A Lenda dos Santos de Atena escrita por Krika Haruno


Capítulo 68
Epilogo: Cinqüenta anos depois...


Notas iniciais do capítulo

O capitulo extra que eu havia falado. Boa leitura!



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"Há cinqüenta anos, minha vida transformou-se radicalmente. Eu sempre acostumada a batalhas e finais tristes, sequer poderia imaginar que viveria tanto tempo feliz. Realmente os contos de fada existem. Minha caminhada, junto com meus valentes cavaleiros não foi fácil, tivemos altos e baixos. As seqüelas de Hades voltaram muitos anos depois. Pensei que poderia ser por conta de uma retaliação do imperador do submundo, por Odin quebrar a promessa indiretamente, mas não. Perséfone me garantiu que seu senhor era inocente quanto isso e me explicou que maldiçoes jogadas em mortais não desaparecem completamente. Foram momentos difíceis, mas superarmos..."

... Atena abriu a porta que levava a varanda. Os passos antes firmes e rápidos foram substituídos por passos lentos. Os cabelos lilases estavam brancos presos por um coque. A deusa caminhou até o parapeito, olhando sua estátua.

– Longos cinqüenta anos... – murmurou.

Desde a chegada dos brasileiros, o santuário passou por uma grande transformação. Os cavaleiros de bronze assumiram as armaduras de Virgem, Sagitário, Libra e Aquário. Ikki recusou a armadura de Leão. Kiki tornou-se o novo cavaleiro de Áries. Os antigos dourados passaram a treinar aspirantes. Filhos nasceram, depois vieram os netos...

Atena olhava sua estatua com o coração cheio de alegria, afinal, as coisas mudaram num dia de verão como aquele. O trigésimo oitavo mestre seria nomeado.

– Saori...?

Ela olhou para o lado, dando um sorriso.

– Não sabia que estava aqui. – disse olhando para Rodrigo.O brasileiro estava sentado num banco. Os cabelos negros deram lugar aos brancos e o rosto marcado pelo tempo.

– Está tudo pronto para a posse do Dário?

– Sim. Aiolos e Marin são muito competentes. Eles fizeram um ótimo trabalho.

– Fizeram. – ele sorriu. – só não sabia que ele não quis o Misopetha Menos.

– Era um desejo dele envelhecer como os demais. – caminhou até o marido. – segundo as palavras dele, não há graça viver tantos anos, quando as pessoas que se amam se vão.

– Ele tem razão. – indicou para ela se sentar.

– Posso perguntar algo? – sentou ao lado, fitando-o.

– Claro.

– Arrepende-se de ter se casado comigo? – o fitou.

– Por que? – estranhou a pergunta.

– Todos tiveram filhos, netos e eu... – abaixou o rosto.

– Temos tantos afilhados que nem senti falta. – tocou o rosto dela. – eu sei da sua condição. Não se preocupe com isso.

– Obrigada. – pegou na mão dele. Zeus havia proibido a concepção de filhos entre deuses e mortais. – venha, quero te mostrar uma coisa.

– O que?

– Feche os olhos.

Rodrigo obedeceu, quando voltou a abri-los ficou espantado.

– Onde estamos? – a fitou. Admirado com o lugar.

– Olimpo. – sorriu diante da expressão dele. – vou te apresentar ao meu corpo imortal.

Os dois percorreram os vários templos até chegar a um nos confins do Olimpo. Ele era pequeno e simples em comparação aos demais. Entraram e o interior não era muito diferente do exterior. Atena elevou seu cosmo, fazendo uma porta dourada surgir. Quando passaram, um templo semelhante ao seu templo na Terra despontou para eles.

– Como pode existir um templo desse tamanho dentro de um tão pequeno?

– É um disfarce Rô. Temos que ter muito cuidado com o nosso corpo imortal.

Caminharam por um longo corredor feito em mármore e ouro, até chegarem num amplo salão. No meio dele, havia uma grande estatua da deusa feita em ouro.

Saori tocou no pedestal da estatua, desencadeando o barulho de algo sendo arrastado.

– Veja.

Rodrigo aproximou do que seria um sarcófago, os olhos arregalaram. Como Saori havia dito anos atrás, seu corpo mortal assemelhava muito com seu imortal. Até parecia gêmeas.

– Ele ficará aqui para sempre?

