Once Upon Our Time escrita por lovemyway


Capítulo 1
Once Upon Our Time


Notas iniciais do capítulo

Essa ideia me veio a cabeça, e resolvi escrever. Espero que gostem!P.S.: Snow White → Branca de Neve; Charming → Encantado.



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"Quebrada"


Rachel Berry encarou o cartão postal atônita. Suas mãos tremiam ligeiramente enquanto ela lia a única palavra escrita em uma caligrafia floreada, seu coração martelando tão depressa no peito que ela sentia como se ele fosse saltar por sua boca.



Ela não tinha muita certeza do que fazer, ou de como agir. Os pensamentos corriam por sua mente velozes demais para que fossem completamente assimilados, e as lágrimas caíam pelo seu rosto, borrando sua visão. O nó em sua garganta tinha um gosto amargo — o gosto da espera —, e parecia se desfazer lentamente. Aos poucos, ela começou a compreender o que aquilo significava.



Quebrada. A maldição fora, enfim, quebrada. O sorriso surgiu em seu rosto, e ela precisou se sentar, porque suas pernas não pareciam mais serem capazes de sustentar o peso de seu corpo. Afundou-se na poltrona, os olhos ainda fixos no cartão, e se permitiu apreciar todas as sensações que seu corpo experimentava. Dez anos de espera — e, então, acontecera.



Sentiu vontade de correr. O mais longe possível, o mais rápido possível, em direção ao momento em que ela havia esperado por tanto tempo. Imaginou-se jogando os braços ao redor do pescoço dela, beijando-lhe os lábios, sussurrando-lhes as palavras de amor que deveria ter dito quando estiveram juntas pela primeira (e única) vez.



O sentimento de felicidade passou tão rápido quanto chegou. Ocorreu-lhe que, se partisse para Storybrooke, ele estaria lá. Ela não queria vê-lo. Nunca mais. Seria esse o preço a ser pago para reencontrar a única mulher que jamais amou? Enfrentar o homem covarde que um dia chamara de pai? Fechou os olhos e respirou fundo. Ficou dividida. A escolha deveria ser fácil. Ela deveria estar fazendo as malas, largando o emprego, correndo para os braços dela, pronta para continuar o que começaram há tantos anos.



"E se ela não me quiser? E se ela não me amar?"



A dor que cortou seu peito foi tão intensa que, momentaneamente, viu-se sem ar. Lembrou-se de expirar e inspirar, mas seu corpo não parecia querer obedecer ao simples comando. Ele traía os seus medos. O que ela tem carregado desde que se separaram. Diversas vezes, no passar dos anos, ela se perguntou se deveria continuar esperando. Sabia que podia encontrá-la. Sabia que podia ignorar os avisos de August, se quisesse. Sabia que não deveria. Mas, à medida que o tempo foi passando, não pode deixar de sentir que estava perdendo sua chance. O relógio corria contra ela. Talvez, quando a maldição fosse quebrada, fosse tarde demais.



Talvez fosse tarde demais.



Ela afundou ainda mais na poltrona, as mãos sobre o rosto, sem saber o que fazer. Perguntou-se se talvez não seria melhor ficar longe. Assim, não o encontraria — Rumplestiltskin, seu pai; o homem que todos temiam e ela detestava. Assim, ela não a faria sofrer. Deixá-la foi a coisa mais difícil que já fez em toda a sua vida. Ela sabia que era a única forma das coisas acontecerem como deveriam. Ela sabia que ela era a Salvadora. Isso não diminuía sua dor, contudo. Isso não foi um consolo enquanto a esperava cumprir seu papel e quebrar a maldição. Não, apenas tornava as coisas piores, mais difíceis. Porque ela sabia que precisava partir em função de um "bem maior". Ela sabia que se fosse egoísta demais para ficar, colocaria a vida de pessoas inocentes nas mãos da Rainha Má para sempre, e não haveria finais felizes. Ela não podia ter isso em sua consciência. Então, ela partiu. Mesmo que doesse. Mesmo que não quisesse. Mesmo que a amasse.



