Espírito de Natal escrita por Maya


Capítulo 1
Capítulo Único - O Espírito Natalino


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :D



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Natal... Uma data mágica, em que as famílias se reúnem para festejar e comemorar o nascimento de Jesus, em que as crianças correm alegres pela casa, ansiosas pela hora de abrir os presentes. Grande parte da população vê o Natal como a melhor época do ano.

O Natal estava chegando. Quase todo mundo já tinha comprado os presentes para seus amigos e familiares. As casas estavam enfeitadas e as árvores montadas. Os corais das igrejas ensaiavam para cantar na noite de Natal. Mesmo com toda a correria, as pessoas estavam felizes pela proximidade daquela data, principalmente as crianças.

Infelizmente, aquela felicidade foi ameaçada por uma notícia: Papai Noel estava desaparecido.

Seu desaparecimento abalou principalmente as crianças. Os adultos ficaram com dúvidas se aquilo era verdade ou não, pois já haviam perdido a crença no bom velhinho. Ele sumiu no dia 23 de dezembro, tão perto do Natal... Aquela notícia era horrível, capaz de destruir o espírito natalino de inúmeras crianças e jovens, principalmente o de quatro amigos.

Os quatro moravam no mesmo apartamento de um prédio de Londres, Inglaterra. Um deles era um rapaz ruivo, com o cabelo batendo na metade do pescoço e olhos azuis, que olhava pela janela com o olhar perdido. Ao seu lado estava outro membro do grupo, um garoto loiro de olhos verdes brincando com um videogame portátil, mas não parecia estar se divertindo muito. Ambos haviam acabado de ouvir mais notícias sobre o desaparecimento do senhor Noel. Ele tinha sido visto pela última vez próximoà sua mansão, no Pólo Norte, e embora as renas e o trenó tenham sido encontrados, não havia sinais dos presentes ou do bom velhinho. Só lhes restava esperar que as autoridades o achassem, porém, o Natal já tinha passado. Era Ano Novo na Inglaterra. Todos vestidos de branco e bebendo champanhe, enquanto os jovens continuavam inconformados com o sumiço de um dos maiores símbolos daquela data. Era como se o Natal nem tivesse acontecido.

– Luke?

– Diga – disse o ruivo.

– Você acredita em Papai Noel? – Indagou o loiro.

– Nem em Papai Noel, nem em Coelhinho da Páscoa, nem em duendes... É só historinha de criança.

– E seu sumiço? Isso não quer dizer que ele existe?

– Eu sei lá, Math – respondeu Luke. – Eu nunca acreditei nisso, e não é agora que vou começar a acreditar.

Um mecanismo instalado na parede piscou uma luz vermelha. Os garotos puderam ouvir um bipe constante e persistente. Luke se levantou, e Math deixou seu joguinho de lado para acompanhá–lo. Os rapazes seguiram para o elevador e desceram até o último andar do prédio.

Era uma sala ampla e vazia, iluminada por algumas lâmpadas. Lá no centro se encontravam um rapaz de cabelos negros e olhos vermelhos e uma garota de cabelos castanhos e olhos amarelos, ambos trajados de roupas brancas típicas do Ano Novo.

– Ryan, Chloe – chamou Math. – O que aconteceu?

– Como vou saber? – Respondeu o moreno. – George nos chamou aqui e até agora não apareceu.

Luke suspirou.

– Espero que não seja para uma missão.

– Oh, sinto muito, garoto.

A voz vinha de um homem de cabelos loiros penteados para trás e olhos negros. Ele tinha um ar elegante e um sorriso gentil estampado no rosto.

– Ah... Lá vem bomba – lamentou Luke. – É incrível, George, você nunca trás boas notícias.

O moço riu com a frustração do jovem.

– Creio que vocês já saibam do sumiço do Papai Noel – começou George. –Disseram que foram iniciadas buscas para encontrá–lo e que estão fazendo de tudo para trazê–lo de volta o mais rápido possível...

– Mas é mentira – concluiu Chloe. – Eles não estão o procurando, certo?

– Seria injusto dizer que eles não estão cumprindo o serviço – disse George –, o problema é que eles não estão cumprindo direito. São adultos, não creem no Noel. Eles não levam isso a sério.

– E estão certos.

Todos os olhares se voltaram para Luke.

– Qual é, pessoal! Papai Noel não existe!

Math revirou os olhos, cansado de ouvir o amigo dizendo aquilo. Chloe soltou um suspiro enquanto Ryan franzia o cenho.

– Do que você está falando, palhaço? Não podem estar procurando por algo que não existe!

– Até você, Ryan? Nunca imaginei que acreditaria em algo assim...

– Pra mim é bem óbvio que ele existe! Se fosse uma imagem criada pela mídia, não faria sentido algum espalhar a notícia de que ele desapareceu. Isso acabou com o Natal da maioria da população. Os comerciantes ganharam menos do que de costume. Menos panetones foram comprados, menos perus foram assados... Falaram isso na TV! Que tipo de benefício eles teriam com isso?

– Quer dizer que, se dissessem que o Coelhinho da Páscoa sumiu, menos ovos de chocolate seriam vendidos?

– Eu sei lá! Talvez!

– Crianças – chamou–lhes a atenção George.