– Sim. Não há necessidade de usá-lo. – tocou novamente a estatua.

– Obrigado por me trazer aqui. – a abraçou.

– Vamos? Não posso ficar tanto tempo perto dele.

Concordou. Voltaram para o templo menor, na saída os dois deparam com um senhor de cabelos grisalhos, mas visivelmente mais novo que o casal.

– Pai??

O olhar de Rodrigo foi de Saori para o senhor. Aquele era Zeus? Estava diante do sogro???

– Há quanto tempo minha filha. – as íris azuis fitavam o baiano.

– O que faz aqui?

– Será que podemos conversar? – ele ainda continuava a encarar o brasileiro. – não vai nos apresentar?

– Sim... – Atena ficou em alerta. Desde os acontecimentos de Hell, não conversava com o pai. – Rodrigo, esse é meu pai. – olhou para o deus. – pai esse é o Rodrigo.

O baiano ficou sem saber o que fazer. Um aperto de mão? Uma reverencia? Apenas um aceno?

– É um prazer conhecê-lo Rodrigo. – disse Zeus de forma cortes. – por favor, venham comigo.

Rodrigo apenas acenou. O casal seguiu com ele, até o templo dedicado ao filho de Chronos. Foram conduzidos a jardim, coberto das mais variáveis flores.

– Por favor, sentem-se.

Ainda ressabiados Rodrigo e Atena sentaram. Zeus acomodou-se num divã, olhando fixamente para a filha. Era a primeira vez que a via com feições tão maduras. Atena sempre voltava jovem para o Olimpo, não passando mais de que vinte e cinco anos encarnada na Terra.

– Aconteceu alguma coisa? – indagou a deusa, temerosa com o silencio dele.

– Não. Aqui nunca esteve tão pacifico. Hades está quieto no submundo, Poseidon também, tudo está em paz Atena. O motivo da nossa conversa é outra.

– Quer que eu saia? – perguntou o brasileiro, talvez fosse prudente.

– O assunto tem a ver com você também. – disse Zeus.

– E o que seria? – Atena estava curiosa.

– Nunca se perguntou por que ele e os demais mortais ficaram tanto tempo no santuário?

A indagação de Zeus fez os dois olharem-se imediatamente.

– Do que está falando?

– Tirando o mortal japonês, toda vez que alguém passava pela barreira era rapidamente devolvido, ele foi a única exceção de uma pessoa sem laço algum, ficar tanto tempo dentro do santuário.

– Não estou entendendo pai.

– Ao longo dos séculos a barreira que envolve o santuário foi ganhando vida própria, evidentemente que seu cosmo é muito importante para mantê-la, mas ela também consegue se manter, afinal é o único templo divino em atividade no mundo, desde da formação do selo de Kaya. Pessoas que possuem cosmo, independente da orientação conseguem vê-la, tocá-la e transpassá-la. Semelhantes se atraem. – ele levantou, passando a andar pelo local. – as vezes, ocorrem anomalias e a barreira se abre momentaneamente, isso é absolutamente normal. Quando esses distúrbios ocorrem pessoas comuns conseguem transpassá-la, mas as vezes a anomalia se abre num vértice e aí pode demorar a fechar. Não foi isso que aconteceu com o mortal oriental?

– Sim. Desde que voltamos de Hades, muitas pessoas passaram pela barreira, mas felizmente, como vértice foram apenas duas vezes. Depois deles, anomalias ocorreram, mas não com conseqüências tão sérias.

– São efeitos naturais. Se o Olimpo fosse na Terra também aconteceria isso. Contudo há um fator que difere a permanência do mortal japonês, da dos demais mortais.

– E o que seria? – indagou Rodrigo. – desculpe. - silenciando na hora.

– Eu não disse que semelhantes se atraem? – ignorou o ocorrido. – o japonês entrou e permaneceu, apenas por causa da duração do vértice que foi de cinco dias. Se tivesse durado um dia ou cem dias, ele ficaria no santuário por esse tempo. O que não é o caso dos outros mortais. – a fitou. – se Hell não tivesse aparecido, eles nunca sairiam do santuário pelo processo de abertura do vértice.

– Como assim? – foi a vez de Atena levantar. – eu procurei a Circe, ela até me ajudou a trazê-los de volta depois da batalha. Ela usou os poderes dela.

