A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 9
Sentimentos




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Ester e Mu subiam a escada em caracol, aos poucos a claridade foi se mostrando para os olhos verdes da brasileira. Ficou admirada ao ver o terraço de Áries. Era redonda com raio de dois metros. O beiral era de mármore com várias colunas ligando o beiral ao teto. Ester deu uma volta 360 graus, vendo a frente a entrada do santuário, a esquerda parte da arena secundária, atrás parte da casa de Touro e a direita a floresta que levava a vila. A decoração era um capitulo a parte. Uma espécie de sofá seguia o contorno da varanda, num tom de palha. De frente uma pequena mesinha com um vaso de flores brancas, do outro lado uma cadeira feita com uma espécie de palha.

Aqui é lindo Mu.

– Gostou mesmo? - segurou o vaso, que quase saia voando.

Muito. Você tem muito bom gosto.

O ariano virou-se para ela, levando a mão direita a testa depois afastando, "dizendo" obrigado.

Onde aprendeu??– indagou surpresa.

– "Pedi a Jules para me ensinar. Como eu expresso bom dia, boa tarde e boa noite?"

Ester o levou até o sofá, onde sentaram um de frente para o outro.

– "Bom." - a brasileira levou a mão direita abaixo do queixo, fechando o punho, depois abriu a mão. - "dia". - ela formou a letra D, que era a mão formando um circulo com o indicador levantado, fez esse gesto levando a mão, da esquerda para a direita.

– "Me deixa tentar." - ele tentou, na primeira vez esqueceu de levantar o indicador para formar a letra D. - "está errado". - tentou de novo, apenas da quarta vez que o movimento saiu certo. - "consegui." - sorriu.

– "Muito bem."

– "Agora boa tarde."

– "Boa é o mesmo movimento do bom." - Ester repetiu o gesto. - "tarde". - colocou o braço esquerdo na horizontal atravessado a frente do corpo, ergueu o direito na vertical ficando paralelo ao tronco e com a mão aberta. Lentamente ela desceu o braço direito como se fosse dar um tapa. Repetiu para mostrar o gesto completo.

– "Agora minha vez." - um pouco mais familiarizado, da terceira vez fez o movimento correto.

– "Você aprende rápido."

– "A professora que é boa."

– "Boa noite." - repetiu o gesto do boa para em seguida fechar o punho da mão esquerda e em seguida com a mão direita deslizando pelo punho de dentro para fora.

O ariano tentou e conseguiu. Para ter certeza que tinha aprendido, repetiu os três cumprimentos. Esqueceu-se de erguer o indicador no bom dia, mas para quem nunca sequer viu aquele tipo de sinais, aprendeu rápido.

– "Vou te cumprimentar só assim."

Ester abriu um grande sorriso.

– "O que foi?"

– "É tão legal quando alguém quer se comunicar comigo através dessa linguagem."

– "Poderia me ensinar depois outras palavras."

– "Claro!"

– "Aceita uma xícara de chá?"

– "Sim."

– "Não demoro."

Ester deixou o corpo cair no sofá, que por sinal era muito macio, soltando um suspiro. Mu era ainda mais fofo do que imaginava e tão gentil a ponto de querer aprender a língua dela. Seria perfeito se pudessem comunicar dessa forma, apesar de está amando a conversa diretamente na mente. A "voz" dele era tão mansa...

– "Tenho que parar de sonhar acordada..."

Ele não demorou muito com chã e os dois começaram a conversar sobre o emprego dela na universidade.

O.o.O.o.O

Se tivesse imaginado que seria tão chato, Paula não tinha se oferecido para ajudar Shion. O ariano adorava um papel. Já tinha perdido a conta de quantos memorandos mandou por email, os dedos já doíam. Para piorar, ele ainda tinha sumido, deixando-a sozinha em seu escritório.

– "Ele está achando que sou a Isaura?" - pensou. - "eu sou visita!"

Fechou a cara emburrada, até que olhou para as gavetas da escrivaninha do Shion... deu um sorriso maldoso e sem pensar duas vezes abriu. Quem sabe teria algo interessante?

Mas apenas.... só papeis e mais papeis.

– "Devastou a floresta amazônica."

Deu um suspiro entediante, levantando. Aproveitou o espaço para alongar-se e quase sem perceber começou a fazer alguns passos de dança. Estava tão concentrada que nem viu que alguém da porta a olhava.... Minutos antes, Shion foi até aos fundos do templo, despachar algumas ordens. Aproveitou para passar na cozinha e pedir que fizessem um lanche para ele e Paula. Esperou ficar pronto e de posse da bandeja voltava para o escritório, na porta estava prestes a abrir a boca, quando viu a brasileira dançar. Havia se lembrado que ela tinha dito que fazia aulas de dança do ventre. Paula sem perceber a presença Shion, continuou a executar os passos, movendo os braços e o quadril. O ariano acompanhava atentamente. Num dado momento a brasileira girou o corpo e quando bateu os olhos na porta, ficou vermelha.

– Shi-on - gaguejou.

O cavaleiro não disse nada, apenas entrou. Paula queria sumir.

– Shi-on... é que... "que vergonha."

Ele continuou o trajeto até sua mesa, depositando a bandeja.

– Chá com biscoitos.

– Ah... - como queria sumir. - obrigada.... - aproximou. - já mandei todos os emails.

– Obrigado. - indicou a cadeira para ela se sentar. - por favor.

– Obrigada.

Shion pegou uma xícara e serviu.

– Espero que goste. - entregou-lhe a xícara.

– Obrigada. Desculpe... é que acabei me lembrando de alguns movimentos e...

– Biscoitos? - indagou.

– Sim. - pegou um. - "ele deve está puto."

– É dança do ventre não é? - deu a volta sentando na sua cadeira.

– Sim.... - limitou-se a responder isso.

– E você veste aquelas roupas tradicionais?

Paula ficou muda, na certa Shion com todo seu tradicionalismo, já pensava besteira.

– Sim. - nem ousou olha-lo.

O ariano não disse mais nada, mas guardou muito bem aquela observação.

