher. Eu tenho amor a vida, ok?! Ela ficou me olhando por um tempo, os olhos cravados nos meus lábios que ainda sangravam. Tentei abrir a porta, mas a vadia tinha trancado. Ela veio até mim, estava com uma faca na mão. Mas onde essa puta tinha pegado uma faca sem que eu percebesse? Que inferno!

–Olha, eu não sei o que você tá pensando, mas nem pense em usar essa faca em mim! - falei, tentando manter distância da mulher.

Ela riu.

–É uma pena ter que desperdiçar um corpo tão lindo quanto o seu, mas eu também preciso me alimentar - ela deu de ombros.

Espera, o que? Se alimentar? Eu devia estar com uma cara de retardado porque não conseguia acreditar nos meus próprios ouvidos.

–Eu vou me arrepender de perguntar isso... Mas se alimentar de quem?

–Ora, de você, amor.

Seu olhar se tornou uma coisa selvagem e ela avançou para cima de mim, eu segurei sua mão que estava com a faca, ela riu e me deu uma cotovelada na barriga com o braço que eu não estava ocupado. Resmunguei alguns palavrões enquanto soltava o braço da mulher.

–Desde o inicio do Apocalipse, eu tenho experiência em matar pessoas. Minha dica é que você fique quietinho enquanto eu mato você, amor - ela piscou pra mim.

Mas nunca que eu ia ser morto por uma mulher! Não que eu seja machista, mas quão idiota seria ser morto por uma mulher de sutiã e calcinha?

–Desculpa amor, mas hoje ainda não é meu dia!

Ela investiu contra mim de novo, mas dessa vez eu estava um pouco mais preparado para as investidas daquela puta que acha que pode comer gente, literalmente. Eu arranquei a faca da mão dela o que me rendeu um corte na palma da mão. Inferno. Ela riu, completamente alucinada com o sangue que escorria da minha mão, porém eu tinha vantagem porque estava com a faca. Mas não iria mata-la, a única pessoa que eu queria matar estava em outro quarto com Kimberly.

Peguei a mulher pelo cabelo e a arrastei até a cômoda que tinha ao lado da cama, comecei a bater a cabeça dela ali. Se ela, pelo menos, não ficasse inconsciente eu mesmo me mataria. Ela começou a gritar, mas em poucos minutos foi perdendo a consciência. Deixei a mulher caída no chão e arrombei a porta, a faca da mulher ainda estava na minha mão e eu estava com tanta raiva que seria capaz de matar todos os zumbis dos Estados Unidos. Só de pensar o que poderiam estar fazendo com Kimberly fazia meu sangue ferver!

Eu não tinha a menor ideia de onde Kimberly poderia estar, mas graças a Deus ela tinha a voz alta e eu consegui escutar o grito de Kim do andar de cima. Disparei escada à cima e abri a porta de onde vinha a voz de Kimberly. Parece que alguém tinha esquecido de trancar a porta. Kim estava apenas de sutiã e calça jeans, Blake estava em cima dela e gargalhava cada vez que ela gritava. O rosto de Kimberly estava vermelho como se ela tivesse prendendo o choro, mas estava falhando. Nenhum dos dois pareceu perceber minha presença ali, o que foi bom. Eu podia ter atacado Blake pelas costas, mas só de vê-lo machucando Kimberly eu não consegui me controlar.

Arranquei Blake de cima de Kimberly, o que não foi uma ideia muito boa. Blake era uns trezentos metros mais alto que eu e tinha milhões de músculos a mais que eu, porém, eu não iria deixa-lo machucar Kimberly. Blake olhou para mim, seu rosto estava vermelho de raiva.

–Ninguém machuca ela enquanto eu estiver vivo - praticamente rosnei as palavras.

–Ela é uma puta! Estava gostando! - Blake riu.

Eu não conseguia mais pensar direito, meu sangue pulsava nos meus ouvidos. Eu avancei até Blake e acertei um soco em seu queixo, minha mão quase quebrou, mas eu resolvi não demonstrar nada. Blake apenas cambaleou e me olhou com mais raiva ainda. Foi tudo tão rápido que no minuto seguinte eu estava no chão e do meu nariz saia um pouco de sangue. Legal, se eu não conseguisse sair dali, provavelmente nem precisariam me matar. Já estava escorrendo sangue de todo lugar mesmo.

Fiquei de pé. Olhei para Kimberly e vi que ela já estava vestida novamente, fiz um movimento para que ela saísse do quarto. Ela tinha que me obedecer pelo menos uma vez na vida! Kimberly pareceu entender o que eu havia dito e correu para fora do quarto. Blake olhou para ela e disparou atrás de Kimberly. Ah, que droga! Sai do quarto e fui atrás de Blake.

–Volta aqui, sua vadiazinha! - Blake gritava, enquanto corria atrás de Kimberly.