– Eu sei que ela usou e que a barreira abriu quase que na mesma hora, mas tudo funcionou porque era especificamente eles. Entende Atena? Porque eram eles. – apontou para Rodrigo. – qualquer outra pessoa mesmo com a intervenção de Circe, a barreira não abriria facilmente.

Rodrigo ouvia tudo incrédulo, sua cabeça estava confusa.

– Por que nós? – não se intimidou. Queria respostas.

– Vocês foram as pessoas certas, no lugar certo, na hora certa. Se estivesse sozinho Rodrigo, entraria. Se estivesse vocês e mais dois dos mortais, entrariam os três. A quantidade não era importante e sim as pessoas.

– Pai... eu não estou entendendo. – Atena voltou a sentar.

– Responda Rodrigo. – Zeus o fitou. – o que o levou até a Grécia?

– Ora... era uma viagem planejada por todos. Sempre tivemos interesse na cultura grega.

– Mas e o real motivo? Você leu a obra sobre ela. E por mais que lhe parecesse fantasia, no fundo alimentava o desejo de ser verdade, não é?

– Sim... – murmurou espantado.

– Eles tinham o forte desejo de conhecer aquele mundo e isso reagiu a barreira, por isso ficaram tanto tempo. Para a barreira, eles pertenciam a aquele mundo, portanto não havia motivos para abrir. Sem esse desejo, aconteceria como o oriental. Ficariam pelo tempo que o vértice estivesse aberto. No caso deles a barreira só abriu quinze dias depois, porque os seus cavaleiros morreram. As mortais nutriam por eles sentimentos e quando morreram isso foi quebrado, logo o desejo se perdeu e a barreira abriu.

– Quer dizer que, - iniciou Atena. – o desejo que eles tinham em nos conhecer e os sentimentos que elas nutriam por meus cavaleiros fizeram com que ficassem por todo esse tempo?

– Sim. - sua voz saia sem qualquer hesitação. - Supondo que Hell não aparecesse, Circe até poderia conseguir colocá-los para fora, mas seria preciso um grande esforço para isso. Poderia levar até dias, pois acredito que elas não desligariam de seus cavaleiros e a barreira reagiria a isso. O mortal japonês se entrar novamente pode permanecer, pois criou um laço com você, a barreira pode reagir a isso.

– Poderia ser qualquer pessoa? – Rodrigo estava perplexo com as revelações. – qualquer fã?

– Desde que tivessem o desejo tão intenso quanto os seus e repito: estarem no local e hora certos. O único trabalho de Circe foi forçar uma entrada, mas pelo desejo deles isso foi facilitado e muito. – sentou. - Eles criaram laços profundos, até mesmo você. – olhou para os dois. – esses laços favoreceram a permanência deles, não é atoa que estão tanto tempo no santuário, saindo e entrando, como se fossem moradores nascidos na vila. Mesmo sem terem cosmo isso não foi problemas para eles.

– Eu jamais imaginaria isso. – Atena estava surpresa. – sempre achei que foi algo aleatório.

– Pode se dizer que cinqüenta por cento foi. Foram sortudos por estarem no local certo.

– Obrigada pai por me contar.

– Não há nada em agradecer. Só espero que continue levando essa vida tranqüila. Claro que nunca foi meu desejo que minha filha se envolvesse com um mortal, mas vejo que está feliz, então...

– Espero não decepcioná-lo Zeus. – disse o baiano.

– Você não seria louco de fazer algo contra a filha de Zeus. Penso que é uma pessoa sensata.

A voz saiu descontraída, mas o brasileiro entendeu muito bem o recado. Conversaram mais um pouco e em seguida o casal retornou a Terra.

– É incrível a barreira ter reagido a nós.

– Também não esperava isso. - realmente a deusa estava bem surpresa.

– As meninas ficarão admiradas ao saber.

– Rô, vamos manter isso em silencio? – dirigiu-se para a varanda frontal. – não fará muita diferença se elas souberem ou não.

– Tem razão. – pegou nas mãos dela. – mas acho que Shion, Aiolos e Dário precisam saber. Afinal se trata da segurança do santuário.

– Contarei a eles. Foi esperto em está no Pathernon. - sorriu divertida.

– Eu previ que conheceria uma mulher maravilhosa, então...

Os dois trocaram um abraço afetuoso.