– Gostou dos biscoitos?

– Muito. Já organizei aquela pasta que me pediu.

– Agradeço. Administrar esse santuário demanda muito trabalho e olha que a população daqui está reduzida.

– Entendo.

– Como é o seu emprego de dentista?

Paula não esperava por aquela pergunta, mas se Shion queria mudar de assunto, não seria ela a atrapalhar.

O.o.O.o.O

Depois da ida ao banheiro, Aioria ficou quieto... por cinco minutos. Reclamou do calor, da posição, levantou para beber água, para ir ao banheiro de novo, e assim foi por um bom tempo. Gabrielle tentava ser paciente, afinal estava desenhando para Aioria de Leão, mas nem para seu deus grego, estava tendo paciência. Faltava pouco para terminar, deixando o rosto por último.

– Gabe já acabou...? - indagou desanimado.

– Falta pouco.

Dois minutos calado.

– Gabe.... estou com fome.

Ela não respondeu.

– Gabe...

Respirou fundo, continuando a desenhar.

– Gabe...

– BAGAÇA! - berrou. - toma seu desenho! - jogou sobre ele.

O cavaleiro pegou a folha no ar.

– Ficou bom... - olhava o corpo, quando olhou para o rosto. - ei, e meu rosto?

– VOCE NAO ME DEIXA TERMINAR!

O leão fez bico, por pouco não fez a cara do Gato do Sherk.

– Mas o meu rosto... - disse bem mansinho.

A brasileira respirou fundo.

– "Sou uma pessoa equilibrada e nada pode abalar minha tranquilidade.." - pensava com os olhos fechados. - senta. - disse.

Aioria sentou rapidinho, com um sorriso bobo nos lábios e Gabe tratou de não olhar para não ceder aos encantos dele. Pegou a folha, voltando a se sentar.

– Dê um pio e rasgo a folha.

Ele apenas balançou a cabeça concordando. Gabe voltou a desenhar e desta vez ele ficou calado, ela até estranhou o silêncio.

– Acabei.

– Mesmo?

– Veja. - passou a folha.

Assim que viu seu rosto, Aioria abriu um grande sorriso.

– Ficou perfeito. - levantou.

– Que bom que gostou. - levantou, alongando os braços.

– Bem que poderia fazer mais desenhos meus. Como Colosso de Rodhes.. - enumerou várias. Gabe apenas ouvia...

– "Vai sonhando...."

– Não seria boa ideia? - a fitou.

– Seria...

– Assina e coloca a data. - aproximou da garota.

– Como quiser. - assinou e datou.

– Obrigado mesmo. - estava todo satisfeito com o desenho. - vou guardar para sempre.

– Não preci...

A frase foi interrompida por um beijo na testa dado pelo leonino. Gabe ficou vermelha. Se todo desenho, ganhasse um beijo viveria agarrada ao lápis.

– Agora vamos comer. - pegou na mão dela conduzindo-a para a cozinha.

O.o.O.o.O

O trajeto de Áries ao templo foi a base de muita risada. Nem o sol forte atrapalhou a conversa entre Atena e Rodrigo.

Conversaram sobre os mais diversos assuntos e ambos ficaram sabendo um pouco a mais sobre o outro, claro que Rodrigo não entrou na questão Julian Solo, mas bem que queria saber se os dois realmente tinham um relacionamento.

– Está entregue. - Rodrigo parou no primeiro degrau da escada que levava aos aposentos de Shion e o dela.

– Obrigada.

– Se precisar de alguma coisa é só falar.

Saori sorriu. Rodrigo esperou ela sumir, para ir para o quarto.

O.o.O.o.O

Aiolos estava sentado tranquilamente, olhando fixamente para Sheila, que lavava algumas vasilhas.

– Você é muito teimosa. Depois eu lavava as vasilhas.

– São poucas Aiolos. - consultou o relógio. - acho que esfriou.

O cavaleiro deu um salto indo até o tabuleiro.

– Posso comer?

– Vai em frente.

Pegou uma colher pegando uma boa quantidade, quando levou a boca...

– Como isso é bom... o homem que for casar com você vai ser um homem de sorte. Vai comer isso todos os dias.

– Vou é engordar o coitado.

– Eu não me importaria. Seria um gordo feliz.

Ela riu.

– Muito obrigado Sheila.

– As ordens.

Aiolos não se contentou em apenas uma colher, encheu uma pequena vasilha de sobremesa.

– Pode por na geladeira? – indagou a brasileira.

– Sim. Coloca bem no fundo e põe algumas coisas escondendo-o.

– Por que?

– Aioria. - disse. - isso é só meu!

– Vai negar para seu irmão? - achou graça.

– Aquilo é uma formiga. Se deixar come tudo.

– Está bem.

Sheila colocou bem no fundo.

– Minha missão está cumprida. Vou subindo.

– Já? - raspava o fundo.

– Já comeu tudo?

– Estou em fase de crescimento. - sorriu. - fica mais.

– Shion pode não gostar...

Aiolos levantou de onde estava e calmamente caminhou até a brasileira parando bem próximo a ela, quase colando seu corpo ao dela.

– Não se preocupe com ele... em poucos dias serei nomeado oficialmente como sucessor dele, e mesmo ainda não sendo, tenho autoridade. - aproximou o rosto do dela. - tenho certas regalias. Se eu quero que você fique as únicas que podem ser contra é Atena e você. Atena não está aqui... então...

Sheila lutava para não ficar vermelha, mas ter o rosto do grego tão perto do seu, era difícil manter-se calma.

– O que me diz? Pode até passar a noite aqui se quiser...

Agora corou.

– Eu... não... pos-so.

– Não pode ou não quer? - o rosto estava bem próximo.

– Eu...

A frase foi interrompida, pela vasilha da sobremesa que foi ao chão espatifando. De tão desconcertada Sheila acabou levando a mão ao objeto que foi ao chão.

– Ai meu Deus. - abaixou. - me perdoe Aiolos, não tive a intenção.

O cavaleiro a olhou, para depois começar a rir.