Os rapazes cessaram a discussão que já começava a perder o sentido. George continuou:

– O problema é que escolheram pessoas que não creem no senhor Noel para investigarem seu sumiço. Precisamos de pessoas que ainda acreditem nele.

– Então... – Apressou a garota.

– Bem, a maioria de vocês acredita em Papai Noel. – George olhou para Luke. –Precisamos de pessoas assim.

Chloe e Matthew comemoraram juntos, animados para a importante missão. Ryan lançou um sorriso debochado para o ruivo, que continuava surpreso com a notícia.

– Estejam prontos amanhã de manhã. Partiremos o mais rápido possível – informou o responsável pelos jovens.

Então George adentrou o elevador e subiu, deixando os quatro sozinhos na sala de treinamento.

– Que tal essa, seu infiel? – Debochou Ryan.

Luke apenas virou o rosto. Aquela missão não o agradava, mas o que ele podia fazer? Não podia ficar em casa enquanto seus amigos iam para o Pólo Norte. Afinal, eles formavam um time, e estariam juntos até mesmo na mais absurda das missões.

– Pessoal, já vai dar meia-noite – avisou Math. – Vamos lá ver os fogos e beber champanhe!

– Desde quando o pirralho bebe champanhe? – Indagou o moreno.

Math lhe mostrou a língua e seguiu para o elevador, sendo seguido pelo moreno. Apenas Chloe e Luke permaneceram ali.

– Você não vai? – Perguntou o ruivo.

– Não quero te deixar sozinho aqui.

Luke sorriu, agradecido. Sua amiga sabia que ele não tinha muito gosto pelo Natal, e sair numa missão para encontrar o Papai Noel não o agradava muito.

– Vamos treinar?

– Não me leve a mal, Chloe, mas normalmente meu parceiro de treino é o Ryan... Não quero que alguém se machuque muito.

– Eu prometo que pego leve com você.

O rapaz demorou um instante para entender. A garota riu de sua cara e os dois adolescentes se afastaram. Avançaram ao mesmo tempo. Relâmpagos azuis e amarelos se colidiram enquanto o resto do mundo comemorava a chegada de 2014.

––––––

Na manhã seguinte, estavam todos prontos. Carregavam mochilas com roupas de frio, Math levava seu videogame, Luke levava seus gibis, Chloe carregava seus livrose Ryan trazia seu iPod. O jato especial do grupo estava pronto para levá–los em mais uma missão. Ele era pago pela milionária empresa e George, e o mesmo era o piloto daquela máquina. Logo na porta havia um pequeno mecanismo que só permitia a entrada dos cinco, os identificando pelas impressões digitais.

Luke Price. Idade: 17 anos. Nacionalidade: Inglês.

Ryan Cloverfield. Idade: 18 anos. Nacionalidade: Estadunidense.

Matthew De Santis. Idade: 16 anos. Nacionalidade: Italiano.

Chloe Miller. Idade: 17 anos. Nacionalidade: Canadense.

Na cabine do piloto, George apenas aguardava os quatro se acomodarem em suas poltronas. O jato alçou vôo em direção ao Pólo Norte.

– Ok, vamos fazer o seguinte: chegamos lá, encontramos quem sequestrou o Papai Noel, e damos uma surra nele! – Sugeriu o mais velho.

– Cuidado com essa empolgação – advertiu Math, que desviava de alguns relâmpagos vermelhos vindos do amigo.

– Isso se ele tiver sido sequestrado – apontou Chloe. – Talvez não seja necessário partir pra violência.

– É verdade – concordou Luke. – Talvez ele nem tenha sido sequestrado.

Cada um dava sua opinião sobre o desaparecimento do bom velhinho. O ruivo apenas queria terminar aquilo o mais rápido possível enquanto seus amigos pareciam empolgados com a tarefa. Várias vezes precisou desviar de relâmpagos vermelhos de Ryan ou de relâmpagos verdes de Matthew, tamanha era a animação daqueles dois. Felizmente, Chloe sabia controlar isso melhor. Ela podia ficar muito animada ou com muita raiva, mas raramente liberava relâmpagos amarelos por acidente.

Ryan sugeriu outra vez que deviam espancar o culpado pelo sumiço do senhor Noel. Math agia como detetive, dizendo que deviam investigar os mínimos detalhes. Chloe pedia para que todos tivessem calma e não tomassem conclusões precipitadas. Em meio a tanta conversa, logo o jato pousou no Pólo Norte.

–––––

Todos se agasalharam o máximo possível antes de começar a caminhada pelas terras gélidas daquela área. Seguiam em linha reta, na esperança de encontrar a mansão de Noel. Demorou um bom tempo para isso. Às vezes desviavam de caminho, às vezes se perdiam brevemente do resto do grupo. Depois de muita caminhada, eles a encontraram.

– Caramba... – Murmurou Ryan.

Era enorme. A mansão era enorme! Com certeza podia abrigar a fábrica de brinquedos e os aposentos como banheiro, sala de estar, quartos típicos de hotel cinco estrelas... Ao lado havia um celeiro onde provavelmente ficavam as renas e o trenó. Na frente da mansão estava uma placa eletrônica com os dizeres “Casa do Papai Noel”. Essa frase era repetida em vários idiomas diferentes, um de cada vez.

– É... Surreal – suspirou Luke.

– Ou Papai Noel existe – disse Math – ou alguém gastou muito dinheiro à toa.