****

A temperatura estava agradável, o corpo estava confortavelmente acomodado no sofá. Os óculos lhe davam a visão há muito tempo prejudicada pela volta da seqüela de Hades. Os dedos, outrora firmes, passavam carinhosamente pela primeira pagina de um livro de capa azul e letras douradas.

Kamus pegou o controle remoto para diminuir ainda mais a temperatura da biblioteca. Seu cosmo já não era suficiente para abaixá-la. Ajeitou os óculos passando a ler a dedicatória escrita em homenagem a ele.

... Ao amigo, ao companheiro, ao professor, ao homem que eu amo, dedico...

– Kamyu...

O aquariano sorriu, ao sentir o toque nos ombros.

– Não pode com essa temperatura. – disse Isa. – quer pegar uma pneumonia?

– Só estava relembrando os velhos tempos. – a fitou. – o frio jamais vai me incomodar.

– Deixe o frio para o Hyoga. – pegou o controle aumentando a temperatura. – o que está lendo?

Os olhos azuis pousaram nos olhos negros emoldurados pelo tempo. Isa trazia os cabelos acinzentados preso num coque.

– Estava lendo a sua dedicatória.

– De novo? – sorriu, sentando ao seu lado. – há quarenta e cinco anos lendo isso, não se cansou?

– Não. – pegou a mão dela.

Os dois sorriram. Kamus e Isa estavam juntos desde a mudança definitiva da brasileira. Não tiveram filhos e depois que ele passou oficialmente a armadura para o Cisne mudaram para uma casa em Rodorio, alias, lar de todos os cavaleiros de sua geração.

– Eu jamais me cansarei Isabel. – acariciou o rosto. – o que eu sinto por você não esmoreceu e sim fortaleceu através dos anos. Era apaixonado aos trinta e dois anos, continuo aos oitenta e dois.

Isa fitou o aquariano, os cabelos ruivos foram substituídos pelos brancos, a pele viçosa, agora marcada pelo tempo.

– Eu também.

O olhar cúmplice foi interrompido por batidas a porta.

– Posso entrar?

– Claro Hyoga.

– Boa tarde. – disse o ex- cavaleiro de Aquário.

– Sente-se. – Isa indicou a cadeira.

– A cerimônia será naquele horário. – disse. – Alexei passará aqui para nos levar.

– Mais um mestre no santuário, como o tempo passou. – Kamus ajeitou os óculos.

– Aiolos e Marin fizeram um ótimo trabalho. – disse o japonês.

– Fizeram. Foi uma administração fundada na paz.

– Aceita uma xícara de chá Hyoga?

– Aceito dona Isabel.

Ela o fitou meio torto.

– Isabel. Desculpe. – sorriu.

– Assim é bem melhor.

Isa serviu aos três.

****

Mu estava sentado em posição de lótus, num cômodo a parte de sua casa em Rodorio. Ele costumava todos os dias praticar a meditação, pois era a única coisa que fazia com que sua telecinese não saísse do controle. Os anos seguintes a guerra contra Hell foram marcados por muitas destruições dos cômodos e risco para todos ao seu redor. Shaka o orientou a praticar a meditação como forma de serenar sua mente e assim direcionar seu poder. Depois da luta contra Alfarr, havia adquirido um novo golpe, mas este era deveras perigoso e necessitava de toda cautela.

Mesmo com todas as peripécias, tinha tido uma vida feliz, ao lado dos dois filhos e netos. Infelizmente nenhum deles tinha herdado suas habilidades telecineticas já que ele era metade lemuriano, metade humano.

– Mu? – Ester abriu a porta lentamente.

– Terminei.

– Desculpe interromper, mas...

– Você nunca me interrompe. - a fitou. - Aconteceu alguma coisa?

– Mia.

– Imaginei. Ela anda muito tensa nesses últimos dias.

– Vá falar com ela, talvez consiga acalmá-la.

– Como você me acalmava? – indagou brincando. – só você para ter paciência comigo.

– Sabe que não é nada disso. – Ester o fitou. Enquanto ela trazia os cabelos brancos e o rosto marcado pelo tempo, Mu continuava com a mesma aparência de quando se conheceram. Ele era um lemuriano e como tal tinha a capacidade de viver muitos anos.

– Como foi a reunião?

– Ocorreu tudo bem. Estamos avançando. Mabel e eu fazemos uma bela dupla.

– Eu sei.

