Ele se escondeu atrás do boneco de pano, o qual era um tanto quanto estranho. Cabeça extremamente redonda e tão grande quanto uma lata de lixo, com uma boca reduzida a uma listra vermelha de giz de cera e olhos de algodão. O corpo era um pedaço de madeira que ligava a grande cabeça às rodinhas automáticas, dele se extendiam cinco braços para todas as laterais. Cada um possuía uma arma diferente, que parecia girar e funcionar por si própria, mesmo que houvesse um modo manual via controle remoto.

O garoto de camisa laranja, já toda rasgada e amarrotada, tentava usar o reflexo da espada do 3º braço do boneco para achar seu oponente, mas era um tanto quanto dificil quando seu apoio se reduzia a uma espada fraca e bamba feita de um metal fraco. E antes que ele pudesse perceber a aproximação, a cabeça do boneco saiu voando para longe só com um golpe de esgrima.

Ele caiu sobre as penas e se esgueirou para longe, enquanto o adversário chutava o boneco para longe. Ele, seu oponente de cabelos negros, mesmo sendo pequeno e magricela,tinha força e habilidade com a espada e seu olhar sombrio e rosto sério chegava a dar medo.Ainda que se esgueirasse para longe, parecia impossível fugir dele.

O garoto loiro no chão tentava se levantar, mas acabava escorregando nos próprios pés, seu rosto era de total pavor e parecia piorar a medida que o moreno aproximava-se. Quando o primeiro ataque veio, o loiro tevesorte, muita sorte, em conseguir bloquear com a espada, mas este foi o último golpe para a arma, que se quebrou em duas partes.

E mesmo seu oponente estando desarmado, o garoto sombrio continuou com seu ataque e ergueu a espada para o que seria o último golpe do duelo.

– Pare! – Uma garota gritou correndo em direção ao combate. – Pare, Nico! – O moreno bufou, mas abaixou a espada. A garota se ajoelhou em frente ao garoto paraseu auxilio. – Qual o seu problema? Que tipo de treinamento é esse? - Ela encarou-o por cima dos ombros e cabelos loiros.

– Ele não está pronto para a esgrima. – Nico limitou-se a responder, recolocando a espada na bainha. Duas filhas de afrodite correram até o garoto loiro machucado e com o apoio de um filho de Apolo, levaram-no embora, provavelmente para a enfermaria.

– Ele não está pronto? – Annabeth perguntou incrédula, pondo-se de pé. E encarava-o de braços cruzados mostrando sua autoridade. – Só porque você derrotou o garoto covardemente não quer dizer que ele não esteja pronto. – Nico bufou desviando o olhar. Era incrivelmente irritante a mania dela de impor sua autoridade que de algum modo ela tinha por sobre todo o acampamento.

– Ele só usou a força. E força não é o suficiente. – Nico impôs irritado, mesmo sabendo que a garota ignoraria. Annabeth bufou. Ambos mal se entendiam desde a queda de Gaia. Um comentário não-negativo de um para o outro já era muito. E ver ela se intrometer em seu treinamento, irritou-o suficiente. – Se me der licença, preciso terminar o treinamento.

Annabeth olhou em volta, talvez percebendo que não estavam a sós. A arena estava preenchida de alguns alunos, todos em uma média de 13 a 15 anos. Pela manhã, a arena estaria lotada para treinamentos de esgrimas e infelizmente, Nico era o responsável do dia.

– Vou comunicar Quíron. Durante o resto do dia, sem duelos entre campistas, use os equipamentos. - Ela disse para depois dar-lhe as costas. Nico não contestou, apenas encarou-a distanciar-se.

– Escolham um boneco! - Ele anunciou friamente para os campistas atônitos que até aquele momento apenas assistiam.

–x-

Mais tarde naquele dia, Annabeth trouxe-lhe um recado de Quíron, que queria encontrá-lo na Casa Grande. Annabeth chegou a dar um sorriso vitorioso antes de deixar o seu chalé. A única coisa que passou pela cabeça de Nico foi de abrir um buraco no chão onde ela pisava.

Com a arma na bainha, Nico subiu a colina. Mesmo tendo um chalé só seu e alguns campistas terem se mostrados bem hospitalares, aquele não era seu lugar. Apenas ainda estava ali porque prometera ajudar a reconstruir o Acampamento Meio-Sangue e a treinar novos campistas.

