Um Conto Sobre um Monte de Estrume escrita por Gabriel Campos


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Esse, particularmente é o capítulo mais engraçado da história. É a trollagem que o Lucas e o Ari vão fazer com a Dona Ruth. Vamos lá?
**Sobre a foto, é mais ou menos assim que eu imagino eles dois**
Um salve para o Google Imagens (É o cantor Phill Veras e a cantora Sky Ferreira) u.u



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Débora Zimmermann lamentava pela semana de folga, digamos assim. Minha menina não gostava de ficar em casa, ainda mais com tantas brigas entre os seus pais. Estava na cara que o casal Zimmermann não estava tendo um casamento tão agradável.

Sr. Zimmermann estava falindo. Suas empresas, lojas de conveniência, não estavam rendendo o lucro que rendia no começo de tudo (isso explica o porquê de Débora ter mudado tão drasticamente para uma escola pública). Além disso, sua esposa, a ilustre Sra. Zimmermann, gastava muito. Coisas como chegar trocar de carro a cada trimestre, pois, segundo ela, para não fazer feio nos lugares sofisticados que a família frequentava.

Naquele momento, como de praxe, os pais de Débora Zimmermann brigavam; a garota ouvia tudo do seu quarto cor-de-rosa, cheios de barbies, onde dava para se ver que a infância continuava intacta:

Precisamos cortar custos, amor! Já pensou se ficarmos desabrigados? Eu já tive de tirar a nossa filha de uma escola ótima, e isso me dói muito. Eu queria que ela fosse advogada, e isto acontece logo no ano de vestibular!

Débora não precisa de escola alguma para mostrar que é inteligente. A primeira vaga de direito na universidade federal é dela. aquela fala era de sua mãe ─Você é o homem da casa. Arrume um jeito de corrigir este problema. Das minhas comprinhas eu não abro mão!

Sra. Zimmermann, depois daquilo, pegou a chave de seu Sandero e saiu, provavelmente ao shopping. Débora, por sua vez, jogou os livros os quais estava usando para estudar de cima da cama para o chão, abrindo espaço para deitar-se e chorar até adormecer.

“Já posso riscar um dos itens da lista”, pensava Júnior, enquanto caminhava apenas com sua mochila nas costas, e morto de fome, ainda nos belos campos de Minas Gerais, não muito longe da concentração de instrutores de asa delta.

Depois de andar bastante, ele parou um pouco; o sol estava escaldando. Todos que o vissem perceberiam que ele estava passando mal.

─ Ei, garoto. tá bem?

Repentinamente, Júnior olhou para cima. Percebeu que uma garota acabara de falar com ele, mas não conseguiu ver seu rosto, porque sentiu uma tontura e desmaiou.

Falando em shopping, no outro dia eu estava lá. Havia marcado um encontro com Arizinho (não levem para a maldade) que, por sinal, estava demorando. Segundo ele, no bate-papo do Facebook, Ruth estava se encontrando com o seu “love” sempre no mesmo local, perto da cafeteria, e no mesmo horário, às três da tarde. Aristofo pertencia a um grupo de dança cujo sempre terminava seus ensaios no mesmo local, para o azar da nossa querida diretora.

─ Luquinhas, quereeeeedo, que saudade! ─ disse Arizinho, chegando por trás e apalpando a minha (qual?) bunda.

Afastei-me e tentei demonstrar que exigia respeito; o rapaz era atirado mesmo.

─ Então, tem certeza que o seu plano vai dar certo? ─ perguntei.

─Quereeedo, eu não já te disse que eu não sou a Stefany do Crossfox (alguém aí lembra dela?), mas sou a-b-so-lu-to? Então? Confie no meu taco!

─ Mas, tipo... cadê a diretora e o namorado dela? Já são três da tarde e nada deles. Você disse que...

E neste exato momento Ruth chegava ao local com um cara que parecia ser trinta anos mais novo que ela.

─ Ele não é um pão?! Pode admitir, Lucas...

Arizinho olhou o cara dos pés à cabeça, abaixando o seu par de óculos escuros com armação cor-de-rosa para facilitar a visão.

─ Ei, cara! Vai me ajudar ou não?