Ester, assim que se mudou para o santuário, começou a trabalhar na Mitsui, contudo tinha o sonho de ajudar pessoas com problemas de audição a ter uma vida melhor. Primeiro, ela deu a idéia para Mabel que sua escolinha tivesse profissionais que atendesse a esses deficientes. A piauiense concordou na hora, contando também com a ajuda de Atena. Aos longos desses anos, Ester não ficou restrita apenas a escola de Bel, fundou uma Ong, contando com a ajuda de todos. Recentemente, com a evolução da medicina, foi submetida a uma operação tendo de volta setenta por cento da audição.

Os dois deixaram o cômodo de meditação indo para o jardim. Ester apontou para um banco debaixo de uma frondosa arvore.

– Eu preciso resolver umas questões, deixo com você.

– Vai trabalhar? – indagou o ariano.

– Volto para a cerimônia do Dário. – deu um selinho no marido. – te amo.

– Eu também.

Mu esperou ela sair para ir até Mia. A garota assim que o viu abriu um grande sorriso.

– Vô.

– Isso soa tão estranho... – o ariano sentou ao lado dela. – acho que terei que descolorir os cabelos.

– A vovó te mata. Ela ama seus cabelos. E eu também.

– Eu sei, mas é estranho eu ter a mesma aparência jovem dos meus netos.

– Não é nada estranho. E por falar nela?

– Adivinha. – revirou os olhos.

– Ela não para quieta.

– Sempre foi assim. – sorriu. – sua avó é muito determinada e persistente. Graças a isso que você existe.

Os dois riram. Mu fitou a neta mais velha, ela era muito parecida com Ester quando jovem.

– Por que está com o coração preocupado? – pegou na mão dela.

– Não é nada... – abaixou o rosto.

– Mia... – Mu ergueu o queixo dela gentilmente.

– Eu sou muito jovem vô e me tornar uma amazona de ouro é muita responsabilidade.

– Não sei porque a dúvida. Você é capaz. Eu vi seu treinamento. Será uma excelente amazona de Virgem.

– Eu não tenho capacidade! Asmita, Shaka e Shun, como posso me comparar a eles?

– Se Shaka e Shun não sentisse que você fosse capaz, eles teriam dito, principalmente o Shaka. – riu. - Escute, - a voz saiu branda. – siga o exemplo de sua avó. Mesmo com todas as dificuldades ela não desistia. Você é como ela.

Mia sorriu.

– Será uma grande amazona. – acariciou o rosto dela.

– Obrigada vô. – deu um abraço carinhoso.

– Agora vá. Apesar de Aiolos ser o mestre, Shion ficará uma fera se você se atrasar.

– Sei muito bem como é. – levantou. – até mais tarde.

O ariano apenas acenou.

– Eu não disse que você resolveria?

– Estava escutando a conversa? – virou-se. Ester estava a curta distancia.

– Foi bom ouvir. – aproximou. - Falou de mim. – sentou ao lado dele.

– Só disse a verdade. – a fitou.

– Acha aquilo tudo de mim?

– Sabe que sim senhorita Ester. E a nossa Mia herdou isso. Ela é uma grande mulher como a avó dela.

****

Olhava para a fachada do templo de Gêmeos, seu lar durante muitos anos. Desde que Saga elegera seu sucessor, a família Myles tinha si mudado para Rodorio. A armadura de Gêmeos ficou entre os moradores do santuário. Contrariando todas as expectativas Gustavv se casou com uma moradora da vila e teve um casal de gêmeos, meses antes de seu sangue torna-se novamente venenoso.

Cristiane parou na porta a espera do cunhado.

– Ainda bem que você chegou. – disse o marina, chegando apoiado numa bengala.

– Onde ele está? – indagou.

– No antigo quarto dele. Aiolos o trouxe, achando melhor ele ficar aqui até você chegar. Ele me disse que Saga apareceu de repente no templo, como Ares. Pode me explicar o que aconteceu?

– Eu acordei antes das cinco para ajudar a Elena a se aprontar. Deixei o Saga dormindo e não o vi, só soube o que aconteceu com o telefonema do Aiolos.