Vi Drake e Erika saindo dos quartos, eu mandei eles irem atrás da van e assim eles fizeram enquanto eu estava correndo desesperadamente atrás de Kimberly antes que Blake a encontrasse.

Olhei ao redor, as janelas já deixavam transparecer alguns zumbis que foram atraídos com os gritos de Blake. Que droga! Era só o que faltava. Não tinha muito tempo para encontrar Kimberly e para sairmos dali com vida, se não morrêssemos como jantar de humanos, viraríamos papinha de zumbi. Blake estava de costas para mim, estava segurando Kimberly pelos cabelos, seu rosto estava tão vermelho que parecia que toda a cor do seu cabelo tinha escorrido para o rosto. Não que o cabelo dela fosse pintado, era ruivo natural mesmo. Não esperei nem mais um minuto, corri até eles e enfiei a faca que eu estava na mão nas costas de Blake, o cara gritou tão alto que atiçou ainda mais os zumbis que batiam incessantemente nas janelas. Blake arrancou a faca e voou pra cima de mim.

Sentia que meu rosto ia se deslocar com tantos socos que estava levando. Blake parecia ter a força de mil elefantes em apenas uma mão. Eu já estava perdendo a consciência, estava rezando para que Kimberly já estivesse dentro da van e que ela, Drake e Erika já tivessem conseguido fugir, mas um cabelo ruivo entrou no meu campo de visão e o som do disparo de uma arma fez meus ouvidos vibrarem. Blake caiu ao meu lado gritando de agonia, percebi que alguém estava ajoelhado ao meu lado e escutei a voz de Kimberly.

–JUSTIN! – ela gritava. - VAMOS! TEMOS QUE SAIR DAQUI!

Eu olhei para o lado, Blake estava ali. Gritando, para variar. Kimberly havia dado dois tiros em suas coxas e ele agonizava no chão. Olhei de novo para Kim, tentando manter os olhos abertos, mas, infelizmente, eu não consegui.

Kimberly

Quando Justin enfiou uma faca nas costas de Blake, eu tratei logo de ir atrás de uma arma. Achei uma jogada no chão, não hesitei em pega-la. Eu percebi a quantidade de zumbis que se aglomerava ao redor da casa. Droga. Quando voltei minha atenção para Justin, ele estava sendo espancado por Blake, meu sangue começou a pulsar nas minhas veias, meu coração acelerou e mirei a arma na direção das coxas de Blake, se eu e Justin tentássemos fugir correndo, ele não poderia nos seguir.

Os disparos vieram minutos depois, certeiros. Blake tombou para o lado, gritando, o que deixou os zumbis pirados. Me ajoelhei ao lado de Justin, seu rosto era uma mascara de sangue. Senti meu coração apertar, não queria que ele morresse ali. Quando Justin ficou inconsciente, senti lágrimas nas minhas bochechas. Lembrei instantaneamente da minha promessa. Tudo o que eu tinha feito desde que a viagem até o México começou, era só quebrar minha promessa. Se Justin morresse ali o que eu diria para Jason e Jasmine? "Oh, me desculpe! Mas eu fui incompetente demais para salvar o irmão de vocês." Não! Eu sabia como era a dor de perder alguém da família e eu não queria que aquelas crianças sofressem como eu sofri. Então, se existia 1% de chance, eu não iria desperdiça-la. Com um pouco de esforço, consegui deixar Justin de pé e colocar um de seus braços ao redor do meu pescoço enquanto o meu ficava em sua cintura.

Escutava a buzina da van onde Drake e Erika estariam nos esperando. Só tinha duas saídas e uma estava cheia de zumbis. Corri até a porta de vidro e me lancei nela, o impacto me fez gritar. Cai no chão e fiquei admirada ao ver que não havia largado Justin, enquanto tentava recuperar os sentidos vi alguns zumbis correndo na nossa direção. Levantei do chão puxando Justin comigo, comecei a correr pela floresta enquanto tentava arrasta-lo comigo.

Justin iria fazer coisas para mim por um ano só por isso que eu estava fazendo! Porém eu não podia cobrar nada, afinal, ele havia me salvado também. Revirei os olhos. Estávamos quites de novo.

Sentia todos os músculos do meu corpo gritando eu protesto, provavelmente, estava com alguma parte do corpo contundida ou até mesmo quebrada. Conseguia escutar alguns zumbis vindo atrás de mim, percebi que ainda estavam longe, mas comecei a acelerar os passos. Já estava perdendo as esperanças quando vi a van na frente da floresta, eu cheguei na estrada cambaleando. Percebi quando Drake e Erika saíram correndo de dentro da van e vieram até nós, eu não estava mais aguentando o peso de Justin. Tirei seu braço dos meus ombros e nós dois caímos no chão, desacordados.