–Vamos torcer para que tenha elfos gentis e uma Mamãe Noel assando biscoitos lá dentro – brincou Ryan.

–É... Tomara que as historinhas infantis sejam baseadas em fatos reais – torceu Chloe.

– Vai saber. Conheço umas histórias bem obscuras sobre o Natal – disse Luke.

Novamente, todos os olhares se voltaram para ele.

– Tá, foi mal.

– Enfim, vamos ao que interessa – disse George.

O homem aproximou–se da mansão e tocou a campainha. As enormes portas de madeira se abriram um minuto depois, permitindo que os visitantes vissem a linda sala principal da casa. Quem abriu as portas foi um elfo de cabelos claros, baixinho, tinha a mesma altura de uma criança normal. Sua voz também soava infantil e delicada.

– Vocês também estão procurando o Papai Noel?

– Sim, estamos – respondeu George. –Pode nos levar até a Mamãe Noel?

–Desculpe, senhor. Ela também não está aqui.

– Como assim? – Estranhou Luke. – Se ela não está aqui, quem cuida da casa?

– Eu e os outros elfos. – O pequeno fez uma careta. – O que você acha?

Chloe deu um leve tapa no braço do amigo disfarçadamente.

– Não ligue para ele. – A garota se abaixou para ficar na altura do elfo. – Pode pelo menos nos levar até o quarto do casal? Por favor?

A criatura de orelhas pontudas enrubesceu e começou a gaguejar. Ele parecia querer negar fazer esse favor, mas seu encanto pela garota foi mais forte.

– C–claro. Venham comigo.

Assim, o pequeno elfo guiou o grupo. Passaram por um imenso salão, no qual era possível ouvir sons de máquinas trabalhando. Subiram a escadaria e pararam diante de uma porta vermelha e arredondada. O elfo a abriu e ficou vigiando a entrada. Era um quarto espaçoso, com uma grande cama no meio, ladeada por dois criados mudos. Havia tambémum guarda-roupa, uma cômoda e uma escrivaninha, uma porta que levava ao banheiro e uma janela que dava vista a boa parte do Pólo Norte.

–Puxa, Chloe! – Surpreendeu–se Math. – Não sabia que conseguia seduzir os homens... Ou elfos.

– Eu apenas pedi.

– Nossa. Pode “pedir” pra mim de vez em quando – disse Ryan.

– Ryan! – O ruivo repreendeu.

–Calma, Luke! É só brincadeira. Eu não quero tirá–la de você. Vocês formam um belo casal.

– Ryan! – Gritou o “casal”.

Enquanto o moreno se divertia deixando os amigos envergonhados, Matthew e George se concentraram em achar algo que os levasse até o paradeiro de Papai Noel – e muito provavelmente, da Mamãe Noel. Reviraram os lençóis da cama, pediram para os outros os ajudarem, revistaram a cômoda, o guarda-roupa, procuraram debaixo dos móveis e nas gavetas dos criados mudos.

– Ei, o que é isso?

Nas mãos de Math estava um pequeno envelope de papel. Ele abriu e tirou dele uma carta, começando a lê–la em voz alta em seguida.

“Meus amigos,

Eu e Mamãe Noel estamos partindo. Minha querida esposa virá comigo por ter jurado ficar sempre ao meu lado, mas essa decisão é minha. Eu estou farto. Passei a vida inteira me preocupando em atender aos pedidos das crianças e entregar–lhes seus presentes nas vésperas de Natal. Elas acreditavam em mim, todas elas, fazíamos uma lista separando quem foi bonzinho de quem se comportou mal em cada ano. Mas agora... É só prestar atenção. Elas não acreditam mais em Papai Noel. Eu virei apenas um personagem de histórias infantis... Por isso, estou partindo. Preciso de um tempo. Afinal, ao contrário do que muitos pensam, eu sou apenas mais uma pessoa nesse mundo...

Assinado: Noel”

–Então ele não foi raptado, apenas foi embora por conta própria –concluiu George, em seguida voltando–se para o elfo. – Vocês viram essa carta?

– Sim. Achamos ela em cima da cama quando viemos procurar pelo senhor Noel, e então a guardamos – contou o pequeno. – Os outros homens que vieram procurar pelo chefe também a leram, mas como não tinham nenhuma pista de onde ele podia estar...

George verificou cada detalhe da carta. Passou a mão no texto, na parte da frente e finalmente na parte de trás, sentindo algo invisível ali. Pegou um lápis na escrivaninha e rabiscou aquela parte, revelando uma sequência de números aleatórios.

– Coordenadas – notou o adulto.

– Então Papai Noel é um velhinho muito esperto e misterioso – disse Luke. –Quem diria!

– Quer dizer que o senhor Luke Price agora acredita em Papai Noel? – Debochou Ryan.

– Bem, estou na mansão dele e acabamos de ler uma carta escrita a mão com sua assinatura – disse o ruivo. – A menos que isso seja a maior pegadinha do mundo, não tem como não acreditar... Embora isso não me agrade muito.

– George, acha que pode descobrir a localização do Papai Noel com isso? – Indagou Math, esperançoso.

– Sim, mas isso vai demorar um pouco. Vocês têm um mapa aqui?