Kanon soltou um suspiro desanimado. Saga estava a cada dia pior. Nos primeiros anos após Hell parecia curado da depressão e até Ares estava com o gênio mais brando, mas depois... o quadro depressivo piorou e as tentativas de suicídio tornaram-se mais freqüentes. Ares também piora. As doses dos remédios tornaram-se mais fortes e a conseqüência ao longo dos anos foi a perda da memória. Saga tinha lapsos inclusive que afetavam Ares e por isso não podia sair sozinho.

– Deve ter acordado e sei lá... – murmurou a mineira. – andou tanto...

– Ele está com aquele problema. Aiolos disse que nos primeiros minutos ele bateu boca, sabe do jeito de Ares, mas que depois... Não sabe nem que eu sou.

– E está como Ares?

– Sim.

Kanon e Cristiane seguiram para o antigo quarto do ex-cavaleiro. O marina abriu a porta.

– Saga, você tem visita.

O geminiano o fitou para depois desviar o olhar para a pessoa ao lado. A brasileira olhou o homem sentado na cama. A altura era a única coisa que restava do seu tempo de cavaleiro. Os cabelos estavam brancos e curtos, o rosto bem marcado pelo tempo.

– Bom Saga... - disse Aiolos levantando. - ela vai cuidar de você.

– Já disse que meu nome é Ares. Pare de me chamar desse outro nome.

Aiolos não respondeu.

– Obrigada. - falou a mineira quando o grande mestre passou por ela.

– De nada. - tocou de maneira terna o ombro dela.

Os dois saíram. No corredor Kanon soltou um longo suspiro.

– Saga está cada vez pior. Daqui a pouco a memória dele vai se apagar.

– Vamos rezar que não Kanon. - disse o sagitariano. - Saga passou por muitas coisas, ele é forte.

– Eu sei.

– Eu preciso ir. Daqui a pouco é a nomeação.

– Tudo bem. Mais uma vez obrigado. Obrigado por cuidar dele.

– Saga é meu amigo. Até logo.

– Eu te acompanho.

Enquanto isso...

A mineira caminhou lentamente até a cama.

– Oi Ares.

– Você também me conhece? – indagou desconfiado daquela mulher de feições maduras e cabelos brancos presos num coque.

– Sim.

– Por que todos me chamam de Saga?

– É uma espécie de segundo nome. - não quis render. - O que foi fazer no templo?

– Eu moro lá. Só não sei porque os móveis estavam diferentes... quem é você?

– Uma amiga. – sorriu, quantas vezes ouviu aquela pergunta tanto de Saga como de Ares. – será que pode me acompanhar até a minha casa? Eu não queria ir sozinha.

– Não sou seu guarda costas, - disse seco. - mas tudo bem...

Cristiane levantou para pegar a bengala que ele usava. Ares acompanhava atentamente com os olhos fixos na brasileira.

– Qual o seu nome?

– Cristiane.

Ele ficou em silencio por alguns minutos, apenas fitando-a.

– Sua bengala. – mostrou o objeto.

Ares piscou algumas vezes, passando a olhar ao redor.

– Por que estou aqui? Por que me trouxeram para Gêmeos?

– Como?

– O que estamos fazendo aqui Cristiane? – indagou novamente fitando-a sem entender.

De surpresa, a expressão passou para o alivio. A memória de Saga ia e voltava numa fração de segundos. Só precisava saber qual dos dois era.

– Não se lembra Ares? - indagou com cuidado.

– Não.

– Resolveu andar por aí e veio parar aqui. - preferiu omitir.

– Hum... – murmurou pegando a bengala. – tenho a minha liberdade tolhida.

– Não é verdade. Vamos?

– E uma mulher manda em mim. - torceu a cara. - vamos.

Ela sorriu, Ares continuava o mesmo.

– Vamos.

Ares contudo não se moveu.

– Algum problema?

– Não é que... precisamos nos apressar Cris. A cerimônia da Elena está próxima.

Ela o fitou espantada.

– Saga?

– O que? - a olhou.

– Nada. - sorriu. - vamos.

*****

Os olhos verdes estavam atentos na arrumação das madeixas esbranquiçadas. Com o tempo o tom loiro dos fios foi se perdendo, assim como a boa forma, mas o orgulho permanecia intacto. Afinal, apesar de ser um senhor de oitenta e dois anos jamais deixaria de ser o grande Aioria de Leão. A seqüela de Hades havia voltado e ele tinha vários acessos de falta de ar. Com muita dificuldade, por causa da chaga, conseguiu treinar um aspirante, já que seu sucessor, Ikki, não quis a armadura.