Por amá-la, ela sabia que precisava ir. Devia-lhe isso. Uma justificativa por ter partido, deixando-a sozinha — e grávida. Tirou as mãos do rosto e imaginou como a criança devia ser. Provavelmente alta como ela; com sorte, teria puxado seus olhos verdes. Ou talvez se parecesse mais com o pai. Os mesmos cabelos castanhos, o mesmo formato do nariz, o mesmo sorriso. Ela visualizou a imagem dele em sua mente. Um rapaz alto, forte, gentil. Samuel Evans foi um bom homem. Ela lamentava sua morte. Ele nunca esteve envolvido em nada disso. Ele não fazia parte desse mundo maluco ao qual elas pertenciam. Talvez, se ainda fosse vivo, ele não compreendesse. Ou, talvez, ele fosse o suporte dela. A pessoa que a manteria inteira durante a tempestade. Mas ele não estava mais aqui. Ele não podia estar mais aqui por ela, então alguém precisaria estar. Alguém precisaria protegê-la de toda essa bagunça, porque ela provavelmente estaria destruída. Sempre foi cética, mesmo quando era mais nova. Nunca acreditou em finais felizes. Nunca acreditou em ninguém além de si mesma. Por vezes, nem em si própria ela acreditava.

Rachel não poderia culpá-la. Ela não sabia de absolutamente nada. Não sabia que não havia sido abandonada em uma estrada. Não sabia que seus pais — Snow e Charming — estavam apenas tentando protegê-la. Não sabia o papel importante que ela desencadearia quando completasse vinte e oito anos.



Levantou-se da poltrona e caminhou até a penteadeira, ficando frente a frente com seu reflexo no espelho. Seus olhos castanhos a observaram de volta. Havia tantos traços em seu rosto que lhe lembravam seu pai — o formato do queixo, a covinha, o jeito que sua testa franzia. Ela tinha medo, entretanto, que essas não fossem as únicas coisas que possuíam em comum. Tinha medo de ser tão covarde quanto ele. Mas, principalmente, temia que seu medo a transformasse em alguém que ela desconhecia.



— Você pode fazer isso, Rachel — ela disse para si mesma, decidida. — Você não é nada como ele.



Virou-se, então, para o guarda-roupas, e começou a fazer as malas.

~x~

"Bem vindo a Storybrooke"




Rachel precisou parar o carro por alguns segundos ao ver a placa. Não havia absolutamente nada por perto — nenhuma casa, nenhuma construção, nenhuma pessoa. Ela se perguntou como todos estariam, agora que a maldição fora quebrada. Talvez estivessem indo atrás do seu final feliz? Ou talvez estivessem confusos, tentando entender o que havia acontecido. Quem sabe, os dois.



Ela se perguntou onde ele estaria. Como teria conservado seus poderes numa cidade sem magia? Porque se uma coisa Rachel sabia sobre seu pai, é que poder era a coisa mais importante para ele. Até mais importante que a própria filha. Quando ela conseguiu encontrar uma saída, uma chance para um novo recomeço, ele a abandonou. Escolheu ser "O Senhor Das Trevas" no lugar de Rumplestiltskin. Ser seu pai não era o suficiente. Durante mais de trinta anos, ela ficou ressentida. Ainda não o perdoara. Mas não estava ali por ele. Estava por ela.



Quinn Fabray. A salvadora.



Voltou para o carro, sentindo o estômago embrulhar, e dirigiu cuidadosamente em direção à cidade. Não levou muito tempo até as casas começarem a surgir. Havia pessoas no meio da rua, e elas viraram a cabeça ao ver seu carro passar. Isso a deixou ainda mais nervosa. Não havia como nenhum deles saberem quem ela realmente era — provavelmente achavam que era apenas outra pessoa buscando amigos e familiares. Não que o que ela estivesse fazendo fosse muito diferente disso. Quinn era a sua família, afinal. Tudo o que ela mais desejava é que ela fosse novamente.



