— Sem surpresinhas dessa vez.

E a adaga desceu.

Narradora~

Então algo surpreendente aconteceu.

Deméter sentou-se no mármore negro,os olhos fechados,os braços espreguiçando-se para o alto.

Estava tão serena,tão tranquila,a boca tão rosada,a pele tão brilhante,parecia acordar de um belo sonho.

Ao abrir os olhos,a surpresa ficou estampada em sua visão.

Primeiro visualizou Hermes,depois Zeus,Atena,Poseidon,Ártemis e assim foi. Franziu as sobrancelhas,ao ver todos engaiolados. Ao olhar para o lado,e ver Gaia com a adaga em mãos,a surpresa foi ainda maior.

Não que a primordial não estivesse chocada.

Já que a mesma nem teve tempo de soltar a adaga. Ou fazer qualquer coisa.

A voz da deusa saiu firme,e curiosa.

— O que...O que está acontecendo?

Mesmo o rosto de terra pálida da deusa com a arma em mãos,perdeu a cor.

Mas foi Atena a gritar.

— Ela iria te matar! Usar o seu sangue para ressuscitar os próprios filhos! Te deixar adormecida!

Deméter correu o olhar para Gaia.

—Eu deveria saber...

— Deméter..querida eu...

— Você só queria me usar! Meu sofrimento por causa de Hermes foi o que te motivou!

— Eu quis te salvar da dominação do mundo,da morte dos olimpianos!

— Você queria me deixar dormindo com parte de seu poder para VOCÊ estar livre e fazer o que bem entender!

Gaia largou a faca que caiu num estalo no chão.

— Quer me colocar como vilã? Ótimo. Então eu sou a vilã.

A terra em que os deuses estavam,começou,aos poucos abaixar. Héstia se segurou nas barras de barro,Ares se debatia. Ártemis começou a chorar. Apolo,a bufar. Atena,resmungar.

—Quer continuar? Então eles morrem! — Gaia.

— Não! —Deméter gritou.

A deusa levantou a mão esquerda. A terra parou instantâneamente. Os olimpianos se entreolharam. Gaia bufou.

— Colabore!

—Você está me pedindo para colaborar com a morte da minha família?!

— Família essa que te abandonou! — Gaia forçou-se mais. A terra voltou novamente a afundar.

— Nunca me abandonaram,eu que fiz a escolha besta de deixar-los! — Deméter sentia o poder saindo com mais força pelos dedos,mantendo a terra parada;imóvel.

A guerra agora,era entre as duas.

Gaia forçava-se a afundar,enquanto Deméter,a levantar.

— Desista Olimpiana,temos o mesmo encanto,o mesmo poder. Podemos ficar aqui por dias,anos,séculos! Temos igualdade!

Deméter fechou os olhos. Concentrando-se no poder que Gaia lhe passará. Realmente,era 50% de tudo o que ela tinha. O restante da transferência seria essa noite.

A deusa pensou como estava sonhando:Na ilha,a príncipio. Ela viu Hermes colhendo flores,virá Atena e Poseidon caminhando abraçados. Perséfone e Hades correndo atrás de um par de gêmeos,Afrodite correr atrás da maquiagem que Hefesto roubará,Ares e Héstia se beijando a sombra de uma palmeira. Então,do nada,a imagem mudou para um cenário assustador. Ela virá o campo de pisos xadrez infestado de gigantes e monstros,via todos os olimpianos guerreando,Via Marta deitada sobre a pedra negra onde ela virá dias atrás. A faca cortando sua pele,rasgando órgãos,perfurando veias. O sangue escorrendo. Então ouviu um barulho como o de vidro quebrando. E foi infestada pelo cheiro de sangue,ódio e poder. Ao abrir os olhos,percebeu que:

O sangue vinha da arena.

O Ódio,de quem estava ao seu lado.

E o Poder,de si mesma.

Ela abriu os olhos num sobresalto. Era isso.

Ela não era uma criatura inanimada,que Gaia havia construído para dividir o poder. O sono que ela sentia,os trajes gregos,as túnicas brancas,tudo se baseava em sua personalidade.Ela era uma deusa..e o seu próprio encanto,estava adormecido.

—É Gaia,de todo o seu poder,eu tenho metade,mas eu tenho algo que você nunca terá.

A terra tremeu,descia e subia muito rápido,Ártemis estava quase vomitando.

— E o que seria?

Deméter largou as mãos. A terra voltará a abaixar. Zeus se preparou para o fim.

— A minha essência Olimpiana. A minha essência grega.

Então ela levantou as duas mãos. E tudo ao redor começou a tremer. A deusa flutuava enquanto pequenos raios esverdeados saiam de seus dedos,atingindo o solo,o levantando. A grama crescia rapidamente,soltando as jaulas em que todos os deuses estavam. Trigos cresceram numa facilidade inexplicável,jogando e empurrando Gaia longe,a primordial não conseguia impedir,a força que Deméter exalava,unindo ambos encantos era tanta,que apenas com a sua porcentagem era insuficiente combater-la.

Gaia,cercada de resistentes cordas de trigos,que cada vez mais cresciam e se enrolavam,começou a praguejar e resmungar.

Os deuses estavam quase sendo libertos,as correntes naturais que os prendiam,se desfazendo.