O grego acabava de ajeitar a roupa. Tinha que está perfeito para o grande dia. Novamente a família Kratos havia sido agraciada com um membro a frente do santuário de Atena.

– Perfeito! - exclamou ao se mirar no espelho.

– Eu não acredito... - murmurou Gabe parando na porta. - ainda não está pronto?

– Tenho que está perfeito Gabe. - voltou-se para ela. - afinal é meu neto.

– Pensei que com o tempo o convencimento diminuiria, estava enganada.

– Não é convencimento. - aproximou-se da brasileira, dando lhe um beijo na testa. - é a verdade. Não vai me dizer que, dessa elite gagá de Atena, eu não estou com a melhor forma?

– Está bem Olia. - disse entediada. - Agora vamos. Não podemos chegar atrasados.

– Espera. - a segurou pelos ombros, olhando-a fixamente, o rosto já não era mais o mesmo, assim como os cabelos.

– O que foi?

– Parece que foi ontem que nos conhecemos. - tocou-lhe o rosto. - nem parece que se passou tanto tempo.

– Tem razão. O tempo passou depressa e fomos felizes.

– Nós somos felizes. - afirmou.

Ela sorriu.

– Não se afobe muito. Precisa preservar seu pulmão. - disse preocupada.

– Não se preocupe, ainda não ficará viúva. O mundo precisa de mim.

– Seu convencimento só perde para o Miro. - disse. - vocês dois deveriam ter se casado.

– Não brinca. Minha espada ainda dá para o gasto. - deu um sorriso.

– Velho pervertido! Respeita a sua idade! - deu um tapinha de leve no ombro dele.

– Olha a força...

– Desculpe.

– A doutora Gabrielle Kratos me dá a honra? - mostrou o braço.

– Claro.

Sorriram.

*****

Aiolos olhava para o manto branco. A partir daquela data se tornaria um ex-mestre. Nem nos seus mais loucos sonhos imaginou chegar tão longe. Durante quarenta e poucos anos administrou o santuário, tarefa fácil se comparando aos tempos conturbados de Shion. Depois da luta contra Hell só usou a armadura uma vez, passando-a definitivamente para Seiya. Sorte a dele, pois a maldição de Hades havia voltado para todos os santos de Atena.

– Quer ajuda?

O grego olhou para trás, fitando Sheila. A brasileira estava muito elegante, não esperava menos da primeira dama, como ela se referia a si.

– Só estava pensando... - voltou a atenção para o manto. - estou passando o posto para o outro. Em cem anos o santuário teve quatro mestres, é um fato inédito.

– Isso é bom não é? - tocou no ombro do amado. - as coisas tem que ser renovadas.

– Está me chamando de antiquado? - virou-se.

– Não. Ainda mais que está tão velho quanto eu. Tinha receio que usasse o Misopetha Menos.

– Queria envelhecer. Não tenho o espírito de Dohko.

– Se houvesse necessidade você teria feito. - disse séria. - eu conheço seu caráter indeciso. - deu um sorriso de canto de boca.

– Tenho apenas medo pelo Mu. Será o único a continuar vivendo. Nem Shion tem mais essa capacidade.

– Ele saberá lidar com isso. E ele tem os filhos e netos para ajudá-lo. Ele não ficará só como Shion ficou por dois séculos.

– Talvez tenha razão. - passou o braço pela cintura dela. - me ajuda?

Sheila tomou a vestimenta nas mãos auxiliando-o.

– Como se sente passando o manto para o nosso sobrinho neto?

– Orgulhoso. Felizmente o Dário não puxou ao avô e nem ao pai. Aquele menino tem juízo.

– Quando tudo isso passar, vamos viajar? Como uma segunda lua de mel?

– Vamos lindinha. - tocou o rosto dela. - e não me olhe com essa expressão. - ela havia fechado a cara. - É lindinha.

– Não se pode bater num idoso. - sorriu. - eu posso ser presa.

– Quem está chamando de idoso? Você é mais velha do que eu!

– Meu espírito é mais jovem do que o seu. Agora vamos está na hora.

O pátio do templo estava tomado por gente, assim como anos atrás. Os moradores de Rodorio usavam roupas cerimoniais. Novamente Perséfone, Poseidon, Odin e Idun foram convidados. Hilda não compareceu devido a seu estado de saúde.