"Onde você está?", ela pensou, mordendo os lábios. Foi então que algo lhe chamou a atenção. Num cruzamento adiante, onde algumas pessoas estavam paradas no meio da rua. Algumas pessoas pequenas. "Anões", ela adivinhou, e seu coração começou a bater depressa. Ela não conseguiu mais dirigir. Suas pernas tremiam demais — então, fazendo o melhor que pode, ela freou o carro, estacionou, puxou o freio de mão e observou, de longe, o que estava acontecendo.



Ela teria a reconhecido a quilômetros de distância. A mulher de cabelos loiros e jaqueta de couro vermelha, abraçada a uma mulher de cabelos curtos, vestida de branco. E, próximo a ela, um garotinho. Pequeno para a idade. Cabelos pretos. Rachel saiu do carro, tentando manter o controle da própria respiração, e se forçou a dar um passo, e depois outro.



Quinn ainda não a percebera, mas o garotinho sim. Rachel perdeu o ar quando viu aqueles olhos — tão verdes quanto os da mãe. Não conseguiu mais andar. Apenas retribuiu o olhar que ele lhe lançava, sem saber o que fazer. Ele não a reconheceu, o que Rachel não esperava que ele fizesse, mas havia algo em seu rosto que a fazia acreditar que ele sabia quem ela era. O garotinho sorriu; um sorriso largo, que a lembrou imediatamente de Sam. Ele tinha a mesma cor de cabelo, também. Mas o nariz, os olhos, a boca — eram inconfundivelmente traços herdados de Quinn.



O olhar de Rachel finalmente deixou o garoto e se voltou para a loira, que estava de costas para ela. Quis dizer alguma coisa para se fazer notada. Quis abraçá-la. Quis dizer o quanto sentiu sua falta, e o quanto a amava. Abriu a boca, pronta para falar, mas então as palavras lhe foram roubadas quando o viu. Ele estava longe — na frente do que parecia ser uma loja —, e não parecia ciente de sua presença. Rachel deu um passo para trás, involuntariamente, sentindo o pânico começar a assumir o controle. Quis se virar, então. Voltar para o carro. Ir embora. Fugir.



A palavra enviou arrepios por todo o seu corpo, e ela sentiu raiva de si mesma por ser tão fraca. Ergueu a cabeça. Não seria como seu pai. Nunca foi antes. Ela podia ser melhor. Ignorou todos os seus instintos, e tomando uma respiração profunda, deu dois passos para frente, ficando a centímetros de Quinn. Podia tocá-la agora, se quisesse. Podia até mesmo sentir o calor emanando de seu corpo. As lágrimas surgiram em seus olhos, e ela tentou engolir o nó da garganta. Entretanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, outra a pessoa a notou.



Charming. Ele estava abraçado ao garotinho, observando a mulher e a filha com um sorriso enorme no rosto, mas, por alguns segundos, seu olhar voltou-se para ela. Ele franziu o cenho, confuso. Ele conhecia todos os habitantes da cidade, e tinha quase certeza de que nunca a vira antes. Rachel não estava prestando atenção a ele, por isso, assustou-se quando ele tocou seu braço.



— Está tudo bem — Charming tentou tranquilizá-la, sorrindo gentilmente. — Acabou. A maldição foi quebrada.



— Eu sei — Rachel disse, por fim, conseguindo recuperar sua voz. Ela percebeu a postura de Quinn mudar, tornar-se tensa, e sentiu uma pontada de dor e culpa no peito. — É por isso que estou aqui.



Durou apenas alguns segundos, mas, para Rachel, pareceram horas. Quinn se virou lentamente em sua direção, e elas se encararam. Ela pode ver a dor, a raiva, o medo, passar pela sombra dos olhos de Quinn.



— Rachel? — Quinn sussurrou, incrédula.



— Eu voltei, Quinn — ela respondeu, a voz quebrando ao ver o estado fragilizado da mulher que ela amava. — Eu sei que você deve estar confusa agora, com tudo o que aconteceu. Sei que você deve estar querendo fugir, porque nada disso faz o menor sentido. Contos de fadas não deveriam existir. Seus pais não deveriam ser Snow White e príncipe Charming. Eu sei que isso é assustador. Mas, por favor, não dê ouvidos aos seus instintos. Não corra. Eu não posso te perder; não novamente.



