Aposta Destrutiva escrita por Wine


Capítulo 4
Lily, Petúnia e Samambaia




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– Fui embora – Lily disse como se fosse óbvio. – O que mais faria, Alice?

Lily somente foi capaz de conversar com a melhor amiga no início do dia posterior, visto que Alice chegara assombrosamente tarde ao dormitório. O culpado de tal atitude era Frank, o namorado da morena, que, segundo as circunstancias indicavam, ocupava lugar prioritário na vida de Alice. Apesar de saber que era errado, Lily não podia deixar de sentir uma pontada de ciúmes de Frank. Era tão errado querer desabafar com a melhor amiga no horário que bem entendesse?

De qualquer forma, depois de contar todos os detalhes do episódio bizarro do dia anterior, as garotas caminhavam apreensivas à primeira aula do dia, Poções.

– Não sei – Alice revirou os olhos. – Podia ter ido junto com a onda dele.

– Eu nem tinha ideia se ele realmente estava me dando uma... indireta – Lily murmurou, sem ter certeza sobre qual vocabulário utilizar.

Alice riu delicadamente enquanto as duas passavam pela porta da sala de aula. Elas sempre se sentavam à mesa da frente; Lily dizia que era mais fácil prestar atenção dessa forma, evitando distrair-se com a bagunça do fundo. Porém, Alice sabia que Lily gostava de sugar cada informação nova sobre poções que conseguia. Durante a aula de Slughorn, Lily Evans entrava em um verdadeiro transe, como uma velhinha trouxa assistindo a sua novela no último capítulo.

– Indireta?! – Alice exclamou, ainda rindo. – Acho que foi bem direta.

Lily fez uma careta quando ouviu o comentário. Geralmente era a própria Lily quem explicava coisas a Alice. Ela odiava ser uma alienada quando se tratava de tópicos... românticos. Por acaso não havia um livro sobre o assunto?

– O que vai fazer agora? – Alice suspirou, encostando o cotovelo na mesa enquanto olhava a amiga.

– Nada – Lily respondeu com sinceridade.

Lily Evans era um verdadeiro franguinho assustado quando se tratava de garotos. De fato, ela não tinha tempo para se preocupar com futilidades como essas. Não depois da morte de seus pais e das constantes brigas com a irmã trouxa. Além disso, ela deveria focar nos estudos acima de tudo. Nenhum garoto tinha lugar em sua vida, ainda que se tratasse do famoso e desejável James Potter.

Mal Lily sabia o quanto estava enganada.

James... – Peter começou com um tom de voz sofrido. – Você é o capitão do time de quadribol. Por que sempre me deixa na reserva? Posso participar no próximo jogo?

Era irritante como Peter sempre usava um tom de voz agoniante toda vez que queria algo. Ele encarava James dar um nó preciso em sua gravata, enquanto os dois se preparavam para descer.

Wormtail – James não pôde deixar de sorrir diante do pedido do amigo. – Pelo que eu me lembre, você sempre fica sentado porque tem medo de cair da vassoura.

– Na verdade, não é exatamente cair da vassoura – Peter Pettigrew corrigiu – É mais medo de levar uma porrada de um balaço voador e depois cair da vassoura.

James riu, lembrando-se de quando a cena narrada por Peter aconteceu com ele próprio no terceiro ano. Depois de se machucar, garotas de todas as casas foram levar flores e docinhos para ele na enfermaria. Bons tempos...

– Não me leve a mal – James disse enquanto apertava sua gravata. – O próximo jogo é contra Corvinal. Precisamos ganhar, colocar aqueles sabichões no lugar deles. Mostrar quem manda.

Peter assentiu e deitou de costas na cama. Ele encarou o lustre do quarto por alguns instantes antes de dizer qualquer coisa. Pensara muito na decisão de participar de um jogo de quadribol ativamente, afinal ele odiava esportes.

– Mas, Prongs... – Peter continuou, soando ligeiramente desesperado. – Eu estive pensando... Talvez, se eu ganhasse uma partida de quadribol, Marlene me notaria da mesma forma que ela nota o Sirius.

James caiu na gargalhada. Não era segredo de ninguém que Peter Pettigrew nutria uma paixão obsessiva por Marlene Mckinnon desde o primeiro ano. Entretanto, a garota mal podia disfarçar o desprezo que sentia por ele. Não fazia por mal, mas Marlene só tinha olhos para o melhor amigo de Peter, Sirius Black.