─Tem certeza de que não quer voltar atrás com essa ideia Avenida Brasil de vingança a qualquer custo? Olha que eu sou expert em destruir relacionamentos. ─ disse Ari.

─ Bom, se você não quiser ir, tudo bem. Eu penso em outra coisa.

─ NADA DISSO, QUERIDINHO! ─ berrou, fazendo um charme (querendo fazer), meio Beyonce Knowles ─ Nunca, jamais voltarei com a minha palavra.

Bom, a bala já estava no canhão...

Júnior abriu os olhos. Estava em um local totalmente diferente. Parecia um carro, um trailer para ser preciso. Levantou-se daquela espécie de “cama improvisada”, olhou pela janela e viu que era noite. Saiu do leito e andou, procurando a saída. Desceu do carro e viu uma família sentada em volta de uma fogueira. Era uma garota, ruiva, parecia ter mais ou menos a sua idade. Junto com ela, um casal. Deveriam ser seus pais. Os dois usavam cabelo com dreads. O moço balbuciava alguma música do Gilberto Gil em seu violão. A mulher fumava muito e, assim como a filha, ria.

─ Olha, gente, ele acordou!

A menina ruiva se levantou e correu até Júnior, puxando-o pelo braço e o levando até perto da fogueira.

─ Oi, como vai? ─ perguntou a garota ─ meu nome é Zoe. Zoe Navarro. Como você se chama?

─ Meu nome é Júnior. ─ respondeu, assustado com tamanha felicidade e esquisitice daquela família de hippies.

─ Uau! Que demais. Júnior, “jovem para sempre”! Que vibe esse nome! ─ disse Zoe─ olha, Júnior, estes são meus pais, Irma e Bartolomeu. A gente é do Rio Grande do Sul, mas vive viajando por aí. E você?

─ Eu... eu sou do Ceará. Saí de casa pra realizar meus sonhos de infância.

─ Que demais! Que história, velho! Me arrepiei ─ disse Bartolomeu. Júnior entendera aquilo como ironia, mas depois percebera que aquilo era típico da família

─ Cara... senta aí. ─ disse Irma Navarro. Júnior se sentou e ela lhe ofereceu uma tragada. ─Quer?

─ Não, valeu.

O casal do momento deu um selinho. Estavam sentados em um banco na praça de alimentação do shopping.

Arizinho parou na frente deles e, com as duas mãos na cintura, deu um grito, começando um escândalo:

─ EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ ME TRAINDO COM ESSA VELHA!

O namorado da diretora que, claro, nunca havia visto o garoto, se assustou e tentou entender do que se tratava. A diretora, que estava feliz da vida com o seu garotão surfista, arregalou os olhos e a boca, deixando cair nada mais, nada menos que sua dentadura!

Acho que você está me confundindo com outra pessoa. ─ disse o surfista, ainda assustado. A diretora procurava seus dentes postiços no chão da praça.

─ Tá negando o nosso amor, querido? ─ berrou Aristofo─ você usa e abusa de mim e depois me joga fora como se eu fosse um monte de papel higiênico? Eu vou dar na sua cara!

Percebi que o Arizinho estava se empolgando até demais e que o coitado do pretendente da D. Ruth iria apanhar sem ter nada a ver com a história, mesmo sendo um aproveitador de senhorinhas “indefesas”. Mas, pensando bem, eu deixei.

Ruth achou a dentadura e a pôs de volta na boca (eca, duplamente “eca”!) levantou-se e enfiou o dedo na cara do Arizinho, dizendo:

─ Com que direito você vem aqui estragar a minha folga? Seu fedelho! Eu vou te dar uma suspensão que você jamais vai esquecer!

─ Ele é meu namorado, Dona Ruth ─ mentiu, fazendo-a acreditar cada vez mais na lorota ─ Mas pode ficar. Fica com o bofe. Quer dizer, os restos do bofe. Beijinho, no ombro pra senhora. Fui!

Quando Ruth olhou para o lado, seu “bofe” já havia ido embora há bastante tempo.

As aulas foram retomadas dois dias depois. D. Ruth fez questão de espalhar, ligando, postando na página da escola, que tudo voltaria ao normal, desculpando-se também por ter decretado luto em nome de um aluno que nem ao menos morreu.