– Qual a graça?

– Você. - riu ainda mais.

Sheila ficou vermelha e os olhos encheram de agua.

– Desculpa...

– Ei... - agachou diante dela, limpando uma lagrima que caiu. - não precisa chorar foi só uma vasilha.

– Mas eu quebrei.

– Mas tenho outras. Não precisa chorar.

– Me desculpe.

– Deixe isso aí, depois eu limpo.

– É melhor eu ir embora, antes que outra se quebre.

– Como quiser. - não queria que ela fosse, mas diante do nervosismo dela, achou por bem ela ir.

– Desculpe mais uma vez.

– Tudo bem lindinha. – a ajudou a levantar.

– Lindinha?

– Seu apelido. – sorriu. – não gostou?

– Gostei.

O.o.O.o.O

No fim da tarde, todas se reuniram em um dos quartos, Cris aproveitou e contou o que Saga havia lhe dito. As demais contaram sobre seus "encontros", contudo Heluane ouvia calada. Calada até demais.

– Algum problema Helu? - indagou Marcela.

– Nenhum. - disse.

– Você está com a cara assustada, até parece que viu fantasma. - disse Suellen.

– Impressão sua. - esboçou um sorriso.

– Depois que eu saí ficou conversando com o Mask? - indagou Julia. - melhor brigando?

– Ele é um grosso. Nem dei confiança, vi embora direto.

– Já que não tem nada... - Isa deu um sorriso maldoso em direção a Sheila. - então o Aiolos te levou para o quarto.

– Não aconteceu nada! - estava vermelha.

– Não aconteceu.... - o sorriso de Isa aumentava.

– Admita que o agarrou Sheila. - disse Jules. - tirou a roupa, deixando-o apenas com a bandana vermelha.

Sheila ficou escarlate.

– Não aconteceu nada!!

– Quero os detalhes Sheila. - Gabe estava animada. - conta tudo!!!

As meninas cercaram-na deixando-a numa saia justa e foi assim até a hora do jantar. Shion, Atena e Marin não jantaram com eles, assim como Fernando que não deu as caras desde o horário do almoço.

O.o.O.o.O

Estavam no arquivo do santuário. Shion sempre guardava todos os documentos do santuário no templo de Atena, mas devido a quantidade de material resolver levar para o alojamento dos aspirantes - onde também funcionava como escritório - parte da documentação que dizia respeito da administração do santuário. Várias caixas tinham sido levadas, mas os documentos continuavam guardados por falta de tempo, já que teriam que ser separados. Aldebaran, Shina e Dohko estavam ajudando Marin com isso, mas o libriano e a italiana tiveram que se ausentar para uma missão. Deba foi encarregado de fazer outras atividades e desde então o serviço seguia a passos lentos.

– Essa é a última caixa. - disse Marin colocando-a sobre a mesa. - acho que abusei muito de você com tanto serviço... - sorriu sem graça.

– Que nada, foi um prazer. - Fernando ajudava a retirar as pastas de dentro da caixa.

– Sua namorada deve ser muito sortuda, você é tão prestativo.

– Eu não tenho namorada.

– Não? Então você e a Sheila...

– Não! São as meninas que gostam de pegar no meu pé. Somos apenas bons amigos.

– Entendi.

– Posso fazer uma pergunta?

– Sim.

– Cavaleiros podem se casar?

Marin arqueou a sobrancelha surpresa.

– O santuário já teve muitas leis revogadas, uma delas é o uso de máscaras por nós amazonas. Atena tem tentado trazer modernidade para cá, mas tem certas coisas que são difíceis alterar. - abaixou o olhar retirando as pastas. - tantos os cavaleiros como nós amazonas levamos uma vida muito instável e seria complicado tendo uma família. Quando eles voltaram a vida em Hades, alguns até tiveram alguns relacionamentos, mas acabaram. - o fitou. - não poderia ser uma pessoa de fora, mas o fator principal era a missão que ainda tinham. Uma guerra pode estourar amanhã e eles precisam combater.

– Mesmo com tantos anos em paz?

– Esses anos não são nada para os deuses. - voltou a fitar a caixa. - Se resolverem podem atacar amanhã.

– Você teve ou tem vontade de casar?

Marin parou o que está fazendo, demorando o olhar numa pasta preta. Fernando notou e arrependeu por ter tocado no assunto.

– Marin...

– As vezes sim, as vezes não. Meu lado amazona as vezes sobressai, as vezes meu lado mulher sonha em casar e ter filhos, mas eu não sei. Mesmo que se eu pudesse casar e continuar sendo amazona, como ficariam meus filhos? - o fitou. - é uma combinação tão difícil e acho impossível conciliar as duas coisas.

– Posso entender.

– Os cavaleiros passam por essa situação, eu e inclusive Atena.

Fernando pensou em si e nos amigas. A relação entre eles e o santuário seria praticamente impossível. Seria muito duro ir embora.

– "Talvez Atena apagar a memória seria a melhor coisa a se fazer... evitaria sofrimento."

– Mas é mundo que escolhemos, temos que aceitar nosso destino. - deu um meio sorriso. Lembrou-se de Aioria, por mais que os dois desejassem uma união, ambos sabiam que seria impossível. O único jeito seria abandonar as armaduras, mas isso jamais passou pela mente dos dois.

– É complicado. - sem querer Fernando bateu a mão nas pastas que estavam sobre a mesa levando-as no chão. - que lerdeza... - abaixou para pegar.

– Eu ajudo. - Marin agachou.

– Ainda bem que os documentos estão em plásticos se misturassem...

– Seria um trabalhão. - sorriu.

Sem querer os dois pegaram o mesmo plástico, as mãos se tocaram. Fernando a fitou, mas detendo o olhar nas sardas do rosto dela, que afinal era perfeito. Marin notou o olhar.

– Minhas sardas... são feias. Alias, acho que sou uma mutação da genética. Japonesa ruiva...

– Você é linda Marin. Na série ficava imaginando seu rosto, sua beleza não chega nem aos pés do que imaginei.