– Vou pensar no seu caso – James disse bobo de tanto rir. Ele sabia que a ação de Peter seria inútil. – Não me culpe se fraturar algumas costelas.

Marlene pôde sentir as mãos quentes do namorado na parte inferior de suas costas enquanto ele a puxava para mais perto. Um arrepio percorreu a espinha dela quando os lábios de Sirius impiedosamente encontraram seu pescoço. Fechando os olhos com força, a garota moveu a cabeça levemente para o lado, oferecendo-lhe maior acesso a sua pele.

Pelas barbas de Merlin, Marlene amava Sirius Black com todas as suas forças.

Os dois veteranos estavam no corredor que levava a sala de poções, matando os cinco minutos que tinham até a aula começar fazendo o que faziam de melhor: cenas improprias para menores.

Credo, - alguém grunhiu atrás deles. – Arrumem um quarto!

Afastando-se apenas o necessário do namorado, Marlene notou que Dorcas Meadowes encarava-os com olhos semicerrados. Para dizer a verdade, aquela era uma visão assustadora. Dorcas passara uma camada tão grossa de lápis preto sob os olhos que a deixara com uma aparência incrivelmente macabra. Além disso, os cabelos curtos estavam bagunçados, como se ela tivesse acabado de acordar.

Descul – Marlene tentou se desculpar, porém era difícil com Sirius praticamente comendo seu pescoço.

O garoto não se movera nem mesmo um milímetro, apenas continuou seu trabalho meticuloso que envolvia explorar qualquer amostra de pele que o pesado uniforme que Marlene usava oferecia a ele.

Os dois são patéticos – Dorcas rugiu com uma voz irritada e continuou seu caminho até a sala de aula, deixando-os sozinhos novamente.

– Sirius, - Marlene disse de forma acusatória enquanto tentava se afastar dele. – Sirius!

Relutante, o maroto se afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos azuis da namorada.

– Você não achou aquilo estranho? – Marlene perguntou quando já tinha toda a atenção dele. – Às vezes, tenho a impressão de que essa garota me odeia!

Sirius revirou os olhos, desejando que Marlene utilizasse sua boca de forma mais prazerosa do que falar. A verdade é que se ele contasse à namorada a verdade sobre o porquê a tal de Dorcas a odiava, Marlene provavelmente armaria um drama daqueles...

– Que bobagem – Sirius disse como o bom mentiroso que podia ser. – Quem poderia odiar alguém tão sexy?

Simples assim, Marlene já se esquecera do assunto e se encontrava ocupada demais, já que seus lábios encontravam-se com os de Black em um beijo passional. Ela poderia beijá-lo a eternidade toda e nunca se cansar.

... Mas a realidade não permitia isso.

– Como monitor da casa Grifinória ordeno que se afaste da moça, Black – uma voz autoritária veio de trás deles.

Sirius grunhiu.

– Prongs – ele amaldiçoou odiando mais do que nunca o amigo.

– Desculpe interrompe-los – James disse exibindo um de seus melhores sorrisos. Era óbvio o quanto ele amava abusar de sua autoridade de monitor. – Sou totalmente a favor de sexo em público, mas acho que em Hogwarts é um pouco complicado com Dumbledore no comando. Ele não parece do tipo que simpatiza com nudismo. Além disso, preciso falar com Sirius, se não se incomodar, Lene.

– Já entendi – Marlene disse, dando um último selinho no namorado. – Ele é todo seu, Potter.

– Te vejo mais tarde – Sirius se despediu sorrindo torto.

James esperou pacientemente a garota se afastar a fim de ela não ouvir o que tinha a dizer. Olhando para o lado, não pôde evitar ver os olhos de Sirius brilharem enquanto ele assistia a Marlene caminhar até a sala de aula a apenas alguns metros de distância. Apesar de bancar o durão, Sirius Black realmente tinha um fraco por Marlene Mckinnon.

– O que quer, Prongs?

– Duas coisas, na verdade – James disse de pronto. – Primeiro vim alertar que Wormtail quer roubar sua namorada de novo. Ele pensa que jogando como batedor no jogo contra a Corvinal, Marlene vai perdidamente se apaixonar por ele.