— C-como — gaguejou Quinn, boquiaberta. — Como você sabe de tudo isso?



— Porque eu também faço parte disso, Quinn. Eu precisava partir, porque você é a salvadora. Se eu tivesse ficado, você não estaria aqui. Não teria libertado seus pais, e os outros. Eles ainda estariam vivendo amaldiçoados pela Regina. Eu precisava, você entende? — Rachel suplicou, desesperada.



— Quem? — murmurou Quinn. — Quem você é?



— Eu sou... Sou filha do Rumplestiltskin.




— Gold? — indagou Quinn, o choque cedendo lugar à incredulidade. — Você é filha do Gold?

Rachel franziu o cenho. Não reconhecia o nome. O garotinho, que até então ficou calado, soltou uma exclamação. Ele apontou para ela, sorrindo.



— Rae! É você, não é?



— É como meu pai costumava me chamar. Prefiro Rach — ela disse, sorrindo tristemente para ele. — E você, como se chama?



— Meu nome é Henry.



— É um nome bonito — comentou Rachel, virando-se para Quinn. — Você quem escolheu?



Quinn se irritou. Avançou para Rachel, a mão erguida, e deu um tapa em seu rosto. Levantou a mão para outro, mas foi impedida pelo pai, que a puxou para longe. Rachel tocou a bochecha, e olhou para Quinn, sentindo-se derrotada. Era tarde demais, afinal de contas.



— Você foi embora — gritou Quinn, tentando se livrar do aperto de Charming. — Não tem direito algum de aparecer agora, e... E... E deixar tudo ainda mais confuso! Você não tem esse direito! Não pode achar que vai voltar, e eu vou me jogar em seus braços, e tudo vai ficar bem... Isso não vai acontecer!



— Eu sei que não, Quinn — isso calou a loira. Rachel entendeu como um sinal para prosseguir, e continuou. — Eu vim porque lhe devo uma explicação. Porque você precisa saber o porquê de eu ter te deixado. August me procurou. Ele me contou quem você era, e eu não tinha a menor ideia. Desde que o meu pai fez... Tudo o que eu queria era seguir em frente, esquecer o lugar de onde vim, esquecer da magia. Mas eu encontrei você. Você trouxe a magia de volta para a minha vida, Quinn. Deixar você? Foi a coisa mais difícil que já fiz em toda a minha vida. Eu não sou egoísta. Eu sabia que não podia te segurar comigo, e deixar que todos eles — ela apontou para Snow, Charming, e os anões — ficassem presos nessa cidade, sem saber quem eram, sem ter uns aos outros. Melhor do que ninguém, eu sei como é essa dor. De ter tudo arrancado de você. E sei que você também sabe, Quinn. Eu peço desculpas por ter ido embora quando você mais precisava. Tudo na vida tem um preço, e o preço que eu paguei foi saber que você talvez nunca mais fosse minha. Mas eu quero que você saiba que eu te amo. Sempre te amei. E eu vou continuar pedindo desculpas, até que um dia você as aceite. E eu vou continuar te amando, mesmo que você siga em frente. Mesmo se você já tiver alguém.



— Ela não tem! — exclamou Henry, puxando a jaqueta da mãe e sorrindo. — Ela não tem ninguém, Rach.



— Henry! — bronqueou Quinn.



— Mãe! — retrucou Henry. — Você não vê que Rachel não tinha uma escolha? Se ela não tivesse deixado você partir, talvez você nunca tivesse quebrado a maldição.



— Isso não muda nada — disse Quinn, irritada.



— Muda tudo — murmurou Rachel, suspirando.

~x~




Rachel conseguiu evitar o pai por quase três dias inteiros. Os boatos que a filha de Rumplestiltskin estava de volta correram pela cidade inteira, e aonde quer que fosse, as pessoas paravam para olhá-la. Ela tentou se manter afastada o máximo possível, porque não queria que ninguém a culpasse pelo que estava acontecendo. Não que ela pudesse ser culpada — mas, quando estão com raiva, as pessoas tendem a agir de maneira irracional.