– Obrigada. - corou. Pegou o restante das pastas sem olha-lo morrendo de vergonha.

Fernando fez o mesmo.

– Ainda bem que é a última caixa. - fitou o céu pela janela e depois o relógio. - já passa das oito!

– Nem vi o tempo passar.

– Pode ir Fernando, há essas horas já devem está servindo o jantar.

– Agora que estamos na última caixa? - indagou descontraindo. - vamos terminar.

– Tem certeza?

– Absoluta.

O.o.O.o.O

Já passava da oito da noite e até aquele horário Miro não tinha dado as caras, preocupando Kamus. Na certa, estava fazendo "coisas" com alguma das meninas. O cavaleiro de Aquário chegou a Escorpião, disposto a aplica-lhe um sermão. Nem bateu na porta, pois queria pega-lo em fragrante. Ao abri-la arqueou a sobrancelha, por ver um pé atrás do sofá.

– Miro?

Sem resposta. O francês aproximou, arqueando as sobrancelhas. O grego estava deitado, com a cabeça apoiada nos travesseiros.

– Miro.

Não respondeu.

– Está dormindo? - não acreditava. - ele não é de.... - parou de falar ao se lembrar de um detalhe. - aposto que anda tomando todo dia... - O aquariano, tirou as sandálias de tiras, pisando no tapete. - sobra sempre para mim.

Kamus pegou Miro no colo, que nem acordou com o movimento, levando-o para o quarto. O deitou na cama e em seguida abriu a primeira gaveta do criado mudo que ficava ao lado, pegando um bloco de anotações.

– Miro... - murmurou aos constatar que durante quinze dias só não tomou o remédio por dois dias e o certo era uma vez por semana. - está abusando da medicação. - o fitou, o grego dormia de forma pesada. Kamus foliou as outras paginas, constatando que o amigo estava tomando o remédio em demasia. - desse jeito vai ficar viciado... isso se não estiver...

Kamus o fitou novamente, por mais que fosse perigoso o uso de remédios para dormir em excesso, não poderia obriga-lo a parar. Ao longo desses doze anos, Miro sempre tomava o cuidado de não toma-los todos os dias ou a mesma medicação por um tempo prolongado para não viciar, entretanto seu estado tinha se agravado tanto, que só conseguia pegar no sono a base deles e o resultado era aquele, ele apagava a qualquer hora. Shion até tinha lhe dado um horário especial para treinar, mas ele insistia em cumprir o horário correto. Agora, claramente, podia-se ver que ele estava viciado e na qualidade de amigo, não falaria para ninguém, não era o certo, mas preservaria-o.

Kamus guardou o caderno e saiu.

O.o.O.o.O

Giovani ajeitava os cabelos loiros platinados no espelho. Eram tão claros que passavam como brancos. O italiano aproximou o rosto um pouco mais a procura de alguns fios azuis. Seus cabelos começaram a nascer brancos, com quinze anos, culpa por ter herdado do avô materno os brancos precoces. O 'mal' não perdoou nenhum dos membros da família Scanparizzi. A principio não ligava muito, permanecendo durante alguns anos com os cabelos mesclados: brancos e azuis, mas de um tempo para cá, achou melhor assumir os brancos e para tal começou a descolorir o cabelo, com a ajuda de Aioria, já que o leonino costumava pintar o cabelo de vermelho quando era jovem.

Agora nem precisava desse tipo de tratamento, pois nascia mais brancos que azuis. Ajeitou o cabelo, a roupa e saiu. Faria uma visitinha as meninas.

Subiu as casas relativamente rápido, apenas parou em Capricórnio quando viu o dono sentado na entrada. Shura trazia um semblante tranquilo fitando as estrelas. O espanhol estava com o pensamento longe.

– Noite. - Mask parou na frente.

– Boa noite. - disse sério.

– Algum problema? - ficou curioso pelo semblante dele.

– Não. - notou a roupa. - aonde vai?

– Vou fazer uma visitinha as meninas. - deu um sorriso malicioso. - preciso aproveitar que o vértice ainda não abriu. Kanon, Dohko, Aioria e Aiolos vão depois.

– Shion sabe disso?

– Claro que não. - pegou um maço de cigarros no bolso. - serei rápido. - acendeu-o.

– Todas vão está? - indagou querendo saber quem estaria na farra.

– Creio que sim. - soltou uma baforada. - por quê? - indagou propositalmente.

– Por nada. - virou o rosto.

– Mostrou a estátua a Julia?

– Sim. Encheu-me de perguntas.

– Ela gosta de arte, me disse isso.

– O que mais ela te disse? - indagou interessado.

– Várias coisas. Tivemos uma conversa interessante, ainda mais em italiano.

– Eu vi. - disse com a voz grave, o que não passou despercebido por Mask.

– Você se importa? - levou o cigarro a boca.

– Com o que?

– Se eu ficar com ela.

– Como? - não acreditou no que ouviu.

– Ela é bonita, tem um papo interessante, sabe italiano, está sozinha... estou te perguntando pois as vezes está interessada nela e não quero te apunhalá-lo pelas costas. - claro que Mask não teria problema algum em fazer isso, só não deu de cima de Marin, pois o leão fazia marcação cerrada.

Shura franziu o cenho, sabia muito bem o que Mask faria, mas não se importou, ou pelo menos achava que não se importava.

– Não sei por que está me perguntando.

– Então não se importa se eu a levá-la para cama?

Esdras ficou em silêncio, a razão dizia que não, mas o lado emocional importava um pouco.

– Faça o que quiser. - disse de maneira seca.

– Ok, fiz minha parte te avisando.

– Eu não tenho nada haver com a sua vida e a dela.

– Já que é assim... até logo. - acenou.

O espanhol não disse nada, mas o rosto ficou sério. Não entendia o que se passava na mente dele. Uma parte pouco ligava, a outra estava incomodada com o fato de Giovanni tocar na brasileira.

– "Bobagem." - pensou entrando.

O.o.O.o.O

Kanon terminava de pentear os cabelos, olhava-se no espelho com um sorriso confiante.