Sirius riu como se achasse aquela a atitude mais hilária e previsível do universo. Bem, e era.

– Uiiii, que medo do ratinho – Sirius caçoou, jogando o cabelo para trás. – Me sinto ameaçado. O que mais?

– Padfoot, estava me perguntando... – James começou cauteloso, já iniciando a se direcionar para a sala de aula junto com Sirius. – O que eu ganho de você quando conquistar Evans? Vai enfim aceitar que minha namorada me ama de verdade?

Sirius analisou-o da cabeça aos pés, uma expressão de deboche dominava seu rosto. James podia ser tão idealista quando queria...

– Talvez um dia eu aceite que a prostituta goste mesmo de você, Prongs – Sirius mentiu descaradamente. Era óbvio que a mulher apenas usava seu melhor amigo. – Mas você ainda não conquistou a Eve.

– Evans – James corrigiu automaticamente. Entrando na sala de aula, demorou somente alguns segundos até seus olhos castanhos avistarem a ruiva. – Observe e aprenda.

James andou calmamente pelo estreito corredor entre as bancadas, tomando todo cuidado para não esbarrar em nenhum ingrediente que parecesse toxico. Esbanjando confiança, ele parou diante das duas garotas que dividiam a primeira mesa. Alice e Lily. As duas pareciam de bom humor, o que devia ser um bom sinal.

– Com licença – James disse, com a expressão de “bom moço” que fazia melhor do que ninguém. – Me desculpe, Alice, mas você se incomodaria se eu sentasse ao lado de Lily hoje?

Era difícil saber qual das expressões era mais surpresa. Enquanto Alice parecia uma criança empolgada entrando pela primeira vez na loja Dedos de Mel, Lily tinha o aspecto de uma vítima de estado de choque. Talvez o bom humor da ruiva fosse questionável.

– Hum... – Alice murmurou, tentando e fracassando em agir naturalmente. – É claro. Eu vou me sentar com... Dorcas.

– Obrigado - James sorriu vitorioso. – Como vai Frank?

A garota deu um sorriso com a menção do namorado. James era carismático, sabia o que dizer para as pessoas gostarem dele. Depois de jogar alguns segundos de conversa superficial fora, não demorou muito para Alice recolher seu material e caminhar desajeitadamente para as carteiras do fundo da sala.

James se sentou de forma tão graciosa que Lily se pegou perguntando se algum dia ele fizera algum tipo de dança exótica. Era impressionante como ele sabia usar seu corpo nos movimentos – enquanto pessoas normais se deslocavam, James Potter caminhava num gingado único.

Percebendo que seus pensamentos foram longe demais, Lily desejava poder gritar. Queria mudar-se de lugar e sentar-se sozinha. Todavia, seus pais lhe deram educação e ela valorizaria as boas maneiras até o fim.

– Por que resolveu se sentar aqui, James? – Lily perguntou de modo não tão simpático como gostaria.

Era irritante, mas ela não queria que James sentasse ao seu lado. A garota temia que se ele a observasse de perto poderia notar defeitos que ela lutava para esconder, como um nariz não tão pontiagudo como gostaria de ter. Além do mais, a última coisa que Lily Evans precisava era uma repetição do episódio do dia anterior.

– Essa é uma ótima pergunta – James respondeu sorridente. – Mas eu tenho uma melhor. Quer ir tomar cerveja amanteigada mais tarde? Entre a quarta e quinta aula? É quando o sol está mais favorável para bebidas.

Inconscientemente, os delicados lábios de Lily se curvaram e a garota reprimiu um sorriso. James não podia estar falando sério, não é? Entretanto, a ruiva não deixou de questionar-se caso a posição do sol interferia mesmo na bebida.

– Eu não mato aulas – Lily respondeu séria.

– Uma pena – James disse rápido e inabalado.

Marlene o avisara que isso poderia acontecer. Segundo ela, garotas como Lily não buscavam apenas diversão espontânea, mas também delicadeza e sentimento. Vanessa, a verdadeira namorada de James, não necessitava de nenhuma frescura de menininha; ela já era uma mulher bem vivida. Francamente, James Potter achava tudo aquilo trabalhoso demais, porém sabia que deixaria sua vitória ainda mais saborosa.