Entretanto, ela não conseguiu fugir por muito tempo. Ele a procurou na pousada, onde ela havia se hospedado, e ofereceu-lhe um lugar para ficar. Rachel recusou. Ela ficou surpresa ao saber que o pai estava namorando, e mais surpresa ainda ao ver o quanto Bela era bonita, mas achou que se ficasse de fora da vida dele, ele ficaria de fora da sua. Pelo menos por enquanto.



O que mais a preocupava era Quinn Fabray. Elas haviam se cruzado brevemente no restaurante, e a loira ignorara completamente sua existência. Henry, todavia, parecia animado com sua presença. Até onde Rachel parecia saber, ele era o único. Por isso, ficou surpresa ao receber a visita de Mary Margaret — Snow White.



Rachel estava na pousada, observando a praça da cidade pela janela, quando alguém bateu a porta. Ela se levantou, irritada, achando que poderia ser o pai novamente, e se surpreendeu ao ver a mãe de Quinn parada do outro lado, um sorriso tímido nos lábios. Ela abriu espaço para que Snow pudesse entrar, e fechou a porta atrás de si, um pouco insegura.



— Quinn me contou tudo — disse Snow, virando-se para Rachel. — Contou-me sobre a história de vocês. Disse que vocês se conheceram na escola, e que você era a melhor amiga do pai do Henry. Quando o ensino médio acabou, vocês moraram juntos por um tempo, os três. Quinn disse que sempre foi apaixonada por você, mas que uma noite acabou bebendo muito e ficou com Sam, e depois acabou engravidando. Ela me contou do acidente de carro que ele sofreu, e como você esteve lá por ela durante toda a gravidez. Ela me contou da dor que sentiu quando você foi embora, sem nenhuma explicação.



— Eu...



Snow ergueu a mão, pedindo silêncio. Rachel se calou, nervosa, e a mulher mais velha postou-se a sua frente. Ela pegou as mãos de Rachel e as segurou com força.



— Rachel, eu entendo. Não só entendo como agradeço. Eu sei o quanto deve ter sido difícil para você deixá-la partir. Se você não tivesse feito isso, se não tivesse sacrificado o seu amor, talvez eu nunca pudesse conhecer minha filha. Quinn sabe disso, também. Ela só está assustada. Tudo isso é muito para ela. Então, dê-lhe um tempo para assimilar as coisas, mas não desista. Quinn ainda te ama. Ela só está com medo de ser feliz.



— Eu não vou a lugar algum — murmurou Rachel. — Não aguentaria perdê-la novamente.



— Diga isso a ela, querida — Snow sorriu, e tocou o rosto de Rachel, limpando as lágrimas que ela não percebeu estar derramando. — Diga isso a ela, até que ela escute.



— Onde ela está?

~x~




Granny's era a lanchonete mais frequentada da cidade — e, de acordo com Snow, é onde Quinn e Henry tomavam café da manhã juntos todos os dias. Ela lhe explicara a relação complicada que eles tinham porque ele havia sido adotado pela Rainha Má. Rachel achou a informação um pouco divertida. Nunca passou pela sua cabeça que Regina poderia ter um coração. Não que ela conhecesse a Rainha tão bem assim, mas quando morava na Terra Encantada, todos sabiam de sua fama. E, principalmente, de suas crueldades. O que não parecia se estender para Henry. "Ainda bem", Rachel pensou, tomando coragem e finalmente entrando na lanchonete. "Ninguém merece viver sem o amor dos pais".



Assim como Snow dissera, os dois estavam lá. Eles estavam debruçados sobre um livro, e Henry falava animadamente, gesticulando. Rachel sorriu. Ele era entusiasmado, assim como Sam. O garoto ergueu a cabeça, provavelmente para dizer alguma coisa, e seu olhar encontrou o de Rachel. Ele sorriu, disse alguma coisa para Quinn, e saiu, deixando o banco ao lado dela livre. Ele piscou para Rachel, e indicou para que ela se aproximasse. Ela sorriu para ele, agradecida.