Deduzimos então que o maior motivo pelo recesso decretado pela diretora, foi apenas para ela ter mais tempo para se encontrar com o (agora ex) namorado.

Cheguei à escola. Alguns alunos da minha sala estavam sentados nos banquinhos perto da porta e antes do pátio. Um deles era Arizinho que, ao me ver, gritou meu nome, correu e me arrastou até nossos amigos e amigas.

─ Lucas, o nerd dos nerds da sala vai agora pagar o meu favor. ─ dizia Arizinho, fiquei com medo ─Aluno exemplar, faz de tudo para que haja aula. Vai, Luquinhas...

Minhas pernas começaram a tremer. Coisa que vinha dele, na maioria das vezes, não era boa.

─ E o que você quer que eu faça? ─ perguntei.

─ Bom, como o meu plano foi po-de-ro-so e você teve o que queria, que era ter aula de novo, que tal você dançar uma coisa bem leve, tipo...

─ Tipo?

─ O show das poderosas!

─ Mas eu não sei!

Ígor Cipriano adorava ver os outros pagarem micos e, assim que Arizinho falou o nome da música, ele logo pôs no celular. Fizeram uma roda e eu estava no meio. A música tocava e todos pediam para que eu dançasse.

Vai, Lucas! Dança! Dança! Dança!

Pre-para, que agora é hora do show das poderosas... (todos cantavam) Que descem, rebolam, afrontam as fogosas...

Coloquei as duas mãos para cima e bati palmas. Lembrei da dança da Macarena que, por sinal, não tinha nada a ver e misturei com outra coisa das Rouge, só pra encher linguiça e me livrar logo daquilo tudo. Todo mundo começou a rir, cantar também. Lembrei da Débora no meio daquilo tudo e percebi que ela não estava ali. Ainda.

O que é isso? Que ridículo!─ ouvi Débora dizer, enquanto chegava ao local.

Júnior Dantas acordou à tarde, pois entrara pela madrugada conversando com os hippies Navarro. O almoço que lhe esperava era uma comida totalmente vegetariana.

─Tudo o que a gente come vem da terra, da natureza, sacou? ─ disse Zoe, colocando algumas folhas e pedaços de maçãs numa espécie de “banda de coco”, que servia como prato.

Júnior, de início, achou ruim o gosto da comida, pois não havia nenhuma espécie de tempero, nem ao menos sal pra disfarçar o gosto esquisito das folhas. Depois acostumou.

─ Posso perguntar uma coisa?

─Óbvio que sim, Junior. ─ disse Irma.

─ Então... como vocês fazem para se manter?

─ Como assim?

─ Dinheiro. Não se dá pra viver sem grana, tipo, mesmo vocês comendo as coisas que a natureza lhes oferecem, ainda tem o dinheiro do combustível do trailer, produtos de higiene pessoal, essas coisas...

─ Ah, Júnior, a gente pede por aí. Acredite ou não, tem gente boa no mundo. ─ Bartolomeu falou.

─ Tendi...

─ Ei, Júnior! Vem comigo. Preciso te mostrar uma coisa. ─ disse Zoe.

─ Claro.

A ruiva puxou Júnior pelo braço e o levou até um local no campo onde haviam muitas árvores. Dentro dela havia um pote cheio de cogumelos.

─ Pega um. Vai, homem, pega! ─ ofereceu Zoe.

Júnior, instintivamente, comeu. Zoe pegou um punhado de dentro do pote e pôs para dentro também.

─ Caramba, que gosto bom!

─Melhor que o gosto, só a viagem! ─ respondeu a ruiva ─mamãe e papai adoram, mas não me deixam comer muito. Agora curte a viagem mais emocionante da sua vida.

Junior viu o rosto de Zoe começar a ficar colorido, assim como a paisagem de onde eles estavam. As árvores inchavam e, como balões, flutuavam. Júnior estava tonto. Zoe começou a rir e se deitou no chão. O garoto fez o mesmo.


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Notas finais do capítulo

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Mandem um salve lá na página, quem quiser o
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