O empregado assentiu e lhe trouxe um dos mapas do senhor Noel. Enquanto George quebrava a cabeça fazendo diversas contas, o elfo – que se apresentou como Tidus – levou os jovens para conhecer alguns pontos da grande mansão. Eles viram a fábrica, em que inúmeros elfos faziam brinquedos, mesmo com a ausência de seu chefe, não se importando se o Natal já havia passado.

– Acho que isso também deixou o Papai Noel estressado – supôs Tidus. – O barulho ininterrupto das máquinas... É estressante...

Sua próxima parada foi o celeiro. Era espaçoso e bem limpo, e meia dúzia de renas descansava ali. Tidus continuou a falar:

– Temos dois grupos de renas, um principal e outro reserva. Cada grupo tem uma rena de nariz vermelho. O Papai Noel levou a reserva, por algum motivo, e um dos trenós.

–Então, o que acharam na frente da mansão quando ele desapareceu era o principal, o que leva os presentes – disse Luke. – O outro serve pra quê? Ele sabia que um dia acabaria fugindo?

Chloe o encarou com um olhar severo.

–Parabéns, Luke, seu vacilão – murmurou o garoto.

– Ninguém sabia ao certo por que tinha outro grupo de renas, até isso acontecer... – Disse Tidus. –Pensamos a mesma coisa, senhor Luke.

– Se vocês têm um grupo de renas e vários prontos, por que vocês mesmos não entregaram os presentes? – Perguntou Math.

O elfo suspirou.

– Por três motivos. Primeiro: esperamos que Papai Noel voltasse, ninguém acreditava que ele ficaria tanto tempo ausente. Segundo: não somos peritos em viagens, mesmo com as renas nós demoraríamos muito para terminar o serviço. E por último... As pessoas já teriam perdido o espírito de natal, e sem isso as renas não podem voar. A magia delas é motivada pela alegria do natal...

Sem comentários oportunos a fazer, todos se calaram.

– Bem! – Tidus quebrou o silêncio. – Senhor George deve demorar algum tempo. Vocês não terão nada para fazer aqui no Pólo Norte, então me deixe levá–los aos seus aposentos!

–––

Com tantos quartos vagos na mansão, cada visitante ficou com um. Cada um arrumava uma forma de se entreter enquanto George fazia as contas, pausando de vez em quando para beber café e relaxar.

Em seu quarto, Luke se contentou com alguns de seus gibis. Lia–os em silêncio, deitado na cama, com o cobertor o cobrindo até o peito. Até que alguém bateu na porta.

– Ei, Luke – era a voz do italiano. – Podemos entrar?

–Claro, mano.

A porta foi aberta e os outros dois rapazes do grupo entraram.

– Faz tempo que não fazemos uma reunião só com os homens! – Exclamou Ryan. – E então? Do que vamos falar? Jogos, futebol...?

– Desde que não seja algo machista... – Interveio o loiro.

– Viu só? Esse cara tá andando muito com a Chloe – brincou o americano.

– Chamou?

A canadense assustou os rapazes entrando no quarto no momento em que ouviu seu nome.

– Não leva a mal não, Chloe, mas essa é uma reunião de garotos... – Desculpou–se o moreno.

– Não, fica aqui! – Pediu o ruivo. – Eu não tô muito animado para falar sobre games, quadrinhos, e tals. Além disso, é mais divertido quando estamos todos juntos.

A garota sorriu e sentou–se ao lado de Luke.

– Do que quer falar então? – Ela perguntou.

– Sabe... Até ontem eu não acreditava em Papai Noel, e hoje eu estou na mansão dele. É como se um ser superior quisesse me dar uma lição. “Papai Noel existe! Acredite no natal, Luke Price!”

– Droga, eu não vim aqui pra te ver chorando.

O inglês jogou seu travesseiro em Ryan.

–Tô falando sério! Vocês sabem que eu não sou muito chegado em natal. Podem me apedrejar se quiserem.

– Podemos mesmo? – Brincou Math.

Luke o olhou com uma cara impaciente.

– Calma, é brincadeira. Olha cara, todo mundo sabe que o natal não é uma data legal pra você, mas tem que admitir que já tivemos bons momentos natalinos.

– Ele tem razão – concordou Chloe. – No nosso primeiro natal juntos, por exemplo.

– Eu bebi vinho naquele dia, estava faiscando de tão doido.

– Você bebeu meia taça – lembrou Ryan.

– Eu tinha oito anos! Aquela coisa mexeu comigo.

– Ninguém mandou você pegar a taça do George – riu a garota.

Os quatro amigos riram ao se lembrarem do natal de nove anos atrás.

– Bem, pelo visto George ainda vai demorar. – Matthew se levantou. – Boa noite, galera. Vou pra cama.

–É, eu também – disse Ryan. – Foi mal, mano. Continuamos a “reunião dos caras” outro dia.

– Sem problemas.

Cada um foi para seu respectivo quarto, deixando Luke e Chloe sozinhos novamente.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Acabou de fazer – brincou a garota. – Pode sim.

– Você acha que eu sou um garoto idiota que odeia o natal?

– Eu acho que cada um tem seus problemas. E você é meu melhor amigo, então eu vou te apoiar.

Ela beijou sua bochecha e foi dormir em seu quarto.

–––

– Pólo Sul!!