– Tenho quarenta, mas ainda sou lindo! E sem nenhum fio de cabelo branco.

Saiu do banheiro cantando uma música, encontraria com Mask e os outros ao lado do templo. Antes, contudo avisaria o irmão. Bateu na porta do quarto, mas sem resposta.

– Saga. - abriu a porta. O quarto estava na penumbra, iluminado apenas pelo luar. - Saga.

Ele não respondeu. Estava deitado encolhido.

Kanon arqueou a sobrancelha, Saga não era de dormir tão cedo.

– "Os remédios..." - pensou. - "melhor nem acordar, ele precisa mesmo dormir."

Ainda checou se o cosmo dele estava equilibrado e certificando-se que sim fechou a porta.

Assim que ela foi fechada, Saga abriu os olhos e só esperou o irmão sair de casa, para deixar o cosmo fluir. Encolheu-se ainda mais, as lembranças de sua vida como grande mestre não saiam de sua mente fazendo-o sentir muito mal. Tinha reprimido o choro, para que Kanon não percebesse, mas agora podia dar vazão as lagrimas.

– Kanon... - recomeçou a chorar.

Kanon acabava de chegar em Câncer quando parou, olhando para trás. Algo dentro dele estava incomodando, pensou em ser apenas cisma continuando o trajeto.

Aioria já seguia com o irmão para o templo.

– Precisa ver o desenho Oilos. - disse o leonino todo empolgado. - ficou muito bom.

– E ela teve paciência com você? Você não consegue ficar um minuto quieto.

– É... perdeu um pouco...

Aiolos gargalhou.

– Imaginei. Mudando de assunto... cadê a Marin?

– Não sei, não a vi.

– Não sabe onde ela está? - o fitou surpreso.

– Não... depois procuro por ela, mas voltando ao assunto. A Gabe tem muito talento e prometeu me desenhar de diversas formas.

– Nu também está incluindo?

– Aiolos!!! - ficou vermelho.

– Brincadeira. - riu.

Dohko terminou de se arrumar e subiu. Passava por escorpião...

– Dohko?

– Miro? - estranhou a cara amassada do cavaleiro. - estava dormindo?

– Acabei pegando no sono... aonde está indo?

– Vamos encontrar as meninas.

– Eu também vou.

– Mas não vou te esperar, vai demorar demais. Fui.

Depois de terminado o jantar, cada um voltou para seu quarto.

Mask posicionou-se embaixo da janela de Julia e pegando impulso subiu na varanda. Sem qualquer cerimônia abriu a porta.

– Boa noite garotas.

As três arregalaram os olhos.

– Como entrou aqui????

– Pela porta, da varanda. - sorriu. - está uma noite linda, vamos sentar na fonte jogar conversa fora.

Elas trocaram olhares.

– Chame as outras. - deu meia volta. - nos encontramos lá. - deu um salto.

As três correram para a varanda, daquela altura, uma pessoa normal poderia machucar e muito, no entanto viram o canceriano andando normalmente.

– Ele é doido. - disse Juliana.

– Completamente...

Julia chamou as meninas e todas toparam. Rodrigo até pensou em ir, mas já imaginava como seria o naipe da conversa, resolveu ficar.

Foram todas para o jardim da fonte que ao luar e com as lâmpadas das luminárias ficava encantador. Mask já estava lá com um cigarro nas mãos. Assim que Helu bateu os olhos nele, o italiano deu um sorriso. Rapidamente a brasileira abaixou o olhar.

Não demorou muito para Aioria, Aiolos, Kanon, Dohko e Miro chegarem. Começaram a conversar coisas triviais.

O.o.O.o.O

Depois que chegou, Atena tomou um banho e deitou, acordando só depois das oito. Fez a refeição no quarto mesmo e depois desceu para seu escritório, pois tinha muito serviço a fazer.

Usava um vestido branco curto aos moldes gregos e os cabelos estavam presos num coque. Tudo seguia normalmente quando o notebook travou.

– Bela hora... - murmurou.

Rodrigo cansado de ficar no quarto, resolveu ir atrás das meninas. Desceu as escadas e seguiria para a cozinha quando viu a luz do escritório da deusa acesa. A passos lentos dirigiu para lá e a tempo de escutar:

– Bela hora para estragar.

– Saori?

– Oi Rodrigo.

– Algum problema?

– Essa droga de computador. - disse.

O baiano ficou surpreso pela frase.

– Posso dá uma olhada?

– A vontade.

Aproximou sentando onde antes ela estava. Mexe dali, mexe daqui e o computador voltou a funcionar.

– Prontinho.

– Muito obrigada, me salvou. Tenho que entregar isso amanhã. Estou fazendo um curso de marketing e preciso entregar esse trabalho.

– Faz curso de marketing? Atena como arruma tempo?

– Fazendo meu dia virar trinta horas. - sorriu. - é a distancia e de apenas um mês. Olha vê se ficou bom. - virou a tela para ele ver.

– Posso opinar?

– Claro.

– Por que não troca essas cores? - apontou para o desenho.

– Por quais?

– Azul e branco.

Saori pensou, levantando da cadeira.

– A vontade.

O.o.O.o.O

Marin deixou o corpo cair sobre a cadeira.

– Finalmente. - disse.

– Missão cumprida. - Fernando sentou ao lado dela.

– Muito obrigada. - o fitou.

– Disponha.

– Vamos indo? Pois ainda temos uma longa caminhada.

– Seu quarto fica onde?

– Numa ala perto do alojamento das servas.

– Vou com você até lá e depois subo.

Fecharam tudo e seguiram.

O.o.O.o.O

Os dourados e as meninas estavam sentados nas escadas que levavam ao pequeno templo oval.

Seguia um papo animado, sendo que a única que estava em silêncio era Heluane. Kanon estranhou.

– O que deu em você? Está calada.

– Não é nada. - respondeu secamente.

– O gato comeu a língua dela. - disse Mask. - não foi?

Não respondeu.

– Deixa a em paz Mask. – disse Aiolos.

– Não fiz nada. – deu um sorriso lavado.

