04- Alicia.

Caminhei apressadamente pelos corredores da escola Mundial, suspirei frustrada ao perceber que a primeira aula já começará e que a diretoria estava lá dentro, se ela não estivesse, talvez a professora Maria me deixasse entrar, talvez.

Resolvi voltar a caminhar, não queria que a diretora Helena me visse lá fora, mesmo que ela tenha sido a melhor professora que já tive, como diretora ela não tolerava atrasos. E eu odiava ela me olhando com aquele olhar, o olhar que dizia ''É uma pena ver no que você se tornou.''

Eu mudei radicalmente nos últimos dois anos, o Ensino Médio me fez realmente mal. Agora eu andava pra cima e pra baixo com skate, rodeada de garotos, não se engane, eu não era uma vadia como a Bibi, Marcelina ou a Margarida. Eles eram meus amigos, mesmo sendo eles que me fizeram começar a ir as festas, aonde eu comecei a fumar e beber. Eles eram os meus amigos, e eu amava cada um deles. Amava o Leo como um irmão mais velho, o Edu como um primo que eu via as vezes, já que ele se formou finalmente. E o Paulo, eu sempre estudei com o Paulo, ele era um pé no saco antes, agora é meu melhor amigo, um amigo diferente. Nós temos uma amizade colorida a mais de um ano, ele era um pegador, e eu não ligava. Ele namorava a Bibi, e eu não ligava. Alias eu só começava a rir quando ela tinha aqueles ataques de ciúmes e começava a gritar com ele, eu sabia que ele queria rir e dizer ''Eu não sou seu, eu sou de todo mundo.''

Até o dia que eles terminaram, duas semanas atrás. Quando eu descobri que ele tava livre pra mim, eu comecei a ter uma certa esperança de que esse ano seria diferente, mas não foi nada diferente, tudo exatamente igual. Ele o garoto que pega geral, e eu a melhor amiga que pega ele ás vezes.

Apoiei minhas costas na parede fria e dei um suspiro, o clima quente me fazia suar. Fui deslizando delicadamente até me sentar e peguei um cigarro na mochila. Dei uma tragada, e percebi alguém se sentar do meu lado.

–E aí, gata. Tem mais um cigarro ai?

Paulo disse divertido, balancei minha cabeça e abri minha mochila procurando enquanto ele falava.

–Sabe, eu quero te pedir uma coisa.

–É? O quê?

–Namora comigo?

Abri a boca surpresa, o cigarro que estava nela saiu rolando pelo chão. Ele me olhava firmemente, se esforçando pra não rir. Ótimo, mais uma das brincadeirinhas de mau gosto dele.

–O que? Por que isso agora? Você tá zuando, né?

–Nossa Alicia. Eu só tava pensando, a gente fica a mais de um ano, certo? E você está solteira, eu também. A gente chega lá, fala que namora mas não sério. Um relacionamento aberto, igual amizade colorida, só que todos ficam sabendo e tal.

Achei o maldito cigarro e entreguei pra ele, olhei friamente na direção dele que se levantava.

–Aonde você vai, namorado?

Ele deu um sorriso, e voltou a se sentar. Ficamos em silêncio, até que ele se virou pra mim, soltou a fumaça do cigarro na minha boca, eu peguei e soltei mais pro lado. Dei um sorriso malicioso e o beijei.