Na primeira fileira, os brasileiros dividiam espaço com os ex cavaleiros, filhos e netos.

O som de trombetas interrompeu as risadas, o grande momento havia chegado. Dário, neto de Aioria, seria sagrado como novo mestre do santuário. A porta do templo abriu, dando passagem para Atena, Dário, Elena, Aiolos e Marin.

– Habitantes de Rodorio. – a voz de Atena espalhou-se. – Quero que saúdem Dário, o trigésimo oitavo grande mestre.

Uma salva de palmas ecoou pelo local. Aiolos que usava o manto branco caminhou até o jovem. Dário, trajando o manto azul marinho, ajoelhou a sua frente. Aquela cena era acompanhada por todos e estavam emocionados. O santuário de Atena seria protegido pela nova geração.

Shion tentava conter a emoção. A cerimônia de Aiolos e agora de Dário era a coração dos anos de paz. A troca de mestres sem que houvesse um conflito era um ótimo sinal.

Aiolos parou diante de Dário, com um sorriso nos lábios tirou o elmo dourado. O sagitariano segurou o objeto entre as mãos.

Carinhosamente lembrou-se de sua coroação. O olhar voltou para o grego, sabia que seu precioso santuário estaria em boas mãos.

– Dário. É com muita honra... – disse com a voz emocionada. – que te nomeio como o novo Grande Mestre do santuário de Palas Atenea. Longa vida Dário.

Colocou o elmo nele. Uma grande salva de palmas foi ouvida e gritos de “longa vida ao Grande Mestre.”

– Que orgulho. - disse Aioria.

– Cuidado para o ego não inflar demais leão. - disse Mask. - nada pior que um leão que acha que ainda é o rei da selva.

– Fique calado. - ralhou.

Seguindo o protocolo Elena, neta de Kanon, ajoelhou-se diante de Marin. A japonesa estava feliz com a indicação. Saga sempre fora muito competente e responsável com os assuntos do santuário, assim como a sobrinha neta. Elena herdara muitas qualidades do tio.

Dário se aproximou das duas mulheres.

– Eu, o Grande mestre Dário, concedo a você Elena, o cargo de auxiliar desse santuário.

Novamente uma salva de palmas e gritos de longa vida. Elena levantou, com um grande sorriso nos lábios, olhando para sua família.

Marin e Aiolos trocaram olhares sorridentes. Atena fez sinal para que Shun e Mia se aproximassem. Eles subiram as escadas parando ao lado da deusa.

– Shun faça as honras. - disse a deusa.

Ele lhe deu um sorriso gentil. Antes de ajoelhar diante do japonês, Mia olhou para o avô.

– É com o imenso prazer. - iniciou o Andrômeda. - que anuncio a Mia como a nova amazona de ouro de Virgem.

Mu sorriu satisfeito, assim como Shaka.

Palmas ecoaram por todo o recinto. Dário, deu alguns passos a frente para realizar seu discurso.

– Eu, - iniciou Dário, - tive o prazer de conhecer e conviver com os lendários santos de Atena. - olhou para o tio, para o avô e para os demais ex cavaleiros. - se hoje estamos celebrando esse acontecimento é graças a vocês. E agora, diante de Atena, de vocês e dos habitantes de Rodorio, Elena e eu prometemos sempre defender a Terra.

Novas palmas.

Atena não se cabia de felicidade. Olhou para cada um de seus antigos cavaleiros. Eles estavam felizes e esse era o seu maior sonho. Para registrar esse momento, como o de anos atrás, ela chamou seus cavaleiros, os brasileiros, filhos e netos para uma fotografia.

Da tribuna Perséfone sorria, já havia testemunhado aquela cena.

– É o começo perfeito? - indagou divertida olhando para a pequena Idun.

– Para a nova geração sim, – a voz infantil preencheu o ambiente, chamando a atenção dos deuses. – mas para eles é o final perfeito.

As atenções voltaram para a deusa grega e seus santos dourados, eles sorriam...

A barreira emitiu um brilho dourado, pétalas brancas começaram a cair do céu coroando aquele momento...

O santuário de Atena continuaria em paz...


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas, agora realmente a fic chegou ao fim. Obrigada por terem acompanhado todo esse tempo. Espero que tenham gostado do desfecho dos santos de Atena.

10/01/2016
Krika Haruno



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