Dohko conversava com todas, até que começou a ficar mais em silêncio. Era a dor novamente.

– Vou indo. - levantou.

Os dourados trocaram olhares.

– Eu vou com você. - disse Aiolos.

– Não precisa. Boa noite meninas.

Dohko despediu-se. Tomou o rumo do templo, mas teve que parar no meio do caminho. A dor era tanta que afetou o estomago. Procurou por um lugar que pudesse provocar um estrago menor e nem pensou duas vezes. Vomitou. A ânsia de vomito não parou, mas tinha que segurar. Se alguém visse e contasse para Atena, seria mais uma preocupação para ela e tudo que não queria era levar mais problemas para a deusa.

– Se está com vontade de vomitar, vai ser melhor.

Dohko assustou-se com a voz.

– Juliane?

– Não fique com vergonha, vai em frente.

Até tentou segurar, mas não conseguiu.

– Se sente melhor?

– Um pouco.

– Tenho alguns remédios, talvez possam te ajudar.

– Não precisa...

– Precisa sim. – disse séria. Ela passou o braço pelo braço dele. – vamos?

– Sim...

Entraram no templo indo direto para o quarto de Jules. Enquanto ela procurava por sua caixa de remédios, Dohko sentou na cama. A cabeça não parava de doer.

– Tome. – entregou-lhe um cumprindo e água.

– Obrigado. – tomou, mesmo sabendo que não adiantaria nada. A dor não era um problema físico.

– Vou te levar em casa.

– Não precisa Juliane. Já estou melhor.

– Faço questão.

Ele concordou. Não seria boa ideia ir até a sua casa sem companhia, a dor poderia apertar e como consequência poderia ter convulsão, como já acontecera tantas vezes.

Seguiram para Libra, Jules não conversava muito para que ele não se esforçasse.

Jules acendeu a luz prendendo a respiração ao ver a sala de Libra.

– "Lindo."

O chão era de madeira escura e o teto branco. Um sofá de pé num tom marrom claro ficava no centro da sala, tendo a frente uma mesinha oval de madeira escura e duas cadeiras de madeira e do mesmo estofado do sofá. Separando a sala da sala de jantar um biombo de madeira. A mesa era de madeira no estilo ocidental com seis cadeiras. Como decoração pequenos vasos de bonsais, mas o ponto alto da decoração era as paredes. A sala com a de jantar formava um grande retângulo e nas quatro paredes, Jules não sabia se era pintado ou papel de parede, um enorme desenho das paisagens chinesas. A gravura começava do lado esquerdo de quem entrava, com enormes montanhas e um rio cortando ao meio. Pela disposição da imagem Jules julgou ser Rozan. Continuando a figura, um enorme palácio chinês com um belicismo jardim na frente, na terceira parede, uma floresta toda de bambu e na ultima parede outro jardim com pássaros e flora locais.

Deixou o encantamento de lado para levar Dohko até o quarto.

– Onde é seu quarto?

– Segunda porta.

Jules abriu a porta do quarto, segurando o suspiro.

O chão era todo em madeira. As paredes eram claras e na maior de todas, o desenho de alguns bambus com um panda sentado. Do lado oposto dessa parede um guarda roupa de portas de correr com motivos chineses. Ao fundo uma porta de correr em madeira clara. A cama ficava na parede de frente de quem entrava e era uma cama baixa sobre um tapete preto. A colcha por cima da cama também era negra com almofadas brancas. O abajur ao lado do criado mudo tinha o desenho de uma lanterna chinesa.

Ajudou-o a deitar.

– Nem sei como agradecer Juliana.

– Não foi nada. – foi até a janela para fechar a cortina. – está se sentindo melhor?

– Sim. – mentiu para não preocupa-la, mas a verdade que a cabeça ainda doía muito.

– Não quer que eu chame alguém?

Ele não respondeu.

– Dohko.

Sem resposta.

– Dohko está me ouvindo? – aproximou da cama. – Dohko.

Sem resposta e seus olhos estavam fechados.

– Dohko fala comigo. – ficou assustada. – Dohko. – subiu na cama. – Dohko. Dohko.- nada de resposta. - Hian.

– Oi... – disse fraco.

– O que está acontecendo? A cabeça ainda dói?

– Sim... pode ficar aqui comigo...? Até eu conseguir dormir? Posso ter uma crise de convulsão....

– Nesse caso é preciso falar com a Athena.

– Não... por favor... eu vou melhorar... só fique aqui... eu não quero ficar sozinho...

Ele a fitou. Seu olhar era mole e Jules ficou sensibilizada. No dia anterior ele já tivera uma crise, hoje de novo, será que era constante? Ainda mais com convulsão...

– Eu fico... – ela tirou os sapatos e sentou na cama.

Dohko ergueu um pouco o corpo, depositando a cabeça no colo dela. Ela ficou surpresa pelo ato e sem saber como proceder.

– Obrigado... – a fitou.

Ela apenas sorriu. O libriano fechou os olhos. Alguns minutos depois, a brasileira ainda não sabia o que fazer, o cavaleiro por sua vez parecia ter pegado no sono. Jules fitava o rosto dele. Parecia tão sereno.

– “Com grandes poderes, mas tão sensível...” – levou a mão até os cabelos dele e como eram macios. Não se contentando apenas com os cabelos, acariciou o rosto. – durma em paz, eu vou tomar conta de você.

O.o.O.o.O

Rodrigo fez a alterações.

– E aí?

– Ficou lindo. Muito obrigada, salvou a minha vida.

– E olha que nem sou cavaleiro.

Os dois riram.

– Agora posso dormir tranquila, pois amanha o dia vai ser tenso.

– Por quê?

Ela caminhou até o sofá, indicando outro para o brasileiro.

– Você sabe alguma coisa sobre os costumes japoneses?

– Mais ou menos.

– Eu sou a única herdeira da família Mitsui. Naruhito não tinha parentes próximos, pois era filho único. Não teve filhos e com exceção de mim tem alguns primos distantes. Se ele tivesse tido um neto, toda a fortuna da família passaria para ele e o nome seria preservado. Acontece que sou mulher e quando se casa perde o sobrenome da família.