— Eu ainda estou acordada! HAHAHA! VOCÊ AINDA NÃO ME GANHOU!

Deméter suspirou.

Quando a ultima corrente foi desfeita. Toda a magia que ela desviava para a arena,virou-se para gaia.

— Você quer seus poderes minha cara? A vontade!

Ela abaixou a mão direita,a qual mandava os encantos gregos.

Deixando apenas a esquerda,devolvendo tudo o que lhe foi dado.

Gaia começou a sentir-se sonolenta e cansada. Não demorou muito para cair num sono profundo.

Nem para Deméter ser jogada para a grama,esgotada.

Todos os deuses libertos correram encontrar uns aos outros.

Ares abraçou Héstia tão fortemente,que parecia não se verem a anos.

Apolo correu até Ártemis. Lhe dando um beijo apaixonado enquanto ela lhe afagava os cabelos.

Hefesto e Afrodite,esqueceram todo o romantismo em um beijo selvagem e lotado de saudades.

Hades mandou uma mensagem de Íris para Perséfone,ele começou a chorar quando ela,junto a Ninfa das Maldições,ergueram duas crianças pálidas e belas.

Zeus e Hera se abraçaram. Ela lhe falou algo no ouvido,que o fez rir,e a abraçar.

Poseidon abraçou Atena.

— Não é a primeira vez que tentam me tirar de você. — Ele ria enquanto falava.

— Mas se não conseguiram...

Ele pegou a mão dela,encruzando os dedos com os dele.

— Mas não conseguiram. Por que temos um destino,ficarmos juntos.

— O peixe e a coruja.

— A Ateninha e a sardinha. —Ela riu ao o ouvir falar.

Então ela o puxou para um beijo,longo e demorado.

Hermes caminhou,devagar e mancando até o altar. O suor escorria pelo rosto e o cabelo molhado. Ajoelhou-se ao lado da deusa que estava simplesmente de olhos fechados. Aos poucos recobrando a consciência gasta.

— Você foi tão corajosa hoje. Tão bela,tão única. — Ele passava a mão pelos cabelos sedosos.

— Obrigada. — Ela abriu os olhos,Hermes se afastou num sobre-salto.

Ela sorriu tímida.

— Como foi o casamento?

— Não tive.

— Como...o convite..

— Não teve.

Ele olhava fundo nos olhos dela.

Como poderia ter esquecido dos momentos junto a ela?

— Hermes...posso perguntar uma coisa?

Tirado de devaneios,ele assentiu,ela continuou.

— Você já teve...alucinações? Só que..tipo..com outra pessoa?

Ele a olhou.

— O que?

Ela corou.

— É que...eu..estou tendo contigo.

Ele sorriu. A Névoa se desfez para ela.

— São lembranças.

— Mas...nunca vivemos isso.

— Vivemos sim. — Ele sentou-se ao lado dela.— Marta era namorada de Dionísio. Não minha,eu era o seu namorado. Numa festa na casa dele,ela trocou você de cama,se deitando ao meu lado. Depois foi tudo como névoa.

Ela pareceu pensar um pouco.

— Nunca teve juramento?

Ele sorriu.

— Nunca.

— E o que pode garantir?

— Isso.

Ele a beijou,delicada e romanticamente. Lento e demorado.Cheio de saudades e vontades.

Deméter lembrou-se de tudo com claridade. De todas as festas,jantares,noites. Momentos,lembranças,datas. Mais rápido do que poderia imaginar.

— O Estige não acabou contigo. — Hermes tinha o olhar travesso

— Ah,mas eu acabo contigo. — Ela o empurrou de costas para o chão,segurando seus braços a cima do corpo.

— Acaba é?

— Sim bobinho,acabo de amor...

Zeus apareceu.

— Desculpem acabar com o casalzinho romance ai. Mas temos que conversar.

Deméter levantou,levemente corada,Hermes logo em seguida.

Hades e Zeus estavam conversando.

Então,Poseidon apareceu,e os dois pularam como se tivessem visto uma assombração.

— Que feio,reunião dos três grandes e nem me convidam.

— Você...está vivo! — Hades

— Como?! — Zeus

— Eu tinha ouvido o barulho da água enquanto íamos,ainda. Na volta,quando a ponte rompeu,pude ouvi o líquido correndo lá em baixo. Foi fácil depois de estar no abismo,amortecer a queda.

Zeus iria o jogar um raio. Mais Hades entreteve.

— Peraí. Só nessas férias,Zeus incorporou Zeusa. Hera matou alguém com vacas voadoras. Poseidon reviveu,Atena se declarou apaixonada,Eu recuperei a prática corporal,Perséfone engravidou,Apolo se mostrou responsável uma vez na eternidade,Ártemis conseguiu engravidar do irmão mesmo sob juramento,Ares mostrou-se sentimental,Héstia mostrou-se guerreira hippie,Hefesto revelou que não é só máquinas,Afrodite revelou que no fundo ama o marido,Hermes quase caiu na lábia de Marta,Deméter se entregou a Gaia,e depois salvou o mundo. Nem férias normais conseguimos ter!

Deméter deu os ombros,Hermes a abraçava por trás.

— Fazer o que,essas foram As Férias do Olimpo.