Slughorn, o professor de Poções, começou o discurso de abertura para a aula, mas, pela primeira vez em sua vida, a mente de Lily não era capaz de se focar. Ela encolheu a barriga e melhorou a postura, como se Potter fosse reparar em cada centímetro do corpo dela. Além disso, a garota se amaldiçoou por não ter passado ao menos um pingo de maquiagem. Por que ela se importava com a opinião fútil dele a respeito de aparência era um verdadeiro mistério.

– O que é isso? – James perguntou sussurrando, enquanto notava algo no pulso de Lily.

Quando James tocou os dedos suavemente na mão dela, os olhos de Lily se arregalaram e um frio na barriga a tomou repentinamente. O garoto virou o pulso dela delicadamente, de modo que uma fina corrente dourada com pingentes de pequenas rosas brilhou contra a claridade da janela.

– Minha mãe me deu alguns anos atrás – Lily contou em voz baixa, olhando fixamente para a pulseira. – Estávamos em uma feirinha perto da casa que tínhamos no litoral.

– É lindo.

Pela primeira vez naquele dia, Lily sorriu verdadeiramente com a memória.

– Minha mãe viu os pingentes e correu comprar duas, uma para mim e outra para minha irmã – a garota continuou suspirando. – Ela dizia que nós éramos as florezinhas dela, então nada mais lógico do que nos dar uma pulseira com flores.

A ruiva parou e riu levemente consigo mesma, aparentemente se esquecendo de que não estava sozinha. James não disse nada, apenas encarava-a com uma intensidade que assustou a si próprio. Por acaso, os olhos de Lily sempre cintilaram dessa maneira? Quanto mais ele pensava no assunto, mais entendia a mãe de Lily: a garota realmente parecia uma florzinha frágil... e ele estava prestes a brincar com essa fragilidade.

– Minha mãe adorava flores, sabe – Lily continuou com um pequeno sorriso no rosto triste. – Dá para perceber pelo meu nome, não é? Se não bastasse, o nome da minha irmã é Petúnia.

– Ainda bem que ela não teve filhos – James disse espontâneo, fingindo alivio. – Qual seria o nome de um menino? Samambaia?

Lily riu abertamente e James se sentiu ligeiramente mais tranquilo ao perceber a cor voltar ao rosto pálido dela. Ela deveria sorrir mais vezes.

– Senhorita Evans! – a voz distante de Slughorn a castigou. – Respeite a aula, por favor. Talvez o senhor Potter não seja uma boa companhia. Quero os dois separados amanhã.

Sentindo seu corpo inteiro ferver em vergonha, os lábios de Lily se espremeram dolorosamente. Droga, ela se esquecera de que estava em meio a uma aula. Qual era seu problema? Por que ela havia se distraído tanto?

– Desculpe-me, professor – James disse, sempre pronto para argumentar. – Sinto muito, a culpa não foi dela. Eu estou tendo algumas dificuldades na matéria e Lily estava me ajudando. Ano passado o senhor me aconselhou a encontrar alguém disposto a ser meu tutor e, este ano, Lily se voluntariou. Essa garota está sendo um verdadeiro anjo na minha vida, mas acho que acabamos nos empolgando um pouco nos estudos. Isso não aconteceria se poções não fosse um tópico tão fascinante!

Incrédula, Lily olhou o rapaz pelo canto do olho. Ela não entendera metade do que James dissera; sua cabeça dava voltas e mais voltas.

Será que James conseguira distrair Slughorn fácil assim?

– Oh! – O professor abriu um sorriso. – Senhor Potter, por que não me contou? Ninguém melhor para lhe tutorar do que Lily Evans! Quero me encontrar com os dois depois das aulas, vou dar-lhes algumas atividades extras para fazer. Agora, como eu estava mencionando, as ervas do leste são conhecidas por seu aspecto...

O que foi isso? – Lily exigiu saber em sussurros. – Atividades extras?

James encolheu os ombros como se estivesse pedindo desculpas descaradamente.

– Acho que vamos passar algum tempo juntos.


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Notas finais do capítulo

Galera, eu espero que vocês estejam gostando da fic. Preciso da opinião de vocês, o que estão achando? Acham que eu estou dando muita atenção para o draminha do Sirius?



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