– Já ouvi falar sobre isso.

– Eu sou a presidente do grupo Mitsui e a principal acionista com noventa por cento das ações. Tenho um grupo de diretores os quais as decisões também são tomadas por eles, mas a última palavra é minha.

– Entendo.

– Já estou com vinte e cinco anos, já em idade para casar, para muitos diretores.

– Mas ainda é nova.

– Para eles não. Me casando o meu marido herda tudo e o sobrenome Mitsui acaba, o que não pode acontecer. Estão me pressionando para casar, mas arrumar um noivo que aceite o meu sobrenome. Assim tudo ficaria nas mãos de Mitsui.

– Que complicado.

– Ainda fica pior. - sorriu. - os primos distantes do Nahurito não me aceitam e alguns diretores pensam em me casar com um deles.

– Obrigada?

– Sim...

– E o Julian? - não queria tocar no nome dele.

Atena levantou, indo até a janela.

– Ele já me pediu em casamento várias vezes... no começo não as levava a sério, mas agora... - o fitou. - se eu que tiver que casar obrigada que pelo menos seja com ele. O conheço há muitos anos, além dele ser um deus. Seria mais fácil para conduzir. Como esconderia do meu marido que sou Atena?

Rodrigo calou-se, se não bastasse ela ser deusa ainda tinha a questão do dinheiro.

– Mas é o que você quer?

– É o melhor para todo mundo.

– Mas onde fica sua vontade?

– Não há vontade para Atena, muito menos para Saori Mitsui. Todas as minhas decisões não devem levar a minha vontade e sim o que é certo a se fazer.

– E vai ser infeliz o resto da vida por isso?

– Milhares de pessoas dependem da Mitsui, até o santuário depende da empresa. Se algo der errado todo saem perdendo, também não posso arriscar que todos descubram que sou uma deusa. Já imaginou o pandemônio que seria aqui?

– Eu não te entendo. Você é uma deusa!

– Já escutou aquela frase "grandes poderes trazem grandes responsabilidades..."?

– Sim...

– A segurança de todos veem em primeiro lugar.

– E vai se casar com o Julian?

– Talvez.. - disse não muito convicta.

– Mas ele tentou te matar!

– É o risco que corro. Rodrigo imagine aqui invadido por pessoas? Imagine aqui cercado por cientistas? Os cavaleiros não vão poder levantar a mão contra as pessoas. Eles serão expostos. E as pessoas da vila? Elas dependem de mim! Tem ideia da proporção que tomaria caso o santuário fosse descoberto?

Rodrigo ficou em silêncio.

– Kurumada entrou aqui e no que deu?

– Eu só quero que pense um pouco em você.

– Quando aceitei proteger a Terra a milhares de anos atrás, já sabia que não teria vontades. Não sou como os outros deuses que colocam suas vontades acima de tudo. Fui assim no passado, mas a partir do momento que comecei a proteger a Terra eu mudei.

– E se você se apaixonar?

Saori calou-se por alguns segundos.

– Eu sou Atena. Deuses quando se apaixonam tornam-se egoístas, está na sua natureza. Se isso vier a acontecer a Terra estará perdida.

– Isso significa que não gosta do Julian.

– Isso mesmo. Dele e de ninguém, desse tipo de amor.

O baiano caminhou até a deusa, depositando as mãos nos ombros dela.

– Não é atoa que é a deusa da guerra. O pensamento tem quer ser racional não é?

– Todas as minhas decisões devem ser pesadas. - fitou.

Rodrigo se conteve para não beija-la, já que estava tão próximo. Mas não cederia a essa vontade, estaria cometendo um sacrilégio e poderia até ser morto. Além disso o sentimento de impotência. Não poderia proteger a deusa, pois não era cavaleiro e nem poderia arcar com as responsabilidades de Saori, pois não tinha dinheiro para isso. Imagine um amor utópico. Era o seu caso.

– Eu sinceramente torço para que seja feliz. Como Atena e como Saori.

– Obrigada.

Ele a soltou.

– Boa noite Atena.

– Igualmente...

O.o.O.o.O

A conversa na fonte seguia animada, mas o dourados que estavam ali queriam outra coisa. Aproveitando que Cris tinha "terminado" o assunto com Suellen e Juliana, Kanon aproximou.

– Então quer dizer que a senhorita é de gêmeos. - disse para puxar assunto.

– Sim.

– Então sou seu cavaleiro favorito? - jogou verde. Suellen que ouvia queria mata-lo.

– Também.

– Também? - fez de ofendido. - quem é o meu concorrente?

– Todos os outros.

– Gosta mais do meu irmão ou de mim? - a fitou com um sorriso.

– Gosto dos dois. - disse para não se comprometer.

– Então não deveria ter um boneco meu?

– Eu acho que está na hora de irmos. - disse Suellen percebendo onde Kanon queria chegar e resultado seu pescoço rolaria. - vamos Cris?

– Vamos. - não se importou de ir, pois Saga não estava mesmo.

– Também vou com vocês. - disse Isa, pelo mesmo motivo. - boa noite a todos.

– Boa Isa Sauni. - disse Miro.

– Sauni? - estranhou, mas os dourados pescaram.

– Não é nada. - deu um sorriso lavado. - boa noite.

Ela e Cris não entenderam. Suellen estava saindo quando teve o braço retido pelo geminiano.

– Você atrapalhou os meus planos. - disse baixinho.

– Que planos? Por caso ia ficar com ela?

– Claro que não. É minha cunhada. Só queria descobrir o que ela acha do Saga.

– E colocar minha cabeça numa bandeja.

– Tem preferência? Prata ou ouro?

– Você não vale nada. - sorriu.

– Eu sei. - sorriu de volta. - boa noite.

– Boa.

Aiolos prestava atenção na conversa de Paula e cia, mas olhava para o irmão que conversava animadamente com Gabe.

– "Aioria". - chamou por cosmo.

– "O que?" - olhou para ele.