George acordou todos ao gritar sua descoberta. Depois de muito café e vários cochilos, o homem estava exausto, mas pelo menos agora sabiam a localização do Papai Noel.

Luke, Ryan, Math e Chloe acordaram cedo graças aos gritos de George, se arrumaram, e após o café da manhã foram até o jato. O responsável por eles os levaria até o Pólo Sul e convenceriam o Papai Noel a voltar para casa.

Só tinha um problema.

– Congelou – afirmou George. – Os controles estão congelados. Até mesmo as portas estão difíceis de serem abertas.

Eles chutaram as portas com força pra sair do jato.

– E agora?

– Eu tenho uma ideia – disse Math. – Vamos usar as renas.

– Você não ouviu o Tidus? Elas só voam no natal. A magia delas é movida pelo espírito natalino – lembrou Ryan.

– Eu acredito que, até o Papai Noel aparecer, várias pessoas ainda guardam dentro de si o espírito de natal. No fundo, elas ainda acreditam no natal! Só precisamos despertar isso nelas!

– E como vamos fazer isso? – Indagou o moreno. – Mesmo se puderem nos ver voando no trenó lá de baixo, ficariam mais desapontados ainda! “Lá está o Papai Noel, eba! Espera, cadê meu presente? Papai Noel não liga pra gente!”

Ninguém riu.

– Vocês não têm humor algum – disse Ryan.

– Sei disso tudo, Ryan – garantiu o italiano. – E tenho um plano.

–––

Com a autorização de Tidus, os jovens se sentaram no trenó do senhor Noel e as renas alçaram voo. George ficaria ali para descongelar a nave e os encontraria no Pólo Sul depois.

Estava tudo bem até então. Math pareceu ter acertado em cheio, visto que eles voavam numa altura razoável. Math conduzia as seis renas principais enquanto seus amigos se posicionavam.

– Já devemos estar sobre a América do Norte – disse o loiro. – Ryan, faça a sua parte.

– Sim, senhor.

O rapaz pulou e assumiu a forma de um relâmpago vermelho, escrevendo rapidamente no céu as palavras “MerryChristmas”. Ryan voltou ao trenó, permanecendo em posição.

– Espero que dê certo – torceu Chloe.

E bem nesse momento, eles começaram a cair. A luz do nariz da rena de nariz vermelho apagou, enquanto eles despencavam numa velocidade aterrorizante.

– Plano de emergência, executar!!

Luke, Chloe e Ryan pularam para baixo das renas. Em suas formas de relâmpagos, fizeram uma roda e começaram a rodar, criando impulsos elétricos que mantiveram as renas no ar. Seria mais devagar dali pra frente, mas era melhor do que cair em alguma parte do mundo e morrer esmagado.

Math? ­­­– Chamou Luke, a voz um pouco modificada. – Acho que verde combina mais com o natal. Que tal trocarmos um pouco?

– Não! Eu sou o cérebro desse plano, eu conduzo as renas. Pense assim: você está representando o Ano Novo!

Não acredito que você está tentando se safar – resmungou Ryan.

Ei, era só brincadeira.

Math continuou no trenó, guiando as renas, enquanto seus amigos as ajudavam a se mover. Alguns minutos depois, as renas dispararam, chegando até mesmo a voar mais alto.

– Calma aí, galera! Daqui a pouco o ar fica rarefeito...

–Math, não é a gente – disse Ryan ao seu lado.

– Parece que nosso “show de luzes” despertou o espírito natalino das pessoas – concluiu Chloe, que tinha acabado de subir no trenó.

– E isso, somado à mensagem de Ryan, fez todo mundo acreditar no natal novamente – disse Luke após se juntar ao grupo. – E no Ano Novo, graças a mim.

– Desde quando deixaram de acreditar no Ano Novo? – Debochou o mais velho.

– Ah, cale a boca.

Nenhum deles acreditava que tinha dado certo. O espírito natalino voltou à tona no coração das pessoas, mesmo que o natal já tivesse passado. Agora os quatro voavam em alta velocidade em direção ao Pólo Sul, do outro lado do mundo, enquanto Ryan continuava a escrever a mensagem no céu em diferentes idiomas e Math recebia os parabéns pelo plano.

–––

O grupo pousou em seu destino e desceu do trenó. O Pólo Sul era mais frio que o Pólo Norte. Graças a Deus estavam bem agasalhados, mas mesmo assim sentiam que seus ossos congelavam aos poucos. E tinha um detalhe a mais...

– Pinguins! – Empolgou–se o loiro. – Cara! O mais perto de pinguim que eu já vi foi um garotinho de smoking!

– Uau, Math! Grande história! – Ryan debochou novamente. – Agora, se não se importa, temos que achar o Noel.

– Pois é. Vamos logo, esquimó! – Brincou Chloe.

Eles continuaram andando por algum tempo naquelas terras gélidas. Os olhos de Math brilhavam sempre que via um grupo maior de pinguins, e seus amigos riam de como ele ficava bobo.

Então, eles viram um brilho vermelho não muito longe dali. A garota apontou para lá.

– Aquilo é...

– Uma rena do nariz vermelho! – Confirmou Luke. – Vamos!

Era difícil correr na neve, mas eles fizeram o máximo que puderam.Por mais que corressem, parecia que a rena se afastava cada vez mais, tornando–se impossível de alcançar. Então eles perceberam que a luz aos poucos ia se aproximando...