Havia um discurso enorme preparado em sua mente. Ela o repassara diversas vezes no espelho do banheiro, e cogitara até mesmo de começar a cantar, caso desse tudo errado, mas o pensamento a fez rir, e ela o deixou imediatamente de lado. Sua vida já era dramática o suficiente — ela não precisaria transformá-la em um musical.



Respirou fundo e se aproximou da mesa. Quinn pareceu perceber a movimentação, porque se virou para ela, a sobrancelha arqueada. Rachel engoliu em seco, e todas as palavras cuidadosamente escolhidas lhe fugiram a mente.



— Berry — cumprimentou Quinn, seca. — Ou será que esse realmente é seu sobrenome?



— Eu fui adotada — disse Rachel, ficando na defensiva. — Nunca menti para você, Quinn.



— Não? — perguntou ela, sarcasticamente.



— Diga-me uma mentira que lhe contei.



Quinn se calou. Rachel precisou conter um sorriso. Pelo canto do olho, ela percebeu que todos na lanchonete observavam a interação das duas. Isso a deixou ainda mais nervosa. Como ter aquela conversa ali, na frente de todo mundo? Como fazer Quinn enxergar que ela a amava? Que sempre a amou?



Um olhar no rosto de Quinn foi o suficiente para fazer Rachel perceber que nenhuma palavra a convenceria. Ela mordeu os lábios, nervosa, perguntando-se o que poderia fazer em seguida. Foi quando lhe ocorreu uma ideia. Ela não tentou conter o sorriso dessa vez. Quinn cruzou os braços sobre o peito, parecendo chateada.



— Eu vou provar para você — Rachel disse, bastante certa de suas palavras.



— Provar o que? — perguntou Quinn.



— Provar que eu te amo. Provar que sempre te amei.



— E como você pretende fazer isso, Berry?



— De uma forma bastante simples, na verdade — ela retrucou, calma, dando um passo em direção a Quinn.



Antes que a loira pudesse perceber o que ela estava prestes a fazer, e impedi-la, Rachel tomou seu rosto entre as mãos e a beijou. Quinn ficou sem reação, à princípio, mas Rachel não desistiu. Pressionou seus lábios com mais força, sentindo seu coração batendo rápido, e depois de alguns segundos, Quinn cedeu.



Rachel sentiu como se todo o seu mundo tivesse desabado por completo. Os lábios de Quinn nos seus, mexendo-se numa sincronia já conhecida, beijando-a apaixonadamente — tudo isso foi demais para Rachel. Ela deixou todo o seu controle e prudência de lado, e puxou Quinn pelo braço, fazendo-a se levantar da cadeira. Colou seus corpos, sentindo o fogo se espalhar entre eles, sentindo arrepios por todo canto, sentindo sua mente se desligar por alguns segundos, como se tudo o que existisse fosse Quinn, e o seu gosto, e o seu cheiro. Rachel teria beijado-a por mais tempo se não fosse a necessidade de respirar. Separou-de de Quinn, relutante, e manteve os olhos fechados, com medo do que encontraria quando os abrisse.



Ela os abriu.

Quinn estava sorrindo.



— Eu te amo — ela sussurrou, sentindo-se mais leve do que já esteve em toda sua vida.



— Eu sei — foi a resposta de Quinn. — Ou será que você esqueceu que posso ler as pessoas, e sei quando elas estão mentindo?



Mas antes que Rachel pudesse responder alguma coisa, Quinn a puxou para outro beijo. Um beijo cheio de promessas. Um beijo, e um recomeço.

Pela primeira vez em dez anos, Rachel se sentiu inteiramente completa.


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Notas finais do capítulo

Gente, levou horas para escrever. É só uma one shot, então, caso leia, por favor, deixe um review (se puder ^^). Não custa nada, e vai fazer esta pessoa que lhes fala muito feliz :D Além disso, quero saber o que vocês acharam! xD
Espero que tenha ficado legal :P