– "Não deveria saber onde está a sua namorada?"

– "Ela deve está ocupada. Por quê?" - estranhou.

– "Como por quê? Não sabe onde ela está e ainda fica de papo com outra?"

– "Não entendi. O que tem eu conversar com a Gabe?"

– "Já disse para ela que namora a Marin?"

– "Não. Aiolos não estou entendendo."

– "Você às vezes é muito lerdo."

– "Como?" - franziu o cenho.

– "Esquece..." - desistiu. Aquela história ainda iria render muito.

Mask que conversava com Paula, levantou de onde estava indo se sentar perto de Julia.

– Será que podemos conversar? - indagou em italiano.

– Agora?

– Sim. Tem uns bancos na frente do jardim.

– É algo grave?

– Não, só não quero ser escutado pelos outros.

Julia pensou. Não seria boa ideia seguir com ele, Shura poderia descobrir e além do mais tinha Helu. Tudo que não queria era arrumar confusão.

– Fale que vai dormir. - disse baixo. - vou logo depois.

Ela concordou.

– Pessoas já vou indo. Boa noite.

Boa noite Julia.– disse Ester.

A paulista saiu sobre o olhar atento de Mask. O cavaleiro depois olhou para Helu, o medo do porão aos poucos foi passando e daria o troco a altura. Era evidente que Mask combinara alguma coisa com Julia. Ficaria com outro cavaleiro só para dar o troco.

Enquanto isso, depois da conversa rápida com Suellen, Kanon sentou perto da Marcela. O escorpião de longe fitava os dois e orgulhoso como era... levantou para se sentar perto de Helu.

– Vamos andar por aí Helu? - indagou.

– Andar? - estranhou.

– É...

Ela diria não, mas viu Mask levantando para ir embora.

– Vamos.

A fluminense pegou na mão dele praticamente arrastando-o. Estava tão obcecada que nem viu o olhar mortal que Marcela dirigiu a ela, mas o olhar ficou pior quando Miro deu uma leve piscadinha.

– "Eu mato esse escorpião."

Gabe e o restante das meninas trocaram olhares, aquilo daria merda.

O.o.O.o.O

Julia estava parada atrás de uma pilastra do pequeno templo que ficava na entrada do jardim. Não queria ser vista por ninguém.

– Demorei? - o italiano aproximou colando seu corpo no dela.

– Não. - Julia deu um passo para trás. - o que quer conversar?

– Na verdade te perguntar algo. - andava obrigando-a ir para uma parte mais escura da lateral do templo.

– Pergunte. - já estava prevendo o que iria acontecer.

– Por que tem um boneco meu e do Shura?

– Por que sim.

– Isso não é resposta. - aproximou do rosto dela. - quero a verdade.

A distancia era tão pequena que Julia podia sentir a respiração dele.

– Mas é a ver-da-de. - gaguejou.

– Bom... - levou a mão até o rosto dela. - se não quer me contar por livre espontânea vontade terei que obriga-la.

Ele a beijou, o que fez com que Julia arregalasse os olhos.

– Ficou maluco? - o empurrou. - se alguém nos pega?

– E daí? - disse simplesmente. - você e eu somos solteiros, não vejo nada de errado. Ah não ser... - deu um sorriso cínico.

– A não ser o que? - evitava olha-lo, pois era bem capaz de ceder.

– Que me fale sobre os bonecos.

– Já disse que...

Desta vez o italiano se certificou que Julia não se soltasse. A paulistana ainda tentou lutar, mas ele sabia envolver, correspondeu o beijo por alguns segundos, contudo a imagem de Shura veio lhe na mente.

– Para. - tentou empurra-lo.

– Por que...? - usou um tom de voz bem baixo. - não quer continuar? - disse no ouvido dela.

– Não posso... - tentava resistir, mas a tentação era grande.

– Me diga o por quê? - passou a dar pequenos selinhos nela.

– É por que... - a luta interna estava feroz. - o Shura...

Julia levou a mão a boca, mas já era tarde. O italiano a fitava com um grande sorriso.

– Seu idiota.

– Confessou. - disse bem lentamente.

– Golpe baixo!

– Mas eu sou baixo esqueceu? Então nós somos seus cavaleiros favoritos... é bom saber.

Julia queria sumir, com certeza Mask contaria ao espanhol.

– Você não vai contar vai?

– Que gosta dele ou que nos beijamos?

Ela ficou calada sem saber qual seria pior.

– Vou omitir a parte que gosta dele, mas vou contar que nos beijamos.

– Não pode fazer isso.

– Eu já fiz. Antes de vir para cá eu falei com ele que ficaria com você. Agora vou contar como tudo aconteceu, vou até inventar algumas coisas.

A brasileira viu suas poucas chances com o espanhol escorrerem pelo chão. Do jeito que ele era, nem mais olharia na cara dela. Os olhos encheram de agua.

– Não precisa ficar assim.

– Ele nunca mais vai olhar na minha cara...

– E não vai mesmo.

Julia queria chorar.

– Estou brincando. Em consideração por ser minha fã, não vou falar nada.

– Sério?

– Sim. Será um segredo nosso.

– Obrigada.

– Vou indo, para não sermos vistos.

– Obrigada Gio.

Sua resposta foi beija-la novamente. Ele a soltou tomando o rumo das doze casas.

Julia torcia para que ele cumprisse o que havia prometido, mas no fundo, conhecendo a personalidade de Mask, sabia que Shura ficaria sabendo.

O.o.O.o.O

Quem pouco se importava se Miro e Mask ficassem sabendo era Marcela e Heluane, que não pensaram duas vezes em ficarem com os cavaleiros.

O.o.O.o.O

Marin e Fernando seguindo por um atalho, não demoraram a chegar às dependências do alojamento das servas.

– Entregue sã e salva.

– Obrigada.

– Se precisar de mim para alguma coisa é só chamar.

– Não dispenso, a companhia é boa.

– Então boa noite.

– Boa noite e obrigada por tudo.

– Disponha. - acenou.

Marin o esperou virar a esquina, dando um pequeno sorriso.


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