– Está muito perto...

E a rena colidiu com Ryan.

Seus amigos o socorreram enquanto o animal continuava dando voltas no ar. O garoto tinha um galo na testa, e o animal estava sozinho, voando sem parar, dando voltas sobre eles.

– Ei, seu bicho descontrolado...

–Calma, cara! – Pediu Math. – Talvez nem tenha sido de propósito.

A rena finalmente conseguiu pousar e esfregou o focinho em Ryan, como se pedisse desculpas. O rapaz tentou ignorar, mas não resistiu: logo estava rindo e acariciando a rena mágica.

– Desculpe por isso, garoto.

A voz vinha de trás deles. Seu dono era um senhor grande e barrigudo com roupas típicas de um esquimó. Ele tinha uma grande barba branca e usava óculos de esqui para proteger os olhos da neve e do frio.

– Vamos, garota, você precisa se acalmar.

– Espere – pediu Luke. – Você é o... Papai Noel?

Ele se calou.

– Barrigudo. Barba branca. Rena do nariz vermelho – examinou o ruivo. – Só pode ser você!

–Olhe, garoto...

– É você, não é?

O velho suspirou. Fez um gesto com a mão para que eles o seguissem.

Eles chegaram a um iglu bem maior do que os outros. Havia uma expansão em cada lado, e podiam ver um fio de fumaça saindo do iglu principal. Lá dentro estava uma senhora com as mesmas roupas de Noel, também gorducha.

– Olá querido! Quem são esses jovens simpáticos?

– Eu sou Luke, e esses são meus amigos, Matthew, Ryan e Chloe – apresentou o inglês. – Você é a Mamãe Noel, certo?

– B–bem...

– Eles já sabem, querida.

O senhor Noel sentou–se numa cadeira improvisada ao lado de sua mulher. Baixou o capuz e tirou os óculos.

– Como vocês nos encontraram aqui?

– Achamos a carta. Um amigo nosso descobriu que os números eram coordenadas que levavam até aqui – explicou Chloe.

– Entendo... – O velho suspirou. – Finalmente, alguém descobriu.

– Papai Noel, viemos aqui para pedir que volte.

O senhor obeso negou com a cabeça.

– Você não entendeu o que eu disse na carta, Luke?

– Nós entendemos – afirmou o ruivo. – Você está cansado porque todo o ano entrega presentes nas casas do mundo inteiro, e mesmo que faça isso sempre, as pessoas deixam de acreditar em você quando crescem. Alguns pais dizem aos filhos que você não existe desde pequenos. Mas sempre existirá um grande número de crianças que acreditam em Papai Noel!

– E essas crianças irão crescer e deixarão de acreditar. É sempre assim. Quanto mais o tempo passa, mais eu vejo crianças que não acreditam em mim e pensam que são os pais quem compram seus presentes... Bem, em parte, isso é verdade. Eles vão a shoppings para comprar presentes absurdos para suas crianças. Às vezes eles as levam para sentar no colo de um Papai Noel falso e dizer o que querem de natal. Seus pais vão às lojas e compram, enquanto o bom velhinho serve apenas como uma figura da mídia.

– Mas você não é uma figura da mídia! Você é um dos maiores símbolos do natal! – Disse Math.

– Não seria ótimo se todos acreditassem nisso?

Luke se inclinou diante dele para encará–lo.

– Eu nunca acreditei em você. Quando morava na rua, o natal era uma das piores épocas pra mim. Eu tentava me esquentar com qualquer coisa quando nevava, ficava vendo várias famílias felizes enquanto eu não tinha ninguém. Enquanto eu era... Uma aberração. Mas então eu fui parar na mansão do Papai Noel! Vi elfos e atravessei o mundo com a ajuda de renas mágicas! Estou falando com o próprio Noel! Eu nunca acreditei tanto em algo como acredito em sua existência agora! Tenho 17 anos, passei a acreditar em Papai Noel agora, e sei que nunca vou deixar de acreditar.

– Nós também não – afirmou Ryan.

–Acredite, Papai Noel, mesmo que várias pessoas não acreditem mais em você, esse natal foi uma decepção sem a sua presença – argumentou Chloe. –A maioria não deve nem pensar que foi por sua causa, mas é verdade. Seria muito diferente se você estivesse presente como nos outros anos.

– Confesso que até eu senti a diferença – admitiu Luke.

– E olha que esse cara é o mais depressivo no natal que já existiu! – Brincou Ryan. –Por favor, Papai Noel, você tem que voltar...

Mas aquilo não o convenceu.

– Vocês não entendem, não é? – Noel se levantou. – Se eu voltar, serei aquele homem triste que vê o natal como uma obrigação. Eu cansei. Estou exausto! Podem pensar que o Papai Noel também é humano pelo menos uma vez?

– Nós entendemos o quanto isso é difícil pra você – disse Luke. – Mas será que você poderia fazer isso pelas pessoas que ainda acreditam que o natal pode ser salvo?

– O natal já passou!

– E ainda assim há milhares de pessoas espalhadas pelo mundo carregando esse espírito! Enquanto o espírito natalino existir dentro delas, o natal não acabará! – Argumentou Luke. – Como você acha que chegamos até aqui com as renas?

– A propósito, o Tidus nos deixou usá–las para vir até aqui – informou Math.

– É, isso. Valeu cara.

– Isso é impossível – discordou Papai Noel. – Elas só podem voar no natal...

– Elas só podem voar se as pessoas tiverem o espírito de natal – corrigiu Ryan.– E elas tinham de sobra.

– Não acredito em vocês...

– Não estamos querendo que o senhor acredite em nós, e sim que volte para casa – disse Chloe. – Se o problema é ficar preso no Pólo Norte, podemos resolver isso! Se o problema é não ser reconhecido, podemos resolver isso também! Mas se o senhor não voltar... O natal acabará. Perderá toda a sua magia e será uma mera data em que o comércio fatura mais. E ninguém quer que isso aconteça.

Papai Noel ficou calado, com o olhar baixo. Mamãe Noel trazia uma bandeja de petiscos, mas notou que não era uma boa hora.

– Você nunca mais quer ver os sorrisos das crianças que ganham os presentes desejados no natal? Nunca mais quer ver seus pais tomando gemada enquanto observam elas brincando? – Indagou o ruivo.

– Sem o Papai Noel, a inocência delas vai embora – disse Math. – E elas precisam dessa inocência... Para serem crianças.

– Mas, pelo visto, você não se importa – falou Ryan.

– Que bom que você não contou isso para mais ninguém – foi a vez de Chloe. – Teria decepcionado milhares de pessoas.

– Se você cair fora, o natal pode até continuar existindo, mas você será apenas uma imagem da mídia, e os comerciantes farão dessa data apenas uma data comercial – afirmou Luke. – Por enquanto, o natal ainda tem sua magia. Por enquanto, você ainda é um símbolo de fantasia e inocência. Por enquanto, o natal ainda é a data mais esperada do ano... Pelo mundo inteiro. Mas pelo que parece, você não se importa.

E assim o garoto saiu do iglu. Chloe e Ryan foram atrás dele.

– Você não vai? – Perguntou a senhora Noel à Math.

– Não, senhora. Ainda quero propor algo ao Papai Noel.

O “bom velhinho” olhou para o garoto.

– Senhor Noel... Se conseguirmos uma maneira de você poder viajar para onde quiser mesmo sem ser natal, você volta para casa?

Noel arqueou uma sobrancelha, desconfiado.

– Como vocês fariam isso?

– Nós damos um jeito.

O velho hesitou um pouco antes de concordar.

– Muito bem. Se vocês conseguirem e trouxerem até aqui...

– Não vamos decepcioná–lo.

Depois disso, Math saiu da casa, indo procurar seus amigos para lhes contar a novidade.

––––

Impressionante: as renas ainda conseguiam voar. Por sorte George já estava a caminho. Abriu uma espécie de “garagem” na parte inferior da nave quando os encontrou no caminho para as renas entrarem com o trenó, e os jovens foram para seus lugares. Após deixar as renas no Pólo Norte sob os cuidados dos elfos, eles voltaram para a Inglaterra.

Era noite do dia 02 de Janeiro de 2014 quando Math falou do acordo com Noel com George. O cientista prometeu que pensaria em algo.

Luke continuava chateado com Papai Noel, e ninguém o julgava por isso. Justo quando começara a acreditar nele, teve essa decepção... Os outros três tentavam animá–lo sem tocar nesse assunto.

Uma semana se passou. George lhes apresentou um mecanismo que mudava as feições faciais de seu usuário. Com isso, Noel poderia visitar outros países sem chamar a atenção. Era dia 09. Dois dias depois eles partiam para o Pólo Sul num barco, com o mecanismo à bordo e o jato logo atrás deles, no piloto automático.

– E se o barco congelar? – Indagou Noel quando viu seu presente.

– Instalei um dispositivo que mantém a temperatura ideal, não permitindo que ele congele. Também tem uma camada super protetora. Contudo, você deverá sempre tomar cuidado – explicou George.

– Também temos esse mecanismo que muda sua aparência. – Math entregou–lhe o segundo presente. – Já testamos, e funciona. É só apertar o botão.

– Entendi. Muito obrigado.

George apertou sua mão e todos foram para o jato após se despedirem.

–Espere, garoto... Luke, certo?

O ruivo se virou para ele.

– Por que é chamado de aberração?

Nós somos – corrigiu. – E é por isso.

Na forma de um relâmpago, ele adentrou a nave, sendo seguido pelos outros.

–––––

– Luke! Acorde!

Mais três dias se passaram depois daquilo.

– Levanta logo, seu dorminhoco!

Era dia 14 de Janeiro de 2014. Ainda nevava na Inglaterra.

– Se você não sair desse quarto em 2 minutos, vou arrombar essa porta.

Mas por que Chloe, Math e Ryan estavam fazendo tanto barulho? Por que eles queriam tanto que ele acordasse? Ele estava tendo um soninho tão bom...

– Vou contar até 3, Luke... – Ameaçou George.

George também? O que havia de errado com eles? Nunca insistiam tanto para que o ruivo acordasse.

Luke abriu os olhos, sonolento, e pegou o relógio em cima do criado mudo. Estava tão cedo... Era hora de dormir, não de fazer bagunça...

– Levanta agora, ou rasgo seus gibis!

Pegou pesado.

Luke se levantou num pulo e abriu a porta.

– Não. Ouse. Tocar. Nos meus. Gibis!

– Credo, que egoísmo! Mas sabia que isso ia funcionar, seu maníaco por gibis – debochou Ryan. – Tem uma surpresinha pra você lá na sala.

– Tá... Vocês podiam ter dito isso desde o começo...

O ruivo lavou o rosto e seguiu para a sala de estar do apartamento. Estava tudo a mesma coisa... Até a árvore de natal continuava lá, embora já tivesse passado da hora de desmontá–la. Fora isso, ele não via nada de diferente ali... Espere.

Sob a árvore havia 5 pacotes embrulhados para presente. Sobre um deles, uma carta. Luke pegou a carta e viu seu nome no pacote. A carta havia sido escrita à mão, por alguém com uma ótima caligrafia e que os jovens já tinham visto antes, no Pólo Norte.

Assim que terminou de lê–la, Luke sorriu. Alguém jogou sua jaqueta nele.

– Vamos lá pra fora! – Chamou Chloe. – Todos receberam seus presentes ontem à noite e estão festejando!

– Não teremos uma boa recepção...

– Que se lixe! Se essas crianças que estão brincando lá fora jogarem bolas de neve em nós, é só revidar! – Brincou Ryan.

– Cara, aí é que vão nos expulsar mesmo – advertiu Math.

– Eu sei, eu sei...

Caros Luke, Chloe, Math, Ryan e George.

Vocês estavam certos. Não podia abandonar o natal e deixar as crianças na mão. Por isso, cumpri minha promessa e voltei para casa. Demoramos um pouco pra conseguir os presentes que faltavam, mas finalmente os entreguei.

Eu espero que, quando acordarem de manhã e verem seus presentes, as crianças fiquem felizes.

O garoto inglês se arrumou e se juntou aos amigos já no lado de fora do prédio. Eles haviam começado uma guerra de bola de neve particular, e aos poucos as outras crianças ali por perto foram prestando atenção neles.

Foi egoísmo da minha parte. Mesmo as pessoas que já não acreditam, sentem minha ausência. Percebi isso depois de ver seus rostinhos tristes enquanto davam uma última olhada na árvore de natal antes de dormir. Provavelmente, seus pais as desmontariam hoje.

Talvez aquilo significasse o fim dessa data para eles.

Uma das crianças jogou uma bola de neve em Math, mas ele não parecia ter feito isso por maldade. Ele ria como se estivesse fazendo parte de uma brincadeira divertida, e seus amigos começaram a jogar mais e mais bolas nos quatro. Aos poucos, eles começaram a revidar.

– Vocês são os heróis do natal, não são? – Perguntou uma garotinha. – Por que meus pais não me deixam falar com vocês?

A propósito, eu deixei uma carta em cada casa, dizendo que o natal só havia voltado graças a vocês. Vocês não merecem o título de “Aberrações”. Vocês foram heróis. Vocês salvaram o natal.

– É só impressão minha ou ela nos chamou de “heróis”? – Murmurou Ryan.

– “Heróis” não rima com “aberrações”, então... Acho que foi isso mesmo... – Disse Math no mesmo tom.

– Quem te disse isso, garotinha? – Indagou Chloe.

–Papai Noel deixou uma carta na minha casa!

– Na minha também! – Gritou outra criança.

– E na minha! – Disse mais uma.

Enquanto as crianças contavam o que estava escrito em suas cartas, os quatro jovens se entreolharam. Chloe sorriu.

– Ele fez mesmo isso, não?

– Vocês conheceram ele?! Como ele é?! – Empolgou–se um menino.

– Ele tem barba?

– Usa óculos?

– Tem olhos azuis?

– É gordo?

– Ele fala “Ho HoHo, feliz natal”?

Aos poucos, seus pais foram notando a agitação das crianças em torno daqueles jovens que todos desprezavam. Uma mãe se levantou para tirar o filho de lá, mas seu marido segurou sua mão.

– Querida, é natal.

Contanto que você tenha o espírito, sempre será natal. É por isso que minhas renas voaram tão bem nessa noite. É por isso que as crianças aguardaram minha volta por tanto tempo.

– Acho que eu to sonhando – comentou Luke. – Fizemos algo bom e fomos reconhecidos por isso... É um fato inédito.

– Mas só pelas crianças mesmo. – Math apontou para os adultos cautelosos que os observavam de longe. – Os adultos ainda não gostam da gente.

Vocês me ajudaram, então agora vou ajudá–los.

Jovens, lembrem–se de que não importa o quanto pisem em vocês, o quanto os humilhem, o quanto os rebaixem. Vocês ainda são humanos. Ainda podem fazer o bem, ainda podem fazer a diferença. Basta ter um coração puro e uma mente forte. Façam o bem sempre, mesmo que não recebam nada de valor em troca. O que realmente vale é que vocês fizeram algo bom para todos, e quando se derem conta disso, sentirá uma felicidade imensa.

– E isso importa? – Disse Luke. – Fizemos algo bom. E olha só como essas crianças estão felizes! Tudo bem se os adultos não gostam de nós, sempre saberemos que fizemos a diferença, e no fundo eles também sabem.

Seus amigos sorriram e continuaram a brincar com as crianças.

Obrigado por acreditarem em mim e irem até o fundo da história quando ninguém mais quis ir.

Papai Noel.”


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