Na varanda da Casa Grande, já restaurada, Jason encarava-o se aproximar. O que ele fazia ali era no que Nico pensava enquanto continuava seu caminho relutantemente.

Jason deu um sorriso cúmplice e apontou para a porta, informando que Quíron estava lá dentro. O garoto, contudo, ainda estava com a roupa de treino e parecia sobrecarregado por um dia de esforço, com o rosto suado e cansado, mas mesmo assim ele sorria. Parecia estar feliz com a vida que levava. Nico odiava isso.

Sem nenhuma troca de palavras, Jason seguiu junto com Nico para dentro da casa. Quíron estava na sala, sentado em sua costumeira cadeira de rodas encarando um velho romance grego-romano.

– Ah, Nico, você chegou. - Quìron repousou o livro na mesa de canto e virou a cadeira de rodas para os garotos. Jason sorriu e apressou-se a sentar no sofá de couro, bebendo de um copo o que parecia ser coca-diet. - Talvez deva saber o porquê te chamei aqui, espero. - Nico concordou com a cabeça e apoiou-se no braço do sofá.

– Sim. Annabeth falou que iria informá-lo a cerca do meu treinamento. Só não entendo o porquê do Jason estar aqui. - Nico disse encarando Jason, que ainda não se pronunciara até aquele momento.

– Bem, eu concordei em ajudá-lo nos treinos. - Jason explicou e Nico encarou-o incrédulo.

– Ridículo! - Nico exclamou não conseguindo conter-se. Encarou Quíron que ainda parecia tranquilo. - Se ele me ajudar no treinamento, quer dizer que não precisam mais de mim por aqui.

Nico estava confuso. Aquilo era confuso. Se tinham pedido sua ajuda justamente por conta da falta de campistas disponíveis, como Jason tinha tempo para ajudá-lo?

– Errado, Di Angelo. - Quíron tranqüilamente contestou. - Jason tem outros afazeres e estes esgotam sua energia. Ele não é capaz de cuidar do segundo turno de treinamento de esgrima sozinho.

– Então o que ele vai fazer? Me supervisionar? - Nico perguntou ainda meio que incerto daquela historia. Jason desviou o olhar enquanto que Quíron dava um sorriso fraco, porém bondoso. Foi ai que Nico percebeu que sim, ele ia supervisioná-lo. - Só pode estar brincando.

– Nico, você tem uma grande habilidade com a espada e nós agradecemos muito pela sua ajuda, mas os seu métodos talvez sejam um tanto quanto inusitados. Jason irá ajudá-lo a corrigir isso. - Quíron explicou, meio que argumentando de todos os modos.

– E eu tenho opção? - Ele perguntou por fim desistindo.Jason suspirou.

– Nico, ninguém está te obrigando a nada aqui. Pelo o contrário, estamos pedindo para que continue a treinar os campistas. A diferença é que eu vou estar lá para impedir que você force demais a barra. - Jason argumentou encarando o colega. Seus olhos estavam tranqüilos enquanto ainda sorria.

Estavam fazendo Nico de bobo.

– Entenda, Nico. - Quíron tentou novamente, percebendo que ele ainda não se convencera. - Muitos campistas estão ultrapassando a idade este ano. Daqui a pouco, Annabeth, Percy, Jason, você e muitos outros estarão indo embora, por própria conta e risco. Após isso, nossa quantidade de campistas vai diminuir e o acampamento vai estar vulnerável. Por isso é prudente que treinem-os o máximo possível enquanto ainda dá tempo.

Nico bufou ao perceber que ele usara o mesmo argumento de quando convencera-o a aceitar ajudar no treinamento. Porém, ele estava certo. Após sua fuga quando mais novo, Nico tivera que treinar apenas com a ajuda de fantasmas. Tivera essa sorte por ser filho de Hades, outros campistas não chegarão a tê-la.

Nico concordou com a cabeça.

– Mas eu vou embora no fim do verão. - Impôs a condição. Quíron suspirou porém chegou a concordar mesmo que hesitante. Jason encarou-o incrédulo, não acreditando que o diretor concordara com aquilo. Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, Nico virou-se e saiu.