Ao fim do delicioso almoço, pagamos cada um sua conta e saímos do estabelecimento. Greg ia responder. Era irritante ver como ele estava montando frases em sua cabeça e com isso, concluí que mais uma vez ele estava muito sentimental para decidir seu futuro com a atentada. Assim que ele abriu a boca, eu interrompi e falei.

“Vocês gostam de churros?”

“Eu amo churros!” Harriet animou-se. “Vamos comer churros!” Ela falou, me puxando pelo braço.

Greg e Megan deram de ombros e nos seguiram até a barraquinha mais próxima. Compramos quatro.

De vez em quando Greg se lambuzava com o doce de leite. Megan então tentava limpá-lo com um guardanapo. No começo, ele ficou constrangido, mas aos poucos, retomou a cara séria e parou de se importar com o gesto.

Adeus decisão racional.

Acho que me distraí assistindo os dois e por isso, acabei sujando minha bochecha de doce de leite também. Ia pegar um guardanapo na barraquinha, mas Harry foi mais rápida. Segurou-me pelo rosto e lambeu minha bochecha.

Eu gritei.

“VOCÊ ENLOUQUECEU?!” corri para pegar um guardanapo e esfreguei-o com força contra meu rosto. Harriet estava achando aquilo tudo muito engraçado. Olhei para Greg e Megan, buscando alguém que entendesse a minha irritação, mas os dois estavam rindo também.

Isso mesmo. Rindo juntos.

Adeus decisão racional, eu repito.

“Desculpa, é que eu odeio desperdício.” Harriet falou “Deixa que eu te ajudo a limpar.” Tentou tomar o guardanapo das minhas mãos.

“Não! Não me toque!” me afastei e fui para trás de Greg “Eu quero ir pra casa agora!”

“A gente já vai, mas antes eu devo uma resposta a alguém.”

Ele ia falar. Pensa em alguma coisa, Mycroft! Pensa.

“Na verdade, acho que seria legal se a gente fosse tomar sorv...”

“Não, Mycroft, chega de me interromper!” Greg disse e eu me calei “Megan...” Ele segurou as duas mãos dela e a olhou nos olhos. “Não vai dar. Eu perdoo você, acho que até podemos ser amigos, já que você está entrando nessa sua nova fase, mas nada além disso.”

Megan apertou os olhos.

“Amigos?!” ela parecia nervosa “Sabe quanta coragem e paciência eu tive que reunir pra falar isso tudo pra você? SABE?” Aquela era a Megan que eu conhecia.

“Tudo bem, Megan.” Harry falou, envolvendo a amiga com um dos braços, antes que algo acontecesse. “A gente vai pra casa, come muito sorvete e assiste Bonequinha de Luxo.”

“Você vai pelo menos devolver a bicicleta, hein?!”

“Eu não! É o mínimo que eu mereço pelo que você fez com a minha antiga e pelo que você fez comigo!” Greg falou. Nem preciso dizer que eu estava boquiaberto. Minha tática de deixar ele pensar deu certo!

“Quer saber? Pode ficar com a droga da sua bicicleta e colocar ela no...” Harry tapou a boca de Megan, que rapidamente conseguiu se soltar, primeiro empurrando com força a mão da amiga e em seguida, levando-a para perto dos olhos. “O que é isso escrito na sua mão?”

“O telefone da Elisabeth.”

“Quando foi que...?”

“Shh, não importa, vai ficar tudo bem.” Harry falou puxando Megan pelo braço. Andaram dois quarteirões até virarem em uma esquina, onde as perdemos de vista.

Olhei para Greg e ele olhou para mim. Sacudi os ombros e ele respondeu com um sinal de cabeça indicando que deveríamos ir pra casa também.

Fomos caminhando em silêncio. Eu era todo fogos de artifício por dentro. Paramos no portão da casa de Greg.

“Eu nem sei o que eu estou sentindo agora.” Ele falou. “Uma mistura de raiva e alívio, que talvez seja tristeza ou rancor.”

“Geralmente isso é fome.” Respondi. Ele deu um longo suspiro e foi andando em direção a porta. Antes que ele pudesse chegar lá, o chamei, sem ao menos saber o que eu ia falar em seguida “Ahn, Greg...”

“Quê?”

“Fiquei muito orgulhoso de você hoje.” As palavras saíram, sem que eu pudesse medir o quão estranhas soariam depois. Ele ficou com uma cara neutra.

“Valeu, eu acho.”

“Apesar de você ter rido quando a Harriet me lambeu.” Tentei tirar a tensão da última frase.

“Foi a melhor parte do dia.” Ele falou, como se recordasse o ocorrido na sua mente. “Você deveria chama-la pra sair.”

“Que ideia estúpida, por que eu faria isso?”

“Não sei, mas já que você tocou no assunto, por que qualquer pessoa faria isso?” Perguntou retoricamente. “No final, todo mundo se separa e nada nunca dá certo.”

“É... Na verdade, eu acho que é porque a Elisabeth tem mais chance que eu, mas você que sabe.”

“Tanto faz, vou entrar e tentar engolir esse dia estranho com ajuda da discografia dos Smiths.”

“Boa sorte.”

Era verdade, aquele tinha sido um dia muito estranho. Por fim, perto de tudo que aconteceu, minha tão aguardada prova se tornara um acontecimento de terceiro porte. Isso até eu entrar em casa.

“Você marcou o cartão direitinho?”

“Pela milésima vez, mãe, sim!”

“Mike, essa prova é muito importante, você não me fez correndo, fez?”

“Não, mãe, demorei muito, por sinal.”

“Mas você conseguiu terminar?”

“Sim, mãe!” Respondi e subi.

A semana seguinte foi bem tranquila, exceto por alguns ataques de raiva que Greg aleatoriamente tinha, em geral por algum motivo fútil.

“Você viu o preço do refrigerante na cantina? Um roubo! Quem eles pensam que eu sou? Elton John? E o pão de batata, um disparate!”

“Greg, você nem compra na cantina. Você traz lanche de casa.”

“Verdade.” Ele disse, abrindo a lancheira cheia de biscoitos recheados de alguma coisa rosada. “Morango?! Eu ODEIO biscoito de morango. Por que isso está acontecendo comigo?”

“Seu pai colocou seu lanche hoje?”

“Não, fui eu mesmo.” Franzi o cenho, enquanto ele desistia dos biscoitos e dava uma gole na latinha. “Eca, esse chá está frio!”

“O chá gelado, você diz?”

“Socorro, Mycroft” Greg enfiou a cabeça na lancheira aberta. “É melhor você arranjar alguma coisa bem legal pra gente fazer no fim de semana, antes que eu me afogue com esses biscoitos.”

“O que você quer que eu faça? É geralmente você quem vem com as coisas divertidas, sabe, elas não aparecem assim, do nada.”

E então, do nada, Harriet Watson apareceu na nossa mesa.