Pov. Hazel

Enquanto eu observava, calada e aparentemente invisível, Augustus empurrou a menina com toda sua força, o que era muito. A garota caiu com tudo de bunda no chão, a mais ou menos um metro dele. Gus estava alucinado de raiva. Ele começou falando alto, mas chegou uma hora em que eu comecei a ouvir do carro, porque ele estava gritando.

–... EU NÃO ACREDITO QUE FEZ ISSO! QUANTAS VEZES VOU TER DE EXPLICAR? EU TENHO NAMORADA, E MESMO QUE EU NÃO FOSSE COMPLETA E INSUPERAVELMENTE APAIXONADO POR ELA, EU NÃO TE AMO, CARLA! LARGA. DO. MEU. PÉ. QUAL É A PARTE DE LARGA DO MEU PÉ QUE VOCÊ NÃO ENTENDEU? VOCÊ É IDIOTA?

Decidi que a tal da Carla entendeu o recado. Fingi estar chegando agora.

–Augustus, eu... o que é que tá acontecendo?

Funcionou. Eles ainda não tinham notado o carro. Augustus olhou para mim, num instante sorrindo de orelha a orelha, no outro suplicante.

–Hazel Grace, me desculpa, eu não queria contar mas...

–Eu sei. Quer dizer, a ficha de que você só estava pensando no melhor para mim caiu e... quem é essa? E bem... an...-Me aproximei e estendi a mão. -Quer ajuda?

–Não, anormal. Gus ainda é melhor, ele está curado e só perdeu a perna, mas você... eu tenho nojo de você! Melhor eu sair de perto, pode ser que faça uma lavagem cerebral pra eu achar você O Amor em pessoa! -Disse, levantando sem me tocar.

–Carla Gude. -Falou em alto e bom som, Gus. Ela olhou para ele, esperançosa. -Suma daqui. Alguém que pode falar com Hazel Grace assim tem meu total desprezo. E ninguém que eu desprezo totalmente tem o direito de pisar no terreno da minha casa. E vou logo avisando: se você pensar em sequer mandar uma mensagem de texto para ela, você vai se ver comigo e com o Exército se preciso. Entendeu?

Ela fez que sim com a cabeça, amedrontada e, não sem antes dar um olhar assassino para mim, foi embora. Assim que ela sumiu, uma lágrima que não tinha notado chegar até meus olhos caiu. Augustus me olhou preocupado e limpou a lágrima. Depois me guiou até o porão. Sentamos e me encolhi nos braços de Gus.

–Augustus, o pior é que acho que ela tem razão.

–Como assim? -Ele respondeu, incrédulo

–Quer dizer, olhe para mim. De forma realista dessa vez. Eu não sou um exemplo de beleza mundial. Cabelo curto demais para uma menina, olhos grandes nem pequenos, pálida, á beira de morrer o tempo todo, o câncer, Felipe do meu lado o tempo todo, uma bomba relógio, um efeito colateral, quer dizer, que tipo de menina legal ou algo do tipo sou eu? Eu vivo de Privilégios do Câncer e meus pais, que tem obrigação de me amar. Eu não faço ideia de como você chegou a gostar de...

–Hazel Grace Lancaster, eu não acredito que disse isso. Sinceramente, eu achava que nunca conseguiria se rebaixar ao ponto de acreditar em Carla Gude. Aquela criatura corre atrás de mim faz um mês. Fazia um tempo que não nos víamos, e vamos combinar, ela ficou linda. Eu sou um cara. Se uma garota linda implora quase de joelhos para ficar com você, você fica com ela, certo? Mas eu passei o último mês inteiro dizendo "não" e você sabe porque? Porque de todas as meninas lindas do mundo, inclusive uma modelo de beleza mundial, eu escolheria você. Você é o tipo de garota que é bonita e não faz ideia do quanto.Você é o tipo de garota tão incrível que, mesmo que se passe toda uma vida sem vê-la, se a rever, vai reconhecê-la e vai ficar grato eternamente por vê-la de novo. Você é incrível assim. Então nunca pense que Carla Gude teve razão. Ela nunca esteve tão errada na vida dela. Entendido?

Fiz que sim com a cabeça, porque não conseguia falar. Só chorar. Ele me amava mesmo. De verdade. Eu só queria ter palavras para expressar o quanto o amava também.

–Augustus, obrigada.

–Dizer a verdade nunca custou nada.

–Augustus... eu... tenho de pedir desculpas.

–Porque?

–Porque, mesmo te amando, fui egoísta, e vou continuar sendo. Eu ainda vou fazer a cirurgia.

–Esperava que desistisse.

–Não se preocupe. Se tudo correr bem, vou deixar de ser uma bomba relógio e vou passar todos os dias possíveis com você. Nosso infinito vai ficar mais infinito ainda, e...

–Mas e se nem tudo correr bem? E se você morrer? Como eu vou ficar?

–Gus...

Ficamos em um silêncio quase mortal, o que era bem irônico. Mas um cego apareceu, me fazendo querer dar um beijo em sua bochecha por estragar a conversa. O que daria ciúmes no Gus e na namorada do Issac, que estava o ajudando.

–Issac! -Falei.

–A conversa não terminou, Hazel. -Sussurrou Gus. -Mais tarde. Mais tarde. -Depois começou a falar alto. -Issac, meu cego predileto!

–Você tem mais algum?

–Não, infelizmente. Adoraria te apresentar a outro cego para que ficassem em uma conversa deprimente sobre a tristeza que é não ver quando tem uma mesa em seu caminho.

–Ra, ra, ra. Muito engraçado.

–Isso eu sei. Sou um comediante nato.

–Nasceu fazendo piadinhas sobre como é o ventre de uma mulher.

–Queria que estivesse lá quando eu dei a clássica cantada "você vem sempre aqui?" para a enfermeira!

–Eu não acredito que eu perdi isso! Porque, se eu estivesse lá te daria um grande tapa na cara. -Retruquei.

–Hazel. Seus pais estão na sala. Parece que você praticamente fugiu de casa para falar com Gus depois de declarar sua morte, ou algo do tipo. Não escutei muito. -Disse a sra. Waters.

–Ah, isso. Parece que estou ferrada.

–E como mocinha. E como. -Falou meu pai